O 5-FC, ou flucitosina, atua de forma sinérgica em várias terapias antifúngicas, sendo amplamente utilizado em combinação com outros medicamentos, como a anfotericina B, para tratar infecções graves, como a meningite criptocócica. A flucitosina age de duas maneiras principais: inibindo a síntese de proteínas fúngicas ao incorporar-se no RNA fúngico no lugar do ácido uridílico e bloqueando a síntese de DNA fúngico ao inibir a timidilato sintetase. Dentre essas duas vias, a inibição da síntese de DNA tende a ser o mecanismo predominante.

Embora a resistência antifúngica a 5-FC possa se desenvolver rapidamente quando utilizado isoladamente, o fármaco tem sido reservado para estratégias terapêuticas combinadas, aumentando a eficácia de outros antifúngicos mais potentes. O 5-FC é classificado como fungistático, ou seja, age retardando o crescimento dos fungos, ao invés de erradicá-los completamente. Sua combinação com anfotericina B potencializa a ação antifúngica, especialmente em locais anatômicos onde a penetração da anfotericina B é limitada, como no sistema nervoso central (SNC), válvulas cardíacas e corpo vítreo.

O 5-FC, devido à sua pequena estrutura e alta solubilidade em água, penetra bem nos tecidos corporais, sendo eficiente no tratamento de infecções fúngicas em locais de difícil acesso. A sinergia observada entre o 5-FC e a anfotericina B é, em parte, explicada pela capacidade da anfotericina B de tornar a membrana celular mais permeável, permitindo uma maior penetração do 5-FC. No entanto, alguns estudos sugerem que o efeito sinérgico pode ser mais um efeito sequencial do que combinado, onde a anfotericina B age inicialmente até se depletar, momento em que o 5-FC passa a atuar diretamente nas células fúngicas remanescentes.

A dose recomendada de 5-FC, em forma oral nos Estados Unidos, é de 150 mg por kg por dia, dividida em quatro doses. Embora o 5-FC seja eficaz, seus efeitos colaterais e toxicidade são preocupações importantes, especialmente quando administrado em conjunto com outros antifúngicos, como a anfotericina B. A toxicidade é frequentemente associada ao acúmulo de 5-FU, um metabólito do 5-FC, no sangue. Em alguns casos, isso pode levar a níveis tóxicos de 5-FU, que, por sua vez, podem causar supressão da medula óssea, leucopenia, trombocitopenia e outros efeitos adversos.

Estudos clínicos demonstraram que a combinação de anfotericina B e 5-FC tem se mostrado mais eficaz do que a anfotericina B isolada, especialmente em pacientes com meningite criptocócica. A combinação também foi associada a uma menor taxa de recidiva em pacientes tratados por períodos mais longos. Além disso, o 5-FC se mostrou eficaz no tratamento de meningite candidêmica, quando administrado em combinação com anfotericina B, proporcionando uma melhor penetração no líquor cerebrospinal e maior sucesso no tratamento da infecção.

Em pacientes pediátricos, o uso de 5-FC é mais restrito. Em neonatos prematuros, o medicamento é geralmente evitado devido ao risco de toxicidade e aos efeitos adversos, como a supressão da medula óssea e o aumento do risco de efeitos renais adversos quando combinado com anfotericina B.

Quanto aos azóis, medicamentos antifúngicos importantes, eles são divididos em imidazóis e triazóis, dependendo da estrutura química. Os triazóis, como o fluconazol, possuem maior afinidade para o sistema enzimático do citocromo P450 e têm uma ação mais eficaz contra uma variedade de fungos patogênicos. O fluconazol, um dos azóis mais utilizados, tem um mecanismo de ação semelhante ao 5-FC, pois interfere na biossíntese de ergosterol, um componente essencial da membrana celular fúngica. Ao inibir a lanosterol 14-alfa-desmetilase, o fluconazol impede a formação de ergosterol, o que resulta em danos à integridade da membrana celular fúngica.

Embora o fluconazol seja eficaz em uma variedade de infecções fúngicas, ele não é tão potente contra o Aspergillus, um fungo filamentoso patogênico. Contudo, outros triazóis de segunda geração, como o voriconazol e o posaconazol, têm atividade contra Aspergillus e são preferidos em situações em que a infecção por este fungo é uma preocupação.

O fluconazol é bem absorvido pelo trato gastrointestinal e tem alta biodisponibilidade, o que torna a versão oral do medicamento bastante eficaz. Sua principal via de eliminação é renal, sendo excretado praticamente inalterado na urina. Isso é importante, pois a dosagem pode precisar ser ajustada em pacientes com insuficiência renal.

Em combinação, tanto o 5-FC quanto os azóis, como o fluconazol, desempenham papéis críticos no tratamento de infecções fúngicas graves, com a terapia combinada sendo muitas vezes mais eficaz do que o uso isolado de qualquer um dos medicamentos. Contudo, a escolha do tratamento deve ser cuidadosamente feita com base na gravidade da infecção, na resposta do paciente e nos riscos de efeitos colaterais.

A resistência antifúngica é uma preocupação crescente, e o uso indiscriminado desses medicamentos pode acelerar esse processo. Portanto, é fundamental monitorar as concentrações terapêuticas no sangue e ajustar o tratamento conforme necessário para evitar toxicidade e melhorar os resultados clínicos. A prática clínica contínua de monitoramento e a escolha cautelosa de combinações de medicamentos são essenciais para o sucesso terapêutico a longo prazo.

