As percepções sobre a migração internacional são moldadas pelo contexto político e econômico específico das comunidades de origem e de destino. Dessa forma, é comum que as imagens veiculadas na mídia, bem como as informações recebidas sobre as tendências ou eventos recentes, influenciem a percepção pública sobre a migração, seja de forma positiva ou negativa. Não é raro que a migração seja usada no discurso político, especialmente nos países receptores, como um bode expiatório para intensificar sentimentos anti-imigrantes que, na maioria das vezes, não correspondem a fatos empíricos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o aumento do discurso anti-imigrante tem alimentado sentimentos anti-mexicanos, muitas vezes desprovidos de base factual.
Este capítulo tem dois objetivos principais. O primeiro é apresentar uma análise de longo prazo sobre a mobilidade internacional entre o México e os Estados Unidos. A interação entre os dois países, que remonta a mais de um século, transformou-se ao longo do tempo, mas sempre manteve uma forte conexão tanto a nível comunitário quanto nacional. O segundo objetivo é examinar como as características das correntes migratórias entre o México e os Estados Unidos mudaram gradualmente na última década, especialmente após os anos da Grande Recessão. As novas tendências e o envolvimento de novos atores, como os migrantes da América Central, criaram uma nova narrativa, que inclui as mudanças nas migrações mexicanas em direção ao "Norte", o crescente número de nascidos nos Estados Unidos que se estabelecem no México, e o visível fluxo de migrantes centro-americanos entre os dois países. Essas dinâmicas não se limitam ao México e aos Estados Unidos. Projeções demográficas e as relações com seus vizinhos—Canadá, Guatemala, Honduras e El Salvador—podem, até certo ponto, antecipar o perfil futuro dos fluxos migratórios, sugerindo a construção de um sistema migratório em desenvolvimento.
A migração entre México e Estados Unidos, que já dura mais de 130 anos, construiu fortes vínculos entre as duas nações, um fenômeno que não é surpresa. Os fluxos constantes de grandes populações, o crescente número de cidadãos com dupla nacionalidade e a facilitação das conexões por meio da tecnologia e das comunicações contribuem para a manutenção desses laços. Durante as primeiras oito décadas do século passado, a demanda do mercado de trabalho dos Estados Unidos foi o principal fator que impulsionou os fluxos migratórios do México para o país vizinho. Isso resultou em uma grande população não autorizada, dada a natureza das políticas migratórias nos Estados Unidos. Embora o trabalho continue sendo um fator determinante, os fluxos migratórios atuais são mais heterogêneos. A reunificação familiar tem grande importância, mas fatores sociais e políticos, como a violência e a insegurança, também têm impulsionado a emigração do México.
As mudanças na demanda por mão-de-obra e o impacto das políticas migratórias nas características dos fluxos de migrantes definiram seis estágios na história da migração México-EUA, conforme sugerido por Jorge Durand. Embora a migração tenha começado como um padrão circular, predominantemente masculino, com o tempo o perfil dos migrantes foi se diversificando. A migração deixou de ser limitada a áreas rurais, abrangendo agora as grandes cidades e áreas metropolitanas do México. A perda da circularidade e a crescente presença das famílias no fluxo migratório são respostas às políticas migratórias mais restritivas, como a Lei de Reforma e Controle da Imigração de 1986 (IRCA), que legalizou a situação de muitos migrantes não autorizados, mas também tornou ilegal a contratação de imigrantes sem documentos após aquele ano. Tais mudanças ajudaram a explicar, em grande parte, o rápido crescimento da população de mexicanos nos Estados Unidos desde a década de 1980.
No entanto, após 2008, a emigração do México para os Estados Unidos diminuiu dramaticamente, e as políticas migratórias impactaram fortemente o aumento da migração de retorno, com muitos migrantes retornando ao México. A população mexicana nos Estados Unidos, que chega a quase 12 milhões, representa cerca de 10% da população total do México e 17% da população em idade ativa. A migração internacional se espalhou por todo o país, e não se limita mais às comunidades tradicionais de origem localizada no oeste do México. De forma semelhante, os retornados estão chegando a locais não tradicionais de migração, o que tem alterado a dinâmica tanto das cidades de origem quanto das de chegada.
