Malinin e eu tentávamos nos afastar da colônia de formigas, mas algo estranho aconteceu. Ao invés de retrocedermos, fomos irresistivelmente puxados para a frente, em direção ao formigueiro. Sentíamos que estávamos fazendo isso contra nossa vontade, e, no entanto, não podíamos impedir. Algo, uma força invisível, nos atraía passo a passo em direção ao tumulto das formigas.
Eu podia ver claramente que, mesmo em um dia em que o mundo humano descansava, as formigas não paravam de trabalhar. Elas estavam, sem dúvida alguma, ocupadas. Seus corpos pequenos, ágeis e incansáveis moviam-se de maneira coordenada, carregando pedaços de madeira, folhas secas, e até uma libélula gigantesca, que, apesar das dificuldades, se movia em direção ao formigueiro.
"Estão trabalhando!" eu disse a Kostya, observando com espanto o que se passava diante de nossos olhos. Mas ele, cínico como sempre, respondeu: "Isso é porque são ignorantes, não sabem o que é descanso. Não sabem o que é domingo. Mas nós, que somos educados, não vamos trabalhar." O argumento parecia lógico na sua forma superficial, mas algo em mim já questionava essa visão.
A princípio, Kostya e eu também acreditávamos que o Instinto não deveria ser obedecido, que podíamos escolher não agir como as formigas. No entanto, a resistência foi vencida. Sem perceber, cada um de nós pegou um galho seco e começou a carregá-lo, sem nenhuma explicação lógica, mas com uma necessidade súbita e inexplicável. A sensação era inebriante. Enquanto caminhávamos em direção ao formigueiro, sentíamos um alívio crescente, uma espécie de satisfação pelo simples ato de trabalhar.
As formigas, em seu trabalho incessante, nunca faziam pausas. Elas não conversavam, não discutiam, nem descansavam. Elas seguiam suas tarefas, sem um líder claro ou qualquer tipo de ordem verbal. Não havia ninguém gritando, ninguém ordenando. Elas trabalhavam. Elas não faziam perguntas. Não havia espaço para o questionamento do porquê ou do como. Apenas agiam. Enquanto isso, nós, com nossa educação e consciência de nossas próprias necessidades e desejos, simplesmente cedemos ao instinto, sem entender completamente por que estávamos fazendo o que fazíamos.
Eu tentei questionar a validade de tudo aquilo, quando, em um momento de clareza, percebi que o Instinto, tal como exposto no livro A Senha dos Sentidos Cruzados, nos direcionava, nos controlava, sem que sequer soubéssemos como ou por que. O Instinto nos leva a trabalhar até o fim do dia, até o sol se pôr. E, de fato, quando o trabalho parecia sem fim, uma interrupção inesperada ocorreu. Venka Smirnov, um conhecido nosso, passou por perto e, ao mexer no formigueiro com sua pá, algo em nós mudou. Como se uma chave fosse virada, todos nós começamos a trabalhar em um ritmo frenético, sem parar. O Instinto se ativou, e o trabalho tornou-se dez vezes mais intenso e rápido.
Fiquei surpreso com o poder dessa força invisível. Não importa o que pensássemos, o que quiséssemos, o Instinto nos guiava. Mesmo se quiséssemos parar, não poderíamos. As formigas não tinham escolhas. Elas seguiam a força do Instinto, e, por mais que tentássemos resistir, também fomos tomados por ela. Não havia maneira de escapar.
Nesse momento, uma realidade simples e dolorosa se impôs: a vida que eu imaginava, uma vida de inatividade ou de simples observação, não existia. Nem as formigas, nem os pássaros, nem as borboletas, nem mesmo os zangões viviam sem fazer nada. Para não fazer nada, era necessário fazer muito mais. E, no fim, o trabalho, com ou sem sentido, parecia ser a única resposta possível. Se tentássemos evitar o trabalho, seríamos forçados a trabalhar ainda mais, até que nos rendêssemos a ele.
É claro que, mesmo com a forte pressão do Instinto, surgem momentos de reflexão. A aparente futilidade do trabalho das formigas, sem nenhuma razão clara, poderia ser vista como uma metáfora para a vida humana. Muitas vezes, nos vemos envolvidos em atividades e obrigações que não entendemos completamente. O trabalho, com seu ritmo impessoal e incessante, pode parecer sem sentido, mas é a estrutura em que todos estamos inseridos.
Por mais que a sociedade humana tenha tentado se afastar dessa lógica do Instinto, o fato é que ela ainda nos influencia, nos dirige, e, muitas vezes, nos define. Nos momentos em que tentamos lutar contra essa força, não percebemos que, ao fazer isso, estamos apenas aceitando outra forma de trabalho. Trabalho mental, emocional, social – em todos os aspectos da vida, o Instinto, a necessidade de agir, nos empurra para frente.
Talvez, se olharmos mais de perto, possamos perceber que essa força não precisa ser temida, mas compreendida. Ela nos direciona, nos estrutura, nos mantém em movimento. A verdadeira liberdade, talvez, não resida na fuga do trabalho, mas na aceitação do que ele significa. O trabalho das formigas, aparentemente sem sentido, nos ensina que a vida não é sobre evitar a ação, mas sim sobre entender como nos relacionamos com ela.
