A insuficiência cardíaca (IC) avançada é uma condição debilitante, caracterizada por uma redução significativa da função cardíaca, frequentemente necessitando de suporte mecânico para o coração. O uso de dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVAD), que podem ser implantados como um ponte para o transplante cardíaco ou como terapia de destino, tem mostrado benefícios substanciais em termos de sobrevida e qualidade de vida para esses pacientes. No entanto, a implementação de programas de reabilitação cardíaca (CR) e treinamento físico estruturado continua a ser um desafio para muitos desses pacientes, especialmente aqueles com níveis elevados de fragilidade e fraqueza muscular.

Nos últimos anos, estudos têm demonstrado que o treinamento físico pode melhorar significativamente a capacidade de exercício, a força muscular e outros parâmetros fisiológicos em pacientes com insuficiência cardíaca avançada, incluindo aqueles que recebem suporte de dispositivos LVAD. O treinamento físico estruturado, combinado com o suporte nutricional, psicológico e educacional, é essencial para melhorar a funcionalidade física e psicológica desses pacientes, ajudando a reduzir a ansiedade, o estresse e até mesmo o fardo sobre os cuidadores.

A fraqueza muscular é uma característica comum entre pacientes com insuficiência cardíaca avançada, que muitas vezes apresentam alterações estruturais nos músculos esqueléticos, bioenergética comprometida e distúrbios no microcirculação. A redução da força muscular pode ser exacerbada por fatores como a inflamação crônica, a ativação do sistema nervoso simpático e a vasoconstrição, fatores que afetam diretamente a capacidade de exercício. Os pacientes com IC avançada também apresentam uma maior probabilidade de desenvolver fraqueza generalizada, que pode ser definida pela perda da reserva fisiológica e pela diminuição da resistência a estressores físicos.

Embora a reabilitação cardíaca para pacientes com LVAD tenha sido tradicionalmente adiada devido à complexidade do cuidado necessário, recentes avanços demonstraram que a inclusão desses pacientes em programas de CR desde os estágios iniciais do pós-operatório pode levar a melhorias significativas na função física. A reabilitação precoce pode reduzir as taxas de readmissão hospitalar e melhorar a função cardiovascular e muscular. Pacientes que se envolvem ativamente na reabilitação, com acompanhamento de uma equipe especializada, podem apresentar aumentos na força de preensão manual, na força muscular extensora das pernas, no índice de massa corporal (IMC) e na distância percorrida durante o teste de caminhada de 6 minutos.

Além disso, a combinação de treinamento físico com monitoramento adequado da nutrição e da função muscular parece ser particularmente eficaz para pacientes que passaram por implantes de LVAD. Para esses pacientes, os parâmetros de força muscular no momento da alta hospitalar estão diretamente relacionados à redução de hospitalizações subsequentes, mostrando que o fortalecimento físico precoce pode prevenir complicações a longo prazo. Isso sugere que a reabilitação deve ser iniciada o mais rápido possível após a implantação do LVAD, com uma abordagem multidisciplinar envolvendo cardiologistas, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos.

Apesar de benefícios claros, a reabilitação cardíaca para pacientes com dispositivos LVAD ainda enfrenta obstáculos, como o tempo prolongado de internação e a complexidade do estado clínico desses pacientes. Em média, o tempo para iniciar a reabilitação após a implantação do LVAD é de cerca de 140 dias, o que é significativamente maior do que em pacientes submetidos a intervenções coronárias. O início tardio da reabilitação pode resultar em um pior prognóstico e maiores dificuldades no processo de recuperação.

Portanto, a chave para melhorar os resultados clínicos em pacientes com insuficiência cardíaca avançada e suporte de LVAD é a otimização precoce da condição física e nutricional desses indivíduos. Estratégias que envolvem o controle da hipertensão, a avaliação da função valvular e o monitoramento da função do ventrículo direito são essenciais para garantir que esses pacientes possam participar efetivamente de programas de reabilitação física. A combinação de suporte nutricional adequado e treinamento físico, com foco na melhora da capacidade aeróbica e na força muscular, não só melhora a qualidade de vida dos pacientes, mas também pode levar a uma redução nas taxas de hospitalização e a uma maior sobrevida.

Estudos recentes têm mostrado que a melhoria do VO2 de pico, embora não seja sempre observada em pacientes com LVAD, pode ser um indicador importante da sobrevivência desses indivíduos, e a prática regular de exercícios físicos pode atenuar algumas das limitações periféricas que esses pacientes enfrentam. Em última análise, a reabilitação física pode ser crucial para a otimização da função física em pacientes com IC avançada e LVAD, contribuindo para uma recuperação mais completa e uma melhor qualidade de vida a longo prazo.

A Disfunção do Ventriculo Direito Após Implante de LVAD: Mecanismos e Riscos

A disfunção do ventrículo direito (VD) após o implante de dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVAD) representa um desafio complexo no manejo de pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Embora o LVAD proporcione alívio mecânico ao ventrículo esquerdo (VE), a sobrecarga imposta ao VD é uma consequência frequentemente negligenciada, mas crítica para o prognóstico do paciente. O estudo da função do VD, especialmente no contexto de insuficiência cardíaca avançada e após a implantação do LVAD, exige uma compreensão detalhada das interações hemodinâmicas e estruturais que ocorrem durante e após a cirurgia.

