As glândulas salivares podem ser acometidas por diversas patologias que variam desde obstruções mecânicas até processos inflamatórios agudos e crônicos, além de doenças autoimunes e neoplasias. A remoção endoscópica de pequenos cálculos salivares, com diâmetros inferiores a 3 mm na glândula parótida e 4 mm na submandibular, é possível graças a instrumentos específicos que permitem a inserção e manipulação através de pequenos canais, facilitando intervenções minimamente invasivas. A combinação de técnicas endoscópicas com abordagens transorais ou externas também amplia o espectro terapêutico para casos mais complexos.

A sialadenite, ou infecção das glândulas salivares, manifesta-se como um inchaço da glândula, podendo ou não estar associado a dor e sintomas sistêmicos. Patógenos comuns incluem bactérias como Staphylococcus aureus, estreptococos e coliformes, além de vírus como o da caxumba, considerado o principal agente viral em crianças. Outros vírus importantes são o citomegalovírus, HIV e Epstein-Barr. O diagnóstico deve ser respaldado por exames de imagem como ultrassonografia e tomografia computadorizada, principalmente para excluir abscessos. A colheita de culturas, quando possível, orienta a terapia antimicrobiana adequada.

Doenças autoimunes, como a Síndrome de Sjögren (SS), têm papel relevante nas disfunções das glândulas salivares. Embora o comprometimento glandular por processos autoimunes seja conhecido, a dependência exclusiva dos sintomas clínicos para diagnóstico é insuficiente e imprecisa. O critério diagnóstico da SS inclui a presença de autoanticorpos específicos (SSA/SSB) ou biópsia positiva das glândulas salivares menores, revelando infiltrado linfocitário característico. A SS afeta principalmente adultos entre 40 e 60 anos, com forte predominância feminina. Manifesta-se frequentemente com o chamado "sicca syndrome", caracterizado por secura oral e ocular, acompanhada de episódios intermitentes de inchaço glandular. Fatores como desidratação, uso de diuréticos e drogas anticolinérgicas podem agravar a hipossecreção salivar, favorecendo episódios infecciosos.

A sialadenite crônica costuma ter evolução lenta, associada a estase do fluxo salivar por estenose ou obstrução ductal, frequentemente sem relação com as refeições, e pode cursar com episódios recorrentes de dor e edema glandular. O tratamento envolve reidratação intensiva, uso de antibióticos quando indicado, analgésicos, antipiréticos e estímulo da salivação, além de cuidados rigorosos com a higiene oral para prevenir complicações secundárias.

Quanto às neoplasias das glândulas salivares, a maioria dos tumores é benigna, representando cerca de 65% a 70% dos casos, com predomínio na glândula parótida. Entre as neoplasias benignas, os adenomas pleomórficos e tumores de Warthin correspondem à grande maioria dos diagnósticos. A avaliação histológica moderna, conforme a classificação da Organização Mundial da Saúde de 2022, reconhece cerca de 15 entidades diferentes, refletindo a complexidade e diversidade dessas lesões. É essencial um diagnóstico firme antes de qualquer intervenção cirúrgica, já que procedimentos desnecessários podem resultar em complicações e insatisfação dos pacientes. Além dos tumores, outras massas benignas, como hemangiomas e linfangiomas, devem ser consideradas no diagnóstico diferencial.

Pacientes com Síndrome de Sjögren apresentam um risco significativamente aumentado (cerca de 16 vezes) de desenvolver linfoma não Hodgkin, particularmente o linfoma do tecido linfoide associado à mucosa (MALT). Este tumor deriva de células B da zona marginal e se manifesta com aumento persistente ou nodular das glândulas salivares, linfadenopatia, infiltração pulmonar, hepatomegalia e alterações hematológicas. O tratamento dessa condição inclui cirurgia e radioterapia, com taxa de sobrevida de cinco anos superior a 80%.

Por fim, os tumores malignos primários das glândulas salivares são relativamente raros, com incidência variando entre 0,6 e 1,4 casos por 100.000 habitantes na Europa, e cerca de 450 novos casos por ano no Reino Unido. A abordagem diagnóstica e terapêutica exige alto grau de especialização para garantir melhor prognóstico.

É fundamental que o manejo das doenças salivares seja multidisciplinar, envolvendo diagnóstico preciso com exames laboratoriais, de imagem e, quando necessário, biópsias, para que o tratamento seja direcionado adequadamente. A compreensão dos mecanismos de obstrução, inflamação, autoimunidade e neoplasia permite oferecer uma abordagem terapêutica individualizada, que minimize complicações e preserve a função glandular.

