O estudo de sistemas Hamiltonianos com forças histeréticas, excitados por ruídos brancos gaussiano, apresenta desafios significativos, principalmente quando se busca descrever o comportamento estocástico e suas distribuições de probabilidade estacionárias. Uma das abordagens que tem se destacado é a utilização de métodos de averiguação estocástica, que visam simplificar a complexidade dos sistemas não-lineares através da redução de equações dinâmicas para modelos mais gerenciáveis. Um exemplo claro disso é a aplicação da equação FPK (Fokker-Planck Kolmogorov) associada à equação Itô média, que pode ser usada para modelar a evolução de sistemas de energia de maneira eficiente.

A equação FPK associada à equação Itô média, quando aplicada a sistemas com forças histeréticas, assume a seguinte forma:

pt=H[2m(H)H2p]+12[σ2(H)p],\frac{\partial p}{\partial t} = - \frac{\partial}{\partial H} \left[ \frac{\partial^2 m(H)}{\partial H^2} p \right] + \frac{1}{2} \left[ \sigma^2(H) p \right],

onde p=p(H,tH0)p = p(H, t|H_0) é a função de distribuição de probabilidade de transição de energia HH. Quando a derivada temporal é negligenciada (como no caso de uma solução estacionária), a equação se reduz a um modelo onde a função p(h)p(h), que descreve a probabilidade estacionária de hh, pode ser obtida pela solução da equação reduzida de FPK. Este tipo de abordagem é útil quando se deseja entender o comportamento de sistemas não-lineares com diferentes parâmetros dinâmicos, como a frequência de excitação, a intensidade dos ruídos e as características histeréticas do sistema.

Os cálculos numéricos realizados para sistemas não-lineares com parâmetros específicos como ζ=0.01\zeta = 0.01, ω=4π\omega = 4\pi, e utilizando o método de averiguação estocástica descrito por Wang et al. (2009), demonstram que a distribuição estacionária de amplitude de deslocamento p(a)p(a) pode ser afetada pela não-linearidade do sistema. Em particular, para valores maiores de λ\lambda, o método de averiguação estocástica proposto mostra-se mais preciso que outros métodos, como o de Spanos et al. (2004). Isso sugere que, em sistemas com forte não-linearidade, o modelo mais sofisticado de averiguação estocástica pode fornecer resultados mais confiáveis.

Em sistemas com histerese, a distribuição estacionária de amplitude de deslocamento também está relacionada ao coeficiente não-linear λ\lambda. Quando esse coeficiente diminui, o efeito das forças histeréticas no sistema se reduz e o comportamento do sistema tende a ser mais linear, aproximando-se de uma distribuição de Rayleigh. Essa transição pode ser observada nas distribuições obtidas por simulações de Monte Carlo para diferentes valores de ν\nu e μ\mu. À medida que μ\mu diminui, o pico da função p(a)p(a) se eleva, indicando que os efeitos não-lineares se tornam mais pronunciados. Além disso, é importante destacar que, em sistemas com ν=0.5\nu = 0.5 e ν=0.2\nu = 0.2, os resultados das distribuições estacionárias de amplitude de deslocamento mostram uma forte dependência das características de histerese, com a amplitude de deslocamento mostrando variações mais complexas à medida que μ\mu e λ\lambda mudam.

Esses conceitos podem ser aplicados a sistemas mais complexos, como aqueles com múltiplos graus de liberdade e forçam histeréticas acopladas. O exemplo de um sistema com dois graus de liberdade não-lineares, excitados por ruídos brancos gaussiano, ilustra como as forças histeréticas podem ser decuplicadas em forças elásticas e viscosas, permitindo que o sistema seja reescrito em termos de um sistema Hamiltoniano quasi-integrável. Para tal sistema, as equações de movimento podem ser expressas da seguinte forma:

Q1¨=HP1,Q2¨=HP2,\ddot{Q_1} = \frac{\partial H}{\partial P_1}, \quad \ddot{Q_2} = \frac{\partial H}{\partial P_2},

onde as forças de restauramento são descritas por combinações de termos não-lineares e dissipativos, e as equações de movimento podem ser utilizadas para determinar a evolução dos momentos e deslocamentos. Essas abordagens são fundamentais para compreender a interação entre o movimento estocástico do sistema e as forças de histerese presentes.

