O uso de dispositivos de assistência ventricular (VAD) em pacientes pediátricos continua a ser um campo de grandes avanços e desafios. A escolha do momento ideal para a implantação do dispositivo, especialmente em situações críticas, é de extrema importância, dado que a falência do ventrículo direito (RV) pode ser evitada ou controlada se a implantação for realizada de maneira adequada. No entanto, a previsão da necessidade de um suporte adicional, como um RVAD, é complexa, e muitas vezes a ecocardiografia sozinha não é suficiente para fazer essa avaliação de maneira eficaz. A reversão de anticoagulantes, como a warfarina, com o uso de vitamina K ou plasma fresco congelado, é uma estratégia importante para prevenir complicações trombóticas agudas e grandes sangramentos no momento da cirurgia.

Além disso, o manejo de anticoagulação, especialmente em crianças que recebem suporte com dispositivos mecânicos, precisa ser cuidadosamente monitorado, visto que eventos de sucção, redução do fluxo sanguíneo do LVAD ou falência renal ou hepática persistente podem indicar que o suporte ventricular direito (RV) não está sendo adequado. Medicações, como os agentes antiplaquetários, embora irreversíveis, podem ser descontinuadas com a adição de transfusões de plaquetas para ajudar no controle dos riscos hemorrágicos. A utilização de bivalirudina, por exemplo, é frequentemente suspensa cerca de 30 minutos antes dos procedimentos para minimizar complicações. Se o paciente precisar de um suporte prolongado, um RVAD de fluxo contínuo ou um dispositivo de fluxo pulsátil pode ser indicado.

No caso de pacientes que necessitam de um transplante cardíaco, a remoção do VAD durante o processo de transplantação é um desafio adicional. A cirurgia de explante do dispositivo pode ser mais complicada devido à formação de aderências, especialmente em pacientes que já passaram por várias esternotomias anteriores, como é comum em crianças com doenças cardíacas congênitas. Estratégias de mitigação, como o uso de polietileno de tetrafluoretileno (PTFE) para facilitar o acesso durante futuras operações, podem ser empregadas no momento da implantação do dispositivo para garantir que o transplante seja realizado com a maior segurança possível.

No contexto do tratamento pediátrico, o conceito de "terapia de destino" está se expandindo. Enquanto em adultos esse conceito já é amplamente aceito, o uso de VADs como terapia prolongada, sem a necessidade de transplante, está se tornando mais comum em pacientes pediátricos. Crianças com insuficiência cardíaca grave, que são incapazes de se beneficiar de um transplante, podem ser mantidas com dispositivos de assistência circulatória até que a recuperação do músculo cardíaco seja possível. O uso de dispositivos como o EXCOR Berlin é uma prática crescente, com bons resultados comparáveis aos de pacientes adultos.

No entanto, é importante destacar que a recuperação do funcionamento cardíaco natural após a implantação de um VAD é rara em crianças. As condições mais comuns que permitem uma possível recuperação incluem miocardite, miocardiopatia dilatada e algumas doenças cardíacas congênitas. A probabilidade de recuperação tende a ser maior em crianças com menos de dois anos, o que representa um fator prognóstico positivo. A avaliação da recuperação do paciente, no entanto, é desafiadora, pois ainda não existem protocolos amplamente estabelecidos ou estudos definitivos sobre a melhor maneira de realizar o desmame de dispositivos e determinar a possibilidade de explante. Ferramentas como ecocardiografia, testes de exercício cardiopulmonar e cateterismo do coração direito são úteis, mas os critérios para determinar a recuperação real do paciente ainda estão sendo aprimorados.

A adesão a protocolos de harmonização e a cooperação multidisciplinar, incluindo profissionais de psicologia, trabalho social, nutrição e cuidados paliativos, são fundamentais para o sucesso da terapia de longo prazo. Tais abordagens podem ajudar a oferecer uma melhor qualidade de vida a pacientes e famílias, e preparar as equipes para os desafios após a alta hospitalar. Após a instalação de um VAD, a educação e treinamento dos cuidadores são cruciais para garantir que eles estejam aptos a lidar com complicações, como alarmes do dispositivo ou sinais de falha, e para promover o retorno gradual à vida normal, seja escolar ou profissional.

É importante também que, ao longo do tratamento, a comunicação constante entre médicos, equipes de cuidados e a família seja estabelecida, garantindo que todos os aspectos da recuperação e do manejo sejam bem compreendidos e acompanhados. Em muitos casos, a coordenação com serviços médicos locais e a preparação para situações de emergência podem fazer a diferença no prognóstico do paciente.

