A análise de discurso desempenha um papel fundamental na compreensão das dinâmicas que moldam a experiência turística moderna. Mais recentemente, estudos voltados para novas formas de turismo, como o turismo médico e o turismo digitalmente desconectado, bem como desafios emergentes como o overtourism e a pandemia de Covid-19, têm ampliado a aplicabilidade desta abordagem. As questões centrais desses estudos giram em torno de como as práticas discursivas influenciam a percepção e o consumo do turismo, revelando muitas vezes dinâmicas de poder, desigualdades sociais e questões ambientais que permeiam o setor.

A análise de discurso no campo do turismo pode ser dividida em duas abordagens principais: a construção social de poder e a abordagem textual e linguística. Na primeira, o discurso é visto como uma forma de "fala" que não apenas reflete intenções, desejos e ações, mas também molda as percepções sociais dentro do contexto turístico. Isso leva à noção de que o turismo é uma arena em que as relações de poder estão constantemente em jogo. A obra de Michel Foucault sobre a performatividade dos discursos, por exemplo, influenciou significativamente os estudos turísticos, ajudando a entender como as práticas discursivas podem mascarar ou revelar questões de opressão social, incluindo imperialismo e desigualdade de gênero e raça.

Por outro lado, a abordagem textual e linguística foca na estrutura da linguagem e como ela é utilizada em materiais promocionais de turismo, como sites, folhetos e blogs. A análise de elementos como sintaxe, tempo verbal e escolha de palavras revela como os produtos turísticos são descritos e, muitas vezes, idealizados para atrair turistas. A análise de discursos, então, vai além da superfície dos textos, investigando o que é dito e, mais importante, o que é silenciado. Isso pode revelar os mecanismos de exploração, como no caso da produção de narrativas que sustentam estereótipos e hierarquias sociais, ou mesmo questões ambientais que são negligenciadas em prol do lucro.

A aplicação de teorias como o "olhar do turista" (Urry, 1990) tornou-se uma referência em estudos de turismo, proporcionando uma lente crítica através da qual é possível examinar como os turistas se relacionam com os destinos. O conceito de "olhar" ajuda a entender como os turistas, em sua busca por experiências, são influenciados por imagens e discursos pré-estabelecidos, muitas vezes desconsiderando as realidades locais e as consequências de suas ações sobre o meio ambiente e a sociedade.

Porém, um aspecto frequentemente negligenciado nesses estudos é o papel da digitalização e da disseminação de conteúdo online na formação de discursos turísticos. A ascensão do Web 2.0 e das plataformas de mídia social criou novos espaços para a produção e o consumo de narrativas turísticas. Ao examinar blogs, vídeos de influenciadores e postagens em redes sociais, é possível perceber como os discursos de turismo são moldados por novas formas de comunicação e como esses conteúdos influenciam as escolhas dos turistas. Além disso, a análise de dados gerados por esses meios permite que pesquisadores e profissionais do setor compreendam melhor o comportamento do turista, criando segmentações mais precisas e, assim, otimizando estratégias de marketing.

Porém, é crucial entender que esses discursos, ao mesmo tempo em que abrem novas formas de expressão e visibilidade para os destinos turísticos, também podem contribuir para a perpetuação de desigualdades sociais e culturais. Questões como a representação de gênero, raça e classe social continuam a ser fundamentais para a análise crítica do turismo. Muitas vezes, os destinos são descritos de maneira a favorecer uma visão eurocêntrica ou estereotipada, o que pode impactar diretamente a experiência dos próprios moradores locais e das comunidades turísticas.

A análise de discurso, portanto, não deve ser vista apenas como uma ferramenta para entender os aspectos linguísticos da comunicação no turismo, mas como uma maneira de questionar as narrativas dominantes e desvelar as relações de poder que permeiam o setor. É importante que os estudos de turismo continuem a investigar as maneiras pelas quais os discursos turísticos não apenas refletem, mas também reforçam normas e valores culturais, além de contribuir para a formação de uma consciência crítica tanto nos turistas quanto nos profissionais do setor.

Além disso, ao aplicar essas metodologias, é necessário que se considere o contexto de cada destino e a maneira como os discursos sobre turismo afetam não apenas a imagem do lugar, mas também as relações entre turistas e residentes. A conscientização sobre os impactos ambientais e sociais do turismo é uma parte vital dessa análise discursiva. Em um mundo cada vez mais globalizado, a reflexão crítica sobre como o turismo é representado e consumido tem o potencial de transformar práticas turísticas e tornar a indústria mais sustentável e ética.

