A pulsatilidade tem sido um conceito fundamental na compreensão dos sistemas circulatórios, tanto em organismos naturais quanto em sistemas mecânicos, como os dispositivos de assistência ventricular (MCS). A dinâmica da pulsação, que anteriormente era quantificada por parâmetros como pressão de pulso e índices de pulsatilidade, tem se mostrado ineficaz em dispositivos mecânicos, principalmente com o crescente uso de dispositivos cfLVAD (Continuous-flow Left Ventricular Assist Devices) para simular padrões de fluxo pulsátil. Esses dispositivos, ao contrário do que ocorre com o coração nativo, não conseguem reproduzir de forma exata os efeitos fisiológicos das ondas de pressão geradas pelo batimento cardíaco natural, o que coloca em questão a utilidade de métodos tradicionais para avaliar a pulsatilidade.

Pesquisas sobre as consequências hemodinâmicas da ausência de pulsação têm apontado a necessidade de novos métodos para avaliar a eficiência dos dispositivos de assistência cardíaca. Nesse contexto, conceitos como a pressão equivalente de energia (EEP) e a energia hemodinâmica excedente (SHE) foram introduzidos para uma quantificação mais precisa das energias hemodinâmicas associadas ao fluxo sanguíneo. A EEP é calculada a partir de um gradiente de energia, enquanto a SHE reflete a energia adicional fornecida ao sistema circulatório, levando em consideração que a EEP deve ser superior à pressão arterial média (AoP) em um fluxo pulsátil. Quando não há pulsação, a EEP se iguala à AoP, resultando em uma SHE de zero.

Esses novos parâmetros são fundamentais, pois permitem compreender as nuances do fluxo sanguíneo em um sistema mecânico. O fato de a SHE indicar a quantidade de energia adicional necessária para manter o fluxo com uma AoP média constante é relevante em casos de condições de fluxo reduzido, como ocorre em leitos vasculares comprometidos. Por exemplo, um sistema de baixa pressão pode não ser capaz de gerar fluxo adequado devido à falta de energia pulsátil, o que comprometeria o transporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos.

Para entender melhor as implicações desse conceito, pode-se observar o funcionamento de diferentes sistemas circulatórios de organismos. Nos invertebrados, como os moluscos, a circulação é predominantemente aberta, com o sangue (hemolinfa) fluindo livremente por sinuses e cavidades, sem a necessidade de uma pressão pulsátil complexa. Já nos artrópodes, como os insetos, o sistema circulatório apresenta um fluxo impulsionado por um vaso dorsal que, apesar de não gerar pulsação como o coração humano, utiliza uma combinação de contrações musculares para empurrar a hemolinfa em direção às extremidades do corpo.

Em contraste, nos vertebrados, a evolução do sistema circulatório levou ao desenvolvimento de corações com características mais complexas, como os de mamíferos e aves, que possuem corações de quatro câmaras e circulação dupla, sem mistura de sangue venoso e arterial. Isso permite um controle mais refinado do fluxo sanguíneo, que é altamente dependente da pulsação para garantir a distribuição adequada de oxigênio e nutrientes. A pulsatilidade, portanto, é um mecanismo vital para os vertebrados, já que sem ela o fluxo sanguíneo adequado aos tecidos seria prejudicado.

No entanto, quando se trata de dispositivos mecânicos como o LVAD de fluxo contínuo, a situação muda. Esses dispositivos não geram pulsação, mas buscam manter um fluxo sanguíneo constante através de um mecanismo de fluxo contínuo. Isso pode levar a dificuldades para manter a perfusão tecidual adequada, pois a falta de pulsação pode resultar em um fornecimento insuficiente de oxigênio e nutrientes, especialmente em tecidos mais distantes do sistema circulatório central.

Diante disso, surge a pergunta: a pulsatilidade ainda é necessária em pacientes com dispositivos de fluxo contínuo? Embora a pulsação seja crucial para a dinâmica normal do sistema circulatório, as evidências clínicas ainda são conflitantes quanto à necessidade de manter padrões de pulsação em pacientes com dispositivos MCS. O impacto da pulsatilidade no bem-estar geral dos pacientes com LVAD, por exemplo, ainda está sendo estudado, com resultados que variam dependendo do tipo de dispositivo utilizado, da duração do suporte e dos parâmetros hemodinâmicos específicos de cada paciente.

Ademais, a introdução de novas tecnologias, como modulação de velocidade de dispositivos cfLVAD para criar padrões de fluxo pulsátil, traz à tona questões sobre como melhorar a eficiência desses dispositivos sem comprometer o bem-estar dos pacientes. A modulação de velocidade permite que esses dispositivos imitem de maneira mais próxima a pulsação natural do coração, o que poderia ajudar a reduzir os efeitos negativos de uma circulação totalmente contínua, especialmente em pacientes com condições vasculares comprometidas.

