A hidrogenização é um fenômeno que afeta diretamente as propriedades mecânicas dos materiais metálicos, sendo especialmente relevante na indústria de armazenamento e transporte de hidrogênio. A perda de ductilidade dos metais devido ao conteúdo de hidrogênio é um desafio crescente, especialmente quando se trata de materiais como o aço, amplamente utilizado nesse setor. O hidrogênio difunde-se na estrutura do aço na forma de prótons, o que leva à corrosão da superfície do metal e à fragilização do material.

Para entender melhor o mecanismo da fragilização por hidrogênio, diversas teorias foram propostas. Dentre elas, a teoria de pressão interna, a teoria de plasticidade local aumentada pelo hidrogênio, e a teoria de fragilização por descoesão aumentada pelo hidrogênio se destacam. A teoria de pressão interna, proposta por Zappfe e Tetelman, é amplamente aceita. Ela sugere que, na superfície do aço, átomos de hidrogênio são absorvidos e se acumulam em locais defeituosos. Nessas áreas, o hidrogênio atômico pode se combinar e formar hidrogênio molecular, aumentando a fissuração devido à pressão interna local gerada por carburetos, inclusões não metálicas, fronteiras de grãos, dislocações, carbonitretos e outras zonas de alta concentração de tensões. Quando a pressão gerada pela concentração de hidrogênio nessas regiões atinge um valor crítico na matriz metálica, as trincas começam a se formar.

A fragilização por hidrogênio está intimamente relacionada a fatores ambientais, composição dos materiais e superfícies metálicas. Entre os fatores ambientais, a pressão do gás, a temperatura e outras condições desempenham um papel crucial na suscetibilidade ao fenômeno. De acordo com a Lei da Pressão Parcial de Sievert, a concentração de hidrogênio em um metal é proporcional à raiz quadrada da pressão do gás. Isso implica que a fragilização do material aumenta com o aumento da pressão do hidrogênio. Por exemplo, Barthélémy conduziu uma pesquisa para determinar o efeito da pressão do hidrogênio no aço de alta resistência, observando que o limiar de fissuração estava em torno de 60 MPa. Aços de alta resistência, quando usados para armazenamento de hidrogênio, apresentam alto risco de falha. Em contrapartida, aços do tipo 316 e A286 apresentaram melhor desempenho em um teste com hidrogênio a 70 MPa.

A sensibilidade à fragilização por hidrogênio também depende da temperatura. Para a maioria dos materiais, esse fenômeno é mais pronunciado em torno da temperatura ambiente. Quando a temperatura está abaixo de 25°C, a taxa de difusão do hidrogênio é muito baixa para preencher os locais de armadilha. Acima dessa temperatura, a migração do hidrogênio se acelera, o que resulta em menor taxa de armadilhamento. Para algumas ligas à base de ferro de alta temperatura, devido à sua composição derivada do aço inoxidável comum, a fragilização por hidrogênio ocorre em uma faixa de temperatura mais baixa. A alta temperatura, com energia térmica suficiente, facilita a reação do hidrogênio com certos componentes ou impurezas nas fronteiras de grãos, elevando o risco de fragilização.

Estudos realizados por Sugimoto e Fukai exploraram a interação do hidrogênio com diferentes metais, como o Pt, γ-Fe, Cu, Au, Al, Ag, Ni, Cr, α-Fe, Mo e W, em função da temperatura e da pressão do hidrogênio. Os pesquisadores observaram que o hidrogênio pode reduzir a energia de formação de vacâncias, promovendo a formação de vacâncias excessivas sob altas condições de pressão e temperatura. Isso afeta a solubilidade e a taxa de difusão do hidrogênio. Embora a densidade de vacâncias seja normalmente baixa em temperaturas mais baixas, a dissolução rápida do metal pode gerar vacâncias locais nas superfícies de trinca, promovendo deformações plásticas locais.

