Os atentados de 11 de setembro de 2001 transformaram os Estados Unidos, não apenas no campo político e social, mas também na própria maneira como as notícias eram produzidas e consumidas. A crise provocada por esse evento não se restringiu à queda das Torres Gêmeas, mas também ao colapso de uma era que considerava a mídia tradicional como a única fonte confiável de informação. A indústria de notícias passou a ser redefinida, adaptando-se a um novo cenário onde a rapidez das informações e as necessidades comerciais determinaram o rumo dos acontecimentos.
Na época, eu trabalhava no Daily News, um dos maiores jornais de Nova York. Quando comecei, em 2000, o jornal impresso ainda era o principal meio de comunicação, com sua versão online sendo meramente uma réplica digital do que já estava impresso. O processo de adaptação da mídia para o ambiente digital era lento e cheio de resistências. A equipe editorial via o papel como uma espécie de escritura sagrada, e a ideia de confiar a internet, onde qualquer um poderia publicar qualquer coisa, era vista com desconfiança. As notícias na versão digital eram publicadas apenas uma vez por dia, na madrugada, e qualquer acontecimento relevante, como uma notícia de última hora, dificilmente teria espaço em tempo real.
O atentado de 11 de setembro, no entanto, alterou de forma irreversível a dinâmica do setor. Eu estava fora de Nova York, em uma pequena viagem a Wisconsin, quando as torres caíram. Como muitos naquele dia, fui tomada pela incerteza e pela incompreensão do que estava acontecendo. A mídia, por sua vez, estava totalmente despreparada para lidar com a magnitude da tragédia em tempo real. Não havia a estrutura necessária para reportar ao vivo, ou sequer para confirmar as informações com a precisão que as circunstâncias exigiam. A notícia era transmitida com uma angústia palpável, como se os próprios jornalistas estivessem ainda tentando processar o evento.
Naquele dia, a rapidez com que as notícias eram divulgadas nas redes sociais ainda estava longe de ser uma preocupação, mas, ao mesmo tempo, as grandes corporações de mídia, como o Daily News, estavam presas a uma estrutura de produção que não conseguia lidar com a agilidade exigida pela nova realidade. Enquanto o impresso era considerado a “verdade absoluta”, a internet ainda era vista como um campo sem controle, onde qualquer informação poderia ser publicada sem verificação. Isso criava um abismo entre o que era considerado verdade e o que, de fato, acontecia.
Com o tempo, a mídia tradicional passou a adotar um novo modelo de operação, mais voltado para o mercado e para a urgência das informações. O 11 de setembro revelou uma falha significativa na forma como os jornalistas estavam estruturando as notícias: a tendência de se adaptar a uma lógica de espetáculo. A tragédia foi transformada em um produto de consumo rápido, onde a emoção do público e a necessidade de audiência ditavam os rumos das reportagens. O medo e o drama se tornaram elementos centrais das narrativas, criando um ciclo de informação desenfreada e, muitas vezes, imprecisa.
A mídia começou a se ajustar à necessidade de fornecer uma narrativa contínua, 24 horas por dia, algo que antes não fazia parte da lógica do jornalismo impresso. No entanto, essa adaptação trouxe também um afastamento da ética jornalística tradicional, com a ênfase na velocidade da informação muitas vezes sobrepondo-se à precisão dos fatos. A verdade, de certa forma, passou a ser flexível, um reflexo das próprias exigências do mercado.
Nos meses que seguiram, os efeitos do ataque se estenderam para além da dor imediata e das perdas pessoais. A cidade de Nova York, que até então era uma metrópole vibrante e caótica, passou a viver em um silêncio atípico, refletindo a angústia coletiva de uma nação que se sentia vulnerável. A mídia, tentando preencher esse vazio emocional, lançou mão de todos os recursos narrativos possíveis, alimentando uma necessidade de significados e explicações que, na maioria das vezes, eram mais fruto do medo do que da realidade. A resistência de Nova York, que se tornou um símbolo de superação, foi, na verdade, um reflexo da impossibilidade de lidar com a complexidade do sofrimento e da perda.
Além disso, os eventos de 11 de setembro não apenas reformularam a relação entre a mídia e a política, mas também alteraram a forma como a sociedade se via em termos de segurança e identidade. A narrativa construída pela mídia durante aquele período ajudou a criar um clima de paranoia e vigilância, o que contribuiu para a ascensão de políticas de segurança mais rigorosas, como a criação do Departamento de Segurança Interna e a implementação de leis como o Patriot Act.
