No domingo, ele visitou o museu e ficou por um longo tempo diante de um quadro de Borovikovsky, que retratava uma jovem donzela (aparentemente do século XVIII) vestida de branco e com um olhar etéreo. Ali, ficou refletindo: "Onde ela está agora?" O garoto o olhou nos olhos, de forma séria, apertou os olhos como se estivesse observando uma pintura e, sem sorrir, perguntou: "Onde você estará daqui a duzentos anos?" Não tinha a leveza para responder com humor. Talvez ele escreva para você? Meu primo tem quinze anos, e quando estou em sua casa, ele e seus amigos também costumam me fazer perguntas insanas.
Este questionamento de um jovem reflete a inquietação profunda que qualquer ser humano pode sentir diante da transitoriedade da vida e da permanência da arte. Tal como o filósofo Marx observou, o homem não pode mais voltar a ser criança sem cair na infantilidade. Contudo, como ele também ressaltou, a ingenuidade da infância pode, paradoxalmente, representar uma forma de sabedoria pura. Talvez, em uma busca espiritual, seja preciso buscar a reprodução da nossa essência verdadeira, mas em um plano mais elevado, mais maduro. A questão da busca pela verdade e pela conexão com algo superior é central para o processo de autodescoberta e crescimento espiritual.
Não é à toa que os artistas nos fascinam, especialmente aqueles capazes de revelar a espiritualidade e a humanidade de maneira profunda e expressiva. Mas a verdadeira pergunta é: não somos todos nós igualmente desafiados a descobrir e desenvolver essa capacidade dentro de nós mesmos? Não apenas admirar o talento alheio, mas entender que nossa própria capacidade de buscar a beleza e a verdade é uma jornada pessoal, que exige introspecção e coragem.
A reflexão sobre o vazio existencial, sobre os sentimentos e a conexão com a arte, também se estende àqueles momentos solitários, quando estamos sozinhos com nossos pensamentos. Durante a solidão, quando a mente se entrega ao questionamento e à busca por significado, o indivíduo tem a oportunidade de trabalhar a sua própria essência e construir uma maior compreensão do mundo e de si mesmo. Neste sentido, as horas solitárias podem ser criativas e transformadoras, desde que preenchidas com a reflexão sobre a vida e a espiritualidade. A verdadeira arte de viver, se pode ser chamada assim, está na forma como um ser humano se relaciona com sua própria alma, como se compreende e se coloca no mundo, seja através de sua convivência social, do amor ou da busca pela verdade.
É interessante, então, observar como o mundo das emoções humanas, tão vasto e poderoso, se manifesta na arte. Na literatura e na pintura, por exemplo, é possível experimentar um prazer imenso ao entrar em contato com esse mundo. Mas a grande transformação ocorre quando esses sentimentos tomam uma forma material e tangível. Às vezes, a sensação de alegria é tão intensa que pode parecer capaz de fornecer energia suficiente para impulsionar uma espaçonave. Contudo, o paradoxo é que essa alegria é efêmera: ao amanhecer, ela se dissipa, e o que permanece é o silêncio. Onde foi aquele tesouro emocional? A resposta, talvez, seja simples: ele está com você ainda. Se tivesse partido de verdade, sua noite não seria tão insondável.
Na obra de Rembrandt, por exemplo, encontramos uma arte que parece nos ouvir. Suas figuras, sejam elas jovens mulheres ou velhos sábios, têm algo de imersivo; são como se estivessem em constante escuta. A arte de Rembrandt não exige que falemos, mas sim que estejamos presentes no silêncio, no reconhecimento da humanidade que está diante de nós. Em sua pintura, há algo de profundamente humano, uma conexão que transcende a distância temporal e espacial entre o artista e o espectador. Já na arte moderna ocidental, muitas vezes nos deparamos com a falta dessa escuta. O que vemos, particularmente em filmes de diretores como Ingmar Bergman, é uma espécie de vazio existencial: os personagens falam incessantemente, mas raramente conseguem ouvir ou ser ouvidos. Eles estão distantes uns dos outros, presos em sua solidão.
