Ao realizar medições de fluorescência, é essencial compreender a diferença entre espectros de emissão corrigidos e não corrigidos, especialmente ao interpretar os dados em experimentos complexos. O primeiro passo para obter um espectro de emissão corrigido é registrar o espectro de emissão com um polarizador orientado verticalmente, ou seja, paralelo ao eixo vertical do laboratório. Esse polarizador deve ser inserido no caminho da luz de emissão. No espectro técnico, pode-se observar uma pequena elevação, perto de 507 nm, que corresponde à anomalia de Wood, como discutido no Capítulo 3. Esse fenômeno implica que, nesse comprimento de onda, parte do componente horizontal (polarizado perpendicularmente) da emissão é perdida. Para corrigir isso, é conveniente remover a anomalia de Wood. Como já mencionado, isso é feito simplesmente observando a emissão através de um polarizador orientado para permitir a passagem da luz polarizada verticalmente.
O espectro de emissão não corrigido, observado através de um polarizador paralelo, pode ser visualizado em gráficos, como o mostrado na Figura 4.9a. O próximo passo é aplicar os fatores de correção fornecidos pelo instrumento para a luz polarizada vertical (e para a largura da fenda utilizada durante a gravação do espectro). Os fatores de correção são exibidos na Figura 4.9b, e o espectro corrigido é apresentado na Figura 4.9c. Um questionamento comum entre os pesquisadores é: "Devo sempre corrigir o espectro de emissão?" A resposta geralmente é não. Para a maioria das experiências, espectros técnicos ou não corrigidos são suficientes. A correção só é realmente necessária quando se pretende publicar os dados. Como revisor frequente de manuscritos, não me importo se os autores submeterem espectros não corrigidos, desde que deixem claro que se trata de um espectro técnico e informem qual instrumento foi utilizado. Com os fotodetetores sensíveis à luz vermelha modernos, a diferença entre o espectro de emissão não corrigido (ou técnico) e o espectro de emissão corrigido (ou molecular) pode não ser muito grande. No entanto, se os dados forem usados para calcular parâmetros como o rendimento quântico ou o integral de sobreposição de Förster (questões abordadas mais adiante), então é imprescindível usar espectros corrigidos.
Outra dúvida recorrente é sobre a necessidade de operar sempre em modo de espectro corrigido em tempo real, uma vez que muitos instrumentos permitem essa opção enquanto os dados são registrados. Embora essa funcionalidade seja útil, sempre recomendo que os dados sejam visualizados na forma bruta, ou seja, não corrigidos, para que se possa avaliar a natureza e a magnitude das correções que estão sendo aplicadas. A observação dos dados brutos permite uma compreensão mais detalhada dos ajustes feitos durante o processo de correção.
Em alguns casos, alterações na posição do máximo de emissão, como as que ocorrem durante processos de ligação de ligantes, oligomerização ou desnaturação, são de grande interesse. A forma mais comum de determinar um máximo de emissão é observar o espectro registrado e estimar o comprimento de onda correspondente ao maior sinal, ou seja, estimar o λmax. Embora essa abordagem seja adequada em muitos casos, especialmente quando os deslocamentos de comprimento de onda são significativos, ela pode ser subjetiva. Para obter um método mais sensível e preciso, pode-se utilizar o centro de massa espectral, <νg>, que é calculado pela seguinte fórmula:
Onde Fi é a emissão em um número de onda νi, e a soma é realizada sobre todos os números de onda em que Fi > 0. Esse método oferece uma medida muito precisa e reprodutível dos deslocamentos espectrais. Por exemplo, a partir do espectro mostrado na Figura 4.4, o centro de massa calculado é 19277 cm−1. O termo "centro de massa" remonta aos tempos da espectroscopia antes do uso de equipamentos computadorizados, quando os espectros eram registrados em papel gráfico e as pessoas cortavam os espectros para determinar a área e, posteriormente, encontravam o "centro de massa" cortando os pedaços de papel.
Um exemplo de uso do centro de massa é descrito no artigo de Silva et al. (1986), que acompanhou a dissociação do dímero da triptofano sintase induzida por pressão hidrostática elevada. A dissociação em monômeros leva a um deslocamento para o vermelho na fluorescência intrínseca da proteína, como mostrado na Figura 4.10, o que pode ser quantificado utilizando-se o centro de massa. Esse método permite acompanhar de maneira precisa a dissociação do dímero com base no deslocamento espectral.
Outro aspecto importante a ser abordado na espectroscopia de fluorescência é o espectro de excitação. Um espectro de excitação mede a eficiência relativa de diferentes comprimentos de onda incidentes para induzir fluorescência. Como discutido anteriormente, o espectro de emissão de um fluoróforo é independente do comprimento de onda de excitação. No entanto, a intensidade da emissão varia dependendo do comprimento de onda de excitação. Para um fluoróforo bem comportado, o espectro de excitação deve corresponder ao espectro de absorção, pois quanto maior o coeficiente de extinção de um fluoróforo em um dado comprimento de onda, maior a probabilidade de ele absorver luz e atingir o estado excitado. Contudo, essa correspondência só se mantém se o rendimento quântico do fluoróforo for independente do comprimento de onda de excitação, o que, na maioria dos casos, é verdade, mas existem exceções, que serão discutidas mais adiante.
