A avaliação psicológica e a identificação de transtornos psiquiátricos em pacientes com insuficiência cardíaca crônica (ICC) que necessitam de dispositivos médicos implantáveis, como um dispositivo de assistência ventricular (MCS), são fundamentais para o sucesso do tratamento e a melhoria da qualidade de vida. Embora o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-V), da Associação Psiquiátrica Americana (2013), afirme que uma doença com risco de vida ou uma condição médica debilitante não deve ser considerada necessariamente um evento traumático, ele ressalta que os eventos médicos que se qualificam como traumáticos são aqueles catastróficos e repentinos, como a parada cardíaca ou os choques de desfibrilador implantável (ICD). Esta diferenciação é importante, pois, embora um paciente com insuficiência cardíaca possa passar por uma série de episódios médicos significativos, como a parada cardíaca, nem todos esses eventos geram um quadro de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Os pacientes com insuficiência cardíaca frequentemente lidam com estresse psicológico significativo, não apenas devido à doença em si, mas também devido às exigências físicas e emocionais associadas ao tratamento com dispositivos implantáveis. O TEPT, que pode se manifestar após eventos traumáticos médicos, afeta uma porcentagem significativa dos pacientes após parada cardíaca, com até 30% dos indivíduos apresentando sintomas consistentes com o transtorno (Preciutti et al., 2018). Para muitos desses pacientes, o impacto psicológico do trauma, como a perda de memória em relação ao evento catastrófico ou a vivência de um estado de intensa angústia, está frequentemente associado a uma resposta fisiológica de hipervigilância e dificuldades emocionais, como evitação e entorpecimento emocional.

Além do TEPT, a ansiedade é outro problema psicológico comum entre os pacientes com insuficiência cardíaca e MCS. A ansiedade pode assumir formas variadas, sendo tanto específica para a doença, quanto generalizada, como o transtorno de ansiedade generalizada (TAG). A sobrecarga emocional causada pelos sintomas da insuficiência cardíaca pode desencadear um quadro de ansiedade em muitos pacientes, que pode se manifestar em fadiga, dificuldade de concentração, distúrbios do sono e sensação de mente vazia. Isso torna o manejo psicoterapêutico uma parte essencial do plano de tratamento desses pacientes.

O estresse crônico, combinado com as condições clínicas adversas da insuficiência cardíaca, pode agravar ainda mais o quadro emocional do paciente. A relação entre estresse traumático e a saúde física foi bem documentada, e o impacto psicológico no paciente pode afetar diretamente sua adesão ao tratamento e a manutenção do dispositivo implantável. A presença de transtornos psiquiátricos, como a depressão e a ansiedade, pode dificultar a participação ativa do paciente no cuidado, aumentando o risco de não aderir ao tratamento médico, incluindo o uso de medicamentos e o acompanhamento adequado.

Além disso, os cuidadores desses pacientes, em sua maioria familiares, também enfrentam desafios psicológicos significativos. O transtorno de estresse pós-traumático, a ansiedade e a depressão não afetam apenas os pacientes, mas também as pessoas responsáveis pelo cuidado. Muitos desses cuidadores podem estar expostos a uma série de estressores psicossociais, como condições de vida inadequadas, violência e dificuldades econômicas, que exacerbam o quadro emocional e dificultam o fornecimento de cuidados adequados. É importante reconhecer a saúde mental dos cuidadores como um aspecto crítico para garantir um cuidado contínuo e eficiente ao paciente.

Outro ponto importante é o impacto dos transtornos de personalidade no manejo de pacientes com insuficiência cardíaca e MCS. Transtornos de personalidade, como o tipo A e tipo D, que se caracterizam por traços de hostilidade, agressividade, competitividade, necessidade de urgência, evitação social e distresse emocional elevado, estão fortemente associados a um maior risco de complicações cardiovasculares. Pacientes com esses perfis de personalidade podem apresentar dificuldades na adesão a planos de tratamento e nos comportamentos necessários para o autocuidado, o que coloca em risco a eficácia do tratamento implantável. Além disso, transtornos de personalidade podem dificultar a comunicação e o envolvimento com a equipe de saúde, o que exige um acompanhamento especializado.

No contexto de pacientes que estão sendo considerados para o MCS, o exame psicológico deve ir além do simples diagnóstico de condições psiquiátricas. A história emocional do paciente, incluindo eventos traumáticos passados e o impacto psicológico do próprio diagnóstico de insuficiência cardíaca, deve ser cuidadosamente investigada. Isso inclui a análise de qualquer experiência traumática relacionada à sua condição médica ou outras experiências de vida que possam interferir no processo de cura e adesão ao tratamento.

Portanto, a abordagem psicossocial no cuidado de pacientes com insuficiência cardíaca crônica e MCS é multifacetada e envolve não apenas o manejo de transtornos psicológicos, mas também o reconhecimento da complexidade das relações familiares e do impacto emocional do tratamento. A identificação precoce de problemas emocionais e comportamentais e a intervenção adequada podem melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente e aumentar as chances de sucesso no tratamento com dispositivos implantáveis.