A fabricação de componentes metálicos também pode resultar na absorção de hidrogênio, especialmente durante processos como soldagem, galvanização e decapagem. Para reduzir os efeitos da fragilização por hidrogênio em metais sensíveis, utiliza-se o tratamento térmico de recozimento para expelir o hidrogênio absorvido. Além disso, em ambientes onde ocorre a reação catódica, o hidrogênio pode se dissociar na forma atômica e penetrar na matriz metálica, levando à trincagem por corrosão sob tensão. Em presença de sulfeto de hidrogênio, o fenômeno é denominado "trincagem por sulfeto de hidrogênio".

Classificação da Fragilização por Hidrogênio

A fragilização por hidrogênio pode ser classificada de acordo com a maneira como o hidrogênio interage com o material:

  1. Fragilização por Hidrogênio Ambiental: Nesse caso, o metal é imerso em uma atmosfera gasosa de hidrogênio, o que leva à absorção ou adsorção de hidrogênio, alterando as propriedades mecânicas do material sem formar uma segunda fase. A tensão suportada pelo material é um fator determinante nesse tipo de fragilização, que é mais evidente à temperatura ambiente.

  2. Fragilização Reversível Interna por Hidrogênio: Durante o processamento do material, o hidrogênio penetra na matriz, causando falhas estruturais, mesmo que o material não tenha sido exposto diretamente a hidrogênio. Esse tipo de fragilização é caracterizado pelo crescimento descontinuado de trincas internas e é mais severo em temperaturas próximas à ambiente.

  3. Fragilização por Reação com Hidrogênio: Ocorre quando um componente do material reage quimicamente com o hidrogênio, formando bolhas de gás (blistering) ou novas fases ou elementos microestruturais, como hidretos, geralmente em altas temperaturas. Sob essas condições, o material se enfraquece e começa a trincar.

Fragilização por Hidrogênio em Diferentes Materiais

A fragilização por hidrogênio pode afetar diversos materiais de maneira distinta. No aço inoxidável, por exemplo, o hidrogênio penetra nas fronteiras de grão, onde se combina com o carbono e o ferro, gerando gás metano. Esse metano não pode se mover, aumentando significativamente a pressão local, o que favorece a trincagem.

Em outras ligas metálicas, como os alumínios, a resistência à fragilização por hidrogênio tem sido explorada, mostrando que, embora algumas perdas de resistência possam ocorrer sob alta pressão de hidrogênio, a ductilidade desses materiais não diminui de maneira significativa.

Além disso, em processos como a soldagem, onde ocorre uma zona afetada pelo calor entre o metal base e o metal de preenchimento, a fragilização pode ser promovida mesmo que o metal base não seja facilmente afetado pelo hidrogênio. Esse fenômeno é um exemplo claro de como a interação do hidrogênio com a estrutura metálica pode ser prejudicial, mesmo em condições específicas de processamento.

Como a Tecnologia de Armazenamento e Transporte de Hidrogênio Líquido Está Revolucionando o Futuro dos Veículos Comerciais Pesados

A tecnologia de células de combustível alimentadas por hidrogênio líquido está se destacando como uma solução promissora para a transição energética no setor de transporte, especialmente para veículos comerciais pesados. A introdução de caminhões pesados movidos por células de combustível de hidrogênio líquido, como demonstrado em 2021 na China, representa um marco significativo. Esses caminhões passaram com sucesso em testes abrangentes, incluindo os testes de isolamento, reabastecimento e taxa de evaporação do sistema de célula de combustível de hidrogênio líquido embarcado. Esse avanço não só demonstra a viabilidade da tecnologia, mas também a possibilidade de integrar hidrogênio como uma fonte de energia limpa e eficiente no transporte de carga.

Em termos de infraestrutura, o desenvolvimento das estações de reabastecimento de hidrogênio líquido também está avançando a um ritmo impressionante. Hoje, há mais de 120 estações de armazenamento e reabastecimento de hidrogênio líquido em operação em todo o mundo, representando mais de 20% do total de estações de reabastecimento globais. A primeira estação de reabastecimento de hidrogênio líquido da China, construída em 2021 na cidade de Pinghu, Zhejiang, exemplifica o progresso do país nessa área. Com uma capacidade de reabastecimento de até 1000 kg de hidrogênio por dia, a estação é equipada com tanques de armazenamento de hidrogênio líquido de 14 m³ e cilindros de armazenamento de hidrogênio a alta pressão, além de um retificador de 120 kW para a recarga de veículos movidos a células de combustível de hidrogênio.

