O amplificador de carga com compensação e amplificador de corrente desempenham papéis fundamentais na definição do tipo de sinal de entrada que um formador de pulsos (shaper) irá processar. Dependendo da escolha do amplificador, o formador de pulsos pode ser projetado para aceitar um sinal de corrente ou de tensão. O processo de formação do sinal começa com um amplificador de baixo ruído, geralmente seguido por um filtro, que é o formador de pulsos. Este componente é responsável por moldar o evento com um pulso de forma definida e duração finita, denominada "largura", que depende das constantes de tempo e do número de polos na função de transferência.

A principal função do formador de pulsos é dupla: primeiro, ele limita a largura de banda para maximizar a relação sinal-ruído; segundo, restringe a largura do pulso, considerando a necessidade de processar o próximo evento. Diversos cálculos foram realizados para otimizar a forma do pulso, levando em conta as densidades espectrais de ruído e as limitações do sistema, como a potência disponível e a taxa de contagem. A resposta temporal do sistema é ajustada para otimizar a medição da magnitude do sinal, o tempo de detecção e a taxa de eventos. O resultado do processo de formação de sinais é um pulso cuja área é proporcional à carga original do sinal, ou seja, à energia depositada no detector.

A tarefa do formador de pulsos é transformar um pulso de corrente estreito do detector em um pulso mais amplo, o que reduz o ruído eletrônico, além de gerar um pico gradual na forma do pulso para facilitar a medição da amplitude. A solução para uma formação de sinal eficaz, que ao mesmo tempo maximize a taxa de contagem do canal, deve ser aplicada adequadamente. Embora os formadores ótimos sejam difíceis de realizar, eles podem ser aproximados com resultados próximos da solução ideal, utilizando processadores analógicos ou digitais, sendo que os processadores digitais exigem conversão de sinal analógico para digital (com a necessidade de um filtro anti-aliasing). No domínio analógico, o formador de pulsos pode ser implementado utilizando soluções temporais variantes que limitam a largura do pulso através de um retorno controlado à linha de base ou por soluções invariantes no tempo, que restringem a largura do pulso por meio de uma configuração adequada de polos. Esta última solução é discutida com mais profundidade devido à sua capacidade de minimizar a atividade digital nos canais front-end.

No canal front-end, o formador de pulsos invariantes ao tempo responde a um evento com um pulso analógico, cuja amplitude de pico é proporcional à carga do evento, Q. A largura do pulso, ou o tempo para retornar à linha de base após o pico, depende da largura de banda (ou seja, das constantes de tempo) e da configuração dos polos. Os formadores de pulsos unipolares invariantes ao tempo mais populares são realizados usando vários polos reais coincidentes ou com uma combinação específica de polos reais e conjugados complexos. O número de polos, n, define a ordem do formador. Às vezes, os projetistas preferem utilizar formadores bipolares, que são alcançados aplicando uma diferenciação aos formadores unipolares (a ordem do formador passa a ser n-1). Os formadores bipolares podem ser vantajosos para aplicações de alta taxa, mas com o custo de uma pior relação sinal-ruído.

Em um sistema típico de leitura, o tempo de formação pode variar de vários nanossegundos a microssegundos, dependendo da aplicação. O tempo de formação é definido como o tempo equivalente ao desvio padrão do pulso de saída gaussiano. Nos laboratórios, a largura total do pulso a meio de seu valor máximo (FWHM) é geralmente medida. O componente DC do formador de pulsos, a partir do qual o sinal se desvia, é referido como a linha de base de saída. Como a maioria dos extratores processa a amplitude absoluta dos pulsos, que reflete a superposição da linha de base e do sinal, é fundamental referenciar e estabilizar adequadamente a linha de base de saída. Linhas de base não estabilizadas podem flutuar por vários motivos, como mudanças de temperatura, corrente de vazamento de pixel, fonte de alimentação, ruído de baixa frequência e taxa instantânea de eventos. Linhas de base não referenciadas também podem limitar severamente a dinâmica e/ou a linearidade da eletrônica do front-end, especialmente em formadores de alta amplificação, onde a linha de base de saída pode se aproximar de um dos dois trilhos, dependendo dos deslocamentos nas primeiras etapas.