Como o Homem Desperta nas Situações Extremas: A Luta Contra os Myrmicks
A batalha estava no auge, e a única coisa que podíamos fazer era nos transformar novamente em humanos e afastar os Myrmicks, esses agressores implacáveis, da colônia de formigas. "Malinin!" eu ordenei, com os olhos fixos na cena do combate. "Repita após mim, Malinin!" Sempre e para sempre, que eu seja um Homem! Nem de dia, nem de noite, eu quero ser uma formiga! "Barankin, venha comigo! Morte aos Myrmicks!" Ouvi o grito selvagem de Kostya Malinin por trás de mim. Virei-me, mas era tarde demais! Com essas palavras: "Barankin, venha comigo! Morte aos Myrmicks!", Kostya Malinin saltou da flor, pegou um grande pedaço de pau e, correndo, se lançou contra a horda de Myrmicks, decidido a juntar-se às formigas negras.
O instinto de luta surgiu em Kostya Malinin de maneira abrupta. Podia ser o momento mais insano da nossa jornada, mas era óbvio que algo mais profundo tinha despertado nele. O Homem dentro de Kostya, o ser que se vê no direito de proteger os fracos, de lutar contra os opressores, estava vivo. Um instinto de sobrevivência, de justiça, talvez, o havia empurrado para aquele confronto, e ele se jogou na batalha sem hesitação.
Eu, claro, segui seu exemplo. Saltei da flor e corri atrás de Malinin a toda velocidade. A paisagem diante de mim era clara: o exército de Myrmicks avançava para cercar as formigas negras. Tínhamos que alertar nossos aliados, mas Malinin, em um gesto impetuoso, não seguiu o plano. Em vez de se unir às formigas negras, ele se dirigiu sozinho para o inimigo. "Kostya!" gritei. "Malinin, espere! Você está indo para o lado errado! O que está fazendo? Vai morrer!" Mas ele não me ouviu. "Avançar! Para o inimigo! Matar os fascistas!" ele gritava, brandindo seu pedaço de pau como uma lança.
O exército de Myrmicks, ao perceber que um ant negro estava se atravessando em seu caminho, virou-se e mudou de direção, reagrupando-se rapidamente. Fui atrás de Malinin e, com o impulso de uma fera, alcancei-o. Arrastei-o para longe do perigo, atravessando um riacho, até nos escondermos nas profundezas da floresta. Ele estava atordoado, mas a situação estava longe de ser resolvida.
Ainda assim, o pior estava por vir. Os Myrmicks, implacáveis, haviam atravessado o riacho e nos cercado. "Suba numa flor!" murmurei para Malinin. "Concentre-se imediatamente e se transforme num homem agora!" Ele olhou para mim com uma expressão confusa, mas obedeceu. Enquanto ele subia na flor, eu observava os Myrmicks se aproximarem em silêncio mortal. Eles estavam vindo em nossa direção, prontos para o confronto final.
Quando Malinin estava quase no topo da flor, os Myrmicks começaram a escalar o caule. Em uma tentativa desesperada de ganhar tempo, desafiei o líder dos Myrmicks para um duelo. A luta foi intensa, mas eu sabia que não tínhamos muitas opções. A ideia de uma transformação repentina em humanos parecia nossa única chance de sobrevivência.
“Transforme-se, Malinin!” eu gritei. Ele hesitou. “Não vou fazer isso sem você!” respondeu ele, com a voz carregada de tensão. Eu, sem paciência, lutei contra os Myrmicks, mas sabia que o tempo estava se esgotando. A transformação que ambos precisávamos, que nos colocaria em pé de igualdade com nossos inimigos, não poderia esperar mais.
Porém, a situação estava chegando ao seu limite. A grande questão era: conseguiríamos sobreviver até a transformação? A ideia de pular para outra flor parecia uma solução, mas o espaço era grande demais. O solo, repleto de Myrmicks, nos impediria de escapar. O que nos restava, afinal? A coragem de continuar ou a derrota iminente?
Enquanto enfrentávamos os Myrmicks, mais uma vez o instinto de lutar, a essência do que somos quando a luta pela sobrevivência se intensifica, nos impulsionou. O Homem em Kostya, e talvez também em mim, despertou não por um desejo egoísta de vitória, mas por uma força ancestral que nos leva a proteger os fracos e a desafiar o opressor. Em momentos de crise, é isso que nos define. A luta não é apenas contra inimigos externos, mas contra nossos próprios limites e dúvidas.
Além disso, um ponto crucial que muitos podem não perceber à primeira vista é a transformação da identidade. O momento em que decidimos nos transformar novamente em humanos não é apenas uma questão de sobrevivência física. Ele também reflete uma mudança interna, uma retomada da nossa humanidade em face do desespero. É uma escolha consciente de quem somos e do que estamos dispostos a defender. O verdadeiro desafio está em manter nossa essência, mesmo quando as circunstâncias nos forçam a questioná-la.

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