Sally Fallon e Mary G. Enig classificam a hipercolesterolemia (colesterol alto) como o problema de saúde do século XXI, mas, ao mesmo tempo, chamam-no de uma doença “inventada”. Eles argumentam que, embora o colesterol alto tenha se tornado um foco central de atenção médica, isso só aconteceu depois que os médicos aprenderam a medir os níveis de colesterol no sangue. Até então, o colesterol elevado não era considerado um problema de saúde, pois não apresenta sintomas evidentes, ao contrário de outras doenças que tornam o paciente fisicamente mal. Portanto, a questão é que os médicos precisam convencer pacientes que se sentem bem de que estão, na verdade, doentes.
Nos últimos 25-30 anos, a comunidade médica vem ajustando os critérios para o que é considerado colesterol alto, movendo os limites de 240 mg/dl para 200 mg/dl e agora 180 mg/dl – sempre para níveis mais baixos. Isso tem levado a um aumento na prescrição de medicamentos para reduzir o colesterol, como as estatinas, que agem inibindo a formação de certas enzimas no corpo, mas ao fazer isso, têm o potencial de causar efeitos colaterais graves.
As estatinas inibem não só a produção de colesterol, mas também a formação de outras substâncias essenciais para a função bioquímica do corpo. Um exemplo disso é a ubiquinona, também conhecida como Coenzima Q10, que é crucial para a nutrição celular. O coração, em particular, requer grandes quantidades de Co-Q10, sendo encontrado em todas as membranas celulares, onde desempenha um papel fundamental na manutenção da integridade dessas membranas, essencial para a condução nervosa e a integridade muscular. Quando o nível de Co-Q10 cai, efeitos como fraqueza muscular, dor nas costas, insuficiência cardíaca, neuropatia e inflamação nos tendões e ligamentos – que pode até levar a rupturas – tornam-se evidentes.
O colesterol, portanto, desempenha um papel vital no funcionamento do corpo. Ele é um dos três produtos finais no corpo que contribui para a produção de Co-Q10, uma substância fundamental para a saúde celular. Além disso, o colesterol é essencial para a reparação do corpo, sendo o principal componente das cicatrizes, inclusive nas artérias, e precursor da vitamina D. Ele também é necessário para a produção de sais biliares, que ajudam na digestão das gorduras. Isso significa que as pessoas com níveis baixos de colesterol frequentemente têm dificuldades para digerir gorduras.
Além disso, o colesterol atua como um potente antioxidante, protegendo o corpo contra o câncer e o envelhecimento precoce. No sistema neurológico, o colesterol é crucial para a memória, para a absorção de hormônios no cérebro, incluindo a serotonina – o “hormônio da felicidade”. Também regula os níveis de açúcar no sangue, o equilíbrio mineral e a produção de hormônios sexuais, como testosterona, estrogênio e progesterona. Portanto, baixos níveis de colesterol podem contribuir para problemas como desequilíbrios hormonais, infertilidade, problemas digestivos e até diminuição do libido.
Com a introdução das estatinas, que substituíram os medicamentos que apenas impediam a absorção de colesterol no intestino, houve uma redução nas queixas imediatas como náuseas e constipação. Porém, o sucesso das estatinas como solução para o colesterol alto tem sido questionado. Embora eficazes em reduzir os níveis de colesterol, esses medicamentos não são isentos de efeitos colaterais graves.
A dor muscular e a fraqueza são os efeitos colaterais mais comuns, afetando até 98% dos usuários de estatinas. Pessoas como Doug Peterson, residente em Tahoe City, desenvolveram problemas de coordenação e memória após três anos usando Lipitor, um tipo de estatina. Embora não tenha sentido efeitos colaterais durante os dois primeiros anos, após esse período, ele começou a sofrer de dores musculares intensas e perda de equilíbrio, sintomas que desapareceram assim que parou de tomar o medicamento. Outros pacientes, como John Altrocchi, também relataram dores musculares severas e perda temporária de memória após usar estatinas por um longo período.