Nos níveis mais locais, é comum que um membro da família tenha migrado para os Estados Unidos. Estudo indicam que cerca de um em cada quatro pais migrou durante o período escolar de seus filhos. Para as crianças que crescem em municípios com alta prevalência de migração para os Estados Unidos, a ideia de emigrar para o "Norte" se torna parte do contexto cotidiano. Além disso, a importância das remessas—transferências monetárias enviadas pelos migrantes—como a principal ou única fonte de renda familiar tem crescido consideravelmente, alcançando cerca de 28 bilhões de dólares em 2016. A contribuição das organizações de migrantes para projetos de desenvolvimento local também aumenta a visibilidade dos laços entre os dois países.
Essa migração contínua e multifacetada não apenas redefine as dinâmicas demográficas e econômicas, mas também desafia as abordagens políticas tradicionais sobre imigração. Além disso, revela a necessidade de um olhar mais humanitário e pragmático sobre os fluxos migratórios, um olhar que considere a complexidade das causas e efeitos da migração. A conexão entre as comunidades de origem e destino, as novas dinâmicas familiares e a crescente presença de migrantes de outras regiões, como a América Central, indicam que o sistema de migração México-EUA está em constante transformação, e que seu futuro exige políticas mais inclusivas e informadas.
Como as Condições Econômicas Afetam a Migração Ilegal: Implicações Políticas para os Estados Unidos e o México
A análise das condições econômicas que influenciam a migração não autorizada entre o México e os Estados Unidos revela uma relação complexa entre fatores como salários, emprego, fiscalização na fronteira e até mesmo demografia. Os dados empíricos apontam que os fatores de atração, como os salários mais altos e a maior demanda por trabalho nos Estados Unidos, têm um impacto substancial nas taxas de imigração ilegal. Por outro lado, as condições econômicas no México, especialmente o aumento dos salários e do emprego, atuam como fatores de repelência, reduzindo a migração para o norte.
O aumento dos salários nos Estados Unidos tem um efeito direto e significativo sobre os fluxos migratórios. Um aumento de 1% nos salários médios americanos resulta em um crescimento de 8% a 14% nas migrações ilegais, dependendo da especificação utilizada na análise. Esse aumento da migração pode ser atribuído ao fato de que, durante o período analisado, os salários reais nos Estados Unidos estavam estagnados ou em declínio. Em contraste, no México, um aumento de 1% nos salários reduz as saídas em 3% a 4%, evidenciando que a melhoria das condições econômicas locais diminui os incentivos para emigrar.
Além disso, a criação de novos empregos nos Estados Unidos tem um impacto semelhante. Um aumento de 1% no número de empregos nos EUA, equivalente a cerca de 1,4 milhão de postos de trabalho, leva a um aumento de 13% a 14% na migração. Em contrapartida, a criação de empregos no México tende a reduzir a emigração. Um aumento de 1% no emprego mexicano reduz em 6% o fluxo de emigrantes para os Estados Unidos. Esses dados indicam que os "fatores de atração" no país receptor são mais determinantes do que os "fatores de repulsão" no país de origem, especialmente após uma diminuição da volatilidade salarial no México ao longo do tempo.
No entanto, a fiscalização nas fronteiras também desempenha um papel significativo na redução da migração ilegal. O aumento do número de agentes da Patrulha de Fronteira, por exemplo, reduz a imigração ilegal entre 1% e 3% por cada aumento de 1% no efetivo. A lógica por trás dessa diminuição está relacionada ao aumento das taxas cobradas pelos contrabandistas de migrantes, que tornam a travessia mais cara e arriscada, servindo como um dissuasor.
Outro aspecto relevante da análise é a influência das coortes etárias nos fluxos migratórios. Um aumento no número de adolescentes nos Estados Unidos diminui a migração ilegal, uma vez que os jovens americanos tendem a ocupar os postos de trabalho que, de outra forma, seriam preenchidos por imigrantes ilegais. Já no México, o aumento de jovens ingressando no mercado de trabalho exerce pressão sobre os salários relativos, o que, por sua vez, estimula a migração.
