Eles não estão a favor da Virgínia Ocidental. Eles não sabem nem que a Virgínia Ocidental existe. Eles não gostam de carvão. Eles não gostam de energia. Ouvindo essas afirmações, pode-se sentir um espírito de hostilidade e desdém. Mas, o mais grave, afirmam eles, é que os adversários não apenas os ignoram, mas também apoiam uma ameaça muito maior: os alienígenas. Trump afirma com convicção: "Os Democratas querem transformar a América em um grande santuário para criminosos alienígenas… eles protegem mais os alienígenas criminosos do que as pessoas". Essa divisão do mundo entre "Nós" e "Eles" é um elemento essencial de qualquer narrativa populista ou fundamentalista. O conflito é travado com uma ênfase dramática, e o inimigo é descrito não apenas como um adversário político, mas como uma entidade ameaçadora, distante da identidade central da população.

O discurso de Trump, por exemplo, faz uso de um artifício bem conhecido da retórica populista: a construção de um inimigo comum e maligno. Os democratas, que são representados por esse “Eles”, são, portanto, responsáveis pela ruína do país, pelo enfraquecimento das suas instituições, pelo desrespeito à bandeira e pela degradação da lei e da ordem. Mais grave ainda, segundo o discurso, eles estão dispostos a abrir as portas para a criminalidade, dando liberdade aos “predadores violentos” e aos criminosos, permitindo que tomem conta do país. A resposta a essa ameaça seria a união de "Nós" contra "Eles", e a solução seria o voto contra as políticas que Trump caracteriza como a "abertura das fronteiras" e a "liberação" de criminosos.

No entanto, o discurso de Trump não se limita à denúncia de "Eles" e à articulação de um conflito. Ele também antecipa a vitória de "Nós". Ele fala sobre o retorno da indústria do carvão e do aço, elementos que são frequentemente associados à nostalgia de um passado mais simples, onde os empregos e a dignidade trabalhadora estavam mais seguros. Ele exalta o crescimento da economia nacional e a conquista de acordos bilaterais com outros países, como a mudança da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, uma medida vista como um sinal de força e independência internacional. Em suas palavras, “Políticos, eles não fazem isso. Nós fazemos.” Essa retórica não apenas estabelece a luta, mas promete um triunfo. A vitória que ele descreve não é apenas política; é também simbólica, uma espécie de retorno à era de ouro onde a nação seria restaurada e as promessas do sonho americano renovadas.

Entretanto, esse sonho é duplamente marcado pela ideia de que o maior inimigo a ser derrotado é a elite. Trump afirma com audácia que ele é mais rico, mais inteligente e mais bem-sucedido que os membros dessa elite, e mais uma vez inverte o jogo, apresentando-se não como um outsider, mas como parte do povo. Ele e seus apoiadores são os verdadeiros "elite", uma inversão que, por sua vez, destrói as distinções entre os poderosos e os marginalizados. Em sua visão, os ricos e poderosos não são mais do que um grupo a ser combatido, e, mais importante ainda, são descritos como aqueles que insulta a dignidade e a identidade de quem se sente excluído.

Esse tipo de narrativa é comum entre os populistas e fundamentalistas. Ela segue uma estrutura dramática de ameaça, crise, liderança, ação, luta, vitória e retorno a um estado idílico, frequentemente idealizado como um "passado dourado". Esse discurso não apenas busca evocar emoções de medo, raiva, vergonha, nojo, excitação, esperança e alívio, mas também se baseia em um senso profundo de identificação com o grupo, o "Nós". O "Eles", por sua vez, são identificados por suas características negativas e, em última análise, seus comportamentos, que são pintados como exemplos claros de malícia ou ignorância.

Os populistas e fundamentalistas, ao contar essas histórias, fazem com que os seus seguidores vejam o mundo como um campo de batalha onde tudo é uma questão de sobrevivência do "Nós" contra os "Eles". Mas o mais importante é que, para que essa narrativa funcione, ela depende de uma estrutura emocional forte. O medo de perder a identidade, a raiva pela injustiça percebida e a esperança de uma restauração redentora são os motores essenciais que alimentam o movimento. Os elementos emocionais, portanto, não são apenas acessórios a uma ideologia política ou religiosa. Eles são o combustível que mantém o movimento vivo, mantendo a energia de seus seguidores acesa, pronta para a ação.

Além disso, é crucial compreender que essas narrativas não surgem de um vácuo. Elas são formadas por um complexo processo social e psicológico, onde uma visão de mundo conflitante é imposta ou internalizada pelos próprios seguidores. Isso não significa que os seguidores são sempre passivos ou manipulados. Em muitos casos, eles compartilham das mesmas frustrações, medos e desejos que os líderes populistas exploram para consolidar sua base de apoio.

Essas emoções não são apenas reações momentâneas. Elas são profundamente enraizadas na percepção do indivíduo sobre sua identidade e seu lugar no mundo. Para o populista, a política não é uma questão de debate racional, mas de mobilização de sentimentos. A política se torna, assim, uma questão de afirmação identitária, onde o voto não é apenas uma escolha política, mas uma expressão de pertencimento a um grupo e de defesa contra uma ameaça externa.