Além da infraestrutura de reabastecimento, o transporte de hidrogênio líquido é um aspecto fundamental para garantir a disponibilidade da substância de forma segura e eficiente. A logística do transporte de hidrogênio líquido abrange transporte terrestre, aquático e multimodal. O transporte terrestre de hidrogênio líquido é realizado por caminhões-tanque, vagões ferroviários e containers de tanque padronizados, os quais são essenciais para garantir que o hidrogênio chegue aos pontos de distribuição. Esses tanques devem cumprir uma série de regulamentos rigorosos relacionados ao transporte de substâncias perigosas, dado o caráter altamente inflamável do hidrogênio. Em muitos países, como na China, o transporte de hidrogênio líquido é regulamentado de acordo com normas específicas para garantir a segurança durante o trânsito nas rodovias e ferrovias.

No cenário internacional, países como os Estados Unidos e Alemanha também estão investindo fortemente em tecnologias de transporte de hidrogênio líquido. Nos Estados Unidos, a utilização de embarcações para o transporte de hidrogênio líquido foi pioneira durante o Projeto Apollo, nos anos 1960 e 1970. Já na Alemanha, experimentos com navios especializados para o transporte de hidrogênio líquido estão em andamento, com o desenvolvimento de um navio SWATH (Small Waterplane Area Twin Hull) para esse fim. Além disso, a Kawasaki Heavy Industries, no Japão, lançou em 2019 o navio "Suiso Frontier", o primeiro navio de transporte de hidrogênio líquido dedicado ao comércio marítimo. Este navio, com capacidade para transportar 2.500 toneladas de hidrogênio líquido, representa o futuro das grandes operações de transporte de hidrogênio por via marítima.

Esse movimento global em direção ao transporte de hidrogênio líquido está diretamente ligado à crescente demanda por fontes de energia limpa e renovável. Para acompanhar essa demanda, grandes projetos de liquefação de hidrogênio estão sendo desenvolvidos, como o projeto em colaboração com o governo australiano para produzir hidrogênio a partir do carvão marrom, que começará a operar plenamente até 2030. Além disso, a construção de navios de transporte de hidrogênio líquido de grande escala, com capacidade para até 160.000 m³ de hidrogênio, reflete a visão de um futuro em que o hidrogênio será transportado de forma econômica e eficiente por distâncias longas.

A tecnologia de armazenamento e transporte de hidrogênio líquido não apenas oferece uma solução para o setor de transporte pesado, mas também pode contribuir de maneira significativa para a redução das emissões de gases de efeito estufa e o avanço das energias renováveis. O hidrogênio, quando produzido a partir de fontes renováveis, pode se tornar um vetor energético crucial para a descarbonização de diversos setores industriais. Além disso, a flexibilidade no uso de diferentes modos de transporte — rodoviário, ferroviário e marítimo — oferece uma grande vantagem logística, permitindo a distribuição eficiente do hidrogênio para áreas de alta demanda.

Ainda assim, o caminho para a adoção generalizada de hidrogênio como combustível para o transporte e outras indústrias não está livre de desafios. A infraestrutura de reabastecimento precisa ser expandida, e os custos associados à produção, armazenamento e transporte de hidrogênio líquido devem continuar a ser reduzidos para que o hidrogênio possa competir com outras fontes de energia. Para garantir a sustentabilidade dessa transição, a colaboração entre governos, empresas de energia e fabricantes de veículos é essencial. Apenas com políticas públicas robustas, incentivos financeiros e investimentos em pesquisa será possível acelerar a adoção do hidrogênio líquido como combustível em larga escala.

Qual o futuro da tecnologia de armazenamento de hidrogênio em portadores orgânicos líquidos (LOHC)?

O armazenamento de hidrogênio utilizando portadores orgânicos líquidos (LOHC) surge como uma solução promissora para superar os desafios atuais de transporte e armazenamento de hidrogênio. O conceito fundamental por trás dos LOHCs é a capacidade de armazenar hidrogênio de forma estável e segura em compostos líquidos, que podem ser facilmente manipulados e transportados com tecnologias e infraestruturas já existentes. A hidratação e desidratação de compostos orgânicos, como o H0-BT, representam um dos métodos mais estudados para tal fim, devido à sua alta densidade volumétrica e gravimétrica de hidrogênio.

