O diagnóstico da tuberculose (TB) ativa, especialmente pulmonar, baseia-se predominantemente em exames de escarro, sendo o esfregaço direto para bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) ou o teste de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT) os métodos iniciais de escolha. Esses exames devem ser seguidos por culturas em meios específicos, como Löwenstein-Jensen ou Middlebrook 7H11, uma vez que oferecem a maior sensibilidade para detectar micobactérias viáveis, embora exijam semanas para obtenção de resultados definitivos. A coleta de três amostras de escarro consecutivas com intervalo de 8 horas entre cada uma é a prática recomendada para aumentar a chance diagnóstica.
A tuberculose extrapulmonar, por outro lado, apresenta desafios adicionais, pois a natureza do sítio afetado muitas vezes dificulta a obtenção de amostras adequadas. Ainda assim, diferentes tipos de espécimes podem ser submetidos à cultura, dependendo da apresentação clínica. O crescimento das colônias em meios sólidos pode levar mais de duas semanas, sendo o crescimento em meios líquidos variável e dependente da carga bacilar inicial. A morfologia das colônias pode auxiliar na diferenciação: o Mycobacterium tuberculosis geralmente apresenta colônias rugosas, opacas e não pigmentadas, ao passo que o M. bovis exibe colônias lisas e algumas cepas da vacina BCG são rugosas.
A identificação de espécies dentro do complexo Mycobacterium tuberculosis (MTBC) ou micobactérias não tuberculosas (NTM) pode ser feita por espectrometria de massas MALDI-TOF ou cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), complementando os métodos tradicionais. Em alguns países, como os Estados Unidos, a tipagem de cepas do complexo MTB pode ser realizada em centros de referência como os CDC.
A interpretação de testes imunoenzimáticos como os ensaios de liberação de interferon-gama (IGRA) deve ser feita com cautela, sobretudo em crianças menores de dois anos, onde a sensibilidade é limitada, e em pacientes imunocomprometidos, nos quais os resultados frequentemente são indeterminados. O teste tuberculínico e o IGRA são úteis para triagem de infecção latente, mas não substituem os métodos microbiológicos na confirmação da doença ativa.
O tratamento da tuberculose ativa baseia-se em esquemas multidrogas por um período de 6 a 9 meses, envolvendo tradicionalmente rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. No entanto, o M. bovis, que também pertence ao complexo MTB, possui resistência intrínseca à pirazinamida. Além disso, algumas cepas da vacina BCG demonstram resistência à isoniazida. A resistência a múltiplos fármacos, especialmente à rifampicina e à isoniazida, tem se tornado cada vez mais frequente em cepas de M. tuberculosis, tornando imprescindível a realização de testes de sensibilidade para orientar a escolha terapêutica.
A complexidade do tratamento da tuberculose resistente exige a utilização de antibióticos de segunda linha, que frequentemente apresentam maior toxicidade e menor eficácia, prolongando a duração do tratamento e aumentando o risco de efeitos adversos. A identificação precoce de resistência é, portanto, um componente crítico na gestão da tuberculose, reduzindo as chances de falha terapêutica e transmissão contínua da doença.
Outro aspecto relevante está relacionado ao uso da vacina BCG, composta por uma cepa atenuada de M. bovis, administrada rotineiramente em recém-nascidos em muitos países como forma de prevenção contra formas graves de tuberculose. Em indivíduos imunodeficientes, no entanto, a vacina pode causar infecção disseminada, dada sua natureza de organismo vivo. Esse risco demanda precaução e triagem imunológica adequada antes da administração da vacina em populações vulneráveis.
A distinção laboratorial entre infecção por cepas vacinais de BCG, M. bovis selvagem e M. tuberculosis é essencial não apenas para o manejo clínico, mas também para investigações epidemiológicas e medidas de saúde pública. A padronização de métodos de identificação e a acessibilidade a tecnologias diagnósticas avançadas permanecem desafios em muitos contextos, especialmente em regiões com alta carga de tuberculose.
Importa compreender que, apesar dos avanços diagnósticos, o atraso no início do tratamento, seja por limitações laboratoriais, seja por interpretação equivocada dos testes iniciais, contribui significativamente para a morbidade e mortalidade associadas à tuberculose. A combinação de métodos rápidos como o NAAT com cultura e testes de sensibilidade constitui a abordagem mais robusta para o manejo eficaz da doença ativa. Além disso, o treinamento contínuo dos profissionais de saúde na interpretação dos diferentes métodos diagnósticos e na escolha terapêutica individualizada é imperativo para o controle da tuberculose em cenários clínicos diversos.
Qual é o melhor método para identificação bacteriana e avaliação de susceptibilidade antimicrobiana?