A detecção do pulso de entrada, ampliado pelo processo de formação, precisa ser feita em relação a um valor de limiar estabelecido. O nível de limiar é um parâmetro crítico que determina se o evento será reconhecido como um evento real ou uma leitura falsa causada por ruído. Por isso, o valor do limiar é tipicamente ajustável, tanto globalmente quanto no nível de pixel. O valor de detecção do pico determina a informação sobre o nível de energia. Uma solução para evitar o desvio térmico do detector de pico precisa ser aplicada. O detector de pico (PD) é um dos blocos críticos no sistema de detecção de sinal de radiação, pois a energia precisa do fóton é determinada pela amplitude do pico detectado. Os PDs padrão podem ser amostrados ou assíncronos. Os PDs amostrados são mais precisos, mas sofrem com maior complexidade de circuito e dissipaçâo de potência. Já os PDs assíncronos têm estrutura mais simples, mas sofrem com menor precisão na saída.

No caso da espectroscopia ROIC, todos os canais paralelos do ROIC de leitura precisam ter seus sinais multiplexados na saída antes de serem enviados para um conversor analógico-digital (ADC) externo. O requisito chave para o multiplexamento de canais e a formação de sinais é uma taxa máxima de contagem do canal, determinada pela aplicação específica.

Em qualquer sistema de detecção real, para diferenciar com precisão dois eventos, um tempo mínimo separando esses eventos é necessário. Esse tempo mínimo é denominado como o tempo morto (τ) do sistema. O comportamento exato de um detector, quando um ou múltiplos eventos ocorrem dentro do tempo morto estabelecido por um evento anterior, é ditado pela arquitetura do sistema e pode depender dos processos físicos no sensor ou dos atrasos na cadeia de processamento de pulsos ou na eletrônica de leitura. Durante essas condições, dois fenômenos estreitamente relacionados são frequentemente considerados: pile-up e perda de contagem.

O pile-up ocorre quando o pulso induzido pela leitura de um evento interage temporalmente com o pulso de outro evento. Isso é ilustrado na Figura 4.8, onde o gráfico superior mostra os pulsos de corrente gerados pelos fótons que interagem com o sensor (os eventos), e o gráfico inferior mostra os pulsos de tensão correspondentes observados na saída do formador de pulsos. Para os primeiros três eventos, não ocorre sobreposição temporal, e cada pulso, tanto em existência (contagem) quanto na altura do pulso (determinação da energia), é facilmente distinguível. No entanto, para os pulsos quatro e cinco, os dois eventos interagem temporariamente, e o efeito líquido é a superposição das alturas dos pulsos. O resultado final será uma convolução dos dois pulsos, resultando em um erro na determinação da energia. Para detectores que não discriminam energia, isso em si não seria um problema, apenas a perda de contagem seria uma preocupação. Porém, para detectores que discriminam energia, como os usados em PCCT espectral, isso levaria a uma distorção na resposta espectral medida. O efeito de pile-up é ilustrado tradicionalmente de forma analógica, onde a constante de tempo da leitura frequentemente define a limitação para o início do pile-up (tempo de resolução do pile-up) e dita as taxas máximas de contagem permitidas antes que ocorra uma distorção espectral.

Como o design do sensor em SPECT influencia a resolução e eficiência do detector?

O desempenho de sistemas SPECT baseados em conversão direta depende profundamente do design do sensor, especialmente do material CdZnTe (CZT), amplamente utilizado por sua capacidade de fabricar detectores com espessuras entre 5 e 10 mm, necessárias para uma absorção eficiente dos fótons Tc99m de 140 keV. Dois parâmetros cruciais definem a performance do sensor CZT: o pitch do pixel e a espessura do sensor. Embora a ideia de diminuir o pitch para melhorar a resolução espacial pareça intuitiva, a realidade da física e da eletrônica limita esse caminho.