Finalmente, a aplicação desses métodos de averiguação estocástica permite não só o estudo das distribuições estacionárias de energia, mas também a previsão do comportamento dinâmico de sistemas não-lineares complexos. O uso de equações reduzidas, como as associadas às equações FPK, facilita a compreensão do impacto das diferentes forças no sistema e permite que sejam feitas previsões mais precisas em situações de ruído e incerteza.

Além disso, é importante entender que, em sistemas reais, a precisão dos modelos depende fortemente da qualidade dos parâmetros utilizados, como as propriedades não-lineares λ\lambda, as viscosidades η\eta, e as amplitudes de excitação. A calibragem adequada desses parâmetros é essencial para garantir que os resultados obtidos por métodos numéricos reflitam com precisão o comportamento do sistema físico real. A escolha do método de averiguação estocástica mais apropriado depende, portanto, das características específicas do sistema em questão, e deve ser feita com cuidado para evitar simplificações excessivas que possam levar a conclusões imprecisas.

Como a Ressonância de Fermi Afeta as Reações Enzimáticas: Uma Abordagem pelo Modelo Pippard

A ressonância de Fermi em sistemas físicos é um fenômeno no qual dois osciladores acoplados, com frequências naturais próximas, trocam energia de maneira eficiente. Esse fenômeno tem aplicação em diversos campos, incluindo reações enzimáticas, nas quais interações moleculares desempenham um papel crucial. Para descrever matematicamente a ressonância de Fermi em tais reações, podemos utilizar o modelo potencial de Pippard, que é comumente aplicado ao estudo do comportamento de ligações peptídicas e seu rompimento durante reações enzimáticas.

Consideremos o sistema descrito pelas equações diferenciais acopladas:

mx1¨+U(x1,x2)x1=0,mx2¨+U(x1,x2)x2=0.m \ddot{x_1} + \frac{\partial U(x_1, x_2)}{\partial x_1} = 0, \quad m \ddot{x_2} + \frac{\partial U(x_1, x_2)}{\partial x_2} = 0.

Este modelo envolve duas oscilações interligadas. A primeira oscilação, associada a x1x_1, representa a vibração de extensão e ruptura da ligação peptídica. A segunda, associada a x2x_2, descreve as vibrações das partículas atômicas adjacentes à ligação peptídica, que influenciam o comportamento do primeiro oscilador por meio de um acoplamento ressonante. Esse acoplamento é caracterizado por um coeficiente cc, que mede a força de interação entre as oscilações. O potencial de Pippard usado para modelar esse sistema é dado por:

U(x1,x2)=ω12x122+ω22(x222cx1)2,U(x_1, x_2) = \omega_1^2 \frac{x_1^2}{2} + \omega_2^2 \left( \frac{x_2^2}{2} - c x_1 \right)^2,

onde ω1\omega_1 e ω2\omega_2 são as frequências naturais dos osciladores. O contorno desse potencial, como ilustrado na Figura 5.27, é simétrico em relação a x1x_1 e assimétrico em relação a x2x_2, refletindo a diferença na interação entre os dois modos de vibração.

Quando o coeficiente cc é pequeno, os termos de ordem superior podem ser desconsiderados, e o sistema reduz-se a:

x1¨+ω12x12cω22x1x2=0,x2¨+ω22x2cω22x12=0.\ddot{x_1} + \omega_1^2 x_1 - 2c \omega_2^2 x_1 x_2 = 0, \quad \ddot{x_2} + \omega_2^2 x_2 - c \omega_2^2 x_1^2 = 0.