Portanto, o debate sobre a importância da pulsatilidade na era das bombas de fluxo contínuo não é apenas uma questão técnica, mas também fisiológica. Compreender como os diferentes tipos de fluxos — pulsáteis e contínuos — afetam a perfusão e o transporte de oxigênio para os tecidos é essencial para a evolução das terapias de assistência ventricular. Além disso, a integração de novas abordagens que imitam a pulsação pode representar um avanço significativo na melhoria da qualidade de vida dos pacientes que dependem desses dispositivos para sobreviver.

Qual o Papel do Coordenador de Suporte Circulatório Mecânico no Tratamento de Pacientes Críticos?

O coordenador de suporte circulatório mecânico (MCS), também conhecido como coordenador de dispositivos de assistência ventricular (VAD), desempenha um papel fundamental e multifacetado no tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Este profissional é responsável por coordenar todas as fases do tratamento, desde a avaliação inicial até a gestão pós-operatória e cuidados paliativos, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e prolongar a sobrevida dos pacientes. No entanto, seu trabalho não se limita ao ambiente hospitalar; o coordenador de MCS deve também se envolver com a comunidade e com os cuidadores dos pacientes, sendo um elo vital entre os diversos setores de saúde.

Em muitos centros médicos, a função de coordenador de MCS é preenchida por enfermeiros registrados (RN) ou enfermeiros de prática avançada (APRN), com especialização em cuidados críticos ou unidades de cirurgia cardiotorácica. A formação acadêmica exigida para o cargo geralmente inclui um diploma de bacharel ou superior, com anos de experiência prática em enfermagem de UTI. Essas qualificações são essenciais para lidar com as complicações complexas e os desafios únicos apresentados pelos dispositivos de assistência ventricular.

A principal responsabilidade do coordenador de MCS é garantir que os pacientes sejam cuidadosamente selecionados para o tratamento com dispositivos de assistência circulatória. A seleção adequada do paciente é crucial, uma vez que nem todos os indivíduos com insuficiência cardíaca avançada são candidatos ideais para esses dispositivos. Além disso, o coordenador de MCS educa os pacientes e seus cuidadores sobre os aspectos técnicos do dispositivo, os cuidados necessários e as possíveis complicações. Esta educação deve ser contínua, cobrindo tanto os aspectos pré-operatórios quanto pós-operatórios da implantação do dispositivo.

O papel do coordenador de MCS vai além do hospital. Ele deve garantir que a equipe de cuidados de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, e outros profissionais, compreendam as necessidades dos pacientes em diferentes ambientes, como centros de hemodiálise, casas de repouso, lares de idosos e clínicas de reabilitação. Além disso, a educação sobre os dispositivos e seus cuidados deve ser estendida à comunidade, para que todos os envolvidos na vida do paciente possam fornecer o suporte necessário.

É importante notar que o suporte circulatório mecânico, embora eficaz em prolongar a vida e melhorar a qualidade de vida, não é uma cura para a insuficiência cardíaca avançada. A função do coordenador de MCS é garantir que o paciente receba o monitoramento adequado, tanto no ambiente hospitalar quanto fora dele. Isso inclui a detecção precoce de sinais de complicações, como infecções do cabos do dispositivo, falência do lado direito do coração, acidente vascular cerebral e outros eventos adversos. A identificação precoce desses problemas é crucial para evitar danos maiores e prolongar a eficácia do tratamento.

Além disso, o coordenador de MCS deve estar preparado para lidar com o inevitável estágio de cuidados paliativos e fim de vida. A transição para cuidados de fim de vida para os pacientes com terapia de destino envolve uma abordagem sensível e centrada no paciente, com o coordenador desempenhando um papel essencial na gestão dessa fase. Muitos pacientes em tratamento com dispositivos de assistência circulatória acabam precisando de cuidados paliativos à medida que sua condição se agrava.

O cargo de coordenador de MCS também apresenta desafios significativos, incluindo o risco de esgotamento profissional (burnout). O estresse gerado pela constante necessidade de monitoramento, a complexidade dos casos e as exigências emocionais de lidar com pacientes em condições tão críticas tornam esse trabalho altamente desgastante. O apoio contínuo a esses profissionais, tanto em termos de recursos quanto de reconhecimento, é fundamental para garantir que continuem a fornecer cuidados de alta qualidade.

Por fim, é importante que o coordenador de MCS compreenda que, embora o papel que desempenha seja vital, o trabalho não é realizado isoladamente. Ele precisa de uma colaboração estreita com toda a equipe multidisciplinar, além de uma abordagem colaborativa com a comunidade e com os cuidadores dos pacientes. Isso assegura que os cuidados sejam eficazes e contínuos, proporcionando uma melhor qualidade de vida e gestão de riscos para os pacientes que dependem de dispositivos de assistência circulatória mecânica.