O VD, por natureza, possui uma anatomia e fisiologia distintas do VE, refletindo suas funções adaptadas a um sistema pulmonar de baixo fluxo e alta compliance. Essa função depende de uma interação complexa entre a carga após-sístole, a contratilidade, o pré-carga e o ritmo cardíaco, todos os quais são impactados após a cirurgia cardiotorácica e, especificamente, após o implante do LVAD. O aumento da pressão nas artérias pulmonares e a hipertensão pulmonar pré e pós-capilar, consequência comum da insuficiência cardíaca esquerda crônica, impõem uma carga adicional ao VD. A capacidade do VD de manter sua função contrátil e o débito cardíaco diante do estresse miocárdico crescente é um prognóstico crucial para os pacientes com hipertensão arterial pulmonar e insuficiência cardíaca esquerda terminal.

Após o implante do LVAD, o VE se beneficia de um alívio mecânico, enquanto o VD enfrenta um aumento abrupto da carga devido ao aumento da circulação sistêmica causado pelo dispositivo. Esse aumento de pré-carga e a distorção geométrica do VD representam riscos significativos para o órgão, em especial em contextos de hipertensão pulmonar grave. A perda de geração de pressão intrínseca no VD, que é altamente dependente da contribuição do septo interventricular para a ejeção, pode levar ao descolamento do VD do sistema vascular pulmonar, comprometendo seu débito cardíaco e o fluxo do LVAD. A reversão da hipertensão pulmonar após a implantação do LVAD é um processo gradual, podendo demorar semanas a meses, o que significa que uma redução favorável das pressões nas artérias pulmonares no pós-operatório precoce pode ser insuficiente para superar as alterações agudas na geometria e contratilidade do VD.

A função do VD pós-LVAD é influenciada por alterações estruturais e funcionais substanciais, como a mudança no movimento longitudinal do VD e a contribuição do septo ventricular. Antes da implantação do LVAD, a função do VD dependia predominantemente do movimento longitudinal e da contribuição septal. Após a cirurgia, no entanto, essa contribuição é severamente reduzida, e o VD passa a depender mais do movimento transversal da parede livre, o que pode ser afetado pela aderência da parede torácica decorrente da cirurgia. Além disso, arritmias atriais e ventriculares são comuns no período pós-operatório, sendo frequentemente mal toleradas e associadas a um risco aumentado de falência do VD.

A avaliação ecocardiográfica da função do VD tem sido fundamental para quantificar a função sistólica do VD, a dilatação do VD, a gravidade da regurgitação tricúspide (RT) e outros parâmetros, como a fração de área do VD e o estiramento longitudinal do VD. A presença de RT moderada a grave tem sido associada a um risco elevado de falência do VD após a implantação do LVAD. Em alguns casos, a correção cirúrgica da RT no momento da implantação do LVAD tem se mostrado uma prática comum, embora a eficácia dessa abordagem na prevenção da falência do VD ainda seja objeto de debate. Embora a RT possa melhorar ao longo do tempo, à medida que a sobrecarga de pressão do VD diminui, ela pode se agravar temporariamente no período pós-operatório devido à tração das cúspides da válvula tricúspide, causada pelo deslocamento do septo para a esquerda e pelo aumento da pré-carga do VD.

Em termos de monitoramento e avaliação, as técnicas de imagem avançadas, como a ressonância magnética cardíaca (RMC), oferecem uma avaliação mais precisa da função do VD do que o ecocardiograma tradicional, embora a ecocardiografia ainda seja a modalidade mais amplamente utilizada. A RMC, por ser capaz de capturar detalhes mais finos da geometria do VD, permite uma melhor compreensão da função ventricular e da interação entre o VD e o VE. No entanto, a ecocardiografia permanece uma ferramenta fundamental, especialmente na avaliação qualitativa e semiquantitativa de parâmetros como a função sistólica do VD e a regurgitação tricúspide.

A introdução de dispositivos de assistência ventricular, como os sistemas de fluxo axial e centrífugo, não alterou substancialmente o risco de falência do VD, mas gerou diferentes mudanças geométricas no VD. O HeartMate II, por exemplo, provoca mudanças geométricas mais acentuadas no VD do que os dispositivos de fluxo centrífugo, embora a incidência de falência do VD não tenha diminuído significativamente com o advento de novos dispositivos, como o HeartMate 3. Os marcadores ecocardiográficos, como a relação entre os diâmetros finais diastólicos do VD e do VE, a dilatação do átrio esquerdo e a relação entre o diâmetro do VE e o átrio esquerdo, também têm sido incorporados em escores de risco baseados em imagem para avaliar a falência do VD.

Além disso, as interações complexas entre o VD e o VE, especialmente no contexto de suporte ventricular univentricular, geram uma vulnerabilidade aumentada do VD à falência no período pós-operatório. Alterações na posição e tamanho do septo interventricular, com a consequente perda de contribuição septal e aumento da carga do VD, elevam o risco de falência do VD após a implantação de LVAD. Embora o suporte circulatório ventricular esquerdo seja eficaz na redução da carga para o VE, a pressão de trabalho imposta ao VD requer monitoramento constante e uma avaliação abrangente para prever falências precoces.