Para registrar um espectro de excitação, um monocromador de excitação é escaneado enquanto a emissão observada é mantida constante, seja fixando o monocromador de emissão ou observando a emissão através de um filtro apropriado (de interferência, de passagem de banda ou de longo-passo). Dessa forma, pode-se determinar a eficiência relativa de diferentes comprimentos de onda incidentes em excitar a fluorescência. No entanto, ao comparar espectros de excitação corrigidos e não corrigidos, a diferença pode ser substancial. Por exemplo, como mostrado na Figura 4.11A, o espectro de excitação não corrigido de ANS em etanol revela que, embora o ANS absorva mais fortemente em 270 nm do que em 360 nm, a emissão gerada a 270 nm é inferior àquela gerada a 360 nm. Isso ilustra a importância de considerar as correções ao trabalhar com espectros de excitação.
Como o FRET Revoluciona a Transferência de Energia em Moléculas Fluorescentes
O fenômeno da transferência de energia por ressonância de fluorescência (FRET) começou a ser estudado após observações que indicaram que moléculas de fluoresceína próximas umas das outras poderiam interagir sem que houvesse contato direto entre elas. Cientistas como Jean e Francis Perrin, Fritz London e J. Robert Oppenheimer contribuíram para o desenvolvimento dessa teoria, que culminou na formulação apresentada por Theodore Förster em 1946. A partir desse momento, o fenômeno passou a ser reconhecido como a transferência de energia de estado excitado sem a emissão de radiação, conhecida atualmente como FRET.
Por muitos anos, o termo FRET foi interpretado como "Fluorescence Resonance Energy Transfer" (Transferência de Energia por Ressonância Fluorescente). No entanto, nos anos 1990, durante uma reunião da Biophysical Society, Robert Dale apontou que o uso de "fluorescência" no nome era equivocado, já que a transferência de energia substitui o processo de fluorescência. Dessa forma, o termo "Förster Resonance Energy Transfer" foi sugerido para corrigir a nomenclatura, mas mantendo a letra "F", que já estava consolidada na literatura.
Para entender os fundamentos do FRET, imagine dois garfos de afinação. Quando um deles é golpeado, o outro começa a vibrar devido à transferência de energia vibracional. Esse conceito pode ser associado à transferência de energia entre moléculas, onde um fluoróforo (molécula doadora) emite energia que é transferida para uma molécula aceitadora próxima, desde que possuam características vibracionais compatíveis. Apesar das diferenças entre esse exemplo e a transferência de energia molecular real, a analogia ajuda a visualizar o fenômeno.
Existem três abordagens principais no uso do FRET, dependendo da natureza da molécula aceitadora. A primeira abordagem envolve uma molécula aceitadora fluorescente, a segunda considera uma molécula aceitadora não fluorescente, e a terceira refere-se a situações em que doador e aceitador são o mesmo tipo de molécula.
Para compreender como as moléculas doadoras e aceitadoras interagem no FRET, é necessário entender a natureza da energia envolvida. O FRET depende de uma interação dipolo-dipolo entre as moléculas, e a eficiência dessa transferência é influenciada pela distância entre elas e pela orientação relativa de seus dipolos. A taxa de transferência de energia pode ser descrita pela seguinte equação:
Onde é o tempo de fluorescência da molécula doadora na ausência do aceitador, é a distância entre os centros das moléculas doadoras e aceitadoras, e é a distância crítica de Förster, onde 50% da energia excitada é transferida ao aceitador. A distância crítica de Förster pode ser calculada com base em experimentos, levando em consideração o índice de refração do meio, a eficiência quântica da molécula doadora e o fator de orientação .
A eficiência da transferência de energia, , é uma das medições mais importantes em experimentos de FRET, e pode ser estimada de várias formas. Uma das abordagens mais comuns é medir a intensidade da emissão da molécula doadora na presença e na ausência de uma molécula aceitadora. A equação para calcular a eficiência da transferência, com base na intensidade da emissão, é:
Onde é a intensidade da fluorescência do doador na presença do aceitador e é a intensidade na ausência do aceitador.
Outra abordagem popular para determinar a eficiência de FRET é a utilização de métodos temporais, observando a diminuição do tempo de vida fluorescente da molécula doadora na presença de um aceitador. A equação para calcular a eficiência de transferência baseada no tempo de vida é:
Onde e são os tempos de vida fluorescente do doador na presença e na ausência do aceitador, respectivamente.
Além desses métodos, a determinação da eficiência de FRET também pode envolver o uso de integrais de sobreposição espectral, onde se calcula o quanto do espectro de emissão do doador se sobrepõe ao espectro de absorção do aceitador. Este cálculo é importante para avaliar a compatibilidade entre as moléculas doadoras e aceitadoras no processo de transferência de energia.
