Em muitas discussões sobre a política americana contemporânea, especialmente em relação ao ex-presidente Donald Trump e seus seguidores, uma das narrativas predominantes é a de que o medo é um fator central que orienta o comportamento político dos conservadores. Esta ideia se alimenta de uma premissa simples, mas poderosa: os conservadores, em especial os apoiadores mais fervorosos de Trump, são movidos pelo medo e pela insegurança. Medo da mudança, medo do outro, medo do que é diferente. Medo da perda de uma identidade nacional que eles sentem estar ameaçada. No entanto, essa ideia merece uma análise mais profunda, especialmente quando investigamos as nuances da relação entre medo e políticas de segurança, identidade e proteção.

A retórica de Trump frequentemente explorou esses medos, com suas promessas de "proteção" contra uma série de ameaças, sendo a imigração ilegal e o terrorismo internacional os principais alvos. "Envie-a de volta", ecoavam as multidões quando ele se referia a membros de um grupo de congressistas conhecidos como "The Squad", composto por mulheres com raízes estrangeiras, religiosas e étnicas diversas. Essa expressão, embora explicitamente racista e xenofóbica, foi mais do que uma simples rejeição àquelas mulheres. Ela representou a afirmação de uma visão de mundo profundamente marcada pela divisão entre o "nós" (os nativos, os patriotas) e o "eles" (os estrangeiros, os outros).

Não se trata apenas de uma rejeição à cor da pele ou à religião dessas figuras políticas, mas sim a um sentimento mais profundo de que essas pessoas não compartilham o mesmo compromisso com a segurança coletiva que é a base da visão de mundo de Trump e seus apoiadores. Este é um ponto crucial: para muitos conservadores, a política de segurança não se trata apenas de proteger o território ou de garantir a ordem social. Ela está intrinsecamente ligada a um certo modo de vida que envolve preservar a homogeneidade cultural e ideológica, a ordem tradicional e a rejeição de tudo o que ameaça essa ordem.

Nos últimos anos, os cientistas políticos começaram a desafiar a ideia de que os eleitores tomam decisões baseadas puramente em análises racionais de custo-benefício, ou que as preferências partidárias são apenas um reflexo de interesses econômicos pessoais. Trabalhos recentes destacam que as emoções, e em particular o medo, desempenham um papel central na formação das preferências políticas. A emoção do medo é um fator que transcende questões materiais e econômicas, moldando decisões eleitorais e a adesão a políticas específicas.

A ideia de que os conservadores e, em particular, os apoiadores de Trump são mais propensos ao medo é frequentemente afirmada em muitas pesquisas e artigos de opinião. No entanto, estudos empíricos, como os realizados pela Chapman University, revelaram um quadro mais complexo. Embora seja comum associar conservadores a uma maior propensão ao medo, as evidências não sustentam totalmente essa hipótese. O medo, na verdade, não é algo homogêneo entre os eleitores conservadores. Os conservadores podem se sentir mais ameaçados por questões relacionadas à ordem social, como o colapso econômico, a desordem civil ou a perda do status global dos Estados Unidos. Em contrapartida, os liberais tendem a sentir maior medo em relação a problemas como a pobreza, doenças ou catástrofes ambientais.

Isso indica que o medo não é um fenômeno universal entre os conservadores. O que os conservadores temem não são as mesmas coisas que os liberais temem. Para os conservadores, o medo está mais relacionado à vulnerabilidade percebida do "grupo interno" – sua nação, sua identidade, seus valores. O que realmente impulsiona suas decisões políticas não é o medo do desconhecido em termos amplos, mas a percepção de que os "outsiders", aqueles que não compartilham seus valores e sua cultura, representam uma ameaça direta à segurança e à estabilidade.

É interessante notar que, embora muitos estudiosos aleguem que o medo de ameaças externas, como o terrorismo ou a imigração ilegal, seja um motor central do apoio a Trump, isso não significa que seus seguidores sejam mais medrosos de maneira geral. Na verdade, estudos mostram que muitos dos seguidores mais fervorosos de Trump não se mostram significativamente mais temerosos do que os outros cidadãos em relação a uma ampla gama de ameaças, como desastres naturais ou doenças. No entanto, quando se trata de questões que afetam diretamente a percepção de sua identidade e segurança cultural, como a imigração ou o crime, os apoiadores de Trump demonstram uma intensidade de medo muito maior.