Esse contraste entre a arte que fala e a arte que escuta não é apenas uma questão de técnica ou estilo. Ele diz respeito a algo muito mais profundo, uma perda, talvez, do que há de mais precioso no contato humano: a escuta genuína, a capacidade de estar presente para o outro, de experimentar sua humanidade em um nível tão profundo que nos transformamos juntos. Essa capacidade de escutar, de abrir-se para o outro sem julgamentos, é uma qualidade raramente cultivada no mundo contemporâneo, onde as relações humanas são frequentemente mediadas por distrações, egos e superficialidades.
O que a arte, a verdadeira arte, nos ensina, é a capacidade de olhar e ver mais profundamente do que a superfície. Quando nos permitimos essa contemplação silenciosa, seja diante de uma obra-prima ou de um simples momento da vida, somos chamados a perceber algo além de nossa própria perspectiva limitada. Cada interação, cada emoção vivida, cada momento de solitude, pode se tornar uma oportunidade para um encontro profundo com a verdade. E, nesse processo, somos todos, inevitavelmente, transformados.
Como a Intercâmbio Humano Se Assemelha à Criação Artística: Reflexões sobre o Mundo e a Alma
Em momentos de dor ou de êxtase, a linha que separa os indivíduos se torna tênue. Não são apenas os sentimentos ou o sofrimento de uma pessoa que nos afetam, mas há algo mais profundo que conecta nossas existências de maneira inexplicável, algo que pode ser descrito como uma forma de arte. O momento de dor, por exemplo, é quando, sem barreiras, atravessamos a fronteira entre o que é nosso e o que é de outro. A dor do outro, a alegria do outro, as emoções alheias se tornam, de algum modo, nossas também. E em muitas situações, é como se a experiência do outro fosse algo que ganhamos, algo que se incorpora a nós de uma maneira semelhante ao processo de criação artística.
Em uma de suas primeiras obras, Marx dizia que em uma sociedade comunista, os sentimentos e prazeres do outro seriam parte de nossa própria felicidade. Essa fórmula, ainda que revolucionária, revela um princípio profundo do intercâmbio humano: o compartilhamento das emoções, das experiências, é a chave para um entendimento mais profundo da vida. Ao compreender verdadeiramente a dor e a felicidade do outro, ganhamos algo novo, algo que antes não existia dentro de nós. Tal como no processo artístico, onde o criador vê o mundo sob uma nova ótica, nós também, em nossas interações, somos capazes de perceber o que está oculto nos outros. Essa visão artística das relações humanas é o que torna a convivência uma verdadeira obra de arte.
Quando nos relacionamos com alguém, descobrimos o mundo dessa pessoa de uma forma única e profunda, como se estivéssemos criando algo novo a cada momento. Cada ato de amor, de compaixão, de compreensão se transforma em algo singular, um tesouro intangível que é gerado naquele instante. Não se trata de acumular mais informações ou mais experiências, mas de gerar algo que antes não existia, um momento genuíno de conexão. Em muitos aspectos, a verdadeira interação humana é uma criação de algo novo, algo que não poderia ser repetido ou copiado.
Ainda, como na criação artística, onde o autor se projeta nas suas obras, também em nossas interações, o outro nos oferece a chance de nos descobrir. Cada encontro, cada sentimento compartilhado, carrega uma parte de quem somos e do que poderíamos ser. Esses momentos de troca não são meros encontros passageiros, mas expressões profundas de nossa própria humanidade, onde os limites entre o eu e o outro desaparecem. Por meio dessas interações, estamos constantemente moldando e sendo moldados, participando da criação de um mundo mais amplo.
Essa ideia de que o intercâmbio humano é uma forma de arte nos leva a uma reflexão sobre os desafios que enfrentamos nas relações contemporâneas. A velocidade das mudanças tecnológicas, como observado por Marshall McLuhan, altera nossas interações e nos coloca diante de um novo tipo de ambiente. O mundo está em constante transformação, muitas vezes de uma forma que parece desconectada da nossa essência. McLuhan destaca que a tecnologia modifica o espaço em que existimos, mas frequentemente sem nos fazer refletir sobre a essência do ser humano. A relação entre o homem e seu ambiente nunca foi tão dinâmica, mas, ao mesmo tempo, talvez nunca tenha sido tão impessoal e superficial. Em meio a toda essa transformação, muitas vezes somos levados a nos perguntar: até que ponto conseguimos ainda reconhecer a humanidade em nossos próprios atos e nos outros?
