A gestão da anticoagulação em pacientes submetidos ao suporte extracorpóreo de membrana oxigenadora (ECMO) é um campo altamente especializado e desafiador, no qual a escolha do protocolo de anticoagulação pode impactar diretamente a segurança do paciente. A eficácia do monitoramento da anticoagulação, tanto pelo tempo de ativação da tromboplastina parcial (aPTT) quanto por testes como o tempo de coagulação (ACT), tem gerado discussões consideráveis. Estudos recentes demonstram que protocolos baseados no aPTT podem ter eficácia de até 69%, enquanto alternativas baseadas no ACT alcançam 80% de eficácia, com um p-valor de 0,145 para eventos adversos e segurança do protocolo. No entanto, a complexidade da situação clínica de pacientes em ECMO, como a presença de trombose ou sangramentos, demanda abordagens diferenciadas para cada paciente.
Nos estudos realizados com pacientes sob ECMO VV (venovenoso) e VA (venoarterial), a administração de heparina intravenosa contínua é frequentemente ajustada conforme a resposta dos testes de coagulação, com o objetivo de atingir um intervalo terapêutico de ACT e aPTT. A escolha do protocolo varia conforme a metodologia empregada pelos médicos, sendo comum a utilização de uma combinação de ACT com heparina de baixo peso molecular, que pode ser ajustada para minimizar o risco de tromboembolismo e sangramento. No entanto, a eficácia desse tratamento e a segurança do paciente não são absolutas, já que as complicações como trombose do oxigenador e sangramentos continuam sendo desafios consideráveis, principalmente em pacientes com comorbidades como COVID-19.
Diversos estudos ressaltam a importância do monitoramento mais preciso do estado hemostático desses pacientes. Por exemplo, a introdução de parâmetros baseados no TEG (testes de tromboelastografia) e na análise da função plaquetária (platelet mapping) demonstrou resultados promissores, revelando uma relação direta entre a disfunção plaquetária e os eventos hemorrágicos observados em pacientes de ECMO. Além disso, o uso de parâmetros adicionais como o tempo de protrombina, fibrinogênio e contagem de plaquetas ajuda a ajustar a anticoagulação para cada paciente individualmente, especialmente em situações críticas como a presença de infecção viral (SARS-CoV-2) ou insuficiência multiorgânica.
Em protocolos mais recentes, o uso de anticoagulantes alternativos como o bivalirudina, especialmente em casos de resistência à heparina ou trombocitopenia induzida por heparina (HIT), tem se mostrado uma solução viável e segura para pacientes em ECMO. Alguns estudos evidenciam que o bivalirudina pode ser uma alternativa eficaz para reduzir as complicações tromboembólicas em pacientes que apresentam resistência ao anticoagulante padrão.
A eficácia do protocolo de anticoagulação também depende do tipo de ECMO utilizado. O estudo de Panigada et al. (2018) sugeriu que protocolos baseados no monitoramento contínuo da aPTT podem ser tão seguros quanto os que utilizam TEG, embora o uso de TEG apresente uma menor dosagem de heparina, o que pode reduzir o risco de sangramentos. Importante ressaltar que, no caso de pacientes com suporte ECMO, a interação entre a resposta da coagulação e fatores individuais como a presença de anticoagulantes endógenos ou deficiência de antitrombina é um elemento chave para o sucesso do tratamento.
Estudos sobre o uso de dispositivos de assistência ventricular (VADs), como o HeartMate II e III, também indicam a importância do manejo adequado da anticoagulação, considerando que pacientes com suporte de dispositivos duráveis podem apresentar riscos elevados tanto de complicações trombóticas quanto hemorrágicas. A gestão da anticoagulação nesses pacientes, seja com heparina ou anticoagulantes diretos, precisa ser ajustada cuidadosamente para equilibrar os riscos de sangramentos com a necessidade de evitar a formação de coágulos, especialmente em pacientes que estão em estados clínicos frágeis.
É fundamental para os clínicos que lidam com ECMO compreenderem a complexidade do ajuste de anticoagulação, pois um erro no manejo pode levar a consequências graves. O monitoramento contínuo com múltiplos exames de coagulação, incluindo o ACT, aPTT, TEG, Anti-Xa e outros testes laboratoriais, permite ajustes finos e a personalização do tratamento de anticoagulação. A observação de complicações como trombose do oxigenador, hemorragias e alterações na contagem de plaquetas pode guiar a estratégia terapêutica e melhorar os resultados clínicos, especialmente em cenários com alto risco, como a infecção por COVID-19.
