Em 2011 e 2012, o movimento para enfraquecer os direitos de negociação coletiva no setor público nos Estados Unidos foi notavelmente impulsionado por uma aliança estratégica entre três organizações influentes: ALEC (American Legislative Exchange Council), SPN (State Policy Network) e AFP (Americans for Prosperity). O conceito de "triângulo da direita" captura a interação entre essas entidades, que, através de suas ações coordenadas, desempenharam um papel central na promulgação de leis que restringiam os direitos de barganha coletiva dos trabalhadores públicos.

O ponto de partida de qualquer análise sobre a força e a coordenação desse triângulo de direita é a compreensão do seu impacto nas legislações estaduais. A força do triângulo não se reflete apenas nas conexões institucionais entre os membros dessas organizações, mas também na maneira como essas conexões se manifestam em ações legislativas. Por exemplo, o indicador de conexão entre SPN e ALEC revela que estados com laços mais fortes com o ALEC, como o Arizona, estavam melhor posicionados para implementar políticas contra a negociação coletiva dos funcionários públicos. Em estados com uma presença mais forte dessas organizações, o impulso para a redução dos direitos trabalhistas se intensificava.

A relação entre o fortalecimento do triângulo e a aprovação de cortes nos direitos de negociação coletiva dos trabalhadores públicos é clara. De fato, um estudo que classificou os estados com base na força e coordenação do triângulo da direita mostrou que os estados com maior envolvimento dessas organizações tinham mais chances de adotar leis que cortavam os direitos de negociação coletiva. Por outro lado, os estados com uma presença fraca do triângulo praticamente não implementaram tais mudanças legislativas.

Mesmo assim, é preciso avaliar se essa relação é explicada apenas pelo controle partidário. Em muitos estados, o Partido Republicano dominava as instituições estaduais, e isso, de fato, teve um impacto significativo na implementação dessas políticas. No entanto, o controle partidário sozinho não explica toda a história. Dentro dos estados controlados pelos republicanos, aqueles com maior força do triângulo de direita eram mais propensos a aprovar leis que restringiam os direitos de negociação coletiva. Isso sugere que a atuação estratégica do ALEC, SPN e AFP foi determinante para impulsionar essas reformas, independentemente do controle partidário.

A influência do triângulo de direita vai além do controle partidário, estendendo-se à falta de suporte da opinião pública como um fator motivador. Embora em alguns estados houvesse um apoio visível a cortes nos direitos de negociação coletiva, como em New Hampshire, esse apoio público não teve uma correlação direta com a aprovação das leis. A ideia de que os eleitores impulsionam tais mudanças não se confirmou, pois os estados com níveis baixos e altos de apoio público implementaram cortes de forma semelhante. Isso indica que a dinâmica de poder por trás dessas reformas não era em grande parte determinada por uma pressão popular, mas por uma atuação articulada das organizações do triângulo de direita.

Em um nível mais prático, muitas vezes os defensores desses cortes justificavam as reformas com base em questões fiscais. Argumentava-se que, ao reduzir os direitos dos trabalhadores públicos, seria possível aliviar as finanças estaduais, uma narrativa reforçada por figuras como o governador Scott Walker, de Wisconsin. No entanto, os dados mostram que o estado fiscal não foi um determinante crucial para a adoção dessas reformas. Ao analisar a balança orçamentária dos estados, fica evidente que não há uma correlação direta entre a situação fiscal do estado e a aprovação de cortes nos direitos de negociação coletiva. O que realmente influenciou foi a presença e a ação do triângulo da direita.

Além disso, é importante notar que os estados com maior impacto dessas organizações também foram os primeiros a adaptar suas estratégias de acordo com os objetivos do triângulo, indo além da simples mudança de políticas para um movimento contínuo de enfraquecimento da capacidade sindical. Essas mudanças não ocorreram apenas em resposta à pressão fiscal ou à opinião pública, mas como parte de um esforço mais amplo e coordenado para reformular as políticas trabalhistas a nível nacional.

Um aspecto relevante é que, apesar da crescente coordenação entre essas entidades, a resistência aos seus avanços também cresceu em várias regiões, indicando que a luta em torno dos direitos de negociação coletiva não é unilateral. A oposição, muitas vezes oriunda de sindicatos e de uma parte da opinião pública, também exerceu pressão em alguns estados, atrasando ou revertendo certas reformas. Contudo, a mobilização dessas três organizações e suas táticas eficientes de lobby nas legislaturas estaduais foram decisivas para o sucesso das reformas em uma série de estados, destacando a complexa interação entre política partidária, interesses corporativos e as reações sociais em torno das políticas trabalhistas.

Por que os Esforços da Esquerda para Combater a Troika Fracassaram?

