No campo da dermatologia, lidar com pacientes que apresentam lesões cutâneas devido a comportamentos repetitivos como a manipulação das próprias lesões ou pelos encravados é uma tarefa complexa. Esses pacientes, muitas vezes, se veem em um ciclo de exacerbação da condição devido à dificuldade de controle do impulso, associado a fatores emocionais como estresse e ansiedade. Portanto, o tratamento não envolve apenas intervenções dermatológicas diretas, mas também uma compreensão profunda da dinâmica psicológica do paciente.

Primeiramente, o controle das lesões é essencial. Para resolver a questão das pápulas, pústulas e pelos encravados, é necessário um enfoque multifacetado. Quando as lesões são escuras, a redução do crescimento capilar com o uso de laser é uma estratégia recomendada. A redução de pelos a laser é eficaz principalmente nas áreas faciais, com sessões a cada seis a oito semanas, por um total de oito a dez tratamentos, seguidos de sessões anuais de manutenção. A eficácia do tratamento está ligada à capacidade do laser de atuar na fase anágena do ciclo capilar, o que explica a necessidade de múltiplas sessões. Contudo, o paciente deve ser informado de que pacotes de “três tratamentos” muitas vezes visam apenas o lucro, e que um número maior de sessões é, de fato, necessário para bons resultados.

Para pacientes com tons de pele mais escuros, pode-se optar pela depilação elétrica, que, embora mais acessível, tende a ser mais dolorosa e requer um número maior de sessões, variando entre 20 a 30 tratamentos. A diferença entre essas abordagens deve ser discutida com o paciente, que pode ter preocupações sobre a eficácia dos tratamentos dependendo de seu tipo de pele.

Além disso, é crucial que o tratamento dermatológico seja complementado por uma abordagem psicossocial, especialmente se o paciente for reticente em admitir os comportamentos autolesivos. É necessário desenvolver uma relação de confiança para que o paciente se sinta confortável em discutir o verdadeiro motivo por trás de suas ações. Se o paciente revela que está se machucando devido a sentimentos de ansiedade ou estresse, uma simples referência à psicoterapia pode ser suficiente. Porém, é essencial que o dermatologista compreenda que o sucesso do tratamento também depende de como ele se comunica com o paciente e do suporte emocional oferecido.

Caso o paciente recuse a admitir a manipulação da pele, é fundamental não ser confrontacional, pois frequentemente a negação vem acompanhada de vergonha ou estigma. O profissional deve, então, demonstrar interesse genuíno, reforçando sua preocupação com a saúde e bem-estar do paciente. A criação de um vínculo forte é a chave para, com o tempo, ajudar o paciente a lidar com a condição. Medicações tópicas, como cremes que aliviam o desconforto imediato, podem ser introduzidas, mas o foco principal deve ser na construção gradual da confiança.

Em casos mais graves, quando o paciente apresenta delírios parasíticos (formicação), onde acredita estar infestada por parasitas invisíveis, o tratamento dermatológico pode incluir o uso de medicamentos que atuam no sistema nervoso. Um exemplo é o trifluoperazina, utilizado em doses muito menores do que as indicadas para doenças psiquiátricas, sendo eficaz para controlar o formigamento e a sensação de insetos sob a pele. Este tratamento, embora fora do protocolo padrão de dermatologia, tem mostrado resultados significativos em pacientes com sintomas de fibromialgia cutânea, uma condição que afeta as fibras nervosas da pele.

No entanto, é importante que os dermatologistas compreendam que a ética nesse cenário vai além dos diagnósticos convencionais. Quando se trata de pacientes com transtornos psíquicos ou delirantes, o foco deve ser sempre o benefício do paciente, muitas vezes sem rotulá-los como “psicóticos”. O profissional deve estar preparado para lidar com situações em que o diagnóstico tradicional não é útil, e o uso de medicações deve ser uma ferramenta a ser usada com cautela.