O papel da mídia, nesse contexto, foi fundamental, pois ao invés de ser apenas um espelho da realidade, ela se tornou parte ativa na construção de um novo mundo pós-11 de setembro. O impacto disso foi visível não apenas na política externa, com a invasão do Iraque e a chamada "guerra ao terror", mas também nas relações internas dentro dos Estados Unidos, onde a divisão entre diferentes grupos sociais e políticos se aprofundou. A mídia foi, portanto, uma aliada do poder, ajudando a criar uma nova ordem, muitas vezes por meio da manipulação da narrativa.
Entretanto, algo que se deve compreender é que, embora a mídia tenha sido um veículo de disseminação de informações e emoções, ela também foi, de certa forma, refém de suas próprias limitações. A busca incessante por audiência e a pressa em consumir e compartilhar histórias levaram a um certo empobrecimento da qualidade do jornalismo. Hoje, muitos dos erros cometidos durante aqueles dias são reconhecidos como parte de um processo de aprendizado coletivo, mas os efeitos dessa transição são profundos e duradouros. O jornalismo, como o conhecíamos, nunca mais seria o mesmo.
Como o autoritarismo corrói a alma de uma nação e de seus cidadãos?
Ao longo de mais de uma década estudando regimes autoritários, a ameaça que eles representam nunca foi exagerada por mim. A análise transcende a política partidária: não se trata apenas de rejeitar um presidente eleito impopular, mas de reconhecer que ele pode ter o explícito propósito de destruir a nação. O perigo maior não está só naqueles que se opõem ao autoritarismo, mas também naqueles que o apoiam, pois, no fim, todos sofrerão as consequências.
O presidente em questão não esconde suas intenções; pelo contrário, suas declarações são um mapa do que está por vir. Em 2014, por exemplo, defendeu publicamente a Rússia e afirmou que a solução para os problemas americanos seria o colapso econômico total, com o país mergulhado no caos e na desordem, para então "voltar a ser grande". Esse é o verdadeiro significado de “Fazer a América Grande de Novo” para ele — a destruição para depois reconstruir sob seus próprios termos, sempre explorando crises econômicas para ganhos pessoais, e promovendo uma cultura de medo, exclusão e crueldade.
O estilo autoritário não se limita ao controle estatal, mas penetra na essência do indivíduo, corroendo a moralidade, a consciência e a identidade. O medo que ele instaura torna as pessoas cruéis, conformistas, dispostas a aceitar o inaceitável, agir contra seus próprios princípios, apenas para sobreviver. O sistema, manipulado para favorecer os poderosos, incentiva a obediência cega e apaga gradualmente a voz interior que nos diz que algo está errado — essa voz é a nossa consciência, nossa individualidade mais profunda. Perder isso é abrir mão da própria humanidade.
Embora possam tirar bens materiais, a verdadeira força reside na capacidade de conhecer e preservar a própria identidade, antes que os métodos autoritários se infiltrem no cotidiano e façam parecer normal a brutalidade e a repressão. Manter-se fiel a quem se é e ao que se valoriza torna-se, então, uma forma de resistência essencial. O reconhecimento do próprio valor, a coragem para proteger os vulneráveis e a solidariedade com os assustados são atos que preservam a luz em tempos sombrios.
A transformação interna é inevitável diante das atrocidades e das injustiças: crianças separadas de seus pais e mantidas em campos, um líder com obsessão por armas nucleares ameaçando a paz global, um governo que age contra seu próprio povo em conluio com inimigos externos, crimes horrendos encobertos por décadas. Essas realidades provocam um abalo profundo, e a desorientação temporal é uma das mais perturbadoras consequências — vivendo uma sucessão interminável de crises, cada dia traz uma nova dor que é difícil de localizar no tempo, como um pesadelo que se apaga da memória, mas não do corpo.
A diferença crucial reside em esperar o autoritarismo para se preparar para combatê-lo, e aceitá-lo passivamente, o que significa sua consolidação. A luta exige resiliência interna e externa, e é preciso resistir à tentação do conformismo mesmo quando o medo parece dominar. A nostalgia não é do passado, mas de um futuro que se teme não existir, e que precisa ser imaginado e moldado com amor, criatividade e originalidade — elementos imprevisíveis que escapam ao controle autoritário.
É fundamental compreender que a defesa da democracia não é apenas um ato político, mas um esforço contínuo de preservação da essência humana. Resistir é, antes de tudo, proteger a integridade do eu contra a erosão causada pelo medo, pela manipulação e pela crueldade institucionalizada. A verdadeira batalha é interna, e é nela que se decide se o espírito humano sucumbirá ou se manterá intacto, pronto para reconstruir o que o autoritarismo tenta destruir.

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