Neste sistema, o oscilador que representa a vibração da ligação peptídica é chamado de oscilador reativo, enquanto o oscilador associado às vibrações das partículas atômicas próximas à ligação peptídica é denominado oscilador excitante. O acoplamento entre esses dois osciladores se dá pela constante cc, que determina a intensidade da troca de energia entre eles.

Uma das principais características da ressonância de Fermi é a troca de energia entre os dois osciladores, que ocorre quando a razão de frequências ω1:ω2\omega_1 : \omega_2 é 1:2. Quando essa condição é atendida, o sistema apresenta ressonância interna, permitindo uma transferência de energia eficiente. Essa transferência de energia é fundamental para a ocorrência da ressonância de Fermi. Quando a razão de frequências não satisfaz essa condição, não ocorre a troca de energia entre os osciladores, e o fenômeno de ressonância não se manifesta. Além disso, quando a diferença de fase entre os osciladores é ψ=0\psi = 0 ou ψ=π\psi = \pi, a troca de energia também não ocorre, mesmo que a condição de frequência seja atendida.

A taxa de variação da energia do oscilador reativo pode ser descrita pela equação:

de1dt=ce1e24πn2(4n2m2)sin(mπ)sin(mπψn)+msin(4nπ)sin(ψn),\frac{de_1}{dt} = - \frac{c e_1 e_2}{4 \pi n^2 (4n^2 - m^2)} \sin(m\pi) \sin(m\pi - \psi_n) + m \sin(4n\pi) \sin(\psi_n),

onde nn e mm representam os índices de frequência, e ψn\psi_n é o ângulo de fase entre os osciladores. Essa expressão mostra que a taxa de variação da energia do oscilador reativo depende diretamente da razão de frequências n:mn:m, sendo particularmente relevante quando n:m=1:2n:m = 1:2, o que corresponde à condição para a ressonância de Fermi.

Além disso, a troca de energia entre os osciladores é acompanhada por uma troca de momento, refletindo a conservação de energia do sistema. A dinâmica da troca de energia é essencial para o aumento da taxa de reação em sistemas enzimáticos, uma vez que a ressonância de Fermi pode acelerar o processo de quebra de ligações químicas em moléculas como as peptídicas.

A análise de sistemas estocásticos, como os descritos pela equação de excitação térmica, permite entender como a ressonância de Fermi se comporta sob condições de temperatura e flutuações térmicas. A introdução de perturbações térmicas no sistema Pippard resulta em um sistema estocástico, modelado por:

X1¨+γX1˙+ω12X12cω22X1X2=2γTWg1(t),\ddot{X_1} + \gamma \dot{X_1} + \omega_1^2 X_1 - 2c \omega_2^2 X_1 X_2 = \sqrt{2 \gamma T W_g1(t)}, X2¨+γX2˙+ω22X2cω22X12=2γTWg2(t).\ddot{X_2} + \gamma \dot{X_2} + \omega_2^2 X_2 - c \omega_2^2 X_1^2 = \sqrt{2 \gamma T W_g2(t)}.

Neste caso, γ\gamma é o coeficiente de amortecimento e Wg1(t)W_g1(t), Wg2(t)W_g2(t) são ruídos brancos gaussianos independentes. A dinâmica do sistema pode ser simulada por métodos como o de Monte Carlo, que nos permite observar como a energia dos osciladores evolui com o tempo e como a razão de frequências influencia a taxa de troca de energia. Quando a razão de frequências ω1:ω2=1:2\omega_1 : \omega_2 = 1 : 2 é atendida, a troca de energia entre os osciladores é mais intensa, o que pode levar a uma redução do tempo de passagem para o sistema e um aumento na taxa de reação.

Em sistemas não ressonantes, quando a razão de frequências se desvia de 1:2, a dinâmica se aproxima de um processo difusivo de Markov. A introdução de flutuações térmicas e a análise através de equações diferenciais estocásticas permitem prever o comportamento do sistema em diferentes condições ambientais, com implicações significativas para a modelagem de reações enzimáticas sob diferentes regimes térmicos.