A arte realista socialista, ao contrário de outras correntes estéticas, carrega em sua essência a representação do herói como um personagem de caráter profundo, cuja imagem transcende a simples abstração de um ideal. No centro dessa concepção está o entendimento de que o herói não é uma figura isolada, mas uma personificação dos ideais de sua época, uma manifestação concreta do espírito progressista que pulsa no coração de um povo em transformação. Esse herói é, por assim dizer, a encarnação do que se espera da humanidade, de seus maiores valores e conquistas, sendo um reflexo das lutas e aspirações do povo em que se insere.
Em sua análise da literatura realista socialista, o crítico deve ser capaz de distinguir entre fenômenos que, embora possam parecer convergentes à primeira vista, na verdade são antitéticos em seu significado. A união entre o romantismo e o realismo, por exemplo, não é uma simples fusão de estilos artísticos, mas um processo de criação de uma nova qualidade estética, que reflete a transformação ideológica da arte em alinhamento com os ideais revolucionários. O romantismo, ao contrário de romper com a realidade, sustenta uma ligação intrínseca com a terra, com a vida concreta e com as aspirações do povo. Já o realismo, com sua observação detalhada da realidade cotidiana, busca captar as forças vitais que movem o indivíduo em seu tempo.
A questão do herói se torna, então, um dos pontos centrais dessa discussão estética. Desde os primeiros momentos da literatura soviética, o herói não é mais uma figura idealizada e distorcida, mas um ser humano em sua complexidade, moldado pelas circunstâncias de sua época. O herói do realismo socialista não é uma invenção abstrata, mas um personagem vivido, cujas falhas e contradições são igualmente importantes para sua definição como símbolo da luta e do progresso. O autor realista não busca "vestir" suas ideias em um personagem; ele começa com a vida, com a observação da realidade, e a partir dela constrói um ser humano completo, que é simultaneamente uma figura do povo e um exemplo de suas conquistas.
Nesse sentido, a arte realista socialista distingue-se de outras tradições estéticas, como o classicismo ou o romantismo, ao não reduzir seus personagens a meras personificações de normas ou ideias pré-concebidas. Aqui, o herói é complexo e contraditório, humano em todos os sentidos, e, ao mesmo tempo, elevado pela sua capacidade de ação e pelo exemplo que oferece ao coletivo. Essa figura heroica não é uma abstração, mas uma parte da realidade cotidiana, representando um modelo de virtude que é ao mesmo tempo real e idealizado, refletindo as virtudes da coletividade de seu tempo.
Entre os exemplos de heróis presentes na literatura realista socialista, encontram-se figuras como Pavel Vlasov, de Gorki, Chapayev, de Furmanov, e Davydov, de Sholokhov, que não são apenas "heróis positivos", mas encarnações vivas dos ideais do socialismo. Eles representam a força do espírito humano em sua luta por um mundo melhor, e sua heroísmo é desprovido de qualquer idealização excessiva ou distorção; são personagens que, com seus defeitos e virtudes, se tornam símbolos de uma era, de uma luta. Essas imagens de heróis não são estáticas ou unidimensionais; elas capturam a essência de uma época e a complexidade de um povo em transformação.
É importante destacar que, ao contrário de outras abordagens literárias, que veem o herói como um ser perfeito ou distante da realidade, a literatura realista socialista apresenta heróis que são, ao mesmo tempo, humanos e extraordinários. A heroísmo não está apenas em suas ações, mas em sua capacidade de representar as esperanças, as lutas e os ideais de um povo. A heroísmo do realismo socialista é um heroísmo profundamente humano, ancorado na realidade e nas aspirações de uma sociedade em mudança. O herói não é uma figura idealizada, mas um reflexo da luta coletiva, um reflexo do povo e de seus ideais.
Esse tipo de heroísmo, que se distancia da idealização abstrata do "herói perfeito", está intimamente ligado à tradição estética do povo, que vê no herói não um ser divino ou imaculado, mas um homem comum capaz de realizar feitos extraordinários. A arte não deve mais buscar a perfeição inalcançável, mas refletir a verdade da vida humana e seus conflitos. O herói do realismo socialista é, portanto, um ser humano complexo, em contato direto com sua época e suas dificuldades, mas que, pela força de seu espírito e suas ações, se torna um modelo para todos.
A literatura realista socialista não deve ser vista como uma tentativa de idealizar ou criar um herói "perfeito", mas como um esforço de representar a verdadeira natureza humana, com todas as suas virtudes e falhas, suas dificuldades e conquistas. O herói, nesse contexto, não é apenas um personagem de ficção, mas uma manifestação do espírito coletivo, uma personificação dos valores e lutas do povo em sua busca por um futuro melhor. É a arte que, em sua forma mais profunda e verdadeira, capta a essência da experiência humana em sua busca constante por transformação.
Como o Formalismo e o Estruturalismo Se Entrelaçam na Análise Literária Contemporânea?