A história da Troika, composta por organizações como o ALEC (Conselho Legislativo Americano), o SPN (Rede de Políticas Estaduais) e o AFP (Americanos por Prosperidade), demonstra como uma série de grupos conservadores construíram uma infraestrutura robusta para implementar sua agenda política nos Estados Unidos. Em contraste, as tentativas da esquerda de criar uma estrutura equivalente de resistência têm sido limitadas, muitas vezes resultando em falhas ou em organizações fragmentadas e efêmeras.

A Troika, ao longo das décadas, se estabeleceu de maneira sólida em nível estadual, conseguindo influenciar as políticas locais de uma forma que desafiou o sistema tradicional de governança. Seus esforços se concentraram, muitas vezes, em expandir o poder político dos conservadores, por meio da construção de uma rede de organizações com um claro objetivo: transformar os estados em laboratórios para a implementação de políticas neoliberais. Um dos exemplos mais notáveis disso foi a oposição veemente da Troika à expansão do Medicaid, uma medida crucial para a ampliação da cobertura de saúde para a população de baixa renda. Essa oposição, em última instância, significou que milhões de americanos pobres ficaram sem acesso à cobertura de saúde, o que sublinhou o impacto significativo que essas organizações podem ter na vida dos cidadãos, dependendo de onde vivem.

Mas, mais do que isso, a Troika conseguiu operar sem grandes obstáculos, especialmente após enfraquecer e desmobilizar os sindicatos, um dos maiores contrapesos políticos e sociais de sua agenda. Em algumas situações, como no caso da expansão do Medicaid, pode-se observar que até mesmo grandes setores empresariais expressaram oposição à Troika. Contudo, essa resistência foi esporádica e muitas vezes sem grande impacto. Isso levanta uma questão importante: onde está a resistência organizada da esquerda?

A resposta a essa pergunta envolve uma análise detalhada da história das tentativas de construir uma resistência progressista. A esquerda, por décadas, foi incapaz de construir uma infraestrutura de lobbying que pudesse competir com a sólida rede de organizações conservadoras. Embora diversas tentativas tenham sido feitas desde a década de 1970 para criar alternativas que desafiassem a Troika, poucas dessas iniciativas perduraram. De acordo com dados recentes, apenas cinco das dez principais organizações progressistas que tentaram se posicionar contra a Troika permanecem em funcionamento.

O fracasso da esquerda em criar uma rede nacional de resistência pode ser atribuído a dois fatores principais. Primeiro, os líderes progressistas subestimaram a capacidade organizacional e a estratégia das forças conservadoras, que, já nos anos 70, perceberam que poderiam avançar de maneira mais eficaz construindo suas próprias redes estaduais, ao invés de operar dentro das redes bipartidárias tradicionais. A esquerda, por sua vez, demorou uma década para tentar criar alternativas explícitas. Mesmo quando os progressistas finalmente reconheceram a necessidade de fortalecer sua presença nos estados, enfrentaram um problema significativo: a falta de financiamento consistente para sustentar essas redes. Embora organizações progressistas tentassem organizar campanhas em nível estadual, os fundos sempre foram limitados e frequentemente dispersos, com grandes doadores e fundações preferindo apoiar causas no nível nacional ou em ações locais diretas.

Além disso, a atenção e os recursos dedicados aos estados pela esquerda tendiam a ser cíclicos, dependendo da mudança de governo no nível federal. Quando os Democratas estavam no poder em Washington, o interesse e os fundos para a organização estadual diminuíam, só para serem reativados quando a esquerda perdia o controle da presidência e do Congresso. Essas flutuações não ajudaram na criação de uma infraestrutura sólida e duradoura, como a que a Troika conseguiu estabelecer.

Por outro lado, as organizações progressistas frequentemente se fragmentavam devido à falta de uma visão unificada e à competição por recursos limitados. A disparidade entre a quantidade de organizações no lado conservador e os grupos da esquerda, que desapareceram ao longo do tempo, é visível no gráfico que ilustra a evolução dessas redes entre 1970 e 2018. Enquanto a Troika consolidou uma rede estável e eficaz, muitas iniciativas progressistas se diluíram, sem conseguir estabelecer um contraponto relevante.

Em suma, o fracasso da esquerda em criar uma resposta eficaz à Troika revela um desafio mais amplo: a dificuldade de se organizar de maneira coordenada em nível estadual, especialmente quando os recursos financeiros são escassos e a mobilização é intermitente. Para que a esquerda possa competir de forma eficaz com a infraestrutura da Troika, é necessário mais do que apenas uma reação pontual; é preciso uma estratégia a longo prazo, que envolva a construção de alianças, o comprometimento com o financiamento estável e a criação de uma infraestrutura sólida e sustentável.

A longo prazo, é fundamental entender que a mobilização política nos Estados Unidos, especialmente em nível estadual, exige mais do que um esforço isolado; ela precisa ser integrada a uma estratégia maior, que envolva tanto organizações locais quanto nacionais, e que seja apoiada por uma base de recursos financeiros consistente. A luta pela mudança política, como demonstrado pelas experiências da Troika e da esquerda, é um processo de construção institucional e de mobilização permanente.