O processo de hidrogenação do H0-BT (hidrogenação do benzeno tetrahidro) é um exemplo eficaz da aplicação dessa tecnologia. Nesse processo, o hidrogênio é adicionado ao composto orgânico, resultando em um portador líquido seguro que pode ser transportado e armazenado a temperaturas e pressões mais baixas do que o hidrogênio gasoso puro. Quando necessário, o hidrogênio pode ser novamente liberado através de uma reação de desidrogenação, liberando hidrogênio molecular pronto para uso. O desafio técnico, no entanto, reside na eficiência dessas reações e na necessidade de catalisadores específicos para otimizar o processo. O uso de metais preciosos como catalisadores ainda é comum, mas torna o processo caro e exige mais pesquisas em materiais alternativos.

A tecnologia de armazenamento de hidrogênio SPERA, desenvolvida pela Chiyoda Corporation, é um exemplo de como a hidratação e desidratação de LOHCs podem ser aproveitadas em larga escala. O sistema SPERA utiliza um composto líquido, como o tolueno, que é hidrogenado para formar o decano e, posteriormente, pode ser desidrogenado para liberar hidrogênio. As vantagens dessa tecnologia incluem sua capacidade de armazenar grandes quantidades de hidrogênio de maneira relativamente segura, com a possibilidade de usar infraestruturas de transporte já existentes, como oleodutos e tanques de combustível. No entanto, o custo elevado e a complexidade dos sistemas necessários para a hidrogenação e desidrogenação dos portadores ainda são desafios importantes que precisam ser superados para tornar o uso de LOHCs uma alternativa viável para armazenamento de hidrogênio em larga escala.

Outro aspecto relevante no campo do armazenamento de hidrogênio é a utilização de amônia como vetor energético. A amônia tem uma densidade gravimétrica de hidrogênio de até 17,6% em peso, o que a torna uma das substâncias mais promissoras para o armazenamento de hidrogênio. No entanto, a decomposição da amônia para liberar hidrogênio requer condições de alta temperatura e pressão, além de catalisadores caros, como os metais preciosos. Uma solução alternativa seria o desenvolvimento de compostos como o H2A, que podem reagir com a amônia a temperatura ambiente, formando novos compostos estáveis e liberando hidrogênio de forma controlada. Se o H2A fosse capaz de reagir com a amônia de forma eficaz, isso permitiria superar os desafios relacionados à decomposição da amônia, além de melhorar a densidade de armazenamento de hidrogênio.

No caso do metanol, uma substância amplamente utilizada na indústria química e como fonte de bioenergia, a reforma catalítica com água tem o potencial de liberar hidrogênio adicional e melhorar a densidade de armazenamento do hidrogênio no metanol. O processo de reforma com água quebra o metanol em hidrogênio e dióxido de carbono, liberando mais hidrogênio do que o metanol puro pode fornecer por si só. A densidade gravimétrica do hidrogênio no metanol pode ser aumentada de 12,5% para 18,75% por meio dessa reação, o que coloca o metanol como uma opção interessante para o armazenamento de hidrogênio, embora, novamente, o processo exija catalisadores eficientes e controle rigoroso das condições de reação.

Porém, as limitações dessas tecnologias de armazenamento de hidrogênio devem ser compreendidas em profundidade para que se possam identificar soluções práticas e viáveis. A viabilidade econômica do armazenamento de hidrogênio, seja por meio de LOHCs, amônia ou metanol, depende diretamente do custo dos materiais e processos envolvidos. Além disso, a eficiência dos catalisadores e as condições necessárias para as reações de hidrogenação e desidrogenação são fatores cruciais que determinam o sucesso dessas tecnologias no longo prazo. O progresso contínuo na pesquisa de novos materiais catalíticos, bem como no aprimoramento das infraestruturas para o transporte e armazenamento de hidrogênio, será determinante para o futuro dessa tecnologia.