O Extended Binary Coded Decimal Interchange Code (EBCDIC) é um sistema de codificação de caracteres que se destaca pela sua diferença fundamental em relação ao código interno utilizado nos computadores pessoais (PCs), o American Standard Code for Information Interchange (ASCII). Ambos foram definidos em organizações distintas durante a década de 1950 para representar caracteres alfanuméricos. Originalmente, ambos eram codificados com 6 bits, o que possibilitava a representação de 64 caracteres. Com o passar dos anos, ambos evoluíram para uma forma de 8 bits, permitindo a representação de até 256 caracteres.

A escolha entre EBCDIC e ASCII não se trata de qual sistema é "melhor", mas sim das necessidades específicas de cada contexto e sistema. A atribuição de significado às 256 combinações possíveis de 8 bits é arbitrária e depende da aplicação. No entanto, a troca entre essas duas formas de codificação não é simples, pois sistemas operacionais e softwares específicos podem ser fortemente dependentes da codificação de dados utilizada. Por exemplo, como visto na construção de árvores de índice binárias no AS/400, a estrutura do índice depende diretamente das configurações de bits utilizadas nos campos-chave. Se houvesse a mudança do EBCDIC para o ASCII, a estrutura da árvore seria alterada, o que poderia resultar em falhas no funcionamento de softwares que dependem da estrutura original.

Embora tanto o EBCDIC quanto o ASCII tenham evoluído para suportar 256 caracteres, nenhum deles é suficiente para representar linguagens nacionais como o japonês, que exige mais de 256 caracteres. A solução para essas limitações encontra-se na implementação de codificação de múltiplos bytes, como o Unicode, que foi progressivamente adotado no AS/400 desde a versão V3R1. Com o Unicode, dados podem ser codificados de maneira mais abrangente, permitindo a inclusão de caracteres de múltiplos idiomas. No entanto, a aceitação generalizada do Unicode ainda está em andamento, o que significa que, por ora, sistemas como o AS/400 continuam a operar com múltiplos esquemas de codificação e a realizar conversões entre eles quando necessário.

Em relação ao gerenciamento de arquivos, enquanto o acesso a arquivos em PCs segue uma estrutura simples de diretórios (diretório\subdiretório\arquivo), o AS/400 oferece diversas opções de armazenamento e acesso a dados, como o uso de bibliotecas e pastas compartilhadas. Através do Sistema de Arquivos Integrado, o AS/400 facilita o acesso aos dados tanto para aplicativos locais quanto para aqueles que estão no cliente, com a capacidade de mover dados entre diferentes sistemas de arquivos, automaticamente realizando a conversão de EBCDIC para ASCII quando necessário.

O gerenciamento de clientes é uma das funções mais valorizadas no AS/400, que se destaca pela sua capacidade robusta de suporte a sistemas, serviços e manutenção. Em muitas empresas, o custo de gerenciar PCs não é visível, já que os próprios usuários são responsáveis por gerenciar seus dispositivos. Contudo, em algumas situações, quando a habilidade do usuário é questionada, ou em empresas de maior porte, a gestão de PCs pode ser delegada a equipes especializadas. O AS/400, por outro lado, adota uma abordagem totalmente integrada para o gerenciamento de sistemas, englobando funções como administração de negócios, gestão de mudanças, configuração de recursos, gerenciamento de operações, gerenciamento de desempenho e resolução de problemas. Essas funções permitem uma administração eficiente, minimizando a necessidade de intervenção manual e tornando o sistema mais autossuficiente.

No que diz respeito ao gerenciamento de PCs, a AS/400 se destaca com o uso de ferramentas como o Client Access, que facilita o gerenciamento e manutenção de sistemas clientes. Funções como a atualização de PC (PC Update) permitem aplicar correções e novas versões de código automaticamente, sem a necessidade de interação do usuário. Além disso, a interface de gerenciamento de rede, como o Desktop Management Interface (DMI), permite que hardware e software comuniquem informações sobre o status de dispositivos, o que é essencial para manter a operação eficiente de sistemas distribuídos.

Importante observar que, ao utilizar essas ferramentas de gerenciamento, as empresas podem reduzir significativamente o custo com suporte de TI e minimizar os problemas de interoperabilidade entre diferentes sistemas. A utilização de ferramentas como o ManageWare para OS/400 simplifica a distribuição de atualizações de software, garantindo que todas as versões estejam sempre atualizadas. A integração com o AdStar Distributed Storage Manager (ADSM) também contribui para a otimização do gerenciamento de dados, automatizando operações de backup e recuperação, além de permitir uma configuração personalizada baseada em políticas estabelecidas pela empresa.

Em um ambiente corporativo, a capacidade de gerenciar e integrar sistemas de forma eficiente, seja em grandes mainframes como o AS/400 ou em redes distribuídas de PCs, é fundamental para o sucesso das operações. A integração de diversos sistemas, recursos e plataformas é um processo complexo, mas essencial para garantir que as operações empresariais não sejam interrompidas por falhas técnicas ou problemas de comunicação entre diferentes plataformas. O uso de ferramentas robustas, como as descritas, e a adoção de padrões como o Unicode e DMI, garantem que os sistemas possam se comunicar de maneira eficiente, suportando a crescente complexidade das operações digitais.

Como um sistema operacional pode sustentar múltiplas personalidades?