Além disso, a busca por segurança, algo que os apoiadores de Trump priorizam, não depende necessariamente de um medo irracional ou generalizado. Em vez disso, ela é muitas vezes fundamentada na crença de que apenas políticas mais rígidas e, muitas vezes, exclusivistas podem garantir a proteção do "povo verdadeiro", o "povo americano", contra ameaças internas e externas. O desejo de proteger o status quo cultural e social, muitas vezes, é o que define as atitudes políticas dos apoiadores de Trump, mais do que o medo em si.

Dessa forma, a relação entre medo e políticas de segurança é multifacetada. Não se trata apenas de uma reação instintiva ao perigo, mas de uma construção cultural e política que envolve tanto a percepção de ameaças como a busca por soluções que reafirmem o controle, a ordem e a proteção de uma identidade nacional entendida como ameaçada. Portanto, para compreender a política de Trump e de seus apoiadores, é essencial não apenas observar as emoções de medo, mas entender como elas estão relacionadas com a busca por segurança e a preservação de uma determinada visão de mundo.

Como a Visão de Securitários e Unitaristas Molda o Debate Político e Social

O conceito de securitarianismo, ou a obsessão pela segurança dos "in-group" (grupo interno), revela uma divisão profunda na maneira como diferentes grupos enxergam as questões de imigração, diversidade e coesão social. Para os securitários, a preservação da identidade e da segurança do grupo interno é fundamental, mesmo que isso implique em políticas discriminatórias ou exclusivas. Eles frequentemente não veem sua postura como xenofóbica, mas como uma simples defesa dos seus interesses e da continuidade de sua forma de vida.

Em contraste, os unitaristas, que se opõem a essa visão, consideram a abordagem securitária como essencialmente etnocêntrica. Para os unitaristas, o temor de estrangeiros, a crença na necessidade de minimização do contato com outros grupos e a busca pela preservação exclusiva do grupo interno são atitudes moralmente erradas e profundamente divisivas. Eles acreditam que essa postura leva inevitavelmente à marginalização de outros povos, frequentemente visto como racismo ou, no mínimo, uma forma de "anti-estrangeirismo". O foco dos unitaristas não é negar a necessidade de segurança, mas sim a crença de que essa segurança não deve ser alcançada à custa da exclusão de "outros" e que as políticas públicas devem refletir uma visão mais inclusiva e solidária.

Por exemplo, os partidários mais intensos de Trump nos Estados Unidos, embora frequentemente rotulados como supremacistas brancos, têm se mostrado mais alinhados com um nacionalismo branco do que com o conceito de supremacia racial. Para eles, não é a superioridade ou inferioridade de outras raças que importa, mas o fato simples de que essas raças são "diferentes". Esta visão não significa necessariamente um desprezo profundo pelas outras etnias, mas uma separação entre os "nossos" e os "outros", um conceito que reforça a coesão e a segurança percebida do grupo interno.

No entanto, muitos desses apoiadores de Trump rejeitam a ideia de serem racistas, frequentemente apontando suas boas relações pessoais com pessoas de diferentes raças ou crenças como prova de que não possuem atitudes preconceituosas. Um exemplo comum é o relato de que uma pessoa, para provar que não é racista, fez uma doação a uma pessoa de cor ou trabalhou com comunidades desfavorecidas em países como a Tailândia. Essa visão destaca a discrepância entre atitudes pessoais e políticas públicas. Enquanto as relações pessoais são vistas como uma forma de medir a moralidade individual, as políticas que afetam a segurança nacional e a imigração são tratadas de forma completamente diferente, sem que se vejam como xenofóbicas ou preconceituosas.

