Os professores, como o Professor Hill e a Professora Robles, dedicam grande esforço para motivar seus alunos. No entanto, eles cometem um erro comum, embora frequentemente imperceptível: assumem que seus alunos seriam motivados da mesma forma que eles próprios foram quando estudantes. Quando seus alunos não demonstram o mesmo entusiasmo, os professores tendem a concluir que eles são apáticos ou preguiçosos. Contudo, uma análise mais detalhada das abordagens de ensino e de suas consequências não intencionais revela explicações mais complexas para a desmotivação dos estudantes.

O Professor Hill, por exemplo, está tão entusiasmado com o conteúdo do curso e o considera tão interessante por si só, que não percebe que os aspectos que mais o fascinam — as leituras fundamentais e o trabalho com fontes primárias — não possuem o mesmo valor para os seus alunos. Como resultado, seus alunos se dedicam ao trabalho de forma superficial e nunca conseguem dominar o material. A Professora Robles, por sua vez, tenta reproduzir o ambiente competitivo que a motivou durante sua própria experiência acadêmica. Contudo, suas advertências sobre a dificuldade do conteúdo e as poucas chances de aprovação dos estudantes podem reforçar percepções negativas pré-existentes sobre o curso, comprometendo as expectativas dos alunos e minando sua motivação para se dedicarem ao trabalho necessário para obter sucesso.

Ambas as histórias têm um ponto em comum: a questão central é a motivação. Quando se fala em motivação, refere-se ao investimento pessoal que um indivíduo faz para alcançar um objetivo desejado (Maehr & Meyer, 1997). No contexto educacional, a motivação influencia a direção, intensidade, persistência e qualidade dos comportamentos de aprendizado nos quais os estudantes se envolvem.

A importância da motivação no aprendizado não pode ser subestimada (Ames, 1990). À medida que os alunos entram na faculdade e ganham maior autonomia sobre o que, quando e como estudar, a motivação assume um papel crucial na orientação de suas ações. Além disso, como existem muitos objetivos concorrentes que competem pela atenção, tempo e energia dos estudantes, entender o que pode aumentar ou diminuir a motivação deles para alcançar metas específicas de aprendizado é essencial. Se os alunos não encontram valor no conteúdo de um curso, por exemplo, é provável que falhem em se engajar em comportamentos que levem a um aprendizado profundo. De forma similar, se os alunos não acreditam que serão bem-sucedidos, eles podem se afastar das ações necessárias para aprender. Imagine como essas histórias poderiam ser diferentes se os alunos do Professor Hill vissem valor no aprendizado de fontes primárias, e se os alunos da Professora Robles esperassem que seu trabalho árduo resultasse em bom desempenho e boas notas!

Dois conceitos são fundamentais para a compreensão da motivação: (1) o valor subjetivo de um objetivo e (2) as expectativas, ou as crenças dos alunos sobre a possibilidade de alcançar esse objetivo com sucesso. Embora várias teorias sobre motivação tenham sido propostas, muitas colocam esses dois conceitos como centrais em suas abordagens (Atkinson, 1957, 1964; Wigfield & Eccles, 1992, 2000). As expectativas e os valores interagem para influenciar o nível de motivação dos estudantes para realizar comportamentos direcionados a um objetivo.

Os objetivos fornecem o contexto no qual os valores e as expectativas ganham significado e influenciam a motivação. Para compreender como a motivação funciona, é essencial compreender os objetivos que os estudantes buscam alcançar. Falar em motivação sem especificar os objetivos aos quais um indivíduo está se dedicando é insuficiente. Os objetivos agem como a bússola que guia uma ampla gama de ações, incluindo aquelas relacionadas ao intelecto, à criatividade, às relações sociais e à identidade pessoal (Ford, 1992). Na vida acadêmica, um aluno pode ter múltiplos objetivos simultaneamente: adquirir conhecimento, fazer amigos, demonstrar inteligência, ganhar independência e, claro, se divertir.

É importante observar que os objetivos dos estudantes podem ser muito diferentes dos objetivos dos professores para eles. Esse desalinhamento de expectativas pode ser visto claramente na história do Professor Hill. Ele esperava que seus alunos se dedicassem ao entendimento profundo da Filosofia Continental, por meio do uso de fontes primárias. No entanto, esse objetivo não se alinhava com os interesses dos estudantes. Um tipo de desalinhamento muito comum ocorre quando os professores desejam que os alunos se concentrem no aprendizado pelo aprendizado, enquanto os próprios estudantes estão motivados principalmente por objetivos relacionados ao desempenho (Dweck & Leggett, 1988). Os objetivos de desempenho envolvem a preservação da imagem pessoal e a projeção de uma boa reputação pública. Quando os alunos são guiados por esses objetivos, estão preocupados com os padrões normativos e tentam fazer o necessário para demonstrar competência, parecer inteligentes, ganhar status e receber reconhecimento e elogios.