Como os Inibidores de mTOR e Anticorpos Anti-linfócitos Influenciam a Função Renal no Transplante

A transição de um regime imunossupressor baseado em inibidores da calcineurina (CNI) para um baseado em inibidores de mTOR (moléculas alvo da rapamicina em mamíferos) deve ser cuidadosamente considerada, especialmente no contexto de transplante renal. O objetivo principal dessa mudança é reduzir a exposição aos CNIs, cuja toxicidade renal é bem documentada, ou até mesmo eliminá-los totalmente, visando preservar a função do enxerto renal a longo prazo.

A administração de inibidores de mTOR, como o Everolimus (EVR), com uma exposição reduzida a CNIs em crianças submetidas ao transplante renal, tem mostrado ser eficaz e segura. Embora o uso de EVR em associação com a total ausência de CNIs ainda não tenha sido amplamente explorado em estudos de grande escala com pacientes pediátricos, o consenso atual aponta que a combinação com CNIs em doses reduzidas é a abordagem preferível. A substituição do regime imunossupressor para facilitar a minimização dos CNIs pode melhorar a função renal ou evitar uma deterioração adicional da função, especialmente quando realizada antes do desenvolvimento de danos irreversíveis. No entanto, a transição tardia, com uma taxa de filtração glomerular estimada abaixo de 40 mL/min/1,73 m², pode estar associada ao aumento da proteinúria preexistente devido à podocitopenia, o que favorece uma conversão mais precoce.

No entanto, permanece em debate a questão de se a terapia com CNI deve ser reduzida ou até mesmo eliminada em pacientes de manutenção, independentemente de a disfunção renal ser ou não atribuída à nefrotoxicidade relacionada aos CNIs. Muitos centros de transplante atualmente optam por usar inibidores de mTOR em regimes de manutenção imunossupressora apenas em subgrupos específicos de pacientes, onde essa classe de medicamentos pode ser particularmente útil: em pacientes com nefrotoxicidade histológica comprovada devido aos CNIs, apesar de doses e níveis baixos desses medicamentos; em pacientes com câncer (como cânceres de pele e sarcoma de Kaposi), em remissão ou sendo tratados ativamente; após o tratamento de linfoma pós-transplante de células B (PTLD); e em pacientes com viremia recorrente por citomegalovírus (CMV), já que o EVR tem atividade anti-CMV in vitro e está associado a uma menor replicação do CMV e doença em vivo, quando comparado ao MMF.

A incidência de infecções por vírus Epstein-Barr (EBV) ou vírus BK polioma não é menor em pacientes tratados com EVR em comparação com pacientes tratados com MMF. Portanto, a substituição do regime imunossupressor pode ter benefícios substanciais, mas também exige uma avaliação cuidadosa dos riscos.

Os anticorpos anti-linfócitos, como as globulinas antitimócito policonais (ATGAM e Thymoglobulin), desempenham um papel importante na indução da imunossupressão, sendo usados tanto para prevenir a rejeição do enxerto no período inicial pós-transplante quanto para tratar episódios agudos ou resistentes de rejeição. Esses anticorpos são preparados pela imunização de cavalos ou coelhos com linfócitos tímicos humanos, resultando em anticorpos que agem sobre múltiplos clones de células e moléculas em linfócitos.

O efeito imunossupressor dessas preparações se dá principalmente pela depleção de linfócitos, causada pela opsonização e lise mediada por complemento ou fagocitose mononuclear, além da indução de apoptose mediada pelo Fas. No entanto, é importante notar que esses anticorpos também podem ter efeitos não depletivos, como a ativação parcial de células T, que pode induzir anergia.

No contexto de transplante renal pediátrico, a terapia com Thymoglobulin™ por 5 dias tem mostrado ser tão eficaz quanto ou mais potente do que o uso de ATGAM™ por 10 dias, produzindo uma redução rápida no número de linfócitos CD3, CD4 e CD8. O Thymoglobulin™ é considerado mais potente e é amplamente utilizado, especialmente para reduzir a incidência de função retardada do enxerto. A infusão de Thymoglobulin™ é administrada via cateter venoso central e, em casos raros, pode ser feita por veia periférica, após a adição de hidrocortisona e heparina, para evitar tromboflebite.

Em termos de efeitos colaterais, os sintomas mais comuns são calafrios, febre e artralgia, com risco de anafilaxia em casos raros. O "síndrome de liberação de citocinas" é mais comum com o ATGAM™ do que com o Thymoglobulin™, mas ambos podem induzir leucopenia e trombocitopenia, o que pode exigir redução de dose ou interrupção temporária. Além disso, a depleção prolongada de linfócitos pode aumentar a suscetibilidade a infecções virais, particularmente a infecção por CMV.

Com relação ao uso de anticorpos monoclonais, o basiliximab e o daclizumab, ambos anticorpos anti-CD25, atuam bloqueando a interação do IL-2 com o seu receptor, impedindo a proliferação de células T ativadas. O basiliximab é amplamente utilizado, enquanto o daclizumab foi retirado do mercado. A diminuição no uso de anticorpos policlonais nos últimos anos tem dado espaço aos anticorpos monoclonais, que oferecem uma abordagem mais dirigida e com menos efeitos adversos. A terapia com basiliximab tem sido eficaz na prevenção da rejeição do enxerto, mas deve ser cuidadosamente avaliada para cada paciente, levando em consideração os riscos e benefícios.

A transição para uma terapia imunossupressora baseada em mTOR ou a utilização de anticorpos anti-linfócitos pode, sem dúvida, melhorar os resultados a longo prazo para os pacientes transplantados. Porém, é essencial que a abordagem seja individualizada, levando em conta as condições clínicas específicas de cada paciente, o momento adequado para a transição e os riscos associados a essas terapias.