A diferença fundamental entre securitários e unitaristas se reflete não só em suas atitudes em relação aos estrangeiros, mas também em questões relacionadas a direitos sociais, como igualdade de gênero e direitos dos gays. Para os securitários, os membros do "in-group" ideal são homens brancos, heterossexuais, cristãos e trabalhadores, e qualquer pessoa que não se encaixe neste perfil é, no mínimo, vista com desconfiança. Assim, os securitários muitas vezes resistem à plena inclusão de mulheres e membros da comunidade LGBTQ+ em funções-chave, como nas forças armadas, acreditando que esses grupos não contribuem suficientemente para a segurança e unidade do "in-group". A proteção da segurança do grupo interno, para eles, é tão vital que desconsideram as contribuições de grupos marginalizados, simplesmente por não os verem como parte essencial da coesão interna.

Essa visão, embora associada principalmente aos homens brancos, também é compartilhada por uma parcela crescente de mulheres. As mulheres, que historicamente foram vistas como vítimas de insegurança, têm se alinhado com as ideias securitárias em resposta ao que percebem como uma ameaça crescente da alteração dos valores tradicionais da sociedade. De acordo com dados, uma parte considerável de mulheres se sente preocupada com a perda da unidade e da segurança social, não apenas por questões relacionadas a sua própria igualdade de gênero, mas também pela percepção de que a cultura e a estrutura do grupo interno estão sendo ameaçadas por forças externas.

No entanto, é importante notar que, embora securitários possam ter mais facilidade em aceitar mulheres e membros da comunidade LGBTQ+ do que imigrantes ou minorias raciais, a forma como veem esses grupos ainda é condicionada pela sua visão de segurança. Mesmo quando aceitam esses grupos em suas comunidades, fazem-no sob a condição de que não ameacem a coesão interna e a identidade do grupo.

Ao longo das últimas décadas, as opiniões públicas em muitas partes do mundo mudaram em relação a questões como os direitos dos gays, a diversidade religiosa, a equidade de gênero e a tolerância à diversidade. No entanto, a questão da imigração e do impacto de grupos "externos" na segurança do grupo interno continua a ser uma linha divisória significativa, com os securitários, em muitos casos, resistindo a qualquer mudança nas políticas de imigração e nas formas de tratar as minorias. Esse fenômeno não é exclusivo dos Estados Unidos ou de outros países ocidentais, mas reflete uma tendência global de dividir os grupos internos e externos com base em um conceito de segurança.

No fundo, a divisão entre securitários e unitaristas não se limita apenas a diferenças políticas ou ideológicas, mas está profundamente enraizada nas visões fundamentais de como a segurança e a coesão social devem ser protegidas. Cada grupo acredita que sua perspectiva é a mais legítima e necessária para a sobrevivência e prosperidade das sociedades em que vivem. E é essa luta pela definição do "in-group" e dos limites da segurança que continua a ser um dos maiores desafios nos debates políticos contemporâneos.

O Comportamento Submisso e as Diferenças Políticas: Uma Análise das Tendências Psicológicas em Diferentes Grupos Ideológicos

Quando se aborda a questão do comportamento submisso e suas correlações com as orientações políticas, a surpresa está nas nuances que surgem ao se considerar diferentes grupos ideológicos. Embora a subordinação deva, em teoria, estar associada a indivíduos de orientação autoritária, os dados revelam padrões de comportamento mais complexos. Um estudo com uma amostra representativa nacional indica que apenas 15% dos participantes se sentem confortáveis com a ideia de que outros tomem decisões por eles, enquanto cerca de 75% afirmam preferir ser independentes e auto-suficientes.

No entanto, o ponto central da análise gira em torno da distribuição dessas tendências submissas entre diferentes categorias políticas. Para além da ideia convencional de que os conservadores são mais inclinados a comportamentos submissos devido a sua adesão a hierarquias e normas rígidas, o estudo revela uma inversão surpreendente: à medida que se move do espectro político à esquerda para a direita, há uma diminuição na submissão. Liberais, por exemplo, são mais inclinados a gostar da ideia de que outras pessoas tomem decisões por elas (18%) em comparação com os "veneradores de Trump" (12%). Ao mesmo tempo, os liberais preferem ser mais independentes (70%), enquanto os veneradores de Trump preferem ainda mais (82%).