Uma distinção importante é feita entre dois tipos de objetivos de desempenho: os objetivos de abordagem de desempenho e os objetivos de evitação de desempenho. Os alunos com objetivos de abordagem de desempenho buscam atingir a competência ao atender aos padrões normativos. Já os alunos com objetivos de evitação de desempenho se concentram em evitar a incompetência, buscando atender aos padrões apenas para não falhar. Pesquisas indicam que os objetivos de abordagem de desempenho são mais benéficos para o aprendizado do que os objetivos de evitação de desempenho (Elliot & McGregor, 2001; Cury et al., 2006).

Em contraste com os objetivos de desempenho, os objetivos de aprendizado são aqueles nos quais os estudantes buscam realmente adquirir competência e aprender o que uma atividade ou tarefa pode ensiná-los. Se queremos que os alunos alcancem uma compreensão profunda, decorrente da exploração e da disposição para correr riscos intelectuais (objetivos de aprendizado), mas eles estão apenas interessados em fazer o mínimo necessário para obter uma boa nota (objetivos de desempenho), é improvável que obtenhamos os comportamentos e resultados de aprendizado desejados. De fato, a pesquisa sugere que os alunos com objetivos de aprendizado, quando comparados aos com objetivos de desempenho (especialmente os de evitação), são mais propensos a usar estratégias de estudo que resultem em um entendimento mais profundo, a buscar ajuda quando necessário, a persistir diante das dificuldades e a procurar tarefas desafiadoras com maior conforto e confiança.

Como o Desenvolvimento do Estudante Interage com o Clima da Sala de Aula e Afeta o Aprendizado

O ambiente em que o aluno se encontra durante sua jornada acadêmica, incluindo tanto o clima social e emocional quanto o intelectual, tem um impacto direto no seu processo de aprendizagem. Não se trata apenas de ensinar conteúdos; é necessário considerar o desenvolvimento integral do estudante, que abrange aspectos sociais, emocionais e intelectuais. Reconhecer esses aspectos, por mais complexos que sejam, permite que o educador ajuste sua abordagem de ensino para criar um ambiente mais produtivo. Isso não significa, no entanto, que os educadores precisam atuar como conselheiros de vida, mas sim que, ao entenderem as dimensões do desenvolvimento do estudante, podem contribuir significativamente para o aprendizado.

Estudantes com idades entre 17 e 22 anos enfrentam uma série de mudanças significativas. Eles estão em transição, deixando o ensino médio e se adaptando às demandas intelectuais do ensino superior. Ao mesmo tempo, estão se tornando independentes, formando novas redes sociais, lidando com questões financeiras, fazendo escolhas sobre álcool, drogas e sexualidade, e enfrentando outros desafios práticos da vida adulta. Além disso, a faculdade os força a revisar seus valores, assumir responsabilidades sobre seu futuro profissional e tomar decisões importantes sobre sua carreira. Este período de transição não é apenas uma adaptação intelectual, mas também uma vivência de mudanças emocionais e sociais que afetam profundamente o aprendizado.

Embora o desenvolvimento de um estudante seja multifacetado e individualizado, existem modelos teóricos que buscam capturar as dimensões mais comuns desse processo. Um desses modelos é o de Chickering (1969), que descreve sete vetores de desenvolvimento, os quais se constroem progressivamente e se inter-relacionam de maneira a afetar a forma como o estudante lida com os desafios da vida universitária. Esses vetores são fundamentais para compreender como os estudantes podem interagir com os desafios acadêmicos e, mais importante ainda, como um educador pode criar um ambiente que favoreça o seu crescimento.

O primeiro vetor, o desenvolvimento da competência, aborda o aumento das habilidades intelectuais, físicas e interpessoais. No contexto acadêmico, isso se traduz no aprimoramento das competências cognitivas, como a capacidade de resolver problemas e pensar criticamente, mas também na capacidade de se comunicar e interagir de forma eficaz em ambientes de grupo. Quando um professor não permite que todos os alunos participem igualmente, como no caso de um professor que não chama alunas para falar, ele pode, sem querer, prejudicar o desenvolvimento da competência intelectual e interpessoal dessas alunas, impactando sua confiança e, consequentemente, seu desempenho.

O segundo vetor, o gerenciamento das emoções, envolve a habilidade do estudante em reconhecer e lidar com suas próprias emoções de maneira saudável. Em sala de aula, a incapacidade de expressar emoções de maneira produtiva pode prejudicar discussões e limitar o aprendizado coletivo. Estudantes podem sentir ansiedade, frustração ou excitação, e esses sentimentos precisam ser compreendidos e administrados para que não bloqueiem a comunicação ou a capacidade de focar no conteúdo acadêmico.