Chris Jones, junto com Bill Berg e Mike Tomashek, formulou o plano original para migrar o software aos processadores PowerPC e encontrou uma solução decisiva quando surgiram os desafios técnicos e humanos do projeto: trouxe um consultor externo, especialista em C++ e tecnologia orientada a objetos (OO). Algo inédito até então na cultura da IBM, que priorizava exclusivamente a formação interna. Após resistência inicial, a persistência de Chris convenceu a gerência a investir no treinamento externo. Durante seis semanas, uma equipe inteira foi imersa em um curso intensivo, ministrado em uma sala construída especialmente no centro da área de desenvolvimento. Este gesto simbolizava mais do que uma mudança metodológica — indicava uma transformação cultural no desenvolvimento de software da IBM.

A programação orientada a objetos, ao mesmo tempo que oferece uma poderosa capacidade de iteração no design, dificulta a medição do progresso. Para mitigar isso, foi introduzido o conceito de Bring Up Binds (BUBs): coleções de objetos que encapsulavam funcionalidades definidas do sistema operacional, testadas em conjunto com outros componentes. Com isso, tornou-se possível estabelecer marcos claros e verificáveis de avanço. Além de organizar a construção do sistema de forma escalonada, os BUBs representavam um compromisso entre agilidade iterativa e rastreabilidade de progresso — um equilíbrio crítico em projetos de grande escala como o SLIC.

A promessa de produtividade da OO foi cumprida de forma incontestável. Durante o desenvolvimento do SLIC, os programadores que adotaram a OO registraram um aumento de produtividade quatro vezes superior ao obtido com métodos tradicionais. O projeto produziu mais de um milhão de linhas de código C++ e sete mil classes, com um total superior a 2,5 milhões de linhas de código no sistema operacional. A escala e a complexidade do projeto só foram possíveis graças à estrutura modular e ao reuso promovido pela abordagem orientada a objetos.

Na década de 1980, começou a surgir a ideia de separar o núcleo (kernel) do restante do sistema operacional. Universidades como Carnegie Mellon lideraram essa mudança com o desenvolvimento do microkernel Mach, que implementava apenas as funções mais essenciais, compartilhadas entre diferentes sistemas operacionais. Isso permitia que múltiplos sistemas operacionais fossem executados simultaneamente sobre o mesmo kernel, compartilhando recursos e comunicando-se com eficiência. O conceito de "personalidades" — diferentes sistemas operacionais coexistindo sobre um microkernel comum — ganhou força.

Durante o desenvolvimento do SLIC, tornou-se claro que fazia sentido incorporar suporte a múltiplas personalidades operacionais. A base para isso já existia em projetos anteriores da IBM, como o LIC e o System/38, com sua arquitetura baseada em mensagens. Embora houvesse propostas para padronizar o uso do microkernel IBM derivado do Mach, a falta de uma implementação de 64 bits e as dúvidas quanto à sua escalabilidade tornaram inviável adotá-lo como base do SLIC naquele momento. Ainda assim, a equipe de Rochester foi encarregada de trabalhar nas extensões de 64 bits do microkernel, sinalizando a intenção futura de convergência.

Suportar múltiplos sistemas operacionais no kernel do SLIC não teria sentido sem um uso prático. A pergunta era: além do OS/400, qual outro sistema deveria ser suportado? Em 1993, em plena fase de desenvolvimento do SLIC, surgiu a proposta de revitalizar o System/36. Apesar da orientação oficial da IBM em migrar clientes do System/36 para o AS/400, muitos usuários permaneciam fiéis ao sistema original — estima-se que mais de 200 mil unidades ainda estivessem ativas. Produtos concorrentes tentaram preencher esse espaço, oferecendo “emulações” parciais que não reproduziam integralmente o ambiente esperado, exigindo adaptações complexas.

Foi então que um pequeno grupo de desenvolvedores veteranos do System/36, liderados por Dick Mustain e Steve Dahl, propôs a criação de uma nova versão do System/36 para rodar sobre a arquitetura RISC. A proposta, embora inicialmente recebida com ceticismo, encontrou apoio em gestores visionários que permitiram o nascimento de um skunkworks — uma célula informal e autônoma de desenvolvimento, protegida da burocracia e da pressão hierárquica. Em poucos meses, esse grupo secreto, liderado por Bob Schmidt, conseguiu fazer o System/36 operar sobre o novo processador RISC, demonstrando a viabilidade da ideia.

Essa abordagem de múltiplas personalidades não era apenas uma curiosidade técnica. Era uma estratégia deliberada para preservar o investimento dos clientes em aplicações existentes, mantendo sua fidelidade ao ecossistema IBM. Ao oferecer ambientes familiares sobre uma base moderna e poderosa como o SLIC, a IBM criou uma ponte entre o legado e o futuro, entre a estabilidade e a inovação.

É importante compreender que o sucesso do SLIC não foi apenas fruto de inovação técnica, mas de uma convergência rara entre engenharia disciplinada, visão estratégica e cultura organizacional adaptativa. O investimento em capacitação intensiva, a decisão de internalizar capacidades críticas como a OO, e a abertura à experimentação — mesmo sob risco político — moldaram um dos projetos mais ambiciosos de sistemas operacionais da história da IBM. O conceito de múltiplas personalidades antecipou, com notável precisão, desafios modernos como virtualização, contêineres e interoperabilidade de ambientes heterogêneos. A lição mais profunda, no entanto, está na compreensão de que a verdadeira inovação ocorre quando a arquitetura técnica é desenhada para servir tanto à herança quanto à possibilidade.