A identificação bacteriana tradicionalmente utilizava o sequenciamento do gene 16S rRNA, entretanto, para o gênero Mycobacterium, esse marcador genético não apresenta poder discriminatório suficiente, tornando o gene rpoB uma opção superior para sequenciamento e diferenciação das espécies. Após a obtenção dos dados de sequência de um isolado bacteriano ou de um espécime clínico direto, o laboratório compara essa sequência com bases de dados de genes/genomas bacterianos conhecidos. Essas bases podem ser públicas, com ampla diversidade e acesso gratuito, porém com menor controle de qualidade, ou privadas, com menor diversidade, mas com curadoria rigorosa e maior confiabilidade na integridade dos dados. A identidade percentual da sequência, que representa a proporção de nucleotídeos idênticos entre o organismo desconhecido e a sequência de referência, é usada como critério para identificação: valores iguais ou superiores a 97% são considerados confiáveis para identificar o gênero, enquanto para o nível de espécie a confiabilidade aumenta com valores acima de 99%. Em alguns casos, duas espécies podem apresentar a mesma identidade percentual, exigindo a utilização de testes bioquímicos ou características microbiológicas tradicionais para o correto diagnóstico. Há ainda situações onde a diferenciação por métodos convencionais é inviável, resultando na necessidade de designações “slash-calls” para espécies indistinguíveis por técnicas usuais.
No campo da espectrometria de massa, a técnica MALDI-TOF MS (Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization-Time-of-Flight Mass Spectrometry) tem revolucionado a microbiologia diagnóstica ao permitir identificação rápida e precisa de bactérias. Essa técnica baseia-se na análise do perfil proteico da célula bacteriana, obtida a partir de colônias cultivadas em meio sólido. O método direto consiste na aplicação da amostra na placa alvo seguida da adição de uma matriz absorvente de energia que, ao secar, co-cristaliza com as proteínas bacterianas. A ionização das proteínas ocorre por laser, gerando íons positivos que são separados e detectados conforme sua razão massa-carga (m/z), produzindo uma “impressão digital” espectral da bactéria. Essa impressão é comparada a uma base de dados com espectros de referência, permitindo a identificação bacteriana e a atribuição de um escore de qualidade. Para estruturas celulares mais complexas ou quando o método direto falha, utiliza-se um passo adicional de extração proteica, liberando proteínas através de lise química e mecânica, o que melhora a resolução espectral.
O teste fenotípico de susceptibilidade antimicrobiana (AST) é um pilar essencial do laboratório bacteriológico diagnóstico, fundamental para orientar terapias apropriadas e a gestão clínica do paciente. Além disso, os dados de AST são cruciais para a política de uso racional de antimicrobianos nas instituições de saúde. É necessário ponderar vários fatores para determinar a adequação do AST, incluindo a previsibilidade dos padrões de susceptibilidade do organismo, a qualidade da amostra, o contexto clínico do paciente, e a relevância do agente isolado. Por exemplo, para bactérias com padrões susceptíveis conhecidos, como Streptococcus pyogenes e beta-lactâmicos, a realização do AST pode não ser indicada. O laboratório deve assegurar que as amostras sejam coletadas e processadas corretamente, reconhecendo quando o AST é contraindicado ou quando pode ser decisivo em pacientes imunocomprometidos, mesmo para bactérias normalmente consideradas não significativas.
Do ponto de vista técnico, é fundamental o domínio dos métodos e das diretrizes regulamentares para testes e interpretação de resultados, como as estabelecidas pela FDA e pela Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). O principal parâmetro avaliado no AST fenotípico é a concentração mínima inibitória (MIC), que indica a menor concentração de antimicrobiano capaz de inibir 99,9% do crescimento bacteriano in vitro. A partir dos valores de MIC, os pontos de corte classificam o organismo como suscetível, intermediário ou resistente, fornecendo suporte para decisões terapêuticas.
Diversos métodos para AST podem ser realizados internamente ou encaminhados a laboratórios de referência, porém a padronização do inóculo bacteriano é crítica em todos os casos. Para bactérias aeróbias e anaeróbias, utiliza-se o padrão McFarland 0,5, correspondente a aproximadamente 1,5 × 10^8 unidades formadoras de colônia por mililitro. O cultivo deve ser conduzido sob condições adequadas para alcançar a fase logarítmica do crescimento antes da suspensão em solução salina ou água estéril. Tradicionalmente, a padronização do turbidez do inóculo era feita por comparação visual, mas atualmente densitômetros eletrônicos garantem maior precisão e reprodutibilidade. Controle de qualidade rigoroso, incluindo o uso de cepas controle e placas para verificação da pureza, é indispensável para assegurar a confiabilidade do teste.
Um método moderno e semiquantitativo amplamente utilizado é a microdiluição em caldo (BMD), que consiste na utilização de placas microtitulares contendo diluições seriadas de antimicrobianos. Após a adição do meio de cultura e do inóculo padronizado, observa-se o crescimento bacteriano para determinar a MIC. Diversos painéis comerciais, aprovados pela FDA, são disponíveis e adaptados para grupos específicos de organismos, considerando suas características de coloração Gram, exigências de crescimento e condições de incubação. As normas CLSI são o referencial para a execução correta do BMD e interpretação dos resultados, garantindo consistência e comparabilidade.
Além da compreensão dos métodos técnicos, é crucial que o leitor entenda a importância do contexto clínico e epidemiológico na interpretação dos resultados microbiológicos. A identificação precisa e a avaliação adequada da susceptibilidade não são fins em si mesmos, mas ferramentas para guiar decisões terapêuticas seguras, monitorar a emergência de resistências e implementar políticas eficazes de controle e prevenção. A integração entre microbiologia diagnóstica, clínica e epidemiologia é essencial para o manejo eficaz das infecções bacterianas e para o enfrentamento dos desafios impostos pela resistência antimicrobiana.

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский