Roy Cohn foi um dos personagens mais complexos e sombrios da política americana, e sua influência sobre Donald Trump foi tanto profunda quanto determinante. Cohn, conhecido por seu trabalho como advogado e conselheiro de figuras poderosas, inclusive do mafioso Joe McCarthy, tornou-se uma figura chave na formação do comportamento e das estratégias de Trump. Embora tenha morrido em 1986, suas táticas e filosofias continuam presentes nas ações de Trump até hoje.

Cohn ensinou a Trump três habilidades essenciais: como enganar o sistema financeiro, como usar o casamento para maximizar benefícios e como se aproximar dos inimigos dos Estados Unidos, especialmente os soviéticos. Mas a lição mais importante que Cohn transmitiu foi a criação de uma nova realidade americana a partir dos escombros do antigo "Sonho Americano". Ao longo de suas décadas de ascensão no cenário político e empresarial, Cohn demonstrou que a verdade poderia ser distorcida para criar um enredo mais conveniente, e essa habilidade se tornou uma das principais ferramentas de Trump.

Entre 1946 e 1974, os Estados Unidos viveram um período de estabilidade econômica e prosperidade sem precedentes. Esse período foi marcado pela crença de que o "Sonho Americano" era uma condição permanente e acessível a todos. Durante essas décadas, a classe média cresceu, e a ideia de que qualquer pessoa poderia conquistar sua própria felicidade e sucesso era central para a identidade nacional. O acesso à educação, à casa própria e a empregos decentes sem a necessidade de diplomas avançados eram vistos como direitos básicos, e os presidentes da época, como Harry Truman e Dwight Eisenhower, defendiam políticas que favoreciam o bem-estar social e a estabilidade econômica.

Esse sonho, no entanto, começou a se desintegrar a partir da década de 1970. A economia passou a funcionar de forma desigual, com os salários dos mais ricos crescendo a uma taxa muito mais rápida do que os dos trabalhadores comuns. As reformas que protegiam o trabalhador e impediam que os ricos comprassem a política começaram a ser desmanteladas. Em 1975, a famosa capa do New York Daily News com a manchete "Ford to City: Drop Dead" ilustrou a recusa do presidente Gerald Ford em ajudar financeiramente a cidade de Nova York, que estava em crise. O sofrimento das grandes cidades americanas começou a ser visível, e o ambiente de prosperidade que havia sido uma característica das décadas anteriores deu lugar ao crescimento da desigualdade econômica.

Na virada da década de 1980, uma nova classe de capitalistas, como Cohn e Trump, surgia para moldar o cenário político e econômico. Aproveitando-se da fragilidade das instituições e da corrupção sistêmica, esses novos "empresários" começaram a remodelar o capitalismo americano, ampliando a divisão entre os mais ricos e o resto da população. A transformação das cidades, como Manhattan, se tornou uma metáfora daquilo que estava acontecendo no país como um todo: um processo de reconfiguração do que restava do "Sonho Americano", mas agora em favor de um novo tipo de elite financeira. Trump, como discípulo de Cohn, seguiu essa linha de atuação, promovendo sua própria versão do sucesso americano através de métodos que estavam longe de ser transparentes ou justos.

A desintegração do Sonho Americano foi acompanhada por uma mudança na forma de protesto. No passado, o protesto estava ligado a uma expectativa de que os cidadãos podiam influenciar o sistema político e econômico por meio de suas ações coletivas. Porém, com o crescente poder da classe dominante e a transformação das leis que protegiam os trabalhadores e as liberdades civis, o protesto tornou-se um risco financeiro muito maior do que um movimento político legítimo. Os tempos de mobilização social eficaz passaram, dando lugar a um sistema onde as manifestações são mais simbólicas do que concretas, e onde os meios tradicionais de resistência foram sufocados pelas mudanças econômicas e políticas impostas pelos poderosos.

Em 2016, quando Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, os segredos de sua vida financeira começaram a ser expostos, revelando que ele não havia pago impostos federais desde 1977, o que lançou luz sobre as táticas que ele utilizava para evitar a fiscalização e a responsabilidade. Essa revelação não foi um incidente isolado, mas parte de um padrão mais amplo de práticas empresariais e políticas que remontam ao estilo de Roy Cohn. Trump e seus aliados, como os investidores Carl Icahn e Wilbur Ross, praticaram uma espécie de saque ao país, onde a promessa de um "renascimento econômico" foi usada para mascarar um enorme esquema de enriquecimento pessoal às custas do sofrimento da população.