Esse padrão reflete uma relação negativa (r = −0.13) entre as tendências submissas e as orientações políticas. O que emerge dessa análise é que os conservadores, especialmente aqueles que não veneram Trump, tendem a exibir uma personalidade menos submissa do que os liberais. Quando se observa mais de perto o comportamento dos apoiadores de Trump, nota-se que sua aversão à ideia de subordinação é ainda mais pronunciada em relação aos conservadores não-venedores de Trump. Portanto, a ideia de que os apoiadores de Trump seriam mais submissos do que os outros conservadores é refutada, e isso indica uma dinâmica diferente do que se espera para um perfil autoritário.

Esse comportamento de submissão, ou a falta dele, pode, em certa medida, ser compreendido à luz da natureza do relacionamento dos veneradores de Trump com a autoridade. Ao contrário do que se poderia esperar de uma personalidade autoritária, que se submete amplamente à autoridade, os seguidores de Trump parecem submeter-se a uma autoridade específica — a de Trump, que representa, para eles, uma figura que defende a proteção de seus valores e identidades contra ameaças externas. Para esses indivíduos, outras figuras de autoridade, como Barack Obama ou Nancy Pelosi, são vistas mais como uma ameaça do que uma fonte de segurança. Essa preferência por um tipo específico de liderança sugere que o comportamento dos apoiadores de Trump não é resultado de uma necessidade psicológica de subordinação, mas de uma identificação com uma autoridade percebida como protetora.

Outra faceta importante do comportamento autoritário é a adesão a normas sociais e convenções. Embora, de um modo geral, a direita política seja vista como mais inclinada à conformidade, a análise dos dados não sugere que os apoiadores de Trump sejam mais convencionais do que outros conservadores. Embora os dados mostrem que uma porcentagem ligeiramente maior de veneradores de Trump afirmam viver "pela norma" (57% contra 54% dos conservadores não-venedadores de Trump), eles também tendem a ser mais inclinados a “agitar as estruturas da sociedade” (39% contra 35%). Isso revela uma relação complexa com as normas sociais, onde a conformidade ocorre principalmente em áreas que são percebidas como essenciais para a proteção da identidade do grupo, enquanto outras normas, consideradas como parte de uma agenda progressista ou política correta, são rejeitadas.

O último aspecto da personalidade autoritária, que envolve a agressividade, também merece uma reflexão cuidadosa. A agressividade, frequentemente vista como uma característica central dos autoritários, pode ser difícil de mensurar diretamente. Estudos anteriores que tentaram associar a agressividade com uma ameaça específica à liberdade (como o temor de grupos como os comunistas) complicaram ainda mais essa análise. No entanto, o comportamento agressivo de um indivíduo pode ser mais bem entendido como uma resposta a uma sensação de vulnerabilidade, e não como um reflexo de uma propensão natural para a violência ou confronto. Os seguidores de Trump, embora não sejam mais agressivos do que outros grupos, podem ser mais propensos a reagir com hostilidade a ameaças percebidas à sua visão de mundo.

Essas observações nos ajudam a entender que o comportamento dos apoiadores de Trump não segue a linha do autoritarismo clássico, caracterizado pela subordinação universal a qualquer autoridade ou pela adesão irrestrita às normas sociais. Em vez disso, a adesão a Trump como líder é mais uma questão de identificação com uma autoridade específica que promete proteger a identidade e os valores do grupo contra o que é percebido como uma ameaça externa. Essa complexa rede de relações com a autoridade, normas sociais e agressividade configura um perfil psicológico distinto, que não se encaixa facilmente nas categorias tradicionais de autoritarismo.

Por que os "securitários" não se sentem ameaçados pelo que ameaça os outros?

Entre os diferentes perfis daqueles que veneram Donald Trump, há um grupo cuja visão do mundo gira em torno da ordem, segurança e proteção dos "de dentro" contra os "de fora". Esses indivíduos, identificados como securitários, não se distinguem dos demais trumpistas pela intensidade com que sentem medo de ameaças como o terrorismo, a imigração, o crime ou potências estrangeiras. Essas ameaças — frequentemente centrais no discurso político conservador — não geram nos securitários níveis de temor superiores aos observados entre outros seguidores de Trump.