O SPECT é uma modalidade “pobre em fótons”. O paciente, o próprio meio de colimação mecânica e o processo de absorção dispersam e rejeitam muitos fótons, reduzindo o número de eventos detectados a dezenas ou centenas de fótons por segundo por mm². Esse baixo fluxo torna a reconstrução da imagem um desafio, exigindo longos tempos de aquisição para garantir qualidade suficiente. Mesmo com os avanços da conversão direta, que reduz o tempo de exames para 2-3 minutos, isso permanece significativamente maior que o necessário em tomografia computadorizada.

Diminuir o pitch do pixel implica, porém, um aumento exponencial no número de canais eletrônicos do circuito integrado de leitura (ROIC). Além de amplificar o consumo energético e o aquecimento do sensor, isso aumenta a ocorrência de compartilhamento de carga entre pixels adjacentes. Tal fenômeno provoca erros na determinação da energia dos fótons, degradando a resolução espectral e afetando a qualidade da imagem final. Portanto, a indústria adotou um padrão prático de pitch em torno de 2,5 mm para sensores CZT em SPECT, balanceando resolução espacial, eficiência e limitações eletrônicas.

Outro aspecto fundamental é o design do colimador e sua interação com o sensor. A largura das septas (divisórias) deve ser maior que a largura da rua (espaço entre pixels) acrescida de duas vezes o raio da nuvem de carga gerada pelo fóton incidente, para evitar perda de carga e erros energéticos. O raio da nuvem de carga é da ordem de 150 μm para sensores de 6-7 mm de espessura. Esse critério rígido considera a tolerância para desalinhamentos, que inevitavelmente ocorrem na fabricação, reduzindo ainda mais a margem para a largura ideal das ruas. Assim, a largura das ruas deve ser minimizada dentro dos limites das técnicas de fotolitografia e dos efeitos de crosstalk, enquanto a largura das septas deve sempre ser cuidadosamente dimensionada para conter a dispersão da carga.

O impacto da espessura do sensor no desempenho é igualmente significativo. Ao aumentar a espessura do CZT de 5 para 6 mm, a eficiência quântica do detector (DQE) pode melhorar em cerca de 10%, o que, embora pareça modesto, traduz-se em ganhos clínicos importantes, como melhor detecção e qualidade da imagem. Além disso, a espessura maior contribui para uma melhora marginal na resolução espectral devido ao efeito de “pixel pequeno” aprimorado, reduzindo ruídos e imprecisões na medição da energia dos fótons. Para isótopos emissores de fótons de energia mais alta, sensores com até 10 mm de espessura são necessários, garantindo adequada absorção e sensibilidade.

Por fim, mesmo em condições ideais de passivação, a interferência causada pelo compartilhamento de carga não pode ser totalmente eliminada, exigindo estratégias eletrônicas sofisticadas no ROIC para correção. Contudo, essas correções são limitadas pelo limiar dos canais de detecção e pela multiplicação do ruído que deteriora a resolução energética. Portanto, o limiar deve ser configurado baixo e a resolução energética do evento único, muito alta, para que a correção do compartilhamento de carga funcione adequadamente.

É fundamental que o leitor compreenda que o equilíbrio entre o design do sensor (pitch e espessura), o colimador e a eletrônica de leitura define os limites de performance do sistema SPECT. Não se trata apenas de maximizar um parâmetro, mas de entender a interação complexa entre características físicas do detector, limitações eletrônicas e restrições práticas de fabricação. Só assim a imagem clínica poderá ser otimizada, reduzindo tempo de exame, aumentando a qualidade da detecção e mantendo a integridade da informação energética dos fótons.

Qual é o impacto da atenuação e da resolução energética nos detectores diretos por conversão CZT?

A absorção dos fótons de raios X depende fortemente da composição e espessura do meio atravessado. Uma camada de 5 cm de água, por exemplo, atenua cerca de 20% do sinal de raios X a 30 keV, e até 60% a 120 keV. Camadas da mesma espessura de proteína, gordura (lipídio) e osso produzem uma atenuação qualitativamente semelhante, porém o osso apresenta uma absorção notavelmente maior. Esse comportamento é explicado pelas diferenças entre os coeficientes de atenuação linear, onde o osso, devido à sua densidade e composição mineralizada, exibe os valores mais altos.