Este cenário não se limita apenas ao período da presidência de Trump. As mudanças estruturais que começaram nas décadas de 1970 e 1980 resultaram na criação de uma nova forma de poder econômico e político, onde os "mobs" não são mais criminosos de rua, mas empresários sofisticados que controlam os mecanismos legais e financeiros do Estado. Essa transformação, que foi em grande parte antecipada e dirigida por Roy Cohn, moldou uma nova realidade para os Estados Unidos, onde as elites financeiras e políticas dominam sem remorso, à custa da grande maioria da população.

O que é importante entender é que essa mudança não é apenas uma questão de indivíduos como Trump ou Cohn. Ela é o reflexo de uma mudança estrutural profunda na economia, nas leis e na política dos Estados Unidos. A ascensão de uma elite financeira que controla os principais setores da economia e, em muitos casos, da política, redefine o que significa "sucesso" e como ele é alcançado. A maior lição disso é que as instituições democráticas e os direitos civis que antes protegiam os cidadãos estão cada vez mais em risco, e a luta por justiça e igualdade requer mais do que simplesmente protestos simbólicos. Requer uma reconfiguração radical do sistema que permite que essa elite continue a prosperar à custa dos outros.

Como preservar a memória e a esperança diante da crise social e ambiental nos Estados Unidos

Ao percorrer os museus presidenciais e monumentos nacionais dos Estados Unidos, uma clara ruptura entre o passado e o presente torna-se evidente. Embora muitos problemas atuais — racismo estrutural, declínio econômico, agressões externas — já existissem antes, o abismo entre os líderes do passado e os do presente é dolorosamente visível. As palavras de Dwight Eisenhower, inscritas em seu museu, ressaltam uma verdade que parece mais atual do que nunca: “Cada arma fabricada, cada navio de guerra lançado, cada foguete disparado significa, em última análise, um roubo dos que têm fome e não são alimentados, dos que têm frio e não são vestidos.” Essa frase é um lamento sobre os custos humanos e morais da militarização, um grito que ressoa com força na era contemporânea, quando os líderes parecem ignorar o sofrimento que suas decisões causam.

A relação entre a preservação cultural e ambiental também sofre um ataque direto. Desde 2017, com a administração Trump, houve um esforço explícito para enfraquecer as políticas de proteção dos parques nacionais e monumentos sagrados para comunidades indígenas. Essa tentativa de desmantelar a proteção ambiental é mais do que um ato político; é um golpe contra o patrimônio coletivo, um ataque às narrativas que ligam as pessoas ao seu território e história. O testemunho emocional de uma família que viajou pelos parques nacionais, contemplando a grandiosidade da natureza e sentindo uma profunda gratidão misturada com tristeza, revela a fragilidade da nossa existência diante da mudança climática e da degradação ambiental. Esses momentos são preciosos porque mostram que, apesar das dificuldades, ainda existe beleza e resistência, mas também apontam para uma iminente perda, para um tempo que pode não ser mais o mesmo.

O presente é permeado por uma sensação de declínio, onde as liberdades são erosionadas, as desigualdades aumentam e a justiça parece ausente. A vigilância constante e a impunidade das elites criam um ambiente de medo e submissão disfarçada de normalidade. Mesmo diante desse cenário sombrio, a luta continua, principalmente motivada pela necessidade de garantir um futuro para as próximas gerações. A experiência da maternidade intensifica essa urgência, pois criar filhos exige imaginar e lutar por um amanhã melhor, mesmo quando o presente parece desolador.

A educação direta, o contato com os lugares e histórias reais, é um ato de resistência contra a propaganda e a distorção da memória. A verdade deve ser contada, não para impor uma visão única, mas para permitir que cada indivíduo forme seu próprio entendimento. Conhecer o passado é um ato político, uma defesa contra a manipulação e o apagamento. A luta por justiça e liberdade não é apenas uma questão política, mas um compromisso moral com as gerações futuras e com a humanidade.

Além do texto, é fundamental compreender que essa crise social, política e ambiental não é isolada nem inevitável. Ela resulta de escolhas humanas e, portanto, pode ser transformada por elas. O conhecimento da história, da cultura e do meio ambiente deve ser usado não só para lamentar perdas, mas para inspirar ações concretas e conscientes. A memória viva dos espaços e das palavras dos que vieram antes é uma ferramenta essencial para resistir ao autoritarismo e à destruição ambiental. Reconhecer o papel ativo de cada pessoa no presente, inclusive como educadora, ativista, cuidadora ou simples cidadã, é crucial para que o ciclo da destruição seja interrompido. A responsabilidade e a esperança caminham juntas, pois preservar o legado do passado e a integridade do planeta é inseparável da construção de um futuro digno.