O aumento das publicações soviéticas sobre o formalismo, aliado à disseminação de referências e citações por meio das quais se afirma a presença do movimento, sugere um interesse renovado nas escolas formais. Esse retorno não pode ser simplificado a uma simples moda, como alguns poderiam argumentar. A verdade é que as tendências, que hoje classificamos como estruturalismo, têm ressurgido com força nos círculos acadêmicos contemporâneos, e os estruturalistas não fazem questão de esconder suas ligações com a escola formalista. Pelo contrário, elas são frequentemente proclamadas. A OPOYAZ, a organização que esteve no centro do formalismo russo, continua sendo amplamente reconhecida como uma fonte fundacional do estruturalismo literário.
A ideia de que a arte e a literatura devem ser analisadas de maneira científica e objetiva não é nova. A própria OPOYAZ se baseava na abordagem de Shklovsky e outros formalistas que consideravam que a arte deveria ser "desmontada" para fins analíticos, sem que isso fosse entendido como uma rejeição da arte do passado. Para esses teóricos, a destruição de ilusões artísticas estava voltada para a investigação do que há de essencial e estruturante na arte. Eles não procuravam destruir a arte, mas entender as suas estruturas fundamentais.
O formalismo russo, como defendeu Viktor Shklovsky, partia da premissa de que a arte deveria ser despojada de seus significados ideológicos e estudada como um fenômeno puramente estético. Para ele, o estudo da literatura deveria focar na forma e não no conteúdo. Esse processo de "desmontagem" da arte, que visa desvendar suas partes constituintes, tem raízes também em pensadores anteriores, como os simbolistas. Embora os formalistas tenham rejeitado a filosofia idealista dos simbolistas, não podem deixar de reconhecer o impulso metodológico que esses teóricos deram para a investigação das formas literárias.
Entre os simbolistas, Andrei Bely foi um dos primeiros a tentar sistematizar uma abordagem metodológica rigorosa para a estética. Em seu trabalho, ele procurou aplicar métodos científicos e matemáticos para analisar o ritmo e a estrutura da poesia. Embora seus esforços sejam muitas vezes considerados excessivamente rígidos ou místicos, sua tentativa de aplicar uma "ciência exata" à poesia teve um impacto duradouro. Bely acreditava que a estética deveria se distanciar das ideologias que impregnavam as análises literárias da época, buscando um método mais objetivo e sistemático.
No entanto, a visão de Bely sobre a estética não era universalmente aceita. Para muitos formalistas, o método científico de Bely era um tanto excessivo, uma tentativa de aplicar uma racionalidade fria ao mundo da arte. A oposição a essa visão científica é o que levou a uma diferenciação entre o formalismo e outras abordagens literárias. Por exemplo, a ideia de que a arte deve ser estudada sem os "contentores ideológicos" da política ou da filosofia é vista como um ponto de fricção, mas também como a razão pela qual o formalismo se tornou uma força disruptiva na crítica literária da época.
Shklovsky e os outros membros da OPOYAZ estavam cientes da importância de separar a arte de qualquer envolvimento com as questões ideológicas e sociais. Isso os levou a uma crítica feroz contra figuras como Belinsky, que se preocupavam com a arte de maneira sociológica, e que, segundo os formalistas, "matavam" a verdadeira literatura. De acordo com Shklovsky, críticos do século XIX, como Belinsky e Dobrolyubov, tinham uma visão utilitária da literatura, tratando-a apenas como um reflexo de ideias políticas e sociais, e não como um fenômeno estético por si só.
É importante ressaltar que a crítica formalista não se limitava a atacar as abordagens sociológicas ou ideológicas da literatura. Ela visava também combater o academicismo excessivo, que para os formalistas, engessava a arte. Para Shklovsky, esses críticos não conseguiam ver a verdadeira essência da arte, pois estavam mais interessados em como ela podia ser usada para servir a agendas externas, como a política ou a moralidade. Em suas palavras, os críticos "sentavam sobre a flor da literatura", impedindo seu florescimento genuíno.
Esse enfoque puramente formalista foi, sem dúvida, um marco na história da crítica literária. Ao centrar-se exclusivamente nas formas literárias e nos recursos estilísticos, o formalismo buscava libertar a literatura das amarras ideológicas que a limitavam. Hoje, ao revisitar esses debates, fica claro como o formalismo e o estruturalismo continuam a influenciar as abordagens críticas contemporâneas. O estudo da literatura como uma forma autônoma, capaz de existir independentemente de qualquer contexto sociopolítico, ainda é um legado importante para os estudiosos de nossa época.
A análise formalista das obras literárias, despojada de conteúdos externos, continua sendo uma das metodologias mais eficazes para a compreensão das estruturas subjacentes da linguagem e da arte. Isso implica que o estudioso da literatura deve aprender a separar a forma e o conteúdo, focando nos elementos constitutivos do texto – ritmo, sintaxe, semântica – que revelam a beleza intrínseca da linguagem.
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