Existem, ainda, abordagens não farmacológicas que podem ser eficazes para lidar com o comportamento de manipulação cutânea. Terapias como a reversão de hábitos (habit reversal) e a terapia cognitivo-comportamental (TCC) são recursos valiosos para modificar comportamentos compulsivos. Em muitos casos, é útil incentivar o paciente a realizar atividades que ajudem a relaxar, criando alternativas ao impulso de manipulação. Técnicas simples, como a utilização de um relógio digital com alarmes regulares, podem ser eficazes para ajudar os pacientes a interromper o ciclo do comportamento repetitivo.

Por fim, é fundamental compreender que a manipulação das lesões cutâneas, embora aparentemente simples, é um sintoma de questões psicológicas mais profundas. O tratamento dermatológico deve ser apenas uma parte do processo terapêutico, com a abordagem psicossocial desempenhando um papel igualmente importante. A paciência e o entendimento do profissional são essenciais para que o paciente consiga superar a condição de forma eficaz e duradoura.

Como abordar tratamentos medicamentosos e acompanhamento em doenças dermatológicas crônicas

Ao iniciar um tratamento com medicamentos imunossupressores para doenças dermatológicas crônicas, é fundamental que o paciente tenha um entendimento claro sobre as implicações a longo prazo desses medicamentos, tanto para sua saúde imediata quanto para o futuro. Muitas vezes, o que se busca é uma solução sustentável, que, além de controlar a doença, minimize os riscos associados ao uso prolongado de fármacos. O acompanhamento cuidadoso, portanto, não é apenas uma questão de administrar o medicamento de forma adequada, mas também de comunicar de forma transparente com o paciente, garantindo que ele compreenda o que está em jogo e se comprometa com o tratamento a longo prazo.

Ao tratar doenças inflamatórias crônicas, como a artrite reumatoide ou doenças dermatológicas autoimunes, o uso de medicamentos imunossupressores, como o metotrexato (MTX), a ciclosporina (CsA) e a hidroxicloroquina (HCQ), por exemplo, se torna uma estratégia essencial. Entretanto, cada medicamento exige cuidados específicos e um entendimento detalhado de seus efeitos colaterais e da monitorização necessária. O metotrexato, por exemplo, é amplamente utilizado, mas requer precauções rigorosas. Seu uso em doses elevadas pode levar à hepatotoxicidade, fibrose pulmonar e depressão medular. Como efeito adverso comum, ele pode induzir náuseas, e em casos mais raros, pode resultar em leucopenia. Além disso, é importante lembrar que o metotrexato pode reduzir a contagem de espermatozoides nos homens e não deve ser usado durante a gravidez.

Em relação à administração do metotrexato, o ajuste da dose deve ser feito com cautela. A titulação inicial pode começar com doses mais baixas, como 2,5 mg uma vez por semana em crianças pequenas, e aumentar conforme necessário, sempre com monitoramento rigoroso das funções hepática e renal. Além disso, a suplementação com ácido folínico (vitamina B9) é recomendada para minimizar os efeitos colaterais, especialmente nas primeiras semanas de tratamento. A B9 pode ser administrada em doses mais altas durante os dias em que o paciente toma o metotrexato, e isso ajuda a reduzir o risco de efeitos colaterais gastrointestinais e hematológicos.

Outro medicamento importante, o micofenolato mofetil (MMF), é mais potente que o metotrexato e também exige cuidados semelhantes, com monitoramento constante de exames laboratoriais. Sua principal limitação é o risco de efeitos adversos gastrointestinais, como dor abdominal e diarreia, além de leucopenia, embora este último ocorra em uma frequência muito baixa. O MMF é particularmente eficaz no controle de doenças inflamatórias que afetam os pulmões, sendo uma opção mais segura em comparação ao metotrexato, que possui uma associação rara, mas possível, com fibrose pulmonar.