O estudo do populismo e do fundamentalismo, portanto, exige uma compreensão não apenas das figuras públicas e suas falas, mas das emoções e das identidades que são acionadas por essas narrativas. A luta entre "Nós" e "Eles" não é apenas uma luta por poder político, mas uma luta pela definição do que significa ser parte de uma comunidade, de uma nação, de uma identidade coletiva.

Qual é o Impacto da Colaboração entre Populismo e Fundamentalismo na Política de Israel?

O governo de Benjamin Netanyahu, que se consolidou como o mais longevo da história de Israel, tem sido um exemplo claro do poder crescente das alianças entre o populismo e o fundamentalismo religioso. As suas políticas, fortemente impulsionadas por movimentos fundamentalistas dentro do judaísmo, refletiram uma trajetória de expansão territorial e uma construção identitária que redefine os limites do Estado de Israel. Netanyahu, apoiado por aliados como o presidente Donald Trump, conseguiu moldar uma narrativa política que não apenas desafiava as normas internacionais, mas também ganhava apoio popular entre segmentos religiosos e conservadores da sociedade israelense.

A base de apoio de Netanyahu incluiu os Haredim e o movimento Gush Emunim. Os Haredim, conhecidos por sua separação do mundo secular e dedicação extrema à observância das leis religiosas, representam uma vertente do judaísmo que, apesar de marginalizada politicamente, tem grande influência no voto religioso. Por outro lado, o Gush Emunim, um movimento mais recente, focado na expansão territorial e na reivindicação de toda a terra de Israel como herança divina, trouxe um elemento de justificação religiosa para as políticas de colonização e ocupação de terras palestinas.

A aliança entre esses grupos e a política de Netanyahu também reflete a crescente fusão entre fundamentalismo religioso e populismo. O apoio ao expansionismo de Netanyahu não é apenas uma questão de pragmatismo político, mas também está profundamente enraizado em uma narrativa religiosa que vê a expansão do território como parte do cumprimento de uma profecia bíblica. Essa visão transforma a ocupação de terras palestinas e a opressão dos árabes em uma missão sagrada, um projeto que, nas palavras dos líderes fundamentalistas, está diretamente relacionado com a vinda do Messias e o estabelecimento do Reino de Deus.

O apoio de Netanyahu a Trump e outros líderes populistas não é acidental. Ambos compartilham uma visão política em que o isolamento e o nacionalismo são valores centrais. Assim como Trump, Netanyahu favorece políticas que desafiam instituições internacionais e promovem uma visão de Israel que se coloca contra um "outro" definido pelos árabes e pela comunidade internacional. Esse "outro" é, em muitos casos, os palestinos, que se tornaram os inimigos visíveis na narrativa de defesa da identidade israelense.

No entanto, mesmo diante do fortalecimento dessa aliança, Netanyahu enfrentou dificuldades políticas internas. As tentativas de formar um governo após as eleições de 2019 falharam, e as acusações de corrupção contra ele começaram a ganhar força. A relação simbiótica entre os Haredim e o Likud, partido de Netanyahu, revela uma dependência mútua: os Haredim, com seu voto religioso, garantem a governabilidade de Netanyahu, enquanto ele oferece apoio político em troca de maior autonomia religiosa. A força dessa aliança é um dos pilares que sustentam a governabilidade de Israel, mas também é um fator que contribui para a perpetuação de um conflito que parece ser cada vez mais difícil de resolver.

A importância da narrativa reacionária, com sua promessa de restaurar um "idade dourada" através da luta contra inimigos externos e internos, é fundamental para entender a dinâmica de poder em Israel. Os movimentos populistas, como o de Netanyahu, têm como objetivo não apenas manter um status quo político, mas também reforçar uma identidade social centralizada em torno de uma visão de "nós contra eles". Esse clima de constante conflito psicológico se torna uma razão de ser para muitos desses grupos, tornando as soluções diplomáticas e de conciliação mais difíceis de alcançar.

Além disso, a confluência de populismo e fundamentalismo cria um tipo de identidade política que se sustenta em uma narrativa de exclusão e adversidade. O "nós" – o povo judeu – se define em oposição ao "eles", que são, principalmente, os palestinos e os países árabes vizinhos. Esse dualismo cria uma polarização profunda, que impede a construção de pontes entre diferentes grupos dentro de Israel e na região como um todo. A estratégia de Netanyahu, apoiada por grupos religiosos, tem conseguido garantir uma forte base eleitoral, mas ao mesmo tempo tem aprofundado as divisões sociais e políticas dentro do Estado.

É crucial entender que a dinâmica política de Israel não é apenas uma questão de ações militares e diplomáticas, mas também de uma guerra psicológica constante, onde a identidade, a religião e a política estão entrelaçadas. A resistência à mudança e a perpetuação do status quo são alimentadas por uma narrativa de destino divino e nacionalista, o que torna qualquer solução de paz mais distante e difícil de alcançar.