A compreensão da informação, sua relação com o significado e a intencionalidade exige uma abordagem que vá além dos limites tradicionais da filosofia da linguagem e da semiótica. O conceito de informação não deve ser reduzido a uma definição simplista, pois ele abrange aspectos hierarquicamente organizados, que incluem o estrutural, o referencial e o normativo. Esses aspectos não apenas se interconectam, mas também se entrelaçam, criando uma rede complexa de relações semióticas.

A análise conceitual da informação revela que ela não é apenas um dado bruto ou um sinal físico, mas algo que assume diferentes formas e funções dependendo do contexto em que se insere. A informação estrutural, por exemplo, pode ser compreendida a partir de uma definição negativa, ou seja, como uma restrição que organiza e orienta as interações dentro de um sistema. Assim, a forma é entendida não apenas como uma característica de objetos ou entidades, mas como uma limitação que impõe condições de existência e transformação.

Por outro lado, a informação referencial, aquela que se relaciona a um referente ou àquilo de que falamos, envolve uma interpretação que vai além da mera transmissão de dados. A interpretação, então, não é algo neutro, mas sempre carrega consigo uma normatividade, um conjunto de regras e convenções que guiam a interpretação de um dado em um dado contexto. Este ponto leva à introdução do conceito de interpretação operacional, que tenta explicar como a normatividade mínima pode ser preservada, mesmo nas situações em que a relação de referência parece vaga ou imprecisa.

A estrutura semiótica proposta reflete uma interdependência assimétrica entre os três tipos de referência: simbólica, indexical e icônica. A referência simbólica depende da referência indexical, que, por sua vez, é fundamentada na referência icônica. Esses três tipos de referência não devem ser vistos como compartimentos estanques, mas como componentes que se ajustam mutuamente, gerando uma dinâmica complexa de significação. A simbólica, por exemplo, requer um suporte indexical para ser compreendida, e este, por sua vez, se apoia nas qualidades icônicas dos signos que o compõem.

É importante ressaltar que a convenção, um conceito fundamental para a semiótica, não é apenas uma construção social ou cultural, mas uma característica inerente aos próprios processos de significação. A referência simbólica, portanto, possui duas dimensões de convencionalidade: a do veículo do signo e a da relação referencial. Essa dupla dimensão da convenção permite que a linguagem e outros sistemas simbólicos sejam dinâmicos e adaptáveis, enquanto mantêm uma certa estabilidade que facilita a comunicação e o entendimento mútuo.

Este enquadramento semiótico oferece uma explicação mais profunda sobre os cenários de comunicação do mundo real. Através dele, podemos perceber como a informação não é algo isolado, mas parte de uma rede interconectada de signos, normas e interpretações. A análise semiótica, então, se mostra essencial para a resolução de muitos problemas clássicos da filosofia da linguagem, permitindo uma compreensão mais abrangente de como os seres humanos se comunicam e atribuem significado a seus ambientes.

Além disso, a relação entre informação e forma, que é tratada neste contexto, também exige uma reflexão sobre o papel da biologia e da cognição nos processos semióticos. Não basta entender que os sinais têm formas específicas ou que eles representam algo. É necessário também entender como os organismos vivos, incluindo os seres humanos, interpretam esses sinais de forma que sejam úteis para sua sobrevivência e adaptação. Isso implica um estudo mais aprofundado das capacidades cognitivas, das funções biológicas e da evolução das formas de comunicação, que são, por sua vez, moldadas pelos próprios ambientes físicos e sociais.

Outro ponto crucial que deve ser considerado é a limitação da informação no mundo físico. Em muitos casos, a informação não é apenas transmitida, mas também processada e filtrada, dependendo das capacidades do sistema que a recebe. A informação, portanto, não é uma entidade simples e objetiva, mas um processo dinâmico que envolve a interação entre diferentes níveis de realidade, desde o físico até o mental e o social. Esse processo de filtragem e processamento da informação é fundamental para entender como o significado emerge a partir de dados brutos e como ele pode ser manipulado e alterado em diferentes contextos.

Como a Autogênese Representa uma Forma Primária de Semiose

A autogênese, enquanto processo biológico fundamental, é caracterizada pela regeneração da distinção entre o "eu" e o "não eu", e essa característica a torna uma semiose icônica. Quando o autogen (objeto) sofre danos, sua integridade é comprometida, e um processo de autorreparo ou autorregeneração é imediatamente iniciado, gerando um novo autogen como interpretante. Esse ciclo de regeneração é o que define uma relação triádica genuína, na qual o autogen, sua estrutura dinâmica e o autogen regenerado não podem ser reduzidos a uma interação binária. Ao contrário de outros tipos de relações semióticas, que podem se manifestar como vínculos binários entre duas entidades, a autogênese representa uma estrutura intrinsecamente triádica, cumprindo as quatro condições formais de signos de Peirce.

