A relação entre arquitetura e paisagem é muitas vezes definida por um simples gesto: criar um espaço que dialogue com o ambiente ao seu redor sem perder a identidade do próprio projeto. Essa reflexão é crucial na abordagem do arquiteto Correa, que ao construir uma nova casa no litoral chileno, procurou não apenas manter uma conexão com a natureza, mas também assegurar que a arquitetura fosse sentida de forma palpável. Ao projetar o novo volume da residência, Correa buscou uma forma de solidez que, ao mesmo tempo, preservasse a transparência e a leveza do espaço.

O projeto, que explora a sobreposição de três materiais - madeira, aço e concreto -, se desdobra em uma sequência de espaços interligados que fluem entre si. A nova casa se apresenta como uma extensão do volume original, mas com um toque contemporâneo que garante ao visitante uma sensação de permanência, como se ele estivesse dentro de uma construção sólida. Isso é particularmente evidente no quarto principal, onde as grandes janelas de vidro, rodeadas por uma moldura de madeira de pinho, não apenas permitem uma vista deslumbrante da baía, mas também provocam uma sensação de isolamento seguro, uma barreira sutil entre o interior e o exterior.

Correa afirma que a principal motivação era criar uma estrutura que proporcionasse conforto e ao mesmo tempo uma noção de pertencimento à arquitetura, sem que o usuário se sentisse apenas espectador da paisagem. "Queríamos que o volume fosse mais sólido", diz ele, ao refletir sobre a escolha dos materiais. O uso da madeira oiled pine, aplicada de forma estratégica nas janelas, torna o espaço mais acolhedor, ao mesmo tempo que ainda permite que a paisagem se torne parte da experiência do interior.

Esse cuidado com o ambiente reflete uma filosofia arquitetônica que valoriza a simbiose entre o construído e o natural, algo que não é apenas uma tendência estética, mas uma necessidade de integração com o meio ambiente. A escolha de um formato que se encaixa harmoniosamente na paisagem, sem provocar uma ruptura visual, é fundamental para que o novo volume se torne parte do contexto natural e urbano ao mesmo tempo. A casa, embora contemporânea, preserva a serenidade e a simplicidade dos elementos naturais que a rodeiam.

Em um contexto urbano mais amplo, como o exemplo do projeto da ReHousing em Toronto, essa ideia de densificação responsável ganha força. Ao adaptar casas unifamiliares em unidades multifamiliares, os arquitetos Janna Levitt e Dean Goodman procuram reverter o ciclo de exclusão social causado pela pressão do mercado imobiliário. O projeto Ulster House, com seus apartamentos compactos, mostra como a arquitetura pode responder ao problema da escassez de habitação sem comprometer a qualidade de vida dos moradores. Ao integrar espaços privativos com áreas comuns ao ar livre, os arquitetos criaram uma casa que é ao mesmo tempo íntima e socialmente inclusiva, levando em consideração as necessidades tanto de quem busca um refúgio pessoal quanto de quem valoriza a vida comunitária.

O uso de materiais naturais, a conexão com a paisagem e o design sensível ao contexto são princípios que se repetem em ambos os projetos. É um movimento que desafia a ideia de que a arquitetura precisa se distanciar da natureza para ser moderna ou inovadora. Pelo contrário, ao abraçar as qualidades da paisagem, seja no litoral chileno ou nas ruas de Toronto, os arquitetos demonstram que é possível construir de maneira sustentável e, ao mesmo tempo, rica em sensações.

Esses exemplos mostram que é possível alcançar um equilíbrio entre a modernidade e a harmonia com a natureza, respeitando as condições locais e os desejos dos habitantes. Além disso, demonstram a importância de repensar a arquitetura como uma ferramenta que pode melhorar a qualidade de vida, não apenas como um espaço de abrigo, mas como um ambiente que nos conecta com o mundo ao nosso redor.

É essencial entender que a arquitetura não deve ser vista apenas como uma resposta funcional às necessidades de espaço, mas também como uma maneira de envolver o usuário em uma experiência que transcenda o físico. Ela tem o poder de moldar nossa percepção de pertencimento, segurança e bem-estar, ao mesmo tempo que promove uma relação mais profunda e consciente com o ambiente natural.