Outro vetor importante é o desenvolvimento da autonomia, que trata da capacidade do estudante de se distanciar da dependência emocional de seus pais e tomar decisões de maneira independente. No entanto, a geração atual de estudantes, especialmente os Millennials, pode encontrar dificuldades para alcançar esse nível de autonomia. A busca por validação externa, por exemplo, pode criar uma sensação de insegurança ou sobrecarga emocional. O educador deve ser sensível a essas questões e procurar promover a independência sem forçar os alunos a lidarem com desafios que ainda não têm a maturidade emocional necessária para enfrentar sozinhos.

A estabilização da identidade é o vetor central de todo o modelo de Chickering. Trata-se da formação de uma identidade coesa, que leva em consideração a autoimagem, a aceitação do corpo, a sexualidade e as questões de gênero, raça e etnia. Durante a faculdade, os estudantes começam a explorar quem são de fato, o que acreditam e qual seu papel na sociedade. Eles não apenas definem sua carreira, mas também seu lugar no mundo social e cultural. A forma como um educador lida com as questões de identidade, garantindo que todos os alunos se sintam respeitados e representados, tem grande impacto no bem-estar emocional e no desempenho acadêmico.

É essencial compreender que o desenvolvimento estudantil não acontece de forma linear. O progresso de um estudante pode ser interrompido por dificuldades emocionais ou sociais, e os desafios podem ocorrer de maneira cíclica. Alguns alunos podem, em certos momentos, regredir em seu desenvolvimento, enquanto outros podem amadurecer mais rapidamente em algumas áreas do que em outras. A chave está em criar um ambiente que favoreça o crescimento contínuo e o apoio necessário para que cada estudante alcance seu potencial, independentemente das barreiras temporárias que possam encontrar.

Além dos aspectos diretamente relacionados aos quatro vetores discutidos, é igualmente importante entender que o desenvolvimento do estudante está intrinsecamente ligado à sua percepção do ambiente educacional. A interação entre o nível de desenvolvimento do estudante e o clima da sala de aula afeta diretamente o processo de aprendizagem. Uma sala de aula onde os estudantes se sentem emocionalmente seguros e intelectualmente desafiados é muito mais propensa a gerar altos níveis de desempenho e engajamento do que um ambiente que perpetua a competitividade excessiva ou a exclusão social.

O clima da sala de aula, que inclui o comportamento do educador, a forma como os alunos interagem entre si e a estrutura do curso, pode tanto ajudar quanto dificultar o processo de aprendizagem. Em ambientes negativos, onde há desconfiança ou falta de apoio, os estudantes podem sentir-se alienados e menos motivados a se engajar com o conteúdo. Por outro lado, em um ambiente positivo e inclusivo, os alunos se sentem mais propensos a se dedicar ao aprendizado e a se expressar de maneira aberta e construtiva.

O papel do educador, portanto, vai além de simplesmente transmitir informações; ele precisa criar uma atmosfera que favoreça o crescimento intelectual, social e emocional. A consciência do desenvolvimento estudantil e do impacto do clima da sala de aula permite que o educador ajuste suas práticas de ensino, garantindo que cada aluno tenha a melhor chance de alcançar seu potencial acadêmico.

Como a Identidade e o Desenvolvimento Intelectual Afetam o Processo de Aprendizagem?

O desenvolvimento do estudante, tanto em termos emocionais quanto intelectuais, está profundamente relacionado ao seu processo de aprendizagem. Durante a vida acadêmica, os alunos não apenas constroem conhecimento, mas também moldam sua identidade e sua capacidade de interagir com o mundo de forma crítica e construtiva. A interseção entre esses dois processos – o desenvolvimento de uma identidade robusta e a evolução do raciocínio intelectual – é fundamental para que o estudante possa crescer como ser humano e, ao mesmo tempo, se tornar mais eficaz na aprendizagem.

A questão da identidade, como discutido no modelo de Chickering, sugere que os alunos experimentam várias etapas de desenvolvimento, nas quais eles buscam um sentido de si mesmos, de pertencimento e de propósito. Alunos que têm uma identidade bem desenvolvida se sentem menos ameaçados por ideias que desafiem suas crenças. Isso é particularmente evidente em salas de aula de ciências econômicas, onde alguns alunos ainda não estão maduros o suficiente para considerar perspectivas alternativas sem que isso ameace sua própria compreensão do mundo. O processo de descoberta da identidade é complexo e envolve aspectos emocionais, sociais e intelectuais, sendo um fator determinante para o nível de engajamento, motivação e persistência dos alunos nas atividades acadêmicas.