Além do conhecimento das manifestações clínicas e dos métodos diagnósticos, é crucial reconhecer os fatores predisponentes, como a influência de drogas e condições sistêmicas, para evitar recorrências e progressão da doença. A educação do paciente quanto à importância da hidratação, higiene oral e adesão ao tratamento são pilares para o sucesso terapêutico. Em doenças autoimunes, o acompanhamento prolongado é indispensável devido ao risco aumentado de complicações sistêmicas e neoplásicas, que podem impactar diretamente a qualidade de vida.

Quais são os principais métodos de diagnóstico e a abordagem clínica para doenças laríngeas?

Os métodos de diagnóstico por imagem têm desempenhado um papel vital na avaliação de patologias laríngeas, oferecendo detalhes precisos sobre a localização, o estágio e as características das lesões. A tomografia computadorizada (TC), por exemplo, é frequentemente utilizada no exame inicial de carcinomas laríngeos, sendo útil para determinar o tamanho do tumor, sua extensão, infiltração da cartilagem tireoide, e status nodal. Ela também é combinada com a TC torácica para o estadiamento de metástases distais. Embora a TC seja eficaz em termos de visualização estrutural, ela envolve radiação ionizante, o que limita sua aplicação em pacientes com maior vulnerabilidade.

Por outro lado, a ressonância magnética (RM) tem se destacado principalmente por não utilizar radiação ionizante, oferecendo contraste superior para tecidos moles e permitindo imagens multiplanares, especialmente na avaliação do tumor na plane sagittal. Isso torna a RM particularmente útil no estadiamento de tumores supraglóticos, incluindo a avaliação da extensão da base da língua. Contudo, sua aplicação pode ser limitada pelo desconforto gerado pela necessidade de longa permanência do paciente em um espaço fechado, o que pode resultar em artefatos de movimento. Além disso, a presença de materiais ferromagnéticos no corpo, como marcapassos cardíacos, contraindica a RM.

Nos últimos anos, os avanços na endoscopia, especialmente com o uso de fibras óticas e endoscopia digital de alta definição, têm proporcionado uma visão mais detalhada da laringe. O desenvolvimento da estroboscopia e a utilização de vídeo de alta velocidade com quimografia também têm melhorado a precisão do diagnóstico laríngeo. Técnicas de vídeo de alta definição e luz de diferentes comprimentos de onda mostraram promessas no aprimoramento da avaliação da laringe, com o potencial de melhorar o diagnóstico das patologias vocais e tumorais. Essa combinação de tecnologias possibilita um diagnóstico mais preciso e eficaz, sendo uma grande aliada nos consultórios de voz e nas clínicas de otorrinolaringologia.

Investigações elétricas, como a laringografia e a eletromiografia laríngea (EMG), embora utilizadas principalmente em pesquisa e auditoria, têm demonstrado um papel relevante na avaliação do prognóstico e na quantificação das condições das cordas vocais. Espera-se que essas técnicas se tornem mais acessíveis, com uma padronização maior dos procedimentos e interpretação dos resultados, o que contribuirá significativamente para a prática clínica cotidiana.

A combinação dessas modalidades diagnósticas permite uma abordagem abrangente no manejo das doenças da laringe. Embora a ressonância magnética e a tomografia computadorizada forneçam informações cruciais sobre a anatomia e a extensão das lesões, os avanços nas técnicas endoscópicas e as investigações elétricas estão cada vez mais integrados no processo diagnóstico, garantindo que o tratamento seja o mais direcionado e eficaz possível.

Além das técnicas de imagem e instrumentais, é fundamental que o clínico esteja atento às condições clínicas do paciente e ao histórico de saúde. Por exemplo, a avaliação detalhada das condições de voz e o acompanhamento com exames de ressonância e laringoscopia em pacientes com queixas persistentes de rouquidão são essenciais, especialmente para aqueles com histórico de tabagismo, pois estão em risco aumentado de desenvolver câncer laríngeo. Além disso, é importante considerar a possibilidade de infecções virais que podem se assemelhar a neoplasias, como no caso de laringites virais, que podem evoluir para quadros mais graves e exigir intervenção.

Por fim, a observação de sintomas como dor de garganta persistente e rouquidão por mais de seis semanas deve sempre ser seguida de uma investigação mais profunda. Nesses casos, a laringoscopia deve ser realizada para descartar qualquer patologia mais grave, como tumores ou outras condições estruturais da laringe. O acompanhamento regular de pacientes com câncer de laringe tratado também é um componente essencial da prática clínica para monitorar possíveis recidivas ou complicações decorrentes do tratamento.