Donald Trump tem sido um dos políticos mais polarizadores da história moderna dos Estados Unidos, não apenas pelas suas propostas controversas, mas pela forma singular com que se comunica com o público. Seu estilo retórico, muitas vezes simplista e categórico, busca dividir o mundo em binários: vencedores e perdedores, fortes e fracos, corretos e corruptos. Este tipo de linguagem não apenas reflete, mas também amplifica a polarização que marcou sua ascensão ao poder.

Trump não hesita em utilizar um vocabulário carregado de intensificadores e duplos sentidos. Para ele, Obama foi o "pior" presidente da história, chegando até a acusá-lo de ser o "fundador do ISIS". Em contraposição, Trump se posiciona como o melhor, o mais competente, o único capaz de restaurar a grandeza americana. Ele possui, segundo ele próprio, as "melhores palavras", e suas soluções são simples e definitivas. Seu famoso discurso sobre a construção de um "grande, grande muro" na fronteira com o México é um exemplo claro de como ele simplifica questões complexas, ignorando as nuances políticas e sociais em favor de respostas fáceis e atraentes para seu público.

A dualidade que Trump tanto cultiva em seus discursos reflete uma visão de mundo profundamente maniqueísta: aqueles que o apoiam são os vencedores, enquanto os outros são perdedores, fracos e frequentemente alvo de ataques pessoais. Os opositores de Trump são desqualificados de várias formas: sua aparência é ridicularizada ("olhem aquela cara", disse ele sobre Carly Fiorina), sua moral é questionada ("uma mulher nojenta", sobre Hillary Clinton), e seus apelidos pejorativos se tornam parte da narrativa política ("Lyin' Ted", "Crooked Hillary"). Trump não apenas faz ataques pessoais, mas utiliza essas ofensas como um meio de cimentar sua posição de superioridade moral e intelectual.

No entanto, a retórica de Trump vai além da simples agressão verbal; ela é, em muitos casos, uma ferramenta estratégica. A incivilidade de suas declarações não é um erro ou falha de julgamento, mas sim uma técnica deliberada. Em um ambiente político tradicionalmente caracterizado por um certo nível de decoro, Trump escolheu abraçar a falta de civilidade como um modo de disruptura, rompendo com as normas e desafiante às expectativas estabelecidas. A incivilidade, assim, se torna um trunfo na sua batalha contra o que ele vê como uma elite política corrupta e desconectada da realidade do povo americano.

Além disso, Trump rejeita informações oficiais e dados de fontes credíveis, muitas vezes ignorando ou descreditando dados do governo e de instituições especializadas. Em sua campanha de 2016, ele alegou que a taxa real de desemprego nos EUA era de 18 a 20%, chamando os números oficiais de "falsos" e de um "grande engano". Quando se tratava de questões de imigração, ele também desafiava estimativas de autoridades como o Departamento de Segurança Interna, sugerindo que o número de imigrantes ilegais no país poderia ser muito maior do que os 11 milhões estimados pelas agências. Para Trump, as estatísticas eram, muitas vezes, apenas "números falsos" manipulados por aqueles que desejavam manter o status quo.

Este comportamento de rejeição à verdade oficial tem implicações profundas. A confiança nas instituições de conhecimento, como os órgãos governamentais e agências especializadas, sempre foi um pilar da política americana. Tradicionalmente, as conclusões dessas instituições são tratadas como "fatos", e a responsabilidade de provar uma alegação cabe àqueles que desafiam o consenso existente. Trump, no entanto, inverte esse modelo, colocando o peso da prova em quem ousa questionar suas declarações, e não em si mesmo, como é comum na política convencional. Esse estilo de "não acreditar em nada que contrarie minha narrativa" tem sido uma das marcas de sua administração e de sua campanha.

Porém, não se trata apenas de uma questão de estilo. Trump representa uma forma de politização que transcende os limites do discurso político tradicional. A recusa em aceitar verdades estabelecidas e a constante desinformação não são falhas de comunicação, mas sim componentes essenciais de sua estratégia de combate. Ele construiu uma narrativa que funciona de forma paralela à realidade, em que o que importa não é a veracidade das informações, mas a fidelidade ao que seu público deseja ouvir e acredita ser verdade.

Esse tipo de comunicação, que destrói a confiança nas instituições e propaga uma verdade alternativa, é uma das maiores mudanças na dinâmica política moderna. Ao diminuir a relevância dos fatos e das evidências, Trump cria um ambiente no qual a veracidade é relativa, e a realidade se torna maleável de acordo com os interesses de quem a controla. E mais, ao abraçar a polarização e a incivilidade, ele transforma a política em um jogo de sobrevivência, onde não há espaço para o compromisso, a empatia ou o entendimento mútuo. Isso não é apenas um reflexo de sua personalidade, mas um reflexo de uma mudança mais ampla na maneira de fazer política.

Essa dinâmica exige um novo olhar sobre como a política é feita e compreendida. A partir de agora, os políticos não serão mais apenas mensageiros de políticas, mas agentes de manipulação emocional e narrativa. A política se tornará uma batalha constante pela verdade, e qualquer tentativa de conciliar visões opostas será vista como uma fraqueza. Em um mundo onde a retórica de Trump se tornou uma espécie de "normal", o que antes era visto como uma falha agora é a norma, e os políticos precisarão, mais do que nunca, aprender a navegar por esse novo terreno, onde as regras da civilidade e da verdade estão em constante disputa.

