Nos arredores de St. Louis, mais de uma dúzia de montes foram descobertos, estendendo-se pela região ao longo do rio Mississippi, em locais como Chesterfield e Creve Coeur. Pesquisadores como o arqueólogo Mark Leach, que se aprofundou nesse estudo, acreditam que os povos Mississipianos habitaram essa área, contribuindo para a construção desses montes, que provavelmente tiveram origem no período Woodland. Esses montes e suas complexas estruturas representam um marco significativo da organização social e religiosa que floresceu nas margens do rio Mississippi.
A região que hoje corresponde a Cahokia, um dos maiores e mais poderosos centros urbanos da América pré-colombiana, abrigava uma população estimada de até 40.000 pessoas, incluindo as áreas ao redor de St. Louis, East St. Louis e outras regiões adjacentes. Essa concentração populacional fez de Cahokia uma das maiores metrópoles do mundo na virada do século XII. A cidade exerceu uma enorme influência sobre as populações de um vasto território, alcançando áreas tão distantes como o estado de Wisconsin, Ohio, Kansas e até Oklahoma. Figuras esculpidas em Cahokia, feitas de argila de sílex retirada de Missouri, foram encontradas em sítios como Spiro Mounds em Oklahoma, e máscaras de deuses de longos narizes, feitas em Cahokia, chegaram até as margens do rio Little Sioux, em Iowa.
A ascensão de Cahokia e sua extensão de influência cultural e econômica não ocorreram por acaso. Pesquisadores acreditam que o fenômeno de Cahokia não foi uma criação externa, mas uma manifestação do desenvolvimento cultural e social dos povos que habitavam a região do "American Bottom" durante séculos. A base agrícola, incluindo o cultivo do milho, foi uma das principais responsáveis pelo crescimento populacional, mas, com o aumento da população, a necessidade de mais terras cultiváveis se tornou evidente. A produção de alimentos em larga escala foi, portanto, essencial para alimentar não apenas os agricultores, mas também os artesãos, construtores, sacerdotes e líderes civis que não estavam diretamente envolvidos na produção de alimentos.
Cahokia era um exemplo claro de uma sociedade hierarquizada, na qual a divisão do trabalho era fundamental para seu funcionamento. Os líderes civis, provavelmente com uma autoridade centralizada, planejavam e organizavam a utilização da terra, cobrando tributos dos agricultores em forma de excedentes alimentares. Esses tributos eram essenciais para sustentar a elite, financiar projetos públicos grandiosos e financiar rituais religiosos que serviam para reforçar a autoridade espiritual e política dos líderes.
O modelo de poder de Cahokia, que combinava aspectos civis, militares e espirituais, é um dos maiores mistérios da arqueologia. Não se sabe ao certo se os líderes de Cahokia eram militares, espirituais ou uma combinação de ambos. O fato é que, em uma sociedade altamente dependente da agricultura e da produção de alimentos, o controle sobre os recursos naturais, como o milho, se tornou um dos pilares fundamentais de seu poder. Ao controlar o excedente de alimentos por meio de tributos, os líderes de Cahokia foram capazes de financiar obras públicas e eventos religiosos grandiosos que consolidaram sua autoridade.
Além disso, o papel da espiritualidade e da religião em Cahokia não pode ser subestimado. A crença na Mãe Terra era central para as práticas religiosas, e os líderes espirituais, sejam homens ou mulheres, tinham um papel crucial na manutenção da relação com essa deusa primordial. Em uma sociedade tão dependente das colheitas, os sacerdotes e sacerdotisas eram essenciais para garantir a fertilidade da terra e, consequentemente, a sobrevivência do povo. Os arqueólogos sugerem que a própria cidade de Cahokia foi projetada para refletir as crenças espirituais de seus habitantes, com os montes e alinhamentos urbanos alinhados com os movimentos lunares, que representavam as manifestações da Mãe Terra.
Ao longo do tempo, a elite espiritual e política de Cahokia usou esses rituais e a organização da cidade para reforçar sua autoridade, e, ao mesmo tempo, preservar a memória de sua conexão com forças naturais e divinas. A maneira como os líderes espirituais conseguiam manter essa relação com as forças cósmicas e naturais foi um fator chave para o sucesso duradouro de Cahokia, ajudando a criar uma estrutura que uniu a religião, a política e a economia.
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O Processo de Expulsão dos Kickapoos e as Dinâmicas de Relacionamento com os Estados Unidos
A resistência dos Kickapoos às pressões dos Estados Unidos para assinarem tratados de cessão de terras é um reflexo claro das tensões entre os povos indígenas e a expansão territorial americana no século XIX. A relação entre essas duas partes, marcada por acordos diplomáticos muitas vezes falhos e ações coercitivas, exemplifica a complexidade do processo de remoção indígena, muitas vezes retratado de forma simplista na historiografia. O que se segue é uma narrativa de tentativas frustradas de negociação e os mecanismos de poder empregados pelos Estados Unidos para garantir o avanço de seus interesses expansionistas.
