O parâmetro pp representa a proporção de indivíduos em uma população que apresenta uma característica específica de estudo, enquanto qq é a proporção de indivíduos sem essa característica, ou seja, q=1pq = 1 - p. Frequentemente, esses dados são desconhecidos, e é comum assumir-se que p=q=0,5p = q = 0,5, especialmente quando o desvio padrão não é conhecido. Esta equação é aplicável quando se pressupõe uma distribuição normal para a variável de interesse.

Quando se trata de variáveis que dependem apenas da tecnologia dos veículos, as equações 4.1 a 4.4 são usadas para calcular o número de veículos necessários para garantir que o valor experimental da variável de interesse, obtido com uma amostra reduzida, represente com precisão o valor da variável de interesse para toda a população. De acordo com as equações mencionadas, quanto maior o tamanho da amostra, menor será a margem de erro (e). Além disso, a equação 4.4 se torna insensível ao tamanho da população NN quando este ultrapassa cerca de 7.500. Para populações maiores que esse valor, com um nível de confiança de 95% (α) e um erro relativo de e<10%e < 10\%, a equação estima que são necessários apenas 68 veículos para assegurar a representatividade em cada categoria de veículos, desde que a variável de interesse siga uma distribuição normal.

No entanto, no caso dos veículos, o uso da equação 4.4 apresenta várias implicações importantes. Primeiramente, a suposição de que existe uma única distribuição para a variável de interesse é incomum quando se trata de veículos. Um exemplo disso é mostrado na Figura 4.4, que ilustra as distribuições de frequência do consumo de combustível de caminhões de 54 toneladas utilizados para transporte de carga no México, sob condições normais de uso. Essa distribuição não segue uma forma normal. A falta de uniformidade nos resultados é explicada pela variação da variável de interesse, que depende de vários fatores influenciadores, como o peso do veículo (Figura 4.4c) e o ano do modelo (Figura 4.4b).

Portanto, ao invés de aplicar a equação 4.4 para toda a população de veículos, onde a variável de interesse não apresenta uma distribuição normal, ela deve ser utilizada separadamente para cada categoria de veículos em que a variável de interesse exibe uma distribuição normal. Por exemplo, em vez de aplicar a equação 4.4 para toda a população de caminhões HDV de 54 toneladas, pode-se aplicá-la para categorias específicas, como os caminhões a diesel ou a GNV, ou ainda dividir as categorias de veículos por ano de modelo.

Outra alternativa seria modificar a variável de interesse para eliminar os efeitos dos fatores influenciadores. Por exemplo, o consumo de combustível pode ser ajustado em relação ao peso total do veículo, resultando em uma nova variável expressa em L/t.kmL/t.km, que agrupa diversas categorias de veículos.

Quando se trata de padrões de condução, não existe uma fórmula simples para quantificar o tamanho mínimo da amostra necessária. Primeiramente, é importante notar que os padrões de condução não são variáveis quantitativas, mas devem ser descritos por meio de uma combinação de parâmetros característicos, como velocidade, aceleração e tempo de marcha lenta. Esses padrões de condução são influenciados pela tecnologia do veículo, pelos hábitos do motorista e por fatores externos, como as condições da rota e do clima. Isso significa que uma amostra combina o veículo, o motorista e a rota, sob condições externas específicas.

Portanto, a questão central é quantas combinações dessas quatro variáveis são necessárias para representar adequadamente os padrões de condução existentes na região em questão. Porém, a resposta a essa questão se torna rapidamente óbvia: qualquer tamanho de amostra realista, considerando a tecnologia atual, terá um nível de representatividade baixo e desconhecido. Por isso, os pesquisadores definem o tamanho da amostra com base nas limitações de tempo e recursos econômicos, incluindo o maior número possível de veículos e motoristas, além de estender as campanhas de monitoramento para cobrir o máximo de condições externas.

Por fim, a instrumentação dos veículos selecionados para o monitoramento é uma etapa fundamental. A monitoração da localização, velocidade e altitude dos veículos a uma frequência de 1 Hz é importante para capturar os padrões de condução em uma dada região. Além disso, a medição instantânea de consumo de combustível ou de energia é altamente desejável. No futuro próximo, novas variáveis serão necessárias, como o peso da carga transportada e as emissões do escapamento, que devem ser incorporadas às campanhas de monitoramento.

O uso de sistemas de posicionamento global (GPS) se destaca como a tecnologia mais comumente utilizada para monitorar a localização e a velocidade dos veículos. Desde a liberação dos GPS para uso civil em 2000, e a subsequente melhoria com os GPS diferenciais, a precisão de localização foi aprimorada de metros para poucos centímetros, oferecendo a resolução espacial necessária para aplicações práticas, como a descrição de padrões de condução. Esses sistemas têm o benefício de serem não invasivos e discretos, de modo que não afetam os hábitos do motorista. A tecnologia GPS também se tornou mais acessível ao longo dos anos, com preços variando de algumas centenas a poucos milhares de dólares, dependendo da resolução necessária.

Por outro lado, a monitoração de altitude também é relevante em regiões com grandes variações de altitude, como em muitos países da América Latina. A tecnologia GPS pode fornecer dados sobre a altitude, embora com precisão limitada, o que pode ser um desafio em estudos que envolvem grandes variações de relevo.