Como Donald Trump Redefiniu a Legitimidade Institucional: A Retórica e Seus Impactos

A retórica de Donald Trump foi marcada por ataques diretos à integridade de instituições que tradicionalmente exerceram papel fundamental na democracia americana. Em diversas ocasiões, o ex-presidente desafiou a confiança pública em mecanismos essenciais do governo, como o sistema eleitoral, o Judiciário e a mídia, usando seu estilo combativo para minar a autoridade e legitimidade dessas instituições. Sua abordagem representa uma ruptura significativa com a tradição política americana, onde líderes, mesmo discordando de decisões, geralmente não questionavam a legitimidade desses órgãos.

Durante sua campanha de 2016, Trump, já conhecido por suas falas provocativas, afirmou que um possível resultado negativo nas eleições seria resultado de uma "fraude". Esse tipo de linguagem que ataca a credibilidade do processo eleitoral é um dos marcos de sua retórica. Em uma fala emblemática, ele declarou que aceitaria os resultados da eleição apenas se vencesse, questionando, assim, a imparcialidade e a justiça do sistema democrático americano. Essa postura foi radicalmente diferente da tradição de aceitação do veredito eleitoral e da celebração do processo de transferência pacífica de poder, uma característica que sempre marcou a democracia americana.

Além disso, a atitude de Trump em relação ao Judiciário exemplificou ainda mais seu desprezo por instituições que poderiam desafiá-lo. Ao invés de criticar as decisões judiciais, como outros presidentes, Trump passou a questionar publicamente a competência e a imparcialidade dos juízes. A acusação de que um juiz de origem mexicana não poderia ser imparcial em um processo envolvendo sua universidade, devido à política de construção de um muro entre os EUA e o México, foi um exemplo claro dessa postura. A alegação de Trump era que a identidade do juiz impunha um "conflito de interesse inerente", distorcendo a função imparcial da justiça e apelando à emoção popular para minar a confiança no sistema.

Essa tendência de atacar a legitimidade dos juízes se intensificou após a suspensão de uma de suas ordens executivas, que proibia a entrada de cidadãos de países muçulmanos. Ao invés de simplesmente discordar da decisão, Trump atacou a figura do juiz responsável, rotulando-o de "so-called judge" e questionando sua lealdade ao país. Esse comportamento, que se distanciava do tradicional respeito pela autoridade judicial, visava não só questionar a decisão, mas também enfraquecer a confiança pública no Judiciário como um todo.

No entanto, sua estratégia de atacar o sistema de justiça não se limitava ao Judiciário. Trump também visou instituições como o FBI, especialmente quando o diretor James Comey anunciou a decisão de não processar Hillary Clinton pelo uso inadequado de e-mails classificados. Trump usou essa decisão para afirmar que o sistema de justiça estava "totalmente viciado". Essa narrativa de um sistema injusto e manipulado se tornou um tema constante durante sua presidência, servindo como uma ferramenta para mobilizar apoio e, ao mesmo tempo, deslegitimar qualquer crítica ou ação contra ele.

Sua retórica também incluiu ataques constantes à mídia, que, em sua visão, distorcia os fatos e manipularia a opinião pública contra sua presidência. Ao longo de sua campanha e durante sua administração, Trump afirmou repetidamente que a mídia estava "mentindo", acusando jornalistas de serem "injustos" e de estarem "perseguindo" sua agenda. Esses ataques se tornaram um ponto central da sua estratégia, transformando os meios de comunicação em inimigos a serem combatidos.

Esse tipo de retórica, que visava minar a confiança nas instituições, fez com que Trump fosse um presidente que, ao invés de buscar manter a estabilidade e a confiança nas estruturas do Estado, procurava constantemente redefinir o papel e a autoridade dessas estruturas. Ele se apresentava como o único juiz legítimo daquilo que era verdadeiro ou falso, do que era legal ou ilegal, e, consequentemente, da própria legitimidade das instituições do país.

Além disso, é crucial entender que esse comportamento não foi apenas uma questão de retórica vazia. Ele teve um impacto profundo na política e na sociedade americana. A constante deslegitimação de instituições levou a uma erosão da confiança pública, criando uma divisão entre os que apoiavam Trump e os que viam suas ações como perigosas para o tecido democrático do país. Esse fenômeno pode ser interpretado como parte de um movimento maior de desconfiança generalizada nas instituições tradicionais, um sentimento que se espalhou para diferentes áreas da sociedade.

O impacto de sua retórica vai além da política interna dos Estados Unidos. Ele contribuiu para uma crise de legitimidade que se estendeu para outras democracias ocidentais, onde líderes populistas passaram a adotar táticas semelhantes para deslegitimar os oponentes e as instituições estabelecidas. Ao questionar as fundações da democracia americana e atacar seus pilares, Trump não apenas moldou sua presidência, mas também influenciou a maneira como os líderes populistas ao redor do mundo lidam com a autoridade institucional.