A dermatite atópica (DA) é a forma mais típica de eczema, muito comum em crianças e menos frequente em adultos. A maioria das crianças acaba superando a condição, o que pode tranquilizar pais e pacientes quanto à necessidade de tratamentos prolongados. A DA frequentemente apresenta um padrão hereditário, ocorrendo em famílias, e pode estar associada a outras condições atópicas como rinite alérgica e asma — essa predisposição é chamada de diátese atópica. É importante investigar esses aspectos durante a avaliação clínica, pois alguns tratamentos sistêmicos para a DA, como o dupilumabe, podem melhorar essas doenças concomitantes.

O diagnóstico da DA costuma ser clínico e bastante evidente, embora seja essencial descartar outras causas de lesões cutâneas, como a escabiose, especialmente em pacientes que frequentemente coçam e manipulam a pele, o que pode modificar o quadro inicial. Em casos menos claros, sinais sutis podem apoiar o diagnóstico, como palmas hiperlineares (associadas a anomalias queratínicas), lesões de pitiríase alba, xerose difusa e queratose pilar, que são frequentemente coexistentes.

Quanto ao manejo, muitos pacientes se preocupam mais com as alterações de coloração pós-inflamatórias do que com a inflamação ativa. É fundamental explicar que controlar o eczema é a única maneira eficaz de tratar essas hipopigmentações ou lesões semelhantes à pitiríase alba, e que a exposição solar não resulta em bronzeamento da pele acometida. Embora exista medo do uso de corticosteroides tópicos (CCTs), deve-se enfatizar que a DA não desaparecerá com hidratantes isoladamente. Um bom argumento é lembrar que os CCTs são seguros, enquanto a dermatite, não — sendo esta uma porta aberta para infecções bacterianas, como Staphylococcus aureus.

Muitas vezes, a hipopigmentação observada após o tratamento não se deve aos corticosteroides, mas sim à resolução do eczema. O processo inflamatório impede a produção normal de melanina, e somente quando a inflamação desaparece a coloração se restabelece, o que pode levar até um ano. Importante destacar que a quantidade de corticosteroide tópico necessária é muito maior do que o paciente costuma imaginar. Um tubo de 30 g, por exemplo, é insuficiente para tratar um adulto, sendo mais apropriado um pote maior para o corpo e tubos específicos para a face. Quanto à preferência entre pomada ou creme, a maioria opta por cremes.

Um programa inicial para DA leve geralmente inclui corticosteroides tópicos específicos para a região afetada — como hidrocortisona para o rosto e clobetasol para lesões mais espessas, com cuidados para não aplicar em áreas sensíveis. O uso diário de hidratantes contendo ceramidas, aplicados preferencialmente sobre a pele ainda úmida, ajuda a restaurar a barreira cutânea. Também é recomendada a prevenção de infecções secundárias com cremes de sulfadiazina de prata, especialmente em casos com impetiginação.

Nos casos mais graves ou extensos, o uso de terapias sistêmicas pode ser necessário. O dupilumabe revolucionou o tratamento da DA, com resposta superior a 85% dos pacientes em oito semanas e excelente perfil de segurança. A ausência de necessidade de monitoramento laboratorial e a possibilidade de manutenção prolongada facilitam seu uso, embora a resposta negativa após 12 semanas deva suscitar revisão diagnóstica, pois outras condições, como psoríase, escabiose ou linfoma cutâneo, podem mimetizar a DA. Em crianças, o uso concomitante de corticosteroides tópicos ainda é comum, com ajustes de dose baseados no peso.

Se o dupilumabe falhar, inibidores de JAK como upadacitinibe e abrocitinibe podem ser considerados, embora sua eficácia e segurança a longo prazo ainda sejam objeto de estudo. Para evitar complicações como eczema herpético, pode ser necessária profilaxia antiviral. É importante informar que as lesões espessas demoram meses para melhorar e que a normalização da coloração pode levar até um ano, especialmente em mãos, que podem piorar no verão e requerem manutenção rigorosa no inverno.

A dermatite de contato é uma condição frequentemente subestimada pelos pacientes, que não reconhecem que produtos aplicados há tempos possam ser os responsáveis pela irritação. Alterações no sistema imunológico, modificações na composição dos produtos e sensibilização tardia são algumas das explicações para o aparecimento súbito dos sintomas. Ingredientes comuns em cosméticos e hidratantes, como parabenos, fragrâncias e conservantes, são potenciais causadores da dermatite. É crucial orientar os pacientes a evitar rótulos enganosos como “natural” ou “limpo”, que não garantem ausência de alérgenos.

Produtos como manteiga de cacau e karité frequentemente contêm fragrâncias irritantes, e óleos podem inicialmente acalmar, mas posteriormente causar prurido. Opções seguras incluem produtos específicos como CeraVe e Vanicream para limpeza e Aquaphor ou Vaselina para hidratação. Em casos suspeitos de dermatite por colírios, é necessário observar áreas adjacentes ao nariz, já que o medicamento pode escorrer pelo ducto nasolacrimal.

O uso de corticosteroides orais para dermatite de contato deve ser evitado, pois pode prolongar o quadro, em contraste com a evolução espontânea da dermatite por urushiol (herbácea do tipo hera venenosa), que geralmente resolve em duas a três semanas sem tratamento.

