O uso de opióides e sedativos em sedação para procedimentos pediátricos levanta preocupações significativas devido à complexidade das interações medicamentosas, dos efeitos adversos e dos riscos envolvidos. Fentanil, um dos opióides mais comumente utilizados, oferece alívio eficaz da dor quando administrado em doses controladas, mas seu uso em combinação com sedativos, como o midazolam, aumenta o risco de complicações respiratórias, como hipoxemia e apneia. Em doses adequadas, o fentanil tem um efeito rápido, com início da ação entre 30 a 60 minutos após administração intravenosa, em uma dose de 1 a 2 μg por kg. No entanto, a combinação de fentanil com outros sedativos pode resultar em rigidez do tórax e da língua, uma condição que compromete a respiração e dificulta a intubação. Para reverter a rigidez torácica, o naloxone, administrado na dose de 10 μg por kg, pode ser eficaz, enquanto agentes bloqueadores neuromusculares, como a succinilcolina ou o pancurônio, também são usados, embora exijam intubação endotraqueal.

Por outro lado, o uso de meperidina em crianças está cada vez mais restrito. Embora tenha sido amplamente utilizado para o controle da dor, os efeitos adversos, como náuseas, vômitos e a formação de seu metabólito primário, a normeperidina, causam tremores, irritabilidade e até convulsões. Além disso, o risco de toxicidade neurológica, agravado por interações com outros medicamentos, limita ainda mais sua aplicabilidade. Por essas razões, a meperidina foi amplamente substituída por outros analgésicos menos arriscados.

A codeína, outro analgésico que foi amplamente usado no passado, também perdeu popularidade, especialmente após a constatação de sérias reações adversas associadas à sua metabolização no organismo, particularmente em pacientes com polimorfismos no gene CYP2D6. Isso ocorre porque a codeína é metabolizada nesse sistema enzimático para se transformar em morfina, que é a substância ativa responsável pelo alívio da dor. No entanto, em pacientes com variantes genéticas que aceleram essa metabolização, a codeína pode causar níveis tóxicos de morfina no organismo, levando a sérios riscos, incluindo a morte, o que motivou alertas da FDA. Devido à alta incidência de eventos adversos, especialmente em crianças que passam por tonsilectomias ou adenoidectomias, a codeína não é mais recomendada para uso rotineiro em pacientes pediátricos.

O impacto da epidemia de opióides nos Estados Unidos também afeta a população adolescente, com um aumento no uso indevido, abuso, vício e overdose. Dessa forma, recomenda-se que analgésicos opióides sejam utilizados apenas quando estritamente necessário, com cursos curtos de agentes de liberação imediata, e que tanto os pais quanto os pacientes sejam conscientizados sobre os riscos desses medicamentos, incluindo as formas adequadas de armazenamento e descarte.

No campo dos analgésicos não opióides, o paracetamol (acetaminofeno) continua a ser a opção mais utilizada em crianças. Seu efeito analgésico e antipirético ocorre através da inibição das enzimas ciclooxigenase e prostaglandina sintetase no sistema nervoso central, com um impacto menor na periferia. As doses recomendadas variam de 10 a 15 mg por kg a cada 4 a 6 horas, sem ultrapassar a dose máxima de 90 mg por kg por dia. No entanto, o paracetamol apresenta um risco significativo de hepatotoxicidade em casos de overdose, onde o metabolito tóxico resultante do processo de metabolização via sistema CYP450 pode causar danos hepáticos graves.

Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno, também são eficazes no controle da dor e podem ser utilizados isoladamente ou em conjunto com outros analgésicos. Os AINEs, ao inibirem a formação de prostaglandinas, são particularmente eficazes para o tratamento da dor inflamatória, sendo amplamente utilizados na prática pediátrica. O ibuprofeno é administrado com doses de 10 mg por kg a cada 6 a 8 horas, e sua eficácia é comparável a de outros analgésicos, como a morfina. Contudo, seu uso prolongado pode resultar em efeitos adversos como irritação gastrointestinal, ulceração, sangramentos, e reações alérgicas.