O que realmente diferencia os securitários é o que eles não veem como ameaçador. Questões como a desigualdade de renda crescente, a falta de acesso à saúde, o racismo, os conservadores e até os desastres naturais são percebidos com notável indiferença por esse grupo. Enquanto metade dos trumpistas identificados com o Tea Party se dizem preocupados com a grande quantidade de pessoas sem assistência médica, apenas 20% dos securitários compartilham essa inquietação. Essa seletividade indica uma disposição clara: tudo o que desvia o foco do “perigo externo” é descartado como irrelevante ou, pior, como uma distração indesejável.

Essa lógica ajuda a explicar a apatia — ou mesmo hostilidade — dos securitários em relação à mudança climática e às ameaças ambientais. Para eles, tais temas comprometem a vigilância necessária para conter o avanço dos “de fora”, que são vistos como intrusos potenciais, enfraquecendo a prontidão e a segurança dos que pertencem ao círculo interno. Essa visão estreita e hierárquica do mundo cria uma ordem moral onde a defesa contra o “outro” se sobrepõe a qualquer preocupação com justiça social ou bem-estar coletivo.

Em relação às atitudes raciais, os securitários ocupam um lugar peculiar. São os mais propensos a acreditar que as desigualdades raciais se devem à falta de esforço dos negros, e também mais propensos a afirmar que esses já recebem tudo o que merecem. No entanto, paradoxalmente, são os menos inclinados — entre os veneradores de Trump — a sustentar que negros são menos talentosos ou capazes do que brancos. Isso não significa que sejam menos racistas, mas sim que seu racismo opera com base em pressupostos meritocráticos e moralistas: o valor de alguém é medido pelo esforço individual e pela autossuficiência percebida. Qualquer grupo que pareça demandar suporte coletivo ou proteção institucional é visto como uma ameaça à integridade do “nós”.

Esse tipo de racionalidade também explica por que os securitários são especialmente hostis à ideia de imigrantes receberem benefícios do Estado. O imigrante pobre, ao precisar de ajuda pública, representa não apenas uma “carga” econômica, mas uma ameaça simbólica: ele rompe o princípio de que só os autossuficientes devem pertencer ao círculo dos protegidos. A segurança, para os securitários, não é apenas física, mas identitária — e exige uma fronteira nítida entre quem merece e quem não merece estar “dentro”.

Já no que diz respeito às questões de gênero, os securitários não se distinguem significativamente dos demais tipos de trumpistas. A diferença mais notável aparece no grupo dos chamados “guerreiros sociais”, os quais demonstram altos níveis de sexismo benevolente — a crença de que mulheres devem ser protegidas e salvas antes dos homens em situações de risco. Os securitários, por outro lado, não apresentam desvios estatisticamente significativos em relação à média dos trumpistas nesse campo, o que sugere que suas resistências simbólicas estão mais fortemente associadas a marcadores raciais e culturais do que ao gênero.

A análise comparativa entre os perfis dos veneradores de Trump revela que os securitários internalizaram uma lógica política baseada na vigilância e na pureza identitária. Eles não reagem com intensidade emocional a ameaças que afetam a todos, como desastres naturais ou crises de saúde pública. Reagem, sim, a qualquer indício de que o “de fora” possa estar se infiltrando e exigindo recursos, atenção ou espaço simbólico.

Importa ainda destacar que o racismo securitário não é essencialista, mas condicional. Ele se baseia na expectativa de esforço visível, de não depender do coletivo, e de não representar um risco de diluição da identidade dominante. Esse tipo de preconceito é mais difícil de combater porque é frequentemente disfarçado de discurso moral: não se trata, segundo eles, de inferioridade genética, mas de falhas comportamentais.

Para o leitor, é fundamental compreender que os securitários não são apenas motivados pelo medo ou pelo ressentimento. Sua cosmovisão está alicerçada numa narrativa de merecimento e pertencimento que exclui, por princípio, qualquer vulnerabilidade percebida como sinal de fraqueza ou dependência. Por isso, lutar contra desigualdades estruturais ou promover justiça social não apenas não os mobiliza — esses esforços são vistos como perigosos precisamente porque ameaçam desestabilizar a moral do esforço individual como critério de pertencimento e valor.