O Futuro dos Dispositivos de Assistência Ventricular Esquerda (LVADs) e sua Evolução no Tratamento da Insuficiência Cardíaca Avançada

O avanço dos dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVADs) tem representado um marco importante no tratamento da insuficiência cardíaca avançada. Ao longo dos anos, os LVADs evoluíram significativamente, tanto em termos de design quanto de funcionalidade, permitindo que os pacientes com insuficiência cardíaca terminal sobrevivessem mais tempo enquanto aguardam um transplante ou, em alguns casos, apresentem recuperação funcional do coração.

Historicamente, os dispositivos de assistência ventricular começaram com sistemas pulsáteis, como o HeartMate I, que, embora eficaz, possuíam limitações importantes em termos de durabilidade e eficiência. O desenvolvimento de LVADs de fluxo contínuo, como o HeartMate II, representou um avanço significativo. Estes dispositivos não apenas oferecem uma assistência mais eficiente, mas também melhoram o prognóstico dos pacientes, reduzindo as complicações associadas ao fluxo pulsátil.

O HeartMate 3, uma das mais recentes inovações nesta área, traz consigo a promessa de um futuro ainda mais promissor. Este dispositivo utiliza um sistema de levitação magnética totalmente contínuo, eliminando o contato físico entre as partes móveis e fixas do sistema. Essa característica é crucial, pois minimiza o desgaste das peças e melhora a durabilidade do dispositivo, o que pode reduzir significativamente as taxas de falha e a necessidade de intervenções adicionais.

Entretanto, o uso do HeartMate 3 não está isento de desafios. Um dos principais problemas identificados é a obstrução do fluxo sanguíneo no pós-operatório, particularmente com o dispositivo de assistência ao ventrículo esquerdo, que pode ser causado por torções ou complicações no enxerto de saída. Estudos como os de Potapov e colaboradores, publicados em 2019 e 2020, discutem casos raros, mas significativos, de obstrução do fluxo sanguíneo devido a esse tipo de torção ou bloqueio, exigindo a introdução de soluções cirúrgicas inovadoras para corrigir esses problemas.

Além disso, a longo prazo, a hemo-compatibilidade continua sendo uma preocupação central. Dispositivos como o HeartMate 3, por exemplo, apresentam riscos de tromboembolismo e complicações relacionadas à coagulação, apesar dos avanços nos materiais utilizados e na engenharia dos dispositivos. O monitoramento contínuo da hemodinâmica e da função cardíaca, particularmente com a introdução de sensores de pressão, como demonstrado no HeartWare MVAD, é fundamental para garantir a funcionalidade adequada dos dispositivos e prevenir complicações graves.

Um aspecto notável na evolução dos LVADs é o seu impacto no transplante cardíaco. O aumento no número de pacientes que sobrevivem com LVADs tem influenciado a estratégia de alocação de corações para transplante, com implicações para as listas de espera e a priorização de pacientes. O aumento da sobrevida com dispositivos de assistência também levanta questões sobre a necessidade de uma redefinição de critérios de transplante e as oportunidades para melhorar a qualidade de vida dos pacientes enquanto aguardam.

Em termos de futuro, há uma forte tendência de integrar tecnologias como sensores sem fio e sistemas de monitoramento remoto para melhorar a gestão de pacientes com LVADs. Essas inovações podem permitir um acompanhamento mais preciso e em tempo real, além de facilitar a detecção precoce de falhas ou complicações, o que resulta em uma gestão mais eficaz do paciente.

Além disso, a pesquisa sobre o uso de novas formas de propulsão, como a levitação magnética, e a exploração de novas fontes de energia para os dispositivos — como o uso de plutônio-238, como discutido por Tchantchaleishvili e outros — pode abrir novas portas para um futuro onde os LVADs sejam mais eficientes, seguros e duradouros.

Os dispositivos de assistência ventricular esquerda continuam a ser uma parte essencial do tratamento da insuficiência cardíaca avançada. Apesar dos avanços significativos, ainda existem áreas críticas que necessitam de melhorias contínuas. Os estudos atuais indicam que, embora os pacientes possam viver com esses dispositivos por anos, a solução definitiva para a insuficiência cardíaca continua sendo o transplante, enquanto alternativas e melhorias tecnológicas se tornam cada vez mais necessárias para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes.