A identificação laboratorial de parasitas requer uma série de abordagens técnicas que vão desde o exame macroscópico até métodos mais sofisticados como a cultura de tecidos e técnicas histopatológicas. No caso dos cestódeos, pode-se aplicar uma leve pressão ou realizar um movimento de rolamento para extrair os ovos através do poro genital. Após a expressão, os ovos podem ser analisados sob lâmina com uma gota de solução salina ou iodo, permitindo uma identificação direta. No entanto, deve-se considerar que alguns ovos expressos manualmente podem estar subdesenvolvidos e, por isso, não apresentarão características morfológicas ou dimensões descritas nos manuais clássicos. É o caso de Dipylidium caninum, cujos pacotes ovais frequentemente contêm apenas 2 a 4 ovos quando manipulados em tecido clarificado com lactofenol, em contraste com os 4 a 10 ovos observados quando excretados naturalmente.

A análise macroscópica de artrópodes clinicamente relevantes é uma prática comum, principalmente em amostras coletadas da pele ou dos cabelos, embora esses organismos também possam ser encontrados em ambientes domésticos. Carrapatos, piolhos e lêndeas, percevejos, pulgas, ácaros e larvas de moscas causadoras de miíase estão entre os artrópodes mais frequentemente encontrados nos laboratórios clínicos. A identificação precisa é dificultada por diversos fatores, como o estado de conservação do espécime, a distinção entre organismos clinicamente relevantes e achados incidentais, e a capacitação da equipe laboratorial para realizar uma classificação taxonômica adequada. Em geral, recomenda-se que a identificação seja feita apenas até o nível necessário para o manejo clínico, evitando atribuir relevância médica a organismos não parasitários, como centopeias, mariposas, abelhas, vespas e formigas.

A análise histopatológica é outra ferramenta fundamental, permitindo o estudo tanto de helmintos em bloco quanto de tecidos humanos suspeitos de conter parasitas. Esses tecidos, frequentemente biópsias ou preparações por toque, são fixados em formol, embebidos em parafina e cortados em secções finas para coloração. A coloração padrão com hematoxilina e eosina (H&E) fornece uma visão abrangente das estruturas do hospedeiro e do parasita, embora nem todos os parasitas apresentem detalhes nítidos com esta coloração. Em tais casos, outras colorações especiais como o ácido periódico de Schiff (PAS), útil para destacar Leishmania e coccídios, ou a coloração de Giemsa, indicada para infecções cutâneas por Leishmania, podem ser empregadas. Entretanto, poucos patologistas anatômicos têm formação suficiente para identificar parasitas até o nível de gênero em cortes histológicos, sendo necessária a consulta com especialistas.

A cultura de parasitas, embora pouco utilizada em laboratórios clínicos, é crucial para alguns organismos específicos. As amebas de vida livre, como Acanthamoeba e Naegleria, são cultivadas em ágar não nutritivo recoberto por uma monocamada bacteriana, já que se alimentam de bactérias. Essas culturas são essenciais para diagnosticar encefalite amebiana primária ou queratite amebiana, sendo o líquido cefalorraquidiano, raspados de córnea, lentes de contato e soluções os materiais mais comumente utilizados para inoculação. Já Balamuthia mandrillaris, por não se alimentar de bactérias, é cultivada em culturas de células cerebrais humanas ou de primatas.

A cultura em ágar para Strongyloides baseia-se na visualização da migração das larvas motéis, que ao se deslocarem, arrastam consigo bactérias da flora intestinal, criando trilhas visíveis na superfície do meio. As placas são preparadas com fezes frescas, incubadas a 28–30 °C e avaliadas diariamente por até seis dias. A detecção de trilhas indica a presença de nematoides vivos, o que exige cuidados rigorosos de biossegurança, dado o risco de infecção por penetração dérmica. Quando detectadas, a placa é fixada com formalina, e o sedimento obtido após centrifugação é examinado microscopicamente para confirmação da presença das larvas.

A sorologia para parasitas, apesar de ser um recurso complementar importante, apresenta desafios devido à variabilidade da resposta imune entre os indivíduos e à ocorrência de reatividade cruzada com antígenos de outros organismos. Além disso, a produção de anticorpos pode demorar ou não ocorrer em níveis detectáveis, dependendo da fase da infecção e do tipo de parasita envolvido.