Além disso, estudos mostraram que o uso prolongado de estatinas pode causar danos ao sistema nervoso, aumentando o risco de polineuropatia – que causa fraqueza, formigamento e dor nas extremidades. A pesquisa revelou que o risco de desenvolver problemas nervosos aumentava em 15% após um ano de uso de estatinas e até 26% após dois anos. Esse tipo de dano pode ser irreversível, afetando permanentemente a função motora e a memória dos pacientes.
Outro efeito colateral preocupante é a falência cardíaca. Embora a incidência de infartos tenha diminuído ligeiramente nos Estados Unidos, o número de casos de insuficiência cardíaca aumentou, o que reverteu parte dos ganhos observados. A falta de Co-Q10, que é inibida pelas estatinas, afeta diretamente o funcionamento do coração. O coração é particularmente vulnerável a essa deficiência, pois é um órgão que consome muita energia. Estudos demonstraram que o uso de estatinas pode afetar a função cardíaca, mesmo em pessoas com função cardíaca normal antes do tratamento.
Por fim, um estudo realizado em Hull, no Reino Unido, revelou que os pacientes com insuficiência cardíaca que mantinham níveis elevados de colesterol tiveram melhor taxa de sobrevivência do que aqueles que usaram estatinas para reduzir o colesterol. Cada redução de um ponto nos níveis de colesterol aumentava em 36% o risco de morte em um período de três anos.
Portanto, embora as estatinas tenham sido amplamente promovidas como uma solução eficaz para reduzir o colesterol e prevenir doenças cardiovasculares, os efeitos adversos dessas drogas, como dores musculares, problemas neurológicos e até falência cardíaca, são graves e merecem atenção. A relação entre colesterol e saúde cardiovascular é mais complexa do que os critérios convencionais sugerem, e é fundamental considerar os efeitos colaterais e os potenciais riscos antes de iniciar um tratamento com estatinas.
O Colesterol é o Vilão ou o Aliado? Entendendo os Mitos e Realidades sobre o Colesterol e a Saúde Cardiovascular
O problema vai desaparecer. Certo? Errado. Mas será que não é isso que nossos médicos nos dizem todos os dias? Baixe o colesterol. Você está em risco de infarto. Mude sua dieta e estilo de vida e viverá mais tempo. Não coma alimentos gordurosos derivados de produtos de origem animal. Acontece que a situação não é tão simples. A verdade sobre o colesterol é mais complexa do que se imagina.
A principal fonte de colesterol no corpo humano não vem dos alimentos que consumimos, mas sim de um processo interno. O fígado é responsável por produzir cerca de 95% do colesterol no corpo, enquanto os alimentos que ingerimos contribuem com apenas 5%. Este fato, que muitas vezes é desconhecido pelo público em geral, é uma das principais razões pelas quais a informação sobre colesterol é muitas vezes distorcida. Há uma crença comum de que o colesterol é prejudicial e deve ser eliminado da dieta, mas é importante entender que o colesterol produzido pelo corpo tem funções vitais e não pode ser considerado simplesmente como algo "ruim".
O colesterol é uma substância cerosa e macia encontrada nas gorduras (lipídios) no sangue, e desempenha um papel essencial na manutenção das células do corpo. Ele é crucial para a fabricação de hormônios esteroides, como os hormônios sexuais masculinos e femininos, além de outras funções hormonais fundamentais. Sem colesterol, nosso corpo não poderia funcionar adequadamente. Ele é necessário para a construção das células e a produção de hormônios vitais para o sistema imunológico, a função renal e o equilíbrio hormonal geral. Portanto, é impossível viver sem colesterol.