Como os Padrões de Condução São Descritos Através de Distribuições de Velocidade-Aceleração e Potência Específica do Veículo

O comportamento de condução de veículos pode ser descrito de diversas maneiras, com base em parâmetros como aceleração, velocidade e padrões de consumo de combustível. A partir de distribuições estatísticas de velocidade e aceleração (SAPD, na sigla em inglês), é possível identificar diferentes modos operacionais de um veículo, fornecendo uma visão detalhada sobre os hábitos de direção e sua relação com o consumo energético. Esses modos podem ser classificados de várias formas, dependendo da combinação de velocidade e aceleração, além das condições específicas do terreno e da configuração do trajeto.

A aceleração, um processo contínuo, ocorre sempre que a aceleração do veículo é superior a 0,15 m/s². Já a desaceleração se caracteriza pela aceleração do veículo sendo inferior a −0,15 m/s². Entre esses dois extremos, o modo de cruzeiro é definido por uma aceleração que permanece abaixo de 0,15 m/s², enquanto o veículo continua a se mover a uma velocidade não nula. Outro comportamento relevante é o "creeping", um modo de operação onde a velocidade do veículo fica entre 0 e 5 km/h, excluindo a velocidade zero, o que é comum em condições de tráfego denso ou ao realizar manobras em baixas velocidades.

Além disso, é possível classificar as zonas de operação em diferentes intervalos de velocidade. Por exemplo, a zona de baixa velocidade (v < 20 km/h), a zona de baixa a média velocidade (20 < v < 40 km/h), a zona de média velocidade (40 < v < 60 km/h), a zona de média a alta velocidade (60 < v < 80 km/h), e a zona de alta velocidade (v > 80 km/h). Esses intervalos ajudam a categorizar o tipo de operação de um veículo, de acordo com a sua velocidade, e facilitam a análise de padrões de condução sob diferentes condições de tráfego.

As distribuições de frequência de velocidade e aceleração (SAFD) são úteis para descrever com precisão os padrões de condução. Elas revelam o tempo total gasto pelo veículo em cada intervalo de velocidade e aceleração, e ao serem normalizadas, podem se transformar na Distribuição de Probabilidade de Velocidade-Aceleração (SAPD). Cada bin de velocidade e aceleração torna-se, assim, um modo operacional específico. Essa abordagem oferece uma visão detalhada do comportamento do motorista e das condições de operação do veículo, além de ser uma ferramenta eficaz para a análise de estilos de direção.

O conceito de agressividade ao volante também pode ser analisado por meio da SAPD. Regiões com acelerações e desacelerações agressivas podem ser identificadas, e a agressividade do motorista é determinada pela fração total de tempo em que o veículo permanece nessas áreas agressivas. Esse comportamento pode ser quantificado observando-se uma amostra de motoristas e identificando o percentil de 75% das acelerações ou desacelerações para uma determinada velocidade. Alternativamente, pode-se usar os bins com o maior consumo de combustível como indicativo de uma condução mais agressiva.

Embora se possa supor que os bins de velocidade e aceleração da SAPD estejam diretamente ligados às condições operacionais do motor, como o torque do motor (τe) e a rotação do motor (RPM), essa conexão não é simples. Isso ocorre porque a relação entre a velocidade do veículo (s) e a rotação do motor depende da relação de transmissão (NTD), que varia durante a operação do veículo. Isso quebra a relação direta entre esses parâmetros. Contudo, essa conexão pode ser útil para separar os fatores tecnológicos dos outros fatores que influenciam os padrões de condução, o que será discutido em detalhes em capítulos posteriores.

Outro parâmetro importante para descrever os padrões de condução é a Potência Específica do Veículo (VSP). A VSP é a razão entre a potência demandada ao motor e a massa total do veículo. Embora alguns estudos utilizem a potência nas rodas do veículo, a definição mais comum e aplicável na avaliação de desempenho energético do veículo é a potência exigida pelo motor. A diferença entre essas duas definições é relacionada às perdas de energia no sistema de transmissão, mas essa distinção, embora importante, não altera substancialmente a análise de consumo energético.

A distribuição típica de frequência da VSP, observada durante a operação de veículos, reflete as condições dinâmicas e as forças que atuam no veículo, como a resistência ao rolamento, o arrasto aerodinâmico e a força gravitacional, que se opõem ao movimento do veículo. A força de tração necessária para superar essas resistências e as forças inerciais de aceleração é fornecida pelo motor do veículo, sendo essa relação fundamental para entender o desempenho do veículo em termos de consumo de combustível e eficiência energética.

Através da análise da VSP e da distribuição de tempo e aceleração associada, podemos deduzir modelos matemáticos para estimar a potência exigida pelo motor e, consequentemente, entender melhor os padrões de consumo e as condições operacionais de um veículo. Esses modelos têm sido fundamentais para o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes e para a implementação de estratégias que visem a redução do impacto ambiental e a melhoria no consumo energético dos veículos.

Além disso, a compreensão desses padrões pode ter implicações práticas para a operação de frotas de veículos. Por exemplo, ao observar as distribuições SAPD de uma frota de ônibus, como a linha entre Cidade do México e Toluca, é possível identificar diferentes modos de operação urbana e montanhosa. Esses padrões podem ser usados para otimizar o desempenho de veículos em diferentes trajetos, melhorar a manutenção preventiva e até mesmo aprimorar o treinamento dos motoristas, garantindo maior eficiência e redução de custos operacionais.