Para além das técnicas descritas, é fundamental compreender que a interpretação correta dos achados laboratoriais depende do contexto clínico e epidemiológico do paciente. A distinção entre colonização, infecção ativa e achados acidentais exige um conhecimento profundo do ciclo de vida dos parasitas, sua patogenicidade e distribuição geográfica. O laboratório não deve ser uma entidade isolada, mas um componente integrado ao raciocínio clínico, em constante diálogo com o médico assistente. A capacitação contínua da equipe, bem como o acesso a referências morfológicas atualizadas e suporte especializado, são determinantes para garantir diagnósticos precisos e relevantes.

O que é a paralisia por carrapato e como se manifesta clinicamente?

A paralisia por carrapato (PC) é uma condição neurológica incomum, associada a mais de 40 espécies de carrapatos no mundo, com maior prevalência registrada na Austrália e América do Norte. Nos Estados Unidos e Canadá, o carrapato Dermacentor andersoni, conhecido como carrapato da montanha rochosa, é a espécie mais frequentemente relacionada à PC, especialmente nas regiões do noroeste do Pacífico e nos estados do interior oeste. Já o Dermacentor variabilis, presente no sudeste dos EUA, também pode causar PC, embora com menor frequência. Outras espécies como Amblyomma e Ixodes são causas raras dessa condição.

A fisiopatologia da PC não está completamente esclarecida, mas sabe-se que é desencadeada por uma neurotoxina injetada pela saliva de algumas fêmeas de carrapatos durante a alimentação prolongada. Para que a PC se desenvolva, é imprescindível que o carrapato seja uma fêmea engurgitada, capaz de produzir a toxina, e que tenha alimentado por um período médio de cinco dias, geralmente entre quatro e sete dias. O local da fixação do carrapato no hospedeiro também é importante, sendo comum a localização próxima ao sistema nervoso central, como atrás das orelhas, na linha do cabelo ou na nuca.

A PC afeta com maior frequência crianças pequenas, especialmente meninas com cabelos longos e escuros, pois a dificuldade de detectar o carrapato acarreta uma maior duração da alimentação e, consequentemente, maior exposição à toxina. A quantidade da toxina necessária para causar a paralisia é proporcional ao tamanho do hospedeiro, tornando as crianças mais vulneráveis do que adultos.

Os sintomas iniciais são vagos e inespecíficos, geralmente começando com fadiga e fraqueza, progredindo para ataxia e paralisia ascendente, sem febre, erupções cutâneas ou alterações do estado mental. Sem intervenção, a PC pode evoluir para insuficiência respiratória e morte, com taxas de mortalidade relatadas em até 12% dos casos não tratados. A paralisia por carrapato frequentemente é confundida com a síndrome de Guillain-Barré, mas a progressão da PC é muito mais rápida.

O diagnóstico clínico é confirmado com a remoção do carrapato, que é curativa. Os sintomas começam a regredir em poucas horas, e a recuperação completa pode ocorrer em até 12 horas. A técnica de remoção deve ser cuidadosa: o carrapato deve ser retirado segurando suas peças bucais, evitando comprimir o corpo para não injetar mais toxina. Não é necessário remover as peças bucais presas, pois a toxina não permanece nelas.

A identificação do carrapato, embora não essencial para o manejo clínico, pode ser útil para reforçar o diagnóstico. A espécie Dermacentor andersoni pode ser identificada por características morfológicas específicas, como a presença de olhos, um escudo dorsal ornamentado, peças bucais curtas, sulco anal seguindo a curvatura do corpo e placas espiraculares com protuberância dorsal e poucos círculos de células golbosas.

Um aspecto importante é que a PC muitas vezes é negligenciada na avaliação inicial, levando a exames desnecessários, internações prolongadas e atrasos no tratamento. Médicos infectologistas e neurologistas familiarizados com essa condição são geralmente os que diagnosticam corretamente a PC.

Além do diagnóstico e tratamento, o conhecimento da PC reforça a importância da inspeção cuidadosa para carrapatos em populações vulneráveis, principalmente crianças com cabelos longos em áreas endêmicas. A prevenção envolve o uso de roupas protetoras e a inspeção minuciosa após exposição a ambientes infestados.

Além disso, a identificação das espécies de carrapatos e o reconhecimento das características que indicam risco para PC são essenciais para estudos epidemiológicos e para a educação dos profissionais de saúde. Compreender que apenas fêmeas engurgitadas, alimentando-se por vários dias e em locais específicos do corpo, podem causar a paralisia, auxilia na avaliação clínica e na orientação adequada da remoção.

Endereçar rapidamente a retirada do carrapato previne complicações graves, e a rápida reversão dos sintomas após a remoção destaca a importância do diagnóstico precoce e tratamento imediato. A ausência de febre e sinais inflamatórios, associada à paralisia ascendente rápida e reversível, são características-chave que diferenciam a PC de outras doenças neurológicas.