O uso do cetorolaco, um AINE amplamente utilizado nos Estados Unidos, tem crescido, mas sua administração deve ser cuidadosamente controlada, pois doses elevadas podem levar a um aumento no risco de hemorragias gastrointestinais. Esse medicamento não é aprovado para uso em crianças menores de 17 anos, embora seja comum sua utilização em pacientes pediátricos a partir de 1 ano. Para o controle da dor, a dose recomendada para crianças com menos de 50 kg é de até 30 mg IV, enquanto para aquelas com mais de 50 kg pode-se administrar até 60 mg.

Na sedação de procedimentos, como reparo de lacerações ou redução de fraturas, o fentanil continua sendo a escolha predominante, frequentemente combinado com benzodiazepínicos, como o midazolam. O midazolam, um benzodiazepínico de ação curta, atua no sistema GABA, promovendo um efeito sedativo que pode ser ajustado conforme a necessidade do paciente. A administração de midazolam, em doses de 0,05 a 0,1 mg por kg IV a cada 3 a 5 minutos, permite um início rápido de sedação. Entretanto, deve-se estar atento à dose necessária para adolescentes e adultos, que pode ser consideravelmente menor do que a necessária para crianças mais novas.

Além dos benefícios, a sedação para procedimentos pediátricos exige cuidados especiais, visto que pode resultar em complicações graves, como lesões neurológicas permanentes, morte ou hospitalização prolongada. O monitoramento adequado durante e após o procedimento é essencial para reduzir os riscos de efeitos adversos, como ataxia, agitação, náuseas e inquietação. A utilização segura desses medicamentos depende da dose apropriada, da vigilância contínua e da comunicação eficaz entre a equipe médica e os responsáveis pela criança.

Efeitos Gastrointestinais e Hepáticos do Paracetamol em Neonatos Prematuros

O paracetamol, amplamente utilizado como analgésico e antipirético, passa por um processo de metabolismo no fígado, que envolve tanto a conjugação com o glucuronídeo (glucuronidação) quanto a sulfatação. Esses processos são mediados por enzimas como a glucuroniltransferase e as sulfotransferases, respectivamente. Aproximadamente 52% a 57% dos metabólitos urinários do paracetamol são glucuronídeos, enquanto entre 30% e 44% são sulfatos. No entanto, uma pequena porção, cerca de 5% a 10%, é oxidada a N-acetil-p-benzoquinona imina (NAPQI), um metabólito reativo que está associado à hepatotoxicidade induzida pelo paracetamol. Este metabólito é gerado principalmente pela enzima CYP2E1, que desempenha um papel crucial na toxicidade hepática relacionada ao uso do fármaco.

Após a formação desses metabólitos, a maior parte é transportada pela corrente sanguínea até os rins. É relevante observar que a glucuronidação é um processo ainda subdesenvolvido em neonatos, especialmente nos prematuros, embora o desenvolvimento dessa capacidade aumente conforme a gestação avança. Isso faz com que uma maior proporção do metabolismo do paracetamol ocorra por meio da sulfatação em neonatos. Esse fenômeno pode ser uma das razões pelas quais os neonatos apresentam taxas mais baixas de hepatotoxicidade quando comparados a outros grupos etários.

Embora a toxicidade hepática seja geralmente mais baixa em neonatos, especialmente aqueles com menos de 28 semanas de gestação, há evidências de que metabólitos hepatotóxicos, como o NAPQI, podem ser encontrados em neonatos prematuros expostos ao paracetamol, mesmo em doses terapêuticas. A eliminação do paracetamol no organismo aumenta com a idade pós-natal, mas, até cerca de 3 meses de vida, essa taxa é cerca de um terço da observada em crianças e adultos. Isso implica que neonatos apresentam uma capacidade reduzida de metabolizar o paracetamol, o que pode ter implicações clínicas importantes.

