A universalização do uso da tecnologia CZT (telureto de cádmio-zinco) na detecção de raios X tem sido perseguida há anos, exigindo avanços contínuos na produção de monocristais perfeitos. O objetivo central das tecnologias de crescimento desses cristais é minimizar o aprisionamento de portadores de carga — o que implica alcançar cristais com baixíssima concentração de defeitos pontuais, aglomerados de defeitos e defeitos estendidos, como discordâncias, fronteiras de baixo ângulo, maclas e inclusões de segunda fase. Esses resultados foram viabilizados por meio do método Traveler Heat Method (THM), desenvolvido com base no método de Czochralski, uma técnica clássica que ainda hoje sustenta mais de 90% da produção mundial de cristais semicondutores.
Sensores de radiação que operam em aplicações de contagem de fótons sob alto fluxo devem suportar ambientes intensos e altamente variáveis de radiação, mantendo estabilidade temporal e tempos curtos de coleta de carga. Para esses casos, são esperados fluxos incidentes da ordem de 1000 Mcps/mm². No entanto, detectores de CdTe e CZT enfrentam severos desafios sob essas condições, especialmente devido às limitações intrínsecas nas propriedades de transporte de carga, com ênfase na mobilidade de deriva.
A mobilidade de deriva é o parâmetro que define a velocidade com que os elétrons e lacunas fotogerados atravessam o volume do detector. Quando a taxa de geração de cargas excede a taxa de remoção — como ocorre sob alto fluxo de fótons — uma carga em excesso acumula-se no cristal. Esta carga excedente, proporcional à intensidade da radiação, altera a distribuição do campo elétrico interno do detector, conduzindo-o a um estado de equilíbrio dinâmico com o campo de fótons.
Esse acúmulo não ocorre instantaneamente. O sistema eletrônico do semicondutor passa por um regime transitório, durante o qual os portadores se redistribuem e os campos internos evoluem até atingir novo estado estável. Em cristais ideais, livres de armadilhas, esses portadores excedentes seriam simplesmente varridos ao cessar a radiação. Entretanto, na prática, os defeitos presentes nos cristais atuam como armadilhas de portadores, fazendo com que uma fração significativa da carga fique aprisionada, formando uma carga espacial que compromete seriamente o transporte de carga e o desempenho do detector.
Devido ao perfil de absorção exponencial dos raios X, a maior parte dessa carga espacial se forma por lacunas presas na vizinhança do cátodo. À medida que o equilíbrio se estabelece, regiões de baixo campo elétrico emergem próximas ao ânodo. O colapso do campo elétrico interno nessa região reduz dramaticamente a velocidade de deriva dos portadores, agravando o aprisionamento e comprometendo a amplitude dos sinais gerados. Como resultado, observa-se um desvio dos espectros de altura de pulso para energias mais baixas — fenômeno conhecido como polarização do detector, que representa uma degradação catastrófica do desempenho.
A polarização elétrica, embora destrutiva em termos de funcionamento, não altera permanentemente o material. Quando a fonte de radiação é retirada, o desempenho tende a se recuperar — porém, esse processo não é imediato. A recuperação exige tempo para que os portadores em excesso sejam completamente removidos e o campo elétrico se restabeleça. Quando há defeitos de nível profundo, o tempo de recuperação pode ser dezenas, até centenas de vezes maior que o tempo de trânsito dos portadores. A emissão térmica dos portadores aprisionados nesses níveis profundos provoca efeitos de persistência, como o "afterglow" em dispositivos de imagem. Quando os níveis de armadilha estão próximos ao centro da banda proibida, os tempos de residência podem chegar a centenas de milissegundos ou até vários segundos, dependendo da seção de choque da armadilha.
Em tais situações, a recuperação pode ser acelerada por medidas como remoção temporária da tensão de polarização, aquecimento do detector ou exposição à luz. Tais abordagens, embora implementadas na indústria, funcionam como soluções paliativas para a polarização e seus efeitos indesejáveis. A abordagem preferencial reside na engenharia dos materiais — aumentar a velocidade de resposta, a estabilidade e a uniformidade dos detectores, reduzindo a influência das dinâmicas de portadores e dos defeitos cristalinos.
Teoricamente, para ampliar a tolerância dos detectores de CdTe/CZT à radiação, é necessário reduzir o tempo de trânsito dos portadores, o que pode ser feito com aplicação de campos elétricos mais intensos ou utilizando sensores mais finos. Como a mobilidade é uma propriedade intrínseca do material e não pode ser alterada diretamente, essas estratégias são as alternativas viáveis. Contudo, campos mais elevados acarretam maior corrente de fuga e aumento do ruído eletrônico, enquanto sensores mais finos resultam em menor eficiência e tempos de varredura mais longos — impactos indesejáveis, sobretudo em ambientes clínicos, onde doses mais altas ao paciente não são aceitáveis.
A dificuldade em controlar os transientes de resposta em detectores de CdTe/CZT é agravada pela complexidade da dinâmica dos portadores nesses cristais. Cada variação na intensidade do fluxo de fótons altera a taxa de geração de pares elétron-lacuna, exigindo um novo equilíbrio dinâmico, mediado por deriva, aprisionamento e liberação dos portadores. Essa complexidade é função direta da estrutura de defeitos do cristal e da posição do nível de Fermi, controlado pelo grau de compensação elétrica introduzido durante o crescimento do cristal. A descrição aproximada dessa resposta é capturada pelo produto µτ (mu*tau), onde “µ” representa a mobilidade dos portadores e “τ” o tempo de vida, que reflete os mecanismos de aprisionamento e desaprisionamento.