Os Kickapoos, um dos grupos mais recalcitrantes no processo de remoção, haviam vivido por séculos ao longo do rio Wabash, na atual região de Indiana. Não eram estranhos às pressões políticas e militares que caracterizavam a relação entre os nativos e o governo federal. No entanto, ao contrário de outras tribos, os Kickapoos demonstraram uma resistência sistemática tanto nos tratados quanto nos processos de deslocamento forçado.
O trato inicial, assinado em julho de 1819 com Chouteau e Stephenson, estipulava a troca das terras dos Kickapoos no leste do Mississippi por uma nova área no Missouri, na confluência dos rios Osage e Pomme de Terre. A promessa do governo americano era clara: "essa terra será vossa para sempre", uma garantia de posse pacífica e o compromisso de evitar que colonos brancos invadissem suas terras. Além disso, os Estados Unidos se comprometeram a pagar uma quantia anual de $2.000 por 15 anos e fornecer uma ajuda inicial de $3.000 em mercadorias. Mas o que parecia um acordo de boa-fé rapidamente se revelou uma armadilha.
Quando os Kickapoos chegaram ao Missouri, descobriram que a terra que lhes fora prometida já havia sido delimitada e que, para muitos, os limites estabelecidos pelos tratados eram inaceitáveis. Mais ainda, a pressão do governo para que os nativos se deslocassem rapidamente para essas terras desencadeou um processo de migração cheio de tensões internas. Divididos em diferentes bandos, alguns Kickapoos seguiram lentamente para a nova região, enquanto outros se dispersaram, temendo que o destino fosse uma armadilha mortal.
A resistência dos Kickapoos não foi apenas física, mas também ideológica. A promessa de autonomia e o direito de escolher onde estabelecer suas novas aldeias foi quebrado, o que gerou não só conflitos com os americanos, mas também com outras tribos, como os Osages, que sentiram que os Kickapoos estavam infringindo seu território de caça. A hostilidade entre as tribos, alimentada por disputas territoriais e recursos escassos, foi exacerbada pela proximidade forçada e pela falta de espaços adequados para todos.
Nos anos seguintes, os enfrentamentos entre os Kickapoos e os Osages foram intensificados. Em 1820, uma tentativa de resolver o conflito por meio de um novo tratado falhou, já que os Kickapoos continuaram a contestar os limites da terra e a se envolver em episódios de violência contra os colonos brancos. Mesmo quando uma nova tentativa de paz foi estabelecida em 1826, a tensão não diminuiu. No entanto, esse acordo já estava imbuído de uma nova estratégia: a remoção de todas as nações indígenas da região para terras ainda mais distantes no que viria a ser o atual Kansas.
A remoção forçada, que muitos historiadores chamam de "expulsão" ou "deportação", foi um processo marcado por violência, desconfiança e um grau profundo de depreciação pela vida e pelos direitos dos povos indígenas. Historicamente, o termo "remoção indígena" foi utilizado de maneira imprecisa, talvez intencionalmente, para obscurecer a natureza brutal do deslocamento. A ideia de "expulsão" carrega consigo o peso da violência física e psicológica, a dor da perda de um lar, e a humilhação de ser forçado a abandonar sua terra natal em nome de uma "paz" imposta por um poder estrangeiro.
Ao considerarmos os relatos dos líderes indígenas, como Big Elk, que expressa um misto de desconfiança e sabedoria ao perceber as intenções do governo dos Estados Unidos, e White Cloud, que, apesar da opressão, mantém uma resistência que beira o sarcasmo, somos confrontados com a complexidade das relações entre as tribos e os colonizadores. Mesmo diante da superioridade militar americana, os povos nativos tentaram preservar sua dignidade e sua identidade através de gestos de resistência, como o uso de metáforas e resistência passiva, refletindo a luta contínua pela preservação de sua cultura e sua independência.
As tensões de fronteira entre os Kickapoos e outras tribos não eram apenas questões de território, mas também de identidade e sobrevivência. A pressão contínua para deslocá-los não apenas os obrigou a migrar, mas também a redefinir seu papel no mundo em um contexto de crescente dominação euro-americana.
Entender as dinâmicas entre os nativos e o governo dos Estados Unidos nesse período exige mais do que a simples análise dos tratados. Deve-se considerar o impacto psicológico e cultural dessa "remoção", a resistência contínua das tribos e a maneira como elas tentaram manipular ou evitar as condições impostas pelos colonizadores. A forma como as promessas feitas nos tratados frequentemente se transformavam em armadilhas políticas também é crucial para entender a magnitude da tragédia vivida pelos povos indígenas.

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