No entanto, os resultados também mostram que fatores como o comércio e as remessas não têm uma relação direta tão forte com os fluxos migratórios. Embora a teoria sugira que o comércio com os Estados Unidos deveria reduzir a migração para o norte, os dados não confirmam um impacto significativo, exceto em uma especificação mais precisa onde a variável de comércio foi negativamente correlacionada com a migração. As remessas enviadas pelos imigrantes não parecem ter um efeito relevante na decisão de emigração, com a exceção de um dos modelos, que exclui os salários.
A dinâmica da migração ilegal nos Estados Unidos não pode ser compreendida sem considerar o papel significativo dos imigrantes indocumentados na economia. Eles representam cerca de 5% da força de trabalho, com uma presença particularmente significativa nos setores de agricultura, construção e lazer/hospitalidade. Embora a porcentagem de trabalhadores indocumentados em determinadas indústrias não seja grande, sua contribuição para o crescimento do emprego é desproporcional. Portanto, a limitação da imigração ilegal sem oferecer uma alternativa legal para a entrada de trabalhadores estrangeiros pode causar um impacto negativo nas indústrias dependentes de mão de obra barata.
A boa notícia é que as políticas de fiscalização na fronteira têm se mostrado eficazes na redução da migração ilegal. No entanto, isso implica a necessidade de criar meios legais para que os trabalhadores imigrantes possam ingressar no mercado de trabalho, caso os Estados Unidos queiram manter um suprimento adequado de mão de obra para sustentar o crescimento econômico. Um exemplo disso são os vistos H2A, utilizados para trabalhadores temporários na agricultura, que aumentaram significativamente nos últimos anos, indicando uma adaptação parcial à necessidade de mão de obra estrangeira.
Outro ponto relevante são as políticas comerciais, que podem impactar de maneira indireta os fluxos migratórios. Políticas comerciais restritivas, como tarifas ou acordos comerciais mais rigorosos, podem exacerbar as motivações para a migração ilegal, criando uma pressão adicional sobre os migrantes para buscar melhores oportunidades nos Estados Unidos. A evidência preliminar sugere que, ao promover o comércio entre os países, especialmente com o México, há uma redução na emigração para os Estados Unidos, pois o crescimento econômico local oferece melhores condições de vida e menos incentivos para emigrar.
Além disso, medidas como a tributação das remessas enviadas por imigrantes indocumentados podem ter efeitos contraproducentes, criando dificuldades para as famílias que dependem desses recursos. Ao diminuir a renda disponível nas comunidades de origem, essas políticas podem, na verdade, aumentar a pressão para a migração, ao invés de reduzi-la.
É fundamental compreender que a migração ilegal não é um fenômeno isolado, mas sim um reflexo de um conjunto complexo de fatores econômicos, sociais e políticos. Modificar esses fatores de forma eficaz requer uma abordagem abrangente, que não apenas controle a imigração ilegal, mas também crie alternativas legais viáveis para atender às necessidades do mercado de trabalho dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que se promovem condições econômicas melhores no México. O equilíbrio entre segurança na fronteira, políticas de imigração adequadas e acordos comerciais justos será crucial para a construção de um sistema que atenda às realidades econômicas de ambos os países.
A Persistência da Produção de Milho no México: O Impacto do NAFTA e a Migração Rural
A migração rural do México para os Estados Unidos, em grande parte, tem sido analisada sob a ótica das mudanças estruturais no setor agrícola, especialmente no que diz respeito ao milho, um dos principais produtos da agricultura mexicana. A implementação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), em 1994, teve um impacto significativo nas dinâmicas agrícolas do México, particularmente na produção de milho e no fluxo de trabalhadores rurais. O acordo promoveu uma liberalização do comércio agrícola, facilitando as importações de milho dos Estados Unidos para o México, mas, ao mesmo tempo, criando novos desafios para os agricultores mexicanos.
A decisão do México de não utilizar as tarifas de transição sobre as importações de milho, que eram parte do NAFTA, resultou na entrada de grandes quantidades de milho dos Estados Unidos sem a aplicação de tarifas sobre a produção, o que favoreceu a competição com os produtos locais. No entanto, contrariamente à expectativa de uma diminuição significativa da produção interna, o setor de milho no México não experimentou um declínio geral. Pelo contrário, a produção doméstica de milho continuou a crescer tanto em volume quanto em valor durante o período de implementação do NAFTA, com um aumento notável nas exportações e importações de milho (Dyer et al. 2018).