Como Projetos de ReHabitação Podem Transformar a Paisagem Urbana e a Dinâmica Habitacional nas Grandes Cidades

O cenário urbano contemporâneo, especialmente nas grandes cidades, está sendo constantemente transformado por projetos inovadores que buscam responder à crescente crise habitacional. Um dos exemplos mais interessantes é o projeto ReHousing, que traz à tona novas formas de habitação acessível e densificação urbana, desafiando as normas e práticas tradicionais. Em vez de simplesmente expandir as fronteiras urbanas, como se fez por décadas, esse projeto propõe a reconfiguração do espaço urbano existente, aproveitando estruturas já existentes e adaptando-as para novas formas de moradia.

A proposta do ReHousing, com sua ferramenta de reabilitação, visa revitalizar habitações e edifícios abandonados, permitindo que sejam convertidos em multiplexos e casas compartidas, adaptadas às necessidades modernas sem perder de vista a segurança e a acessibilidade. O modelo propõe que proprietários de imóveis, como os de casas de quartos ilegais, possam se beneficiar de um tipo de anistia — semelhante àquela oferecida quinze anos atrás — para regularizar suas propriedades e integrá-las ao mercado de aluguel formal. Essa abordagem visa não apenas resolver a escassez de moradia, mas também criar novas alternativas habitacionais de maneira acessível, tanto para fins comerciais quanto para o bem social.

Um ponto crucial desse projeto é a flexibilidade das tipologias habitacionais propostas. Elas não estão ligadas a um tipo específico de propriedade ou forma de gestão, o que significa que podem ser aplicadas tanto por proprietários privados em busca de lucro quanto por organizações sem fins lucrativos, como os trusts de terras comunitárias, que buscam proporcionar acesso acessível ao mercado imobiliário. Isso reflete uma flexibilidade que pode ser crucial para se adaptar às diferentes necessidades e contextos urbanos, sem comprometer a integridade do ambiente construído.

Embora o impacto direto dessas iniciativas possa ser limitado, com projetos como os de 5.000 "Casas Ulster" potencialmente criando apenas 25.000 novas unidades habitacionais, o que se busca é mais do que números. O que está em jogo é a forma como repensamos as cidades e seus bairros. Ao olhar para essas habitações redesenhadas, percebe-se uma reinterpretação do patrimônio urbano e uma redefinição das comunidades, com a possibilidade de transformar áreas que antes eram negligenciadas em novos centros urbanos vibrantes. Existe uma cidade alternativa dentro da cidade, que precisa ser vista e compreendida para ser valorizada.

Outro ponto importante a ser destacado é a crescente ênfase em práticas sustentáveis e de baixo carbono nos novos projetos habitacionais. O edifício T3 Bayside, por exemplo, foi projetado com um foco em materiais sustentáveis, como a madeira, além de incorporar uma série de recursos verdes, como grandes volumes de espaços abertos e um design que favorece a luz natural. Esse tipo de inovação não é exclusivo de um único projeto, mas reflete uma tendência crescente no mercado imobiliário, que busca criar espaços mais ecológicos, integrados ao ambiente e com um impacto ambiental reduzido. O conceito de "biophilia", ou a ideia de conectar os habitantes com a natureza por meio do design, é uma das diretrizes principais desse movimento.

A inclusão de equipamentos públicos e comerciais, como creches e espaços de convivência no térreo de edifícios residenciais, também é uma característica marcante. Em vez de criar blocos de apartamentos isolados, os novos projetos estão buscando integrar a habitação ao tecido urbano existente, criando uma atmosfera mais interconectada e vivencial. As áreas comuns não são apenas espaços de passagem, mas de convivência e interação, refletindo uma mudança na forma como entendemos a vida urbana.

É fundamental compreender que as soluções habitacionais do futuro não devem ser vistas apenas como uma resposta à crise do mercado imobiliário, mas como uma oportunidade de repensar como as pessoas vivem e interagem nas cidades. É necessário que as políticas públicas se alinhem com esse tipo de abordagem, proporcionando as condições legais e financeiras para que projetos como o ReHousing ganhem escala e impacto. O papel da tecnologia e da inovação no design urbano será cada vez mais importante, oferecendo novos recursos e materiais que possibilitem a construção de habitações mais sustentáveis, acessíveis e eficientes.