Como a Tecnologia de Suporte Circulatório Mecânico está Evoluindo: Desafios e Inovações

A evolução dos dispositivos de suporte circulatório mecânico (MCS) tem sido um campo de intensa pesquisa, especialmente no que diz respeito à melhoria da segurança e eficácia dos sistemas implantáveis. Historicamente, os sistemas de assistência ventricular (LVADs) têm enfrentado desafios significativos, tanto no que tange à biocompatibilidade quanto à durabilidade dos dispositivos. No entanto, dados recentes sugerem que algumas abordagens, como o uso de fluxo pulsátil no sangue e o desenvolvimento de fontes de energia transcutâneas, podem ser a chave para superar essas limitações e melhorar os resultados dos pacientes.

Estudos recentes revelaram que o fluxo pulsátil no sangue pode ter um efeito protetor contra eventos hemorrágicos, possivelmente devido à estimulação da liberação de fator de von Willebrand (vWF) pela endotelial, um mecanismo que pode contrabalançar a degradação do vWF associada ao estresse de cisalhamento provocado por dispositivos como LVADs. Embora a correlação entre o aumento dos níveis de vWF e a redução de eventos hemorrágicos tenha sido observada em estudos in vitro e in vivo, ainda não há evidências clínicas que comprovem essa relação de forma conclusiva. A questão permanece se os sistemas de bomba de fluxo contínuo são realmente mais vantajosos, ou se um retorno ao design pulsátil poderia ser uma direção mais promissora para os dispositivos MCS.

O design do LVAD de terceira geração tem se mostrado promissor em muitos aspectos, especialmente em relação à abordagem toracotômica. No entanto, com a retirada do dispositivo HVAD do mercado, a necessidade de continuar avaliando a segurança e a eficácia das abordagens percutâneas com os dispositivos MCS atualmente aprovados pela FDA se torna ainda mais urgente. Em paralelo, um ensaio clínico está em andamento para avaliar os resultados da implantação do HeartMate 3 por meio de abordagens cirúrgicas minimamente invasivas.

Além disso, a introdução de fontes de energia internas para MCS, como as tecnologias de indução transcutânea de energia (TETS), promete revolucionar o campo. Essas tecnologias, que permitem a transmissão de energia elétrica para os dispositivos implantáveis sem a necessidade de fios percutâneos, têm demonstrado grande potencial. Os sistemas TETS oferecem uma solução inovadora para a entrega de energia, eliminando a necessidade de conexões externas e, assim, reduzindo o risco de infecções associadas aos cabos de alimentação.

TETS, como a tecnologia usada nos dispositivos AbioCor e LionHeart, têm sido testadas em pequenos grupos de pacientes. O AbioCor, por exemplo, foi implantado em 14 pacientes sem incidências de infecções relacionadas ao dispositivo, embora as taxas de mortalidade ainda permanecem altas devido a complicações como tromboembolismo e trombose da bomba. O LionHeart também apresentou redução nas infecções, mas a taxa de falhas do dispositivo e eventos neurológicos continuaram a ser um desafio. Isso demonstra que, embora os avanços em termos de redução de infecções sejam notáveis, a durabilidade e a fiabilidade desses dispositivos ainda precisam ser aprimoradas para se tornarem viáveis a longo prazo.

Outro desenvolvimento interessante no campo dos MCS é o surgimento de dispositivos como o Aeson, que utiliza uma abordagem de "transferência de energia coplanar" (CET), permitindo o funcionamento do LVAD sem necessidade de fios externos. A principal vantagem deste dispositivo é que ele oferece mais de 6 horas de operação contínua com energia sem fio, graças à indução de energia através de uma bobina externa e outra interna, implantada sob a pele. A inovação do Aeson também está na sua capacidade de mimetizar respostas fisiológicas normais do coração, ajustando a taxa de batimentos cardíacos e o volume sistólico com base nas necessidades do paciente, o que permite um maior grau de personalização no tratamento.

Embora o uso de dispositivos de suporte circulatório tenha se mostrado promissor em muitos casos, os desafios continuam. A durabilidade e o risco de complicações, como trombose, infecção e eventos neurológicos, ainda são fatores determinantes para a eficácia dos dispositivos. Além disso, o impacto do uso prolongado de dispositivos como o LVAD sobre a função endotelial e a formação de coágulos no sangue permanece um campo de pesquisa contínuo. O fluxo pulsátil, como visto em sistemas mais antigos, pode desempenhar um papel fundamental na mitigação de tais riscos, mas é necessário mais estudo para garantir sua eficácia em longo prazo.

A principal questão que surge em relação ao futuro desses dispositivos é como melhorar sua sustentabilidade e eficácia a longo prazo, com foco na redução de complicações e no aumento da qualidade de vida dos pacientes. A transição para tecnologias de energia sem fio, como o TETS, e o desenvolvimento de dispositivos com maior durabilidade e menor risco de falhas, são passos cruciais para garantir que o suporte circulatório mecânico possa atender a um número maior de pacientes com doenças cardíacas graves.