A dermatite de contato alérgica, uma reação de hipersensibilidade tipo 4, é responsável por cerca de 20% dos casos. O diagnóstico pode ser difícil, já que os sintomas surgem um ou dois dias após o contato com o alérgeno. Alguns agentes comuns incluem Neosporin (que deve ser evitado abaixo da cintura devido à alta taxa de alergia) e níquel, presente em piercings. A constante mudança nos ingredientes dos produtos exige atualização contínua para identificação dos alérgenos e irritantes responsáveis.

Além do tratamento específico, o entendimento de que a pele atópica possui uma barreira cutânea comprometida é fundamental para compreender por que a DA é tão suscetível a infecções e inflamações persistentes. O manejo eficaz não se resume à supressão da inflamação, mas também à restauração e manutenção da função de barreira, o que demanda um cuidado contínuo e multidisciplinar. A adesão ao tratamento, o conhecimento sobre a doença e a atenção a fatores ambientais e emocionais que possam exacerbar os sintomas são essenciais para o controle a longo prazo.

Quais os principais cuidados e técnicas para cirurgia dermatológica: MoHs, Fechamento Primário e Enxertos?

A abordagem das lesões cutâneas exige um entendimento profundo das técnicas cirúrgicas e de como os diferentes métodos de fechamento podem afetar a recuperação e o resultado estético. Em casos de tumores cutâneos não melanomatosos (NMSC), como o carcinoma basocelular ou espinocelular, o procedimento de MoHs é frequentemente a escolha para garantir a remoção total do tumor com margens livres de células malignas.

O MoHs difere das excisões tradicionais ao processar as camadas de tecido removidas de maneira a permitir a visualização das margens periféricas e profundas de forma integral. Esse método é crucial para detectar células tumorais residuais, que podem não ser visíveis em uma excisão convencional. Para realizar uma excisão de MoHs, é essencial entender a técnica de “beveling” – o corte da camada com uma angulação de 45 graus, o que permite que os histotécnicos visualizem completamente as margens, como se estivessem observando o envoltório de um bombom. Embora essa abordagem minimize o risco de recidiva, o procedimento pode exigir várias camadas para uma remoção completa, o que eleva o risco de complicações como a desorientação da lesão, que pode prejudicar a interpretação dos resultados histológicos.

Uma técnica crucial no MoHs é a marcação e orientação do tecido excisado. Após realizar os cortes, é necessário fazer uma marcação (normalmente duplamente) para garantir a correta orientação do tecido, evitando a perda de informações fundamentais para a análise. Caso a marcação se perca, o risco de falhas aumenta consideravelmente, comprometendo a precisão do procedimento. Em algumas situações, um “take and close” pode ser realizado, quando se tem uma confiança razoável de que o tumor foi completamente removido em uma única camada.

Porém, após a remoção do tumor, o processo de fechamento do defeito também apresenta desafios. Se o defeito for pequeno e a área for adequada, pode-se optar por um fechamento primário, com sutura direta. Essa técnica exige uma avaliação criteriosa da tensão na pele, e em áreas com pele mais espessa ou difícil de suturar, como no couro cabeludo, podem ser necessários pontos de sutura em forma de colchão para garantir que a ferida seja fechada de maneira eficaz. A cicatrização dessa área também pode resultar em alopecia cicatricial, um fator a ser considerado na escolha do método.

Em casos em que o fechamento primário não é possível ou quando a cicatrização por segunda intenção é preferível, algumas áreas podem ser tratadas de maneira mais simples, permitindo que o tecido se recupere sem intervenção direta. Áreas como a face (exceto a ponta do nariz e as bordas livres) ou os templos podem ser boas candidatas para essa abordagem. Embora essa técnica apresente menos dor e restrições, é fundamental acompanhar a evolução da cicatrização, pois pode haver sangramentos, exigindo cuidados rigorosos com curativos e pressão para evitar complicações.

Para defeitos maiores ou quando o tecido ao redor é insuficiente para um fechamento primário adequado, a opção por enxertos ou retalhos pode ser necessária. Os enxertos, especialmente os de espessura total, exigem uma preparação cuidadosa tanto no local doador quanto no receptor. A técnica clássica de enxerto de pele total exige que o tecido seja colhido com precisão para evitar áreas de gordura subcutânea, o que comprometeria a integração do enxerto. Ao contrário dos enxertos de espessura total, os enxertos de espessura parcial exigem uma máquina especializada, como o Zimmer Dermatome, que retira uma fina camada de derme. Esses enxertos são adequados para grandes defeitos, mas estão associados a mais dor no pós-operatório devido ao trauma no local doador.

Além disso, é importante considerar o risco de falha do enxerto, especialmente em grandes áreas ou quando a circulação sanguínea local não é ideal. A fenestração do enxerto, ou a prática de fazer pequenos furos para melhorar a adesão ao leito da ferida, é uma técnica frequentemente empregada para reduzir esse risco. A utilização de antibióticos também é recomendada para prevenir infecções, que podem comprometer a viabilidade do enxerto.

Outro ponto importante a se considerar é o tempo de recuperação e as restrições pós-operatórias. Em qualquer técnica de fechamento, seja primário, por segunda intenção ou enxerto, o paciente deve ser cuidadosamente orientado sobre a necessidade de seguir restrições, como evitar trauma no local da cirurgia e realizar os curativos adequados para prevenir infecções.

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