A persistência do securitarianismo e a influência da idade e raça nas atitudes políticas nos EUA

A análise da dinâmica do securitarianismo, especialmente no contexto da política americana pós-Trump, revela que as inclinações políticas de um indivíduo tendem a se estabilizar a partir dos 25 anos. Embora exista uma percepção comum de que as pessoas se tornam mais conservadoras com a idade, a evidência sugere que a maioria mantém suas crenças políticas estáveis ao longo da vida, com variações menores. Os dados indicam que a veneração por Trump e a adesão a atitudes securitárias aumentam progressivamente com a idade. Por exemplo, em abril de 2019, apenas 3% dos americanos com menos de 30 anos consideravam Trump um dos melhores presidentes da história, contra 31% dos com mais de 70 anos. Essa diferença se repete em outras manifestações de apoio, como o uso do boné “Make America Great Again” e a defesa de políticas restritivas de imigração.

No entanto, a rejeição mais frequente entre os jovens a esses símbolos e ideias não deve ser entendida unicamente como aversão às políticas de Trump, mas pode também refletir uma resistência a exageros retóricos e uma preferência estética ou cultural. Ainda assim, cerca de 20% dos americanos com menos de 30 anos apoiam Trump e adotam posições securitárias, como a defesa da redução da imigração, o sentimento de ameaça frente a imigrantes e a priorização da segurança sobre a democracia. Esse percentual sugere que o securitarianismo permanece uma força política significativa, mesmo entre os mais jovens, o que pode se intensificar caso surja um líder carismático e mais sintonizado com as plataformas digitais.

De maneira intrigante, alguns aspectos do securitarianismo permanecem relativamente constantes independentemente da idade. Por exemplo, a preferência por segurança em detrimento da democracia não varia muito entre os mais jovens e os mais velhos — cerca de um terço de ambos os grupos endossa essa posição. Isso indica uma fragilidade persistente na adesão irrestrita aos valores democráticos, que pode ser explorada em períodos de crise ou insegurança percebida.

Além da idade, a raça desempenha um papel crucial na configuração das atitudes securitárias. Embora o voto negro nos Estados Unidos seja majoritariamente democrático, a análise mostra que muitos afro-americanos compartilham uma visão securitária semelhante à dos brancos conservadores. Entre os democratas negros, a percepção da necessidade de vigilância para evitar vitimização é quase o dobro da dos democratas brancos. Da mesma forma, os negros expressam uma preocupação maior em relação à força e à segurança nacional, embora seus posicionamentos sobre questões sociais, como direitos reprodutivos e justiça racial, tendam a divergir significativamente dos conservadores.

Essa coexistência entre uma orientação política progressista e um sentimento securitário sublinha a complexidade das identidades políticas atuais, indicando que preocupações com segurança — seja contra criminalidade, ameaças externas ou instabilidade social — atravessam linhas raciais e partidárias. Por outro lado, enquanto grupos diferentes compartilham a sensação de vulnerabilidade, as respostas políticas e culturais a essa sensação variam amplamente, influenciadas por experiências históricas, contextos sociais e narrativas mediáticas.

A importância dessa análise reside no entendimento de que o securitarianismo não é um fenômeno passageiro, nem restrito a uma geração ou segmento populacional específico. Ele está entranhado nas percepções de ameaça e vulnerabilidade que atravessam faixas etárias e identidades raciais, moldando atitudes políticas e comportamentos eleitorais. A capacidade de uma sociedade de equilibrar segurança e democracia depende do reconhecimento dessas tensões e da busca por respostas que não sacrifiquem direitos civis em nome da proteção.

É fundamental compreender que a relação entre idade, raça e securitarianismo também reflete uma interação complexa entre fatores culturais, econômicos e históricos. A percepção de ameaça pode estar ligada não apenas a riscos reais, mas a sentimentos subjetivos amplificados por discursos políticos, econômicos ou midiáticos. Ademais, o papel das redes sociais e da mídia digital na disseminação e amplificação dessas narrativas não pode ser subestimado, sobretudo entre as gerações mais jovens.

Por fim, a compreensão das nuances do securitarianismo e seu impacto na política exige uma abordagem multifacetada que vá além de análises simplistas. Reconhecer a persistência dessas atitudes, mesmo diante de mudanças demográficas e sociais, é essencial para qualquer tentativa séria de compreender os desafios políticos contemporâneos e os caminhos possíveis para o futuro das democracias.