O fenômeno de migração rural do México para os Estados Unidos, frequentemente associado à precarização da agricultura, tem sido complexo. Embora tenha diminuído temporariamente até 2001, o fluxo de migrantes rurais mexicanos aumentou consideravelmente após esse período, atingindo seu pico em 2007. Contudo, desde então, esse fluxo tem experimentado uma redução substancial, que pode ser atribuída a vários fatores, como mudanças nas políticas migratórias e nas condições econômicas, tanto no México quanto nos Estados Unidos.
Apesar de a migração ser frequentemente vista como uma válvula de escape para os trabalhadores agrícolas mexicanos, os dados indicam que a relação entre a migração e a produção de milho não é linear nem simples. Por exemplo, enquanto a importação de milho dos Estados Unidos aumentou ao longo dos anos, a produção interna de milho também cresceu, o que sugere que o impacto do NAFTA na migração rural não é exclusivamente causado por uma substituição da produção doméstica. A teoria de que o aumento das importações de milho poderia levar a um aumento na migração rural não encontra confirmação completa na prática.
É importante observar que, embora a liberalização do mercado tenha pressionado os agricultores mexicanos, o governo mexicano implementou políticas como o PROCAMPO, criado em 1994, para mitigar os efeitos negativos dessa abertura de mercado. O PROCAMPO, que fornecia pagamentos decuplicados aos agricultores, buscava apoiar a transição de uma agricultura estatal para uma mais voltada ao mercado. Tais políticas ajudaram a reduzir os impactos negativos das importações de milho dos Estados Unidos e contribuíram para a manutenção da produção local. Além disso, a preferência cultural dos consumidores mexicanos por milho branco, em detrimento do milho amarelo, utilizado principalmente para ração animal e outros usos industriais, também tem sido um fator relevante na preservação da produção doméstica de milho.
Outro fator que se deve considerar é a elasticidade dos preços do milho para os agricultores de subsistência. Enquanto para os agricultores comerciais a elasticidade do preço é negativa, isto é, uma queda nos preços do milho reduz a produção, para os pequenos agricultores de subsistência essa relação pode ser positiva. Isto ocorre porque esses agricultores, que enfrentam menores custos de terra e mão-de-obra, podem se beneficiar de preços mais baixos, o que, paradoxalmente, pode incentivar a continuidade da produção, ao invés de fomentar a migração. Esse comportamento ilustra a complexidade da relação entre preço, migração e produção.
Apesar de o NAFTA ter resultado em um aumento das importações de milho, não há evidências suficientes para afirmar que isso tenha causado uma diminuição significativa na produção interna de milho no México. Em vez disso, a persistência da produção de milho pode ser atribuída a um conjunto de políticas governamentais, preferências culturais e a capacidade dos agricultores de se adaptarem às condições de mercado. Além disso, o aumento das importações de milho também reflete uma crescente interdependência econômica entre o México e os Estados Unidos, com o comércio agrícola desempenhando um papel central nesse processo.
Para o leitor que busca uma compreensão mais ampla deste cenário, é fundamental perceber que as dinâmicas de migração e produção agrícola no México são complexas e multifacetadas. Embora o NAFTA tenha provocado mudanças significativas no comércio de produtos agrícolas, com uma liberalização que favoreceu as importações, isso não resultou em um declínio linear da produção de milho. A migração, embora uma resposta direta a dificuldades econômicas em áreas rurais, não deve ser entendida como uma consequência única e exclusiva das políticas comerciais. Além disso, políticas de apoio governamental, como o PROCAMPO, desempenham um papel crucial em sustentar a produção doméstica, permitindo que o México se adapte às pressões do mercado globalizado. A relação entre migração, produção e políticas públicas, portanto, exige uma análise que leve em consideração não apenas os fluxos comerciais, mas também as respostas locais e as características culturais da sociedade mexicana.