Compreender os princípios do FRET e suas variáveis envolvidas é fundamental para quem deseja utilizar essa técnica em aplicações como mapeamento de interações moleculares, imagens celulares ou estudos de dinâmica molecular. Além disso, ao aplicar FRET, é importante considerar as características do ambiente experimental, como a viscosidade do meio e a temperatura, que podem influenciar a eficiência da transferência de energia. As condições ideais de concentração das moléculas doadoras e aceitadoras também são cruciais para garantir medições precisas e interpretações corretas dos resultados obtidos.
Como Evitar Erros Comuns em Espectros de Fluorescência e Garantir Resultados Confiáveis
A fluorescência, uma técnica essencial na análise molecular, pode ser influenciada por vários fatores que podem distorcer os resultados obtidos. É fundamental entender as variáveis que podem afetar a intensidade do sinal e como identificá-las para evitar interpretações equivocadas. A densidade ótica da amostra, as anomalias instrumentais, o fenômeno da fotodestruição (photobleaching), os erros relacionados ao espalhamento de segunda ordem e o efeito de sobrecarga de fótons são apenas alguns dos aspectos que exigem atenção cuidadosa. Cada um desses fatores pode impactar os dados de maneira sutil ou significativa, dependendo do cuidado com o qual os experimentos são conduzidos.
A densidade ótica da amostra tem um papel central na obtenção de espectros de fluorescência precisos. Em amostras com alta densidade ótica, a emissão pode ser distorcida devido à reabsorção da luz emitida, o que resulta em um espectro alterado ao percorrer o caminho até o detector. Esse fenômeno é particularmente visível quando a solução absorve a luz de excitação nas regiões iniciais do caminho ótico, o que afeta a medição da emissão. Para mitigar esse efeito, é sempre recomendável realizar uma medição da absorção da amostra antes de iniciar os testes de fluorescência. Se uma amostra com densidade ótica elevada for necessária devido à baixa eficiência quântica do fluoróforo, a solução pode ser usar uma cubeta de menor comprimento de caminho ótico.
Outro ponto crucial é a compreensão da anomalia de Wood, um fenômeno relacionado ao monocromador do espectrofotômetro. Em determinados comprimentos de onda, o monocromador pode ter uma perda de intensidade em um dos componentes da polarização, o que pode criar "ombros" ou "vales" falsos no espectro. O problema é que esses "ombros" podem ser confundidos com características reais da amostra. Essa anomalia ocorre devido à polarização preferencial da luz, e pode ser detectada ao observar a variação da intensidade do espectro com a rotação de um polarizador colocado na trajetória da emissão. A anomalia de Wood não muda com a variação do comprimento de onda de excitação, o que facilita a sua identificação.
Em experimentos de fluorescência, o fenômeno da fotodestruição (ou photobleaching) é um desafio comum. Ele ocorre quando a intensidade da luz de excitação é muito alta, fazendo com que o fluoróforo perca sua capacidade de emitir luz após um certo período de exposição. Em situações de alta viscosidade ou em amostras de grandes moléculas, o fluoróforo pode ficar saturado e desativado antes que a amostra tenha a oportunidade de se difundir para fora da luz de excitação. Para detectar a fotodestruição, é fundamental monitorar a intensidade do sinal durante a medição. Se houver diminuição da intensidade ao longo do tempo, é possível verificar se a fluorescência se recupera ao interromper a excitação por alguns segundos. Isso indicaria que as moléculas fotodegradadas se difundiram e foram substituídas por moléculas não fotodegradadas.
Além da fotodestruição, um erro comum em espectros de fluorescência envolve a interpretação equivocada dos picos de espalhamento de segunda ordem. Esse fenômeno ocorre quando a luz de excitação é dispersa pela amostra e gera picos adicionais nos espectros de emissão e excitação, que são frequentemente confundidos com emissões reais dos fluoróforos. Esses picos, geralmente observados em comprimentos de onda múltiplos do pico de excitação, não correspondem a fluorescência, mas ao espalhamento da luz. A compreensão clara da posição e intensidade desses picos é essencial para a correta análise dos espectros, especialmente ao trabalhar com excitação em comprimentos de onda curtos, como os usados para excitar triptofano.
Por fim, a sobrecarga de fótons ou o fenômeno de "pulse pileup" é outro aspecto técnico importante. Esse fenômeno ocorre quando a taxa de chegada de fótons ao detector excede a capacidade de contagem, resultando em falhas na captura de todos os sinais, o que pode levar a uma subestimação da intensidade da fluorescência. A compreensão dos limites de detecção e o ajuste adequado dos parâmetros de contagem de fótons são essenciais para evitar esse problema.
Para evitar esses erros e garantir a precisão dos resultados, é importante que o operador do equipamento tenha familiaridade com o funcionamento do espectrofotômetro, realizando verificações regulares da configuração do sistema e das características do fluoróforo utilizado. A prática de medir a absorção antes da fluorescência, ajustar as condições de excitação e sempre validar os espectros com diferentes orientações de polarizador são passos fundamentais para evitar distorções nos dados. Além disso, a monitorização constante da intensidade de fluorescência durante os experimentos ajudará a identificar problemas como a fotodestruição e o espalhamento de segunda ordem.

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