Nesse contexto, a semiose gerada pela autogênese não deve ser interpretada como uma semiose no sentido convencional. Em vez de se tratar de uma simples representação do mundo exterior, ela é essencialmente auto-referencial. O autogen, a estrutura dinâmica que codifica as limitações (signo), e o autogen regenerado existem não como entidades separadas, mas como uma unidade persistente – a própria autogênese. Em vez de se manifestar de maneira sincrônica, como é comum em muitas formas de semiose, a autogênese expressa uma semiose diacrônica. A temporalidade irreversível da autogênese, caracterizada por sua capacidade de se regenerar ao longo do tempo, é o que distingue essa forma primitiva de semiose.

A autogênese, nesse sentido, é mais do que uma reação química; ela é um processo que se caracteriza pela transmissão de informações entre as partes do sistema. As informações codificadas na estrutura do autogen, quando processadas de forma autorreferencial, adquirem um caráter normativo. Essa normatividade é a medida de quão bem a autogênese mantém sua capacidade de autossustentação e autorreprodução. Se esse processo falha, o sistema se desestabiliza, levando ao que pode ser considerado uma "informação incorreta" ou um mal funcionamento. A transferência de informações entre as partes antigas e novas de um autogen durante a regeneração ou reprodução reflete esse princípio. No entanto, essa informação continua a se referir ao próprio sistema, mantendo sua qualidade auto-referencial, ao contrário de representações tradicionais, que se referem a algo externo.

A semiose gerada pela autogênese ganha uma nova dimensão quando se considera a introdução de uma superfície sensível no autogen, uma modificação que introduz uma vantagem adaptativa significativa. Quando a cápsula do autogen apresenta características moleculares capazes de se ligar a substratos, a estabilidade estrutural do autogen se torna mais suscetível a mudanças ambientais. O aumento da concentração de substratos pode fazer com que a cápsula do autogen se abra, favorecendo a replicação do sistema. Assim, o autogen sensível ganha uma vantagem adaptativa sobre o original, que não reage a essas condições ambientais.

Essa mudança no comportamento do autogen é uma transição importante na semiose: a introdução de uma representação indexical. Enquanto a semiose anterior era de natureza icônica, com a representação sendo uma reprodução fiel do autogen, a semiose indexical envolve uma continuidade causal ou espacial entre o signo e seu referente. A ligação dos substratos ao autogen não é apenas uma relação casual, mas uma representação contínua da adequação do ambiente para o autogen. A interação entre o autogen e os substratos no ambiente se torna, assim, um exemplo de semiose em ação, uma vez que os processos de auto-reparo e reprodução começam a ocorrer.

É importante notar que as propriedades dos substratos não são, por si mesmas, representações dentro do processo semiótico; elas são meramente possibilidades no ambiente que podem ser usadas por um sistema interpretativo. Em outras palavras, apenas as propriedades dos substratos que afetam diretamente os processos de auto-sustentação e auto-produção são levadas em consideração. Essas propriedades se tornam relevantes na medida em que contribuem para a autogênese, estabelecendo uma conexão com o signo do autogen. O que é apresentado ao sistema como um signo não é a totalidade das propriedades dos substratos, mas apenas aquelas que são pertinentes à sobrevivência e reprodução do autogen.

Além disso, a representação semiótica que ocorre no contexto da autogênese pode ser compreendida em termos de uma lógica negativa. A adequação do ambiente não é definida pela presença de elementos positivos, mas pela ausência de condições que impedem a autossustentação do autogen. Assim, o ambiente "adequado" para a autogênese é aquele que não apresenta obstáculos ao processo de autossustentação e autoreprodução. Esse entendimento traz à tona a complexidade do conteúdo semiótico, pois os substratos que contribuem para a autogênese são não apenas elementos dinâmicos, mas também objetos imediatos que tornam o ambiente adequado.

Como a Linguagem Refere-se ao Mundo: Desafios e Complexidades do Mapeamento Semântico

A linguagem humana pode referir-se ao mundo de maneiras diversas e complexas. Em sua essência, a questão do “referir” envolve diferentes formas de representação e conexão entre o símbolo linguístico e o objeto, conceito ou evento que ele representa. Esta relação, tão fundamental para a comunicação, exige uma análise profunda e multifacetada, que se torna um desafio no campo da filosofia da linguagem, filosofia da mente e filosofia das ciências cognitivas.

Primeiro, a linguagem pode se referir a coisas específicas, como um "cachorro", embora esse termo não se refira a um cachorro específico, a menos que esteja inserido em um contexto mais amplo que forneça detalhes adicionais. Em segundo lugar, a linguagem também pode designar conceitos abstratos e gerais, como aqueles encontrados na lógica ou na matemática, como "triângulo", "função" ou "dedução". Em terceiro, ela pode ser usada para se referir a algo inexistente, como no caso das ficções – por exemplo, "Harry Potter" ou "Terra-média". Por fim, frequentemente a linguagem é empregada de maneira a distorcer ou alterar o significado literal das palavras, como acontece com o uso da ironia ou metáforas. Compreender como esses fenômenos de referência e significado operam é crucial para entender o funcionamento da linguagem de maneira profunda e complexa.