Para doenças como o lupus eritematoso cutâneo e outros distúrbios mediadores da luz ultravioleta, a hidroxicloroquina (HCQ) é um medicamento de escolha. Sua ação imunomoduladora é eficaz no controle da inflamação cutânea. No entanto, como qualquer tratamento de longo prazo, a hidroxicloroquina também exige monitoramento contínuo, especialmente da função ocular, uma vez que pode causar retinopatia irreversível após anos de uso. Portanto, a realização de exames oftalmológicos anuais é imprescindível para pacientes em tratamento prolongado.

A ciclosporina (CsA), usada para controlar doenças dermatológicas inflamatórias graves, também deve ser administrada com precaução. Ela exige monitoramento regular da pressão arterial, função renal e lipídios no sangue, já que o uso prolongado pode resultar em fibrose renal. Além disso, a ciclosporina pode causar hipertensão gengival, especialmente quando utilizada em doses mais altas. Sua utilização deve ser restrita a casos agudos ou em situações em que outros tratamentos não foram eficazes.

É igualmente relevante compreender as contraindicações dos tratamentos imunossupressores, como a interação com medicamentos como o TMP-SMX (um antibiótico que pode induzir reações adversas graves em pacientes em uso de metotrexato) e o álcool, que pode agravar os efeitos colaterais do metotrexato e da ciclosporina. Além disso, os pacientes devem ser orientados a evitar a gravidez durante o tratamento, dada a toxicidade potencial para o feto.

Por fim, uma abordagem bem-sucedida no tratamento de doenças dermatológicas crônicas também envolve o uso de terapias complementares, como a fototerapia, que pode ser extremamente eficaz no controle de doenças como a psoríase. O uso de cremes e outros tratamentos tópicos, bem como o acompanhamento com exames de imagem, pode ser necessário para avaliar o impacto do tratamento a longo prazo.

É importante lembrar que os tratamentos imunossupressores não devem ser vistos isoladamente. O acompanhamento multidisciplinar, envolvendo dermatologistas, reumatologistas, oftalmologistas e outros especialistas, é fundamental para garantir que os pacientes recebam o cuidado adequado. Além disso, a educação do paciente sobre o tratamento e os cuidados necessários é essencial para a adesão terapêutica a longo prazo.

Como planejar e executar incisões e suturas para resultados ótimos em procedimentos dermatológicos

Ao abordar procedimentos cirúrgicos dermatológicos, o planejamento meticuloso e a técnica precisa são fundamentais para minimizar complicações e otimizar a cicatrização. Uma das estratégias essenciais envolve não apenas evitar complicações, mas também antecipar e controlar a manipulação do tecido durante o procedimento. Por exemplo, ao trabalhar na região posterior da orelha, pode-se fixar a orelha na área pré-auricular para evitar a necessidade de mantê-la com a mão durante todo o procedimento, facilitando a operação e melhorando o resultado final.

Quando a pele é móvel, como nos lábios, língua ou genitália, o uso de pontos de tração torna-se uma ferramenta valiosa para alinhar a pele e permitir uma aproximação mais linear e precisa dos bordos da ferida. Entretanto, em áreas onde a pele é naturalmente frouxa, como nos lábios ou escroto, pequenas irregularidades como “orelhas de cachorro” (dog ears) são menos preocupantes devido à elasticidade da pele, que permite uma boa adaptação mesmo em linhas não perfeitamente retas.

Em locais anatômicos específicos, a consideração da anatomia local é indispensável para evitar sequelas funcionais. Por exemplo, na região do cotovelo, evitar a exposição da bursa é crucial para prevenir rigidez articular. Caso a bursa seja inadvertidamente exposta, é recomendável suturá-la, preferencialmente com pontos em “oito”, para evitar aderências e cicatrizes que limitem o movimento.