A Ascensão do Nacionalismo e a Imigração Mexicana nos EUA: Uma Análise Histórica
A ideia de que o "sonho americano" é acessível para todos é amplamente disseminada, mas figuras como Donald Trump nos lembram que a história da imigração nos Estados Unidos é marcada por uma sombra histórica. Essa narrativa não se limita a uma experiência positiva, mas é construída sobre conflitos e expansões territoriais, o que moldou a identidade nacional americana de maneira complexa e, muitas vezes, contraditória. Ao contrário do pensamento predominante, que vê os imigrantes como componentes que se fundem facilmente à "mistura americana", a experiência dos mexicanos nos Estados Unidos reflete uma tensão contínua, marcada por questionamentos sobre pertencimento e cidadania.
Desde a Guerra Mexicano-Americana (1846-1848) e a subsequente anexação dos territórios do norte do México, o vínculo entre os mexicanos e os Estados Unidos tem sido um tema de ambiguidade. Essa anexação não apenas redistribuiu fronteiras, mas também criou uma população que, em muitos aspectos, permaneceu à margem da identidade americana dominante. As questões relacionadas aos direitos dos mexicanos nos novos territórios foram intensamente debatidas, com preocupações sobre sua capacidade de assimilação e seu status como cidadãos americanos. A cidadania para os mexicanos foi sempre contestada e marcada pela incerteza, com disputas legais e sociais que buscavam garantir ou negar-lhes os direitos fundamentais.
Embora a imigração mexicana para os Estados Unidos tenha sido uma constante, foi na década de 1920 que ela começou a despertar temores significativos entre os nativistas. O medo de uma "invasão silenciosa" de trabalhadores mexicanos, alimentado pela Grande Depressão e por movimentos nativistas brancos, gerou um ciclo de recrutamento e expulsão. Esse processo ficou visível na criação de programas como o Bracero, que permitia a entrada temporária de trabalhadores mexicanos para suprir lacunas no mercado de trabalho durante a Segunda Guerra Mundial, mas também resultava em ondas de deportações em momentos de crise econômica, como ocorreu com a Operação Wetback nos anos 1950.
Essas movimentações políticas evidenciam uma contradição fundamental no discurso sobre imigração nos Estados Unidos: a necessidade da mão de obra mexicana para impulsionar a economia agrícola e industrial, ao mesmo tempo em que se nega a esses trabalhadores a chance de obter cidadania ou residência permanente. Essa dinâmica reflete um ciclo vicioso em que os imigrantes são procurados em tempos de necessidade econômica, mas rejeitados em momentos de dificuldades internas, perpetuando a marginalização de comunidades imigrantes.
Nos últimos anos, o discurso em torno da imigração foi profundamente influenciado por uma retórica de segurança nacional, que se intensificou com a ascensão de movimentos populistas e o fortalecimento de uma agenda nativista. A imagem de uma "invasão" de imigrantes, especialmente mexicanos, tornou-se central nesse discurso, com alegações de que os Estados Unidos enfrentam uma ameaça existencial por conta da imigração ilegal. Tais afirmações ressoam não apenas entre políticos, mas também em diversos setores da sociedade, reforçando a ideia de que a imigração mexicana é um problema que precisa ser "controlado", a fim de proteger a identidade cultural e os interesses econômicos do país.
No entanto, é fundamental entender que essa narrativa não é apenas sobre segurança, mas também sobre controle social e racial. A experiência dos mexicanos e mexicano-americanos não se limita à questão da imigração, mas está profundamente enraizada na história da conquista, da colonização e das tensões raciais que moldaram os Estados Unidos desde sua formação. A separação entre "americanos" e "mexicanos" não é apenas uma questão de nacionalidade ou cidadania, mas de identidade racial e cultural, com implicações profundas para as políticas de imigração e para a maneira como as minorias são percebidas e tratadas na sociedade americana.
Em um nível mais amplo, a relação entre os Estados Unidos e seus vizinhos do sul, especialmente o México, revela um padrão de manipulação política, onde a imigração é vista como uma moeda de troca em momentos de necessidade econômica e uma ameaça em tempos de instabilidade social e política. Esse ciclo de recrutamento e expulsão não é apenas uma questão de políticas governamentais, mas reflete uma visão mais profunda sobre o papel dos imigrantes na sociedade americana.