No entanto, a presença do colesterol no sangue não é algo que se dissolve espontaneamente. Ele precisa ser transportado por lipoproteínas, que são transportadores especiais que levam o colesterol e outros tipos de gordura pelas correntes sanguíneas até as células do corpo. Existem várias classes de lipoproteínas, mas as mais conhecidas são o LDL (lipoproteína de baixa densidade), comumente denominado “colesterol ruim”, e o HDL (lipoproteína de alta densidade), conhecido como “colesterol bom”. Há uma certa confusão em torno desses termos, pois ambos os tipos de colesterol são essenciais para nossa sobrevivência. Por que então, chamamos o LDL de "ruim"?
O LDL transporta gorduras, como o colesterol e triglicerídeos, do fígado para as células. Porém, quando o nível de LDL ou VLDL (lipoproteína de densidade muito baixa) se eleva, ele pode contribuir para a formação de placas ateroscleróticas nas artérias, um dos principais fatores de risco para ataques cardíacos e derrames. Em contrapartida, o HDL age como um "limpador", retirando o excesso de gordura e colesterol do sangue e levando-os de volta ao fígado para serem processados ou eliminados. Assim, um nível elevado de HDL está associado a um risco menor de doenças cardíacas, enquanto níveis elevados de LDL podem ser prejudiciais.
Contudo, o colesterol LDL, por si só, não é o verdadeiro culpado da formação de placas. O perigo está na oxidação do colesterol LDL, que ocorre quando ele entra em contato com radicais livres no corpo e se torna prejudicial, desencadeando inflamação nas artérias. Oxidação é um processo similar à corrosão do ferro ou ao escurecimento de uma maçã cortada — um processo de envelhecimento celular. O problema com o colesterol oxidado é que ele atrai células inflamatórias do sistema imunológico, que tentam combater a inflamação, mas acabam piorando a situação, criando mais danos ao interior das artérias.
Por exemplo, os esquimós, cujas dietas são ricas em gorduras de origem animal, apresentam taxas muito baixas de doenças cardíacas, o que parece contradizer as alegações tradicionais sobre os efeitos negativos do colesterol animal. A razão para isso está no fato de que o colesterol dos esquimós não está oxidado, ao contrário de muitos dos alimentos processados que consumimos, ricos em gorduras trans e óleos vegetais refinados, que favorecem a oxidação do colesterol e a inflamação arterial.
Outro ponto importante é que o LDL possui variações em sua estrutura. O tipo mais perigoso de LDL é o lipoproteína (a) ou Lp(a), uma forma de LDL que contém uma proteína chamada apolipoproteína (a). Este tipo de colesterol tem sido associado a um risco muito maior de doenças cardíacas. Os estudos revelam que os níveis elevados de Lp(a) aumentam em até dez vezes o risco de problemas cardíacos, especialmente quando combinados com níveis elevados de LDL. Por isso, é recomendável monitorar também os níveis de Lp(a) e não apenas os de LDL.
Em relação aos níveis desejáveis de colesterol, as orientações atuais sugerem que o colesterol total no sangue deve estar abaixo de 200 mg/dL, com o LDL abaixo de 130 mg/dL, os níveis de lipoproteína (a) abaixo de 30 mg/dL e os triglicerídeos abaixo de 150 mg/dL. Além disso, a relação entre o colesterol total e o HDL, bem como entre o LDL e o HDL, deve ser monitorada. Estudos sugerem que reduzir o LDL e aumentar o HDL pode ajudar a diminuir o risco de doenças cardíacas, mas é fundamental compreender que a abordagem convencional que se limita ao uso de medicamentos para controlar os níveis de colesterol não é uma solução completa.
Há uma falha importante na visão tradicional do colesterol. Embora o foco tenha sido principalmente na redução do LDL, é igualmente importante entender que a oxidação do colesterol e os níveis de Lp(a) desempenham um papel crucial no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Ignorar esses fatores pode levar a uma abordagem incompleta e, muitas vezes, ineficaz no tratamento e prevenção das doenças cardíacas.

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