O desenvolvimento de uma identidade não se resume a descobrir quem somos, mas também a entender quem escolhemos ser. Esse estágio de autodescoberta envolve, entre outras coisas, o desenvolvimento de um propósito. Estudantes que alcançam uma forte sensação de identidade começam a perguntar não apenas "Quem sou eu?" mas "Quem vou ser?". Isso implica em tomar decisões difíceis e comprometer-se com certas crenças ou áreas de interesse, mesmo que enfrentem oposição, seja de pais, amigos ou colegas. As mulheres em campos tradicionalmente dominados por homens, como a engenharia, muitas vezes enfrentam desafios devido a preconceitos, sendo constantemente lembradas de que suas chances de sucesso são limitadas pela sua identidade de gênero. Esses obstáculos têm implicações diretas na maneira como elas se envolvem nas atividades acadêmicas e se percebem como participantes válidas e competentes dentro de seu campo de estudo.

Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da integridade – que é a habilidade de equilibrar o interesse pessoal com a responsabilidade social – também influencia como os alunos se comportam nas interações sociais dentro e fora da sala de aula. Ao navegarem entre suas crenças pessoais e os desafios impostos pela sociedade, os estudantes passam a adotar valores mais consistentes que guiarão suas ações e decisões futuras. A busca pela integridade pode se manifestar em expressões como as de Gloria, que, ao se sentir incompreendida e desrespeitada em sua posição sobre um determinado tema, explode como uma forma de afirmar sua verdade. Esse processo está intimamente ligado ao desenvolvimento de uma personalidade crítica e reflexiva, capaz de se engajar nas questões sociais e acadêmicas com uma visão mais clara e definida.

Esses vetores de desenvolvimento são complexos e multifacetados, afetando não apenas o comportamento social e as interações emocionais, mas também a maneira como os estudantes abordam o conteúdo acadêmico. À medida que o desenvolvimento emocional e social avança, o estudante começa a adotar uma postura mais autônoma e crítica, características essenciais para o sucesso acadêmico e profissional. Mas, como qualquer processo de aprendizagem, o desenvolvimento não ocorre de forma linear. A cada nova experiência ou desafio, a identidade do aluno pode ser reconfigurada, e sua compreensão do conhecimento se torna mais profunda e multifacetada.

Esse crescimento intelectual está diretamente relacionado ao que Perry descreveu como estágios de desenvolvimento cognitivo. Na primeira fase, os estudantes tendem a ver o conhecimento de forma binária – certo ou errado – com pouca tolerância para a ambiguidade ou a incerteza. Essa visão é muito comum em estudantes que, ainda imaturos, acreditam que o papel do professor é fornecer respostas e que o conhecimento é uma coleção de fatos a serem memorizados. Contudo, à medida que são desafiados a questionar e justificar suas respostas, os alunos começam a transitar para uma visão mais relativista do conhecimento, onde diferentes perspectivas e opiniões ganham validade. Eles aprendem que o conhecimento não é absoluto, mas sim interpretado de acordo com contextos e evidências específicas.

Nesse estágio, o papel do professor se transforma. De autoridade, ele passa a ser um guia, auxiliando os alunos a desenvolver suas habilidades analíticas e a interagir de maneira crítica com o conteúdo. Essa mudança, embora fundamental para o desenvolvimento acadêmico, também pode ser frustrante para os alunos, que percebem as limitações de qualquer teoria ou perspectiva. Porém, o desenvolvimento continua quando os alunos começam a adotar compromissos provisórios com determinadas teorias ou abordagens, cientes de que seu entendimento está em constante evolução.

No entanto, esse processo não se limita ao desenvolvimento cognitivo. As questões morais também são afetadas por esse trajeto de desenvolvimento, como demonstram os trabalhos de Kohlberg e Gilligan. À medida que os alunos amadurecem intelectualmente, suas posições morais também se tornam mais complexas. O desenvolvimento moral não é desvinculado do aprendizado acadêmico, pois as questões éticas muitas vezes exigem que os alunos analisem as situações de maneira mais crítica, levando em consideração uma variedade de fatores e perspectivas antes de tomar uma decisão.

O que importa aqui é compreender que o desenvolvimento intelectual e pessoal são interdependentes. A medida em que os alunos amadurecem emocionalmente e se tornam mais seguros de sua identidade, eles são mais capazes de desafiar as ideias estabelecidas, argumentar de forma construtiva e, finalmente, construir um conhecimento mais rico e profundo. Por isso, é crucial criar um ambiente de aprendizagem que permita a experimentação de diferentes perspectivas e que aceite a complexidade das interações humanas. A verdadeira aprendizagem não acontece em um espaço estéril, onde as opiniões são unânimes e os desafios são descartados. Ela ocorre onde há a liberdade de questionar, de discordar e, acima de tudo, de crescer.