Como a Economia Circular Está Transformando o Turismo e Seus Desafios para o Futuro

A transição para a economia circular (EC) no setor do turismo não é uma questão de “se”, mas de “como” essa mudança será implementada. Organizações turísticas enfrentam a necessidade de adaptação, e nesse processo, líderes e seguidores, assim como ganhadores e perdedores, terão papéis decisivos. Mathews (2011) alerta para a formação possível de blocos políticos com interesses instalados que podem retardar essa transformação.

O ambiente institucional onde as empresas atuam exerce uma pressão que pode direcionar ou frear o movimento rumo à EC. Essa pressão varia de acordo com o contexto local e a cultura organizacional, seja ela proativa ou reativa. O panorama global indica que regiões como a China, onde a EC integra estratégias de desenvolvimento sustentável, e a União Europeia, com seu Plano de Ação do Pacto Ecológico Europeu, estão à frente nesse processo.

A abordagem ideal é sistêmica e ecossistêmica, promovendo conexões entre empresas do turismo e de outros setores, como agricultura e gestão ambiental, para reduzir o desperdício e reaproveitar recursos, especialmente em alimentos. Restaurantes, por exemplo, podem investir na recuperação de energia e insumos a partir de resíduos, enquanto prestadores de serviços turísticos e lazer podem adotar modelos de negócio focados no uso compartilhado e na funcionalidade em vez da posse, como o aluguel de equipamentos ou o pagamento por uso de dispositivos informativos turísticos.

A mudança de comportamento dos turistas, focada em práticas consistentes com a EC, é tão vital quanto a inovação nos produtos turísticos. A pandemia da Covid-19 impulsionou essa reflexão, destacando a necessidade de novos modelos econômicos, sociais e ambientais para a sustentabilidade do turismo. Pesquisas recentes enfatizam a importância de identificar boas práticas, avaliar as implicações para negócios tradicionais — como o turismo de sol e praia ou urbano — e explorar oportunidades empreendedoras dentro do paradigma circular.

O desafio climático está intimamente ligado a essa discussão. O aquecimento global, impulsionado pela emissão excessiva de gases de efeito estufa, pressiona o setor a adotar medidas para reduzir sua pegada de carbono. O turismo é um dos setores mais afetados pelas mudanças climáticas, sofrendo com eventos extremos e transformações nos ecossistemas. A resposta global, incluindo compromissos firmados na COP26, exige redução drástica nas emissões até 2030 e neutralidade até 2050.

No entanto, apesar de maior consciência ambiental, o avanço prático permanece lento. A "alfabetização de carbono" — conhecimento detalhado sobre impactos e formas de mitigação — é ainda limitada entre profissionais e turistas. Barreiras econômicas e estruturais dificultam a adoção de energias renováveis e outras tecnologias sustentáveis no turismo. Iniciativas como o “Climate Friendly Travel Registry” promovido pela SUNx Malta representam passos importantes para que empresas e destinos planejem e monitorem suas ações de redução de emissões.

Além disso, o turismo deve ser entendido como um campo multidimensional, onde a circularidade não é apenas uma questão técnica, mas envolve a transformação de modelos de negócio, a cultura organizacional e o comportamento dos consumidores. A visão holística inclui aspectos econômicos, sociais e ambientais, ressaltando a importância da cooperação intersetorial e da inovação em todos os níveis.

É essencial compreender que a EC no turismo não é uma receita pronta, mas um processo dinâmico, sujeito a forças externas e internas, onde o contexto político, cultural e econômico influencia diretamente seu ritmo e alcance. Investir na educação ambiental, tanto para profissionais quanto para turistas, e promover políticas públicas integradas são estratégias decisivas para acelerar essa transformação.

A expansão da circularidade no turismo exige uma mudança profunda nos paradigmas de consumo e produção, reconhecendo a interdependência entre o ser humano e o meio ambiente. Reconectar pessoas à natureza e às consequências reais de seus hábitos de viagem é uma tarefa que ultrapassa o simples gerenciamento de recursos, exigindo uma reconstrução ética e consciente das práticas turísticas.