Adicionalmente, o paracetamol e a bilirrubina são ambos metabolizados pelas mesmas enzimas hepáticas, em particular pela glucuroniltransferase. Isso pode justificar uma recomendação de redução de dose de paracetamol em casos de hiperbilirrubinemia não conjugada. No entanto, ainda há uma escassez de dados específicos sobre como isso se aplica no contexto do tratamento da persistência do ducto arterioso (PDA) com paracetamol. O uso de paracetamol no tratamento da PDA tem mostrado eficácia semelhante à de inibidores da COX-I, especialmente nos primeiros dias de vida, mas os estudos disponíveis ainda são limitados, e a qualidade desses estudos varia consideravelmente.

O paracetamol demonstrou ter uma boa biodisponibilidade oral (88%) e alcança concentrações sanguíneas máximas cerca de 90 minutos após administração enteral. Tanto as formas orais quanto intravenosas têm sido utilizadas no tratamento da PDA em neonatos prematuros. Estudos sugerem que a via oral pode ser mais eficaz do que a intravenosa, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar essa hipótese. A concentração de paracetamol no sangue está diretamente correlacionada com o fechamento do ducto arterioso e com a idade pós-natal, sendo que níveis plasmáticos entre 10 a 20 mg/L foram associados a taxas de fechamento de PDA variando de 71% a 83%. Já níveis acima de 20 mg/L estiveram associados a taxas de fechamento de 100%, sem efeitos adversos.

Apesar de sua eficácia, o uso de paracetamol no tratamento de PDA está relacionado a uma menor incidência de efeitos colaterais como insuficiência renal, sangramentos gastrointestinais, aumento da bilirrubina sérica e trombocitopenia, se comparado aos inibidores de COX-I. O perfil favorável de efeitos adversos do paracetamol, além da redução de risco de complicações renais e hepáticas, tem levado ao seu aumento de aceitação no tratamento de neonatos prematuros, particularmente aqueles que estão sendo considerados para ligadura cirúrgica.

Entretanto, o uso de paracetamol para a profilaxia da PDA não está bem estabelecido. Isso pode ser parcialmente atribuído à sua incapacidade de reduzir as taxas de hemorragias intraventriculares (P/IVH), conforme observado em estudos publicados até o momento. Embora o paracetamol possa promover um fechamento mais rápido da PDA, ele pode ser menos eficaz em neonatos extremamente prematuros, com menos de 26 semanas de gestação, um grupo pouco representado em estudos clínicos até agora.

Um estudo recente realizado pela Cochrane Collaboration concluiu que não há evidências suficientes para recomendar o paracetamol como terapia de primeira linha no tratamento da PDA persistente em neonatos prematuros. Embora a pesquisa sobre o paracetamol continue a evoluir, são necessários mais estudos para compreender melhor sua aplicação e eficácia, especialmente em neonatos com menos de 24 semanas de gestação.

Aspectos adicionais que devem ser compreendidos pelos leitores:

Embora o paracetamol seja amplamente considerado seguro e eficaz, seu uso deve ser monitorado cuidadosamente, especialmente em neonatos prematuros. O desenvolvimento das enzimas hepáticas, as interações com outros medicamentos e as condições clínicas do recém-nascido (como a presença de hiperbilirrubinemia) podem influenciar significativamente a resposta ao tratamento. Além disso, é importante considerar as limitações dos estudos existentes e as lacunas na pesquisa, que ainda não oferecem uma imagem completa do comportamento do paracetamol em neonatos prematuros de extremos de viabilidade. O acompanhamento contínuo e a personalização das dosagens são essenciais para maximizar os benefícios terapêuticos enquanto minimizam os riscos de toxicidade.

O Tratamento da Intoxicação Infantil: Abordagens e Considerações Clínicas

A intoxicação em crianças é uma situação clínica delicada, que muitas vezes pode indicar sinais de abuso ou negligência, sendo crucial, portanto, realizar uma avaliação minuciosa. Em casos de envenenamento, especialmente em crianças com menos de seis meses ou aquelas incapazes de acessar substâncias de forma independente, há motivos para levantar suspeitas de maus-tratos. Isso se torna ainda mais evidente quando há inconsistências na história clínica fornecida pelos cuidadores, ou quando o envenenamento é relacionado a substâncias psicoativas, drogas de abuso ou até mesmo agentes sedativos.