Filósofos da linguagem têm contribuído de forma significativa para o entendimento desses problemas, mas suas abordagens raramente chegam a um consenso. Um ponto central da filosofia da linguagem é a questão do "referente", isto é, como um símbolo linguístico se conecta com o mundo real, com objetos, eventos ou conceitos. A visão tradicional, que busca mapear diretamente a linguagem para o mundo através de funções matemáticas ou lógicas, tem sido amplamente criticada por ignorar a complexidade da infraestrutura semiótica subjacente.

A abordagem proposta por Deacon (1997, 2012, 2018) sugere que a referência linguística não pode ser reduzida a uma simples relação binária entre símbolo e objeto, como uma espécie de mapeamento direto. Em vez disso, ela é um processo simbólico hierarquicamente construído, que se origina de formas de referência indexicais e icônicas. Isso significa que a relação entre sentido e referência não pode ser compreendida sem considerar essa hierarquia semiótica que a fundamenta. A primeira camada dessa hierarquia é a referência icônica, que envolve símbolos que se assemelham de alguma forma ao objeto que representam. A segunda camada é a referência indexical, que envolve símbolos que apontam para ou indicam objetos ou situações de forma contextualizada, mas não necessariamente semelhantes a eles. Finalmente, a camada mais complexa, a referência simbólica, envolve símbolos que não têm uma correlação direta com o mundo, mas são compreendidos e estabilizados dentro de um determinado contexto semiótico.

O que se tem visto nas principais teorias da linguagem, como as defendidas por filósofos como Wittgenstein, os empiristas lógicos, Quine e os teleosemânticos, é a noção de que a linguagem funciona como um mapa do mundo. No entanto, o problema central dessas abordagens está no fato de que elas assumem um modelo de linguagem que mapeia diretamente para a realidade, utilizando funções matemáticas ou regras de projeção. O conceito de mapeamento é fundamental para essas teorias, mas as diferentes interpretações de como essas relações entre linguagem e mundo funcionam geram uma série de disputas filosóficas.

Por exemplo, a teoria de Millikan, baseada em uma perspectiva biológica e naturalista, propõe que a linguagem é uma característica biológica do ser humano, moldada pela seleção natural e pelo aprendizado. Dentro dessa teoria, Millikan introduz a ideia de uma “função de mapeamento semântico”, que se estabelece de maneira convencional na comunidade linguística. A função semântica, nesse sentido, mapeia os elementos do conjunto de formas linguísticas para os elementos do conjunto do mundo, de acordo com uma série de regras que podem ser logicamente caracterizadas. Assim, para que um signo linguístico tenha sucesso em sua função semântica, deve existir uma relação estável entre o símbolo e o referente no mundo.

Essa relação semântica pode ser ilustrada através de exemplos biológicos, como a famosa dança das abelhas. Quando uma abelha encontra néctar em um local distante da colmeia, ela executa uma dança que indica a direção e a distância do néctar para outras abelhas. A relação entre a dança e a localização do néctar pode ser entendida como uma função de mapeamento, em que as variáveis da dança (direção e tempo) se correspondem diretamente com a localização física do néctar. No entanto, ao contrário dessa comunicação direta e simples, a linguagem humana envolve um grau muito maior de complexidade e variabilidade, sendo que os símbolos linguísticos não têm uma correspondência direta com a realidade, mas dependem de contextos culturais e interpretativos para fazer sentido.

A proposta de um mapeamento semântico mais complexo reflete a ideia de que os símbolos linguísticos são, na verdade, signos que operam dentro de um sistema semiótico mais amplo, cujas relações são moldadas por práticas sociais, contextos de uso e uma rede de significados compartilhados. Por isso, a referência simbólica não se dá apenas pela relação entre um símbolo e um objeto do mundo, mas também pela interação entre os símbolos dentro de um contexto semântico. Isso exige uma compreensão mais dinâmica da linguagem, que não pode ser reduzida a um simples mapeamento de um mundo externo.

Ademais, o que é fundamental compreender é que a referência linguística não é uma operação isolada, mas está sempre imersa em um processo social e contextual. O significado de um termo ou expressão não pode ser dissociado do contexto de sua utilização, das intenções comunicativas dos falantes e das normas sociais que regulam a linguagem. Isso implica que a filosofia da linguagem precisa abandonar a ideia de uma representação direta e objetiva do mundo e se concentrar na complexidade das interações simbólicas que ocorrem dentro de um sistema linguístico dinâmico. A construção do significado e a maneira como a linguagem se relaciona com a realidade exigem um estudo contínuo, atento às mudanças e evoluções dos significados e usos ao longo do tempo.