Os coeficientes utilizados para esses cálculos derivam de tabelas do NIST e das recomendações do ICRU-44, que fornece dados de referência sobre tecidos humanos como gordura (tecido adiposo), músculo esquelético (proteína) e osso cortical. Essas propriedades influenciam diretamente a forma como os tecidos interagem com os fótons, e, por consequência, a qualidade e a precisão da imagem obtida em sistemas de tomografia espectral.

A performance dos sistemas de detecção por conversão direta, como os baseados em cristais de telureto de cádmio e zinco (CZT), está intrinsecamente ligada à resolução energética do sensor. Esta resolução — tipicamente entre 6 e 12 keV — determina a capacidade do detector de discriminar os fótons com base em sua energia individual. No entanto, uma resolução energética finita induz o alargamento dos bins espectrais. Isso tem como consequência a perda das características espectrais discretas, como os picos característicos da radiação de tungstênio, especialmente quando a resolução energética ultrapassa os 6 keV.

O espectro absorvido, quando simulado com diferentes tecidos interpostos entre a fonte e o detector, mostra claramente o efeito desse alargamento: os detalhes finos se perdem, tornando mais difícil a separação entre materiais com propriedades de atenuação semelhantes. Esse fenômeno impõe um limite técnico relevante à capacidade dos detectores CZT de operar como verdadeiros contadores de fótons em alta fidelidade.

A geração de imagem por raios X permanece uma das modalidades mais estabelecidas da radiologia diagnóstica desde sua descoberta por Röntgen em 1895. A evolução dos equipamentos permitiu o desenvolvimento de sistemas tridimensionais como a tomografia computadorizada (CT), que hoje são onipresentes nos hospitais modernos. A natureza da radiação X — fótons de alta energia que sofrem pouca dispersão ao atravessar os tecidos — favorece a abordagem por transmissão, com base na análise da absorção diferencial.

Nos detectores de conversão direta, a energia do fóton é convertida imediatamente em carga elétrica, sem etapas intermediárias como a emissão de luz visível, presente em detectores convencionais de cintilação. Esta conversão direta oferece vantagens como melhor resolução espacial e energética, além de maior eficiência de detecção, sobretudo para energias moderadas. No entanto, o desempenho ainda é limitado pela eletrônica associada (ASICs) e pelas imperfeições cristalinas dos sensores CZT.

A precisão do sistema pode ser prejudicada não apenas por essa resolução limitada, mas também por efeitos como o charge sharing, pulse pile-up e a recombinação incompleta das cargas geradas. Esses fenômenos tornam-se particularmente relevantes em regimes de alta taxa de contagem de fótons, comuns em aplicações clínicas ou industriais de alto desempenho.

A escolha dos materiais do detector deve levar em conta a energia dos fótons a serem detectados. Detectores ideais apresentariam eficiência próxima de 100%, alta resolução espacial, temporal e energética — qualidades que raramente coexistem em um único projeto. Por isso, há sempre um compromisso entre sensibilidade, resolução e custo. Em aplicações específicas, pode ser mais vantajoso sacrificar a resolução espacial em prol da capacidade espectral, especialmente em tomografia espectral onde a diferenciação de materiais com base na atenuação dependente da energia é essencial.

A tecnologia CZT, embora não represente uma solução definitiva, marca um ponto de inflexão na transição da radiografia convencional para um novo paradigma de imagem — tão revolucionário quanto a transição da televisão em preto e branco para a colorida. Ao explorar a resposta energética dos tecidos e a interação com os fótons de diferentes energias, abre-se caminho para diagnósticos mais precisos, diferenciação mais clara entre tecidos patológicos e normais, e uma redução na dose necessária de radiação, tudo isso mantendo ou mesmo elevando a qualidade da imagem obtida.

É crucial compreender que a fidelidade espectral dos detectores afeta diretamente a capacidade de distinguir materiais com propriedades físicas semelhantes. A tomografia espectral só atinge seu potencial máximo quando os detectores podem discernir pequenas diferenças na atenuação em múltiplas faixas de energia. A compreensão profunda da física envolvida na atenuação, nos coeficientes lineares e na resposta do detector permite ao projetista de sistemas, ao físico médico e ao radiologista interpretar corretamente as imagens e otimizar os parâmetros do exame conforme o contexto clínico.