A exposição a substâncias tóxicas em crianças mais velhas também merece atenção especial. Crianças com ingestões acidentais podem ter repetidas exposições a substâncias perigosas, além de estarem suscetíveis a outros tipos de lesões. Em alguns casos raros, como na síndrome de Munchausen por procuração, observa-se a recorrência de doenças inexplicáveis, onde o responsável, frequentemente um profissional da área médica, fornece informações detalhadas sobre doenças incomuns.

Ao lidar com um caso de intoxicação, o diagnóstico laboratorial desempenha um papel limitado, especialmente quando há uma ingestão observada de uma única substância. Embora os exames toxicológicos possam ser úteis em algumas situações, como na análise de níveis terapêuticos ou na investigação de substâncias com monitoramento específico, nem sempre fornecem resultados conclusivos. Substâncias como anticonvulsivantes, metais pesados, etanol, metais, salicilatos e outras drogas específicas podem ser avaliadas rapidamente por exames, mas o resultado pode ser negativo mesmo diante de sintomas graves de toxicidade. Além disso, exames mais complexos, como a cromatografia gasosa ou espectrometria de massas, demandam tempo e nem sempre são confiáveis para detectar todas as substâncias em questão.

No que diz respeito aos exames de imagem, as radiografias apresentam utilidade limitada. Poucos medicamentos são radiopacos, mas substâncias como sais de cálcio, ferro, produtos que contenham iodo, cloral hidratado e outros compostos podem ser visualizadas nas imagens. Porém, a ausência de evidência radiográfica não exclui a possibilidade de ingestão. Em alguns casos, como em intoxicações por chumbo ou corpos estranhos, as radiografias podem ser úteis para monitorar o impacto gastrointestinal durante o processo de desintoxicação.

A eliminação aumentada de substâncias tóxicas absorvidas é outra medida importante no tratamento da intoxicação infantil. Existem métodos, como a alcalinização da urina, que ajudam na excreção renal de substâncias ácidas, como salicilatos e fenobarbital. A importância desse processo está em manter o pH urinário entre 7,5 e 8,0, para evitar a reabsorção renal do fármaco. Vale ressaltar que o volume urinário não é tão relevante quanto o controle do pH urinário para garantir uma eliminação eficaz. Além disso, a hemodiálise pode ser necessária para a remoção de substâncias que cruzam facilmente a membrana de diálise, como alguns medicamentos e toxinas. Contudo, sua aplicabilidade é restrita, e a decisão de utilizá-la depende das características da substância envolvida.

Em casos de intoxicação grave, o uso de carvão ativado em múltiplas doses pode ser indicado para acelerar a eliminação de substâncias como fenobarbital e carbamazepina. Embora haja dados que sugiram benefícios em pacientes com toxicidade por fenitoína, os resultados práticos ainda são incertos. Além disso, os antídotos desempenham um papel fundamental, mas são raramente necessários em crianças, sendo o suporte clínico adequado o principal tratamento. Quando utilizados, os antídotos visam neutralizar o agente tóxico, e a dosagem pode não seguir a base ponderal, como ocorre no caso do digoxina-Fab, que neutraliza a quantidade estimada de digoxina presente no organismo.

No entanto, o aspecto mais relevante que deve ser entendido por todos os profissionais de saúde é que a toxicologia pediátrica exige uma abordagem cuidadosamente adaptada à idade e ao estado físico da criança. O tratamento não se baseia apenas na identificação do agente tóxico, mas também na compreensão dos fatores de risco, do contexto clínico e das condições específicas do paciente. Portanto, a avaliação da história clínica e a consideração de possíveis situações de abuso ou negligência são fundamentais para um tratamento eficaz e seguro. Além disso, o acompanhamento clínico deve ser rigoroso, com monitoramento contínuo dos parâmetros vitais, dos exames laboratoriais e de imagens, e com uma abordagem ativa de desintoxicação e intervenção precoce.