Por conta da baixa mobilidade das lacunas e seu alto aprisionamento, o uso de CdTe/CZT em ambientes de radiação intensa permaneceu, durante anos, limitado. O fenômeno de polarização — marcado pela distorção e colapso do campo elétrico — impõe um obstáculo técnico significativo, que somente pode ser superado através de melhorias estruturais nos cristais, na pureza do material e no controle preciso do processo de crescimento.
Importa compreender que o comportamento dos detectores sob fluxo intenso de radiação é governado por fenômenos dinâmicos complexos que ocorrem em escalas temporais e espaciais muito pequenas. A engenharia de detectores que possam operar com estabilidade em tais condições exige não apenas domínio dos métodos de crescimento cristalino, mas também conhecimento profundo da física dos semicondutores, controle rigoroso da dopagem, e capacidade de mapear e minimizar os efeitos de defeitos tanto nativos quanto introduzidos no processo.
Quais são as Propriedades Ideais para Materiais Semicondutores na Detecção Direta de Radiação X?
O princípio fundamental da detecção de raios X baseia-se na conversão da energia dos fótons em sinais elétricos mensuráveis. Como os fótons não possuem carga elétrica, sua energia precisa ser convertida para um formato que possa ser interpretado, geralmente por meio de detectores especializados. Tradicionalmente, a conversão de raios X em sinais elétricos era feita utilizando materiais cintiladores. Esses materiais, quando impactados pelos fótons, emitem fótons de luz visível de baixa energia, os quais, por sua vez, são convertidos em sinais elétricos, proporcionalmente à quantidade de luz gerada. Esse processo é conhecido como conversão indireta, já que envolve uma etapa intermediária, onde a luz visível é convertida em sinais elétricos.
Contudo, um avanço importante nos detectores de radiação X é o uso de materiais semicondutores, como silício (Si) ou telureto de cádmio e zinco (CdZnTe), que realizam a conversão direta de raios X em sinais elétricos. Quando um fóton interage com o material semicondutor, ele gera uma carga elétrica, que, sob a aplicação de um campo elétrico, migra até o ânodo (polo positivo) ou cátodo (polo negativo), criando um sinal elétrico proporcional à energia do fóton incidente. O grande benefício desse tipo de conversão é a eliminação da etapa intermediária de emissão de luz visível, o que resulta em maior eficiência e precisão na detecção. Esse processo é conhecido como conversão direta.
A questão fundamental, então, passa a ser qual material semicondutor é mais adequado para realizar essa conversão direta. Para responder a isso, é necessário entender os requisitos essenciais que um material deve possuir para ser eficaz na detecção de radiação X.
Primeiramente, o material precisa ser capaz de "parar" a radiação X de forma eficiente. Isso significa que o material deve possuir um número atômico elevado (Z), pois materiais com maior Z têm maior capacidade de interação com a radiação, o que aumenta a eficiência de absorção dos fótons. A seção transversal para a absorção fotoelétrica de um material é proporcional a Z elevado a uma potência entre 4 e 5, o que implica que materiais com maior número atômico têm uma absorção mais eficaz para a mesma espessura do detector.
Além disso, o material precisa ter uma largura de banda apropriada para garantir alta resistividade, baixo corrente de fuga e uma baixa energia de ionização. Correntes de fuga reduzidas são essenciais para minimizar o ruído e garantir uma operação de baixo ruído. A alta resistividade é geralmente alcançada com materiais de maior largura de banda (acima de 1,5 eV), o que impede que correntes térmicas afetem a resolução energética do detector. Contudo, a largura de banda não pode ser excessivamente grande, pois isso aumentaria a energia de ionização, resultando em uma menor quantidade de pares elétron-buraço gerados, o que afetaria a precisão da detecção.
Outro requisito importante é a alta eficiência no transporte de cargas geradas. A grande maioria das cargas geradas deve ser coletada no ânodo, sem sofrer perdas significativas devido ao aprisionamento das cargas. Isso exige que o material tenha propriedades de transporte de cargas eficientes, o que é medido pelo produto mobilidade-tempo de vida (μτ). Este produto determina a capacidade do material de transportar e coletar as cargas geradas, e deve ser alto para garantir que as cargas não sejam aprisionadas ao longo do caminho até o anodo, assegurando uma coleta eficiente.
Além disso, o material semicondutor precisa ser extremamente puro, sem defeitos ou contaminantes, pois a presença de impurezas pode prejudicar a eficiência e a sensibilidade do detector. A pureza é crucial para garantir que o número de pares elétron-buraço gerados seja máximo e que o material tenha uma densidade suficiente para garantir que um número significativo de fótons incidem no detector.
Com isso, a escolha do material semicondutor ideal para conversão direta envolve uma combinação de características que otimizam a interação com a radiação, a criação de cargas elétricas e a coleta eficiente dessas cargas. O uso de materiais como Si, CdTe e CdZnTe representa os avanços mais significativos nessa área, e cada um desses materiais tem características distintas que os tornam mais ou menos adequados para determinadas aplicações de detecção.
Para além dessas propriedades, é importante compreender que a temperatura também desempenha um papel significativo no desempenho do detector. As propriedades de mobilidade e vida útil das cargas são sensíveis à temperatura, e, em condições mais frias, os materiais semicondutores podem apresentar uma diminuição na eficiência devido a uma maior taxa de aprisionamento de cargas. Portanto, o controle térmico também se torna um aspecto crucial para a operação ideal dos detectores.

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