No contexto de espaços métricos, a noção de compacidade possui implicações profundas e estruturais que vão muito além da simples intuição geométrica. Um subconjunto KXK \subset X de um espaço métrico (X,d)(X, d) é chamado compacto se toda cobertura aberta de KK admite uma subcobertura finita. Ou seja, para qualquer família {AαX;αA}\{A_\alpha \subset X; \alpha \in A\} de abertos tais que KαAαK \subset \bigcup_{\alpha} A_\alpha, existe um número finito de índices α1,,αn\alpha_1, \ldots, \alpha_n para os quais Ki=1nAαiK \subset \bigcup_{i=1}^{n} A_{\alpha_i}.

Essa definição, embora formal, capta uma propriedade essencial: a de que conjuntos compactos não "escapam ao controle". Eles não se perdem no infinito, nem apresentam dispersão local que os torne intratáveis analiticamente. Um exemplo elementar mas ilustrativo: toda sequência convergente em um espaço métrico, juntamente com seu limite, forma um conjunto compacto. Mais precisamente, dado (xk)a(x_k) \to a em XX, então K:={a}{xk;kN}K := \{a\} \cup \{x_k ; k \in \mathbb{N}\} é compacto. Basta considerar uma cobertura aberta de KK: haverá uma vizinhança aberta que contém aa, e como xkax_k \to a, existe um índice NN tal que todos os xkx_k com k>Nk > N pertencem a essa mesma vizinhança. Os termos anteriores são finitos e podem ser cobertos por um número finito de abertos da cobertura original.

A situação se modifica radicalmente se o ponto de acumulação aa não estiver contido em KK. Por exemplo, o conjunto A:={1/k;kN}RA := \{1/k ; k \in \mathbb{N}\} \subset \mathbb{R} não é compacto. Ainda que 00 seja o limite da sequência, ele não pertence a AA, e é possível construir coberturas abertas de AA que não admitem subcoberturas finitas. Assim, a presença do ponto de acumulação dentro do conjunto é essencial.

De maneira ainda mais elementar, o conjunto dos números naturais N\mathbb{N}, embora fechado em R\mathbb{R}, não é compacto. Uma cobertura por intervalos abertos centrados em cada natural com raio 1/31/3, por exemplo, não possui subcobertura finita que cubra toda N\mathbb{N}. Isso mostra que nem a finitude, nem a "distribuição discreta" dos pontos garantem compacidade.

Uma proposição importante estabelece que, em qualquer espaço métrico, todo conjunto compacto é fechado e limitado. A demonstração da fechadura utiliza a propriedade de Hausdorff do espaço: dado um ponto x0Kx_0 \notin K, é possível encontrar vizinhanças abertas de x0x_0 e de cada ponto de KK que são disjuntas. A finitude da cobertura implica a existência de uma vizinhança de x0x_0 contida no complementar de KK, mostrando que o complementar é aberto, e portanto KK é fechado. Para mostrar que KK é limitado, basta cobri-lo por bolas abertas centradas em um ponto fixo e, pela compacidade, extrair uma cobertura finita. O conjunto está então contido em uma bola de raio suficientemente grande.

Contudo, o recíproco é falso: nem todo subconjunto fechado e limitado de um espaço métrico é compacto. É necessário um critério mais refinado. A compacidade em espaços métricos pode ser caracterizada sequencialmente: um conjunto KK é compacto se e somente se toda sequência em KK possui um ponto de acumulação em KK. Essa equivalência é poderosa, pois conecta a definição topológica de compacidade com o comportamento de sequências, o que é especialmente útil na análise.

Além disso, essa caracterização permite introduzir a noção de total limitada: um conjunto KK é totalmente limitado se,

A Aplicação do Teorema do Valor Médio e suas Implicações na Diferenciação de Funções Reais

O Teorema do Valor Médio (TVM) é uma ferramenta fundamental no estudo da diferenciação e tem diversas aplicações em diversos campos da matemática. Esse teorema, aplicado a funções diferenciáveis em intervalos fechados e limitados, garante que existe um ponto no interior do intervalo onde a derivada da função é igual à taxa de variação média da função sobre o intervalo.

No contexto das funções reais diferenciáveis, um dos primeiros resultados que podemos obter com o TVM é o critério de injeção para funções diferenciais. Suponhamos que ff seja uma função diferenciável em um intervalo perfeito II, e que sua derivada não tenha zeros em II. Nesse caso, a função ff é injetora. A prova desse resultado segue diretamente da ideia de que, se uma função não for injetora, então, por definição, existem dois pontos xx e yy dentro de II tal que f(x)=f(y)f(x) = f(y), o que contraria a hipótese de que ff' não possui zeros em II, por meio da aplicação do Teorema de Rolle.

Além disso, o Teorema do Valor Médio tem implicações importantes sobre a monotonicidade das funções. Se ff é uma função diferenciável em um intervalo perfeito II e sua derivada não se anula em nenhum ponto de II, então ff é estritamente monotônica. Esse resultado é crucial porque ele implica que a função é injetora e, mais ainda, que seu intervalo de imagem, J=f(I)J = f(I), também será um intervalo perfeito, conforme se observa a partir das consequências do Teorema de Rolle.

A relação entre a monotonicidade e a injetividade de funções diferenciáveis também permite a derivação de funções inversas. Quando ff é estritamente monotônica e diferenciável, seu inverso f1f^{ -1} existe e é diferenciável. O cálculo da derivada do inverso pode ser feito através da fórmula (f1)(y)=1/f(x)(f^{ -1})'(y) = 1/f'(x), onde x=f1(y)x = f^{ -1}(y). Isso revela que, quando a derivada de ff é não nula e contínua, a função inversa é diferenciável e satisfaz propriedades interessantes relacionadas ao comportamento da derivada de ff.

Por outro lado, se considerarmos o comportamento das funções trigonométricas, como o seno, cosseno, tangente, entre outras, em intervalos restritos, podemos observar que essas funções são injetoras e têm inversas bem definidas. Por exemplo, a função arcsin(x)\arcsin(x), que é a inversa do seno no intervalo [π2,π2][-\frac{\pi}{2}, \frac{\pi}{2}], pode ser diferenciada usando as propriedades do Teorema do Valor Médio, e sua derivada é dada por 11x2\frac{1}{\sqrt{1 - x^2}} para xx pertencente ao intervalo (1,1)(-1, 1).