Como a Gestão Adequada da Pressão Arterial em Pacientes com Dispositivos de Assistência Ventricular Esquerda Impacta na Recuperação Miocárdica e na Prevenção de Complicações
A gestão da pressão arterial (PA) em pacientes com dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVAD) é um aspecto crítico para evitar complicações graves como trombose da bomba, acidente vascular cerebral (AVC) e regurgitação aórtica. É imperativo que a pressão arterial seja controlada de forma rigorosa para assegurar a funcionalidade do dispositivo e evitar complicações que podem comprometer a sobrevivência e a qualidade de vida do paciente.
O gerenciamento adequado da PA, particularmente a manutenção da pressão arterial média (MAP) abaixo de 90 mmHg, tem sido associado à diminuição da prevalência de AVC hemorrágico e trombose da bomba. Estudos mostram que a abordagem intensiva, que visa reduzir a MAP para menos de 80 mmHg, pode reduzir significativamente a incidência de complicações. Por exemplo, a prevalência de AVC hemorrágico diminuiu de 9,3% para 1,8% com a gestão intensiva de PA. Além disso, a associação entre MAP elevada (>100 mmHg) ou pressão sistólica maior que 120 mmHg e o aumento do risco de morte foi observada em diversas investigações. A pressão arterial muito baixa, abaixo de 75 mmHg, também está associada a um aumento significativo no risco de morte (35–39%).
É importante notar que, em pacientes com disfunção do ventrículo direito (RHF) e insuficiência renal, a pressão arterial baixa deve ser evitada, pois pode agravar a isquemia do ventrículo direito e causar uma mudança do septo interventricular para a esquerda. Além disso, as bombas centrífugas, como o HeartWare™ HVAD™ e o HeartMate3™, são mais sensíveis à hipertensão sistêmica, o que exige um controle mais rigoroso da PA para evitar sobrecarga no ventrículo esquerdo e sintomas congestivos resultantes de congestão pulmonar.
O monitoramento da pressão arterial em pacientes com LVAD deve ser realizado de forma precisa, utilizando métodos como o Doppler, especialmente em pacientes sem pulso palpável. A medição da PA deve ser feita com base na presença de um pulso palpável ou na abertura da válvula aórtica, uma vez que isso determina se um dispositivo automático ou Doppler deve ser utilizado. Embora os métodos tradicionais de medição da pressão arterial possam ser obstruídos pelo ruído do LVAD, o uso do ultrassom Doppler tem mostrado resultados mais confiáveis, com uma taxa de sucesso de até 94% em comparação com outros métodos.
Além disso, é importante reconhecer que a recuperação miocárdica após a implantação do LVAD é um processo complexo que depende de vários fatores. A melhora na função do ventrículo esquerdo e a regulação das dimensões do coração são essenciais para a recuperação. Estudos sugerem que a recuperação completa ou parcial do miocárdio pode ocorrer, mas essa recuperação varia de acordo com o estágio da doença do paciente e a eficácia do tratamento. Fatores pré-implantação, como a idade jovem, o sexo feminino e a ausência de doença arterial coronariana, podem melhorar a probabilidade de recuperação miocárdica.
A avaliação da função miocárdica é uma parte crucial da gestão clínica desses pacientes. A função do ventrículo esquerdo deve ser monitorada continuamente para detectar sinais de recuperação ou deterioração. Em alguns casos, pacientes com recuperação miocárdica significativa podem ser candidatos a explante do dispositivo, embora essa taxa de explante seja relativamente baixa, variando de 1,9% a 3,1% após 2 a 3 anos.
A terapia medicamentosa direcionada por diretrizes após a implantação do LVAD deve ser otimizada para melhorar a função miocárdica e a capacidade funcional do paciente. A titulação dos medicamentos, incluindo o uso de diuréticos para controle da congestão e a gestão de doenças associadas, é vital para o sucesso a longo prazo. A análise do volume de oxigênio máximo durante o exercício também pode ser um indicador útil para avaliar a resposta ao tratamento.
É fundamental que os profissionais de saúde considerem não apenas a função do dispositivo, mas também os aspectos clínicos do paciente, como a presença de comorbidades, os fatores de risco para complicações e a resposta ao tratamento. O controle da pressão arterial, a otimização da função cardíaca e o uso adequado de medicamentos direcionados podem contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida e a redução da mortalidade nos pacientes com LVAD.

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