O conhecimento detalhado da vascularização local transcende a simples memorização dos nomes das artérias e veias. Saber onde realizar compressão para controlar o sangramento pode transformar o manejo cirúrgico. Por exemplo, ao operar no lábio superior, comprimir os pontos próximos às artérias labiais superiores reduz o sangramento, melhorando a visibilidade do campo operatório e diminuindo a necessidade de uso de cautério em áreas delicadas, como pálpebras e lábios, onde a cauterização pode ser prejudicial.

A ergonomia do cirurgião também influencia diretamente a qualidade do procedimento. Quando instrumentos parecem desproporcionais para áreas pequenas ou o apoio da cabeça dificulta os movimentos, inverter a posição das mãos pode facilitar a manipulação sem comprometer a precisão.

A comunicação clara com o paciente antes da cirurgia é igualmente relevante. O paciente deve compreender que a troca é entre uma lesão e uma cicatriz, que idealmente será o menos perceptível possível, porém, há sempre risco de recidiva. Explicar o processo de recuperação e possíveis intercorrências permite ajustar expectativas e planejar o momento do procedimento de acordo com compromissos pessoais, reduzindo ansiedade e promovendo uma colaboração mais efetiva.

O posicionamento do paciente deve priorizar o conforto do cirurgião, pois a duração do procedimento será muito maior para o profissional do que para o paciente. Posturas que preservem a ergonomia do cirurgião, ainda que não sejam as mais confortáveis para o paciente, devem ser buscadas, sempre monitorando sinais de desconforto ou reações vagais.

A aplicação da anestesia local deve ser realizada preferencialmente pelo próprio cirurgião para manter o controle do procedimento e obter informações valiosas sobre a profundidade da pele e resposta ao anestésico. A injeção superficial, no nível da derme, é crucial para a eficácia da anestesia, e deve ser confirmada antes do início do corte. Em áreas vascularizadas ou em pacientes sob uso de anticoagulantes, aguardar alguns minutos para o efeito da epinefrina reduzir o sangramento pode ser decisivo para a qualidade da cirurgia.

No momento da incisão, a precisão na demarcação é um pilar para um fechamento eficaz e uma cicatrização harmoniosa. É preferível traçar o desenho antes da anestesia, quando as características da pele e da lesão ainda são nítidas. A proporção clássica do comprimento da incisão deve ser aproximadamente três vezes o diâmetro da lesão para evitar deformidades estéticas, como “orelhas de cachorro”. Em regiões com pele fina, como o rosto, proporções ligeiramente menores podem ser aceitáveis.

O corte deve ser executado com ângulo de 90 graus, evitando biselar a incisão, a menos que se esteja trabalhando em áreas específicas, como couro cabeludo, onde o alinhamento com os folículos capilares pode justificar pequenas alterações na técnica. O objetivo é obter bordas verticais e uniformes, que facilitarão a aproximação e evitarão irregularidades no contorno da cicatriz. O uso do bisturi deve ser firme e contínuo para evitar cortes em degraus, que podem dificultar a aproximação dos tecidos e prejudicar a estética final.

Durante a retirada da lesão, manter a orientação natural do tecido é fundamental para avaliação adequada da profundidade e extensão, além de facilitar exames anatomopatológicos subsequentes. Após a excisão, a soltura da pele (undermining) é essencial para diminuir a tensão na sutura, geralmente realizada no plano do tecido subcutâneo. Exceções existem, como no couro cabeludo, onde a desinserção no plano subgaleal minimiza o sangramento e facilita a mobilização.

Além do que foi exposto, é fundamental compreender que o sucesso dos procedimentos dermatológicos cirúrgicos reside em um equilíbrio entre técnica cirúrgica apurada, conhecimento anatômico detalhado e sensibilidade para o manejo do paciente. A capacidade de adaptação às particularidades de cada região anatômica e paciente, aliada à atenção rigorosa às etapas da cirurgia, determina resultados estéticos e funcionais superiores. A compreensão profunda da dinâmica da pele, sua vascularização e elasticidade, assim como a antecipação das dificuldades inerentes a cada procedimento, compõem o alicerce para a excelência clínica.