Por fim, a imigração mexicana para os Estados Unidos não pode ser compreendida isoladamente como um simples movimento de pessoas em busca de uma vida melhor. Ela está imersa em um contexto histórico e político que envolve disputas territoriais, identidade racial, e dinâmicas de poder que remontam à própria fundação do país. A luta por pertencimento e cidadania continua sendo uma batalha para muitos imigrantes mexicanos, e as mudanças nas políticas de imigração frequentemente refletem essas tensões subjacentes entre a necessidade de mão de obra e o medo da "invasão" cultural e racial.
O Impacto do Livre Comércio no Setor Agropecuário Mexicano: Mitos, Realidades e Perspectivas
O setor agropecuário mexicano tem sido um dos alvos mais visíveis de discussões em torno dos impactos do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN) e, mais recentemente, do Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá (TMEC). A princípio, muitos viam o livre comércio como uma solução para os problemas de competitividade do setor, trazendo uma promessa de aumento nas exportações e modernização das práticas agrícolas. No entanto, a realidade tem se mostrado mais complexa. Embora o comércio tenha promovido alguns benefícios, muitos mitos persistem sobre a verdadeira natureza dos impactos econômicos e sociais.
Um dos maiores desafios enfrentados pelo setor agropecuário mexicano é a assimetria entre os países que compõem o acordo. Enquanto o México busca aumentar suas exportações de produtos agrícolas, o país enfrenta dificuldades significativas devido à disparidade de capacidade tecnológica e econômica em relação aos seus parceiros comerciais, especialmente os Estados Unidos. A implementação de políticas como o PROCAMPO, que visa apoiar pequenos produtores, não tem sido suficiente para nivelar as condições de competitividade entre os produtores mexicanos e os grandes conglomerados agrícolas dos Estados Unidos. Estudos sobre o impacto do PROCAMPO revelam que, apesar da assistência governamental, os pequenos produtores ainda enfrentam barreiras substanciais no acesso a mercados e tecnologias.
Além disso, a migração de uma agricultura tradicional para um modelo mais industrializado tem gerado efeitos adversos. A concentração de terras e a predominância de grandes empresas agropecuárias tendem a reduzir a diversidade produtiva e a tornar o setor mais vulnerável a crises econômicas globais, como as causadas pela volatilidade dos preços internacionais das commodities. O mercado de trabalho agrícola também tem se visto afetado, com um aumento na precarização das condições de trabalho, onde os salários permanecem baixos e as condições de vida nas áreas rurais são desafiadoras.
Outro ponto de debate é a competitividade do México em relação ao seu parceiro comercial mais próximo, os Estados Unidos. A promessa de que a eliminação de tarifas ajudaria a aumentar a competitividade das exportações mexicanas nem sempre se concretizou. Por um lado, o México tem se beneficiado da exportação de produtos como tomate, pimentão e abacate, que se destacam nos mercados norte-americanos. Por outro lado, o país continua a enfrentar problemas estruturais que limitam o crescimento de outros segmentos do setor agropecuário, como a produção de milho, onde as importações de milho dos Estados Unidos ultrapassam as necessidades internas de consumo, prejudicando a soberania alimentar do país.
A realidade do livre comércio, especialmente no contexto do setor agropecuário mexicano, vai além das promessas iniciais. Os impactos das reformas e da liberalização comercial têm sido complexos e muitas vezes contraditórios. O que se espera de uma análise mais detalhada é uma compreensão das diversas camadas de desigualdade econômica, social e regional que permeiam o setor agrícola. A agenda de reformas deveria considerar a capacitação tecnológica, o apoio à diversificação da produção e a promoção de um modelo mais justo de distribuição dos benefícios do comércio.
Além disso, é fundamental compreender a interação entre as políticas agrícolas e as políticas ambientais. O crescente uso de agroquímicos e a falta de infraestrutura adequada para o manejo sustentável das terras tem trazido desafios adicionais para a preservação do meio ambiente. A busca por um equilíbrio entre modernização e sustentabilidade deve ser prioridade para o futuro do setor.
Por fim, é importante considerar que, apesar das dificuldades, o livre comércio e a abertura dos mercados também oferecem oportunidades para a inovação e o fortalecimento das cadeias produtivas. A diversificação das parcerias comerciais e a busca por novos mercados são passos essenciais para garantir que os benefícios do comércio não sejam restritos a um pequeno número de grandes produtores, mas possam ser compartilhados de maneira mais equitativa por todos os atores do setor agropecuário mexicano.
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