Em alguns momentos, o homem parece ter perdido a conexão consigo mesmo. Em filmes como os de Ingmar Bergman, vemos essa desconexão em sua forma mais pura, onde os personagens vivem em um mundo vazio, frio e sem direção. McLuhan fala da "realidade" dominada pela tecnologia, onde a experiência humana se torna uma consequência das mudanças tecnológicas, em vez de ser guiada por nossa própria essência. A tensão entre esses dois mundos – o mundo acelerado e imersivo da tecnologia e o mundo introspectivo e vazio da existência humana – parece ser um reflexo de nossa própria luta interna. Podemos nos perguntar: ao buscamos nos conectar com o outro, estamos, na verdade, tentando retomar a conexão com nós mesmos, tentando recriar a experiência humana em meio ao caos moderno?
A resposta a essa questão talvez resida na ideia de que não há vida sem mudança, mas a mudança não pode ser uma traição ao homem. A transformação do homem e do mundo não deve ocorrer em detrimento da alma humana. Como a física nos ensina com a lei da conservação de energia, nada se perde; tudo se transforma. Da mesma forma, a agitação emocional de uma geração pode ser suavizada pela razão de outra, mas, com o tempo, esse ciclo culminará novamente em momentos de profunda emoção humana. Assim, a criação artística e o intercâmbio humano tornam-se entrelaçados em um processo contínuo, onde o que parece perdido pode, na verdade, ser preservado e transformado.
É essencial, portanto, que ao mesmo tempo em que avançamos tecnicamente e exploramos novas fronteiras, não percamos de vista o que torna a nossa experiência verdadeiramente humana. O equilíbrio entre o desenvolvimento tecnológico e a preservação da sensibilidade humana é o que permitirá que, mesmo no futuro, a essência de nossas interações e de nossa própria criação artística permaneça intacta. Em um mundo em constante mudança, é a capacidade de nos conectar profundamente com os outros e com nós mesmos que continua sendo a verdadeira arte.
Como um artesão encontrou a sua arte: O segredo do faiança e a busca pela verdade
Bernard Palissy, um homem marcado por uma vida de desafios e obsessões, representa a jornada de um artesão que, à força de trabalho incansável e dedicação absoluta, descobriu mais do que o segredo de uma técnica cerâmica. Durante anos, Palissy não abandonou seu forno deteriorado, isolado em seu ateliê. A paciência e persistência com que se entregava a seu ofício eram vistas por muitos como loucura. Ele passava noites inteiras rodeado pelo som dos gatos miando e pelos ventos fortes que sopravam sem descanso. Apesar das zombarias dos outros habitantes de Sainte, que o chamavam de "o oleiro louco", Palissy seguia seu caminho, convencido de que a resposta estava ali, nas mãos que modelavam a faiança, não apenas para criar objetos, mas para alcançar um estado mais profundo de compreensão do mundo.
O produto final de sua busca, a faiança, era mais do que um simples utensílio. Seus pratos e xícaras decorados com folhas, peixes, lagartos e outros elementos naturais não eram apenas técnicas de decoração; representavam a própria alma do artesão, a captura da essência da natureza. Se hoje, mais de 400 anos depois, podemos acessar facilmente esse conhecimento em enciclopédias, os artesãos do passado, como Palissy, tinham que se submeter a um processo árduo de tentativa e erro, sem garantias de sucesso. A habilidade técnica de Palissy era inquestionável, mas o que ele realmente buscava, além da perfeição em seu trabalho? A resposta pode ser encontrada em sua dedicação incansável, seu desejo de se conectar com o próprio universo através de sua arte.
Sua busca pelo segredo da faiança foi uma busca mais ampla, pelo entendimento profundo das leis da natureza. Durante toda sua vida, Palissy foi um explorador, um cientista autodidata. Ele viajou pela Europa, estudando rochas, fósseis, observando o mundo com um olhar atento, curioso e insaciável. No entanto, era justamente essa busca por respostas mais amplas que o afastava da definição tradicional de "artista". Ele não via sua obra como algo derivado da imaginação, como os artistas da sua época, mas como um reflexo da realidade, uma representação precisa da natureza. Para Palissy, a verdadeira arte não era um produto da fantasia, mas uma transcrição do mundo como ele o via.
No entanto, quando observamos seus trabalhos hoje, mais de quatro séculos depois, é impossível não ver neles algo mais do que simples reproduções da natureza. As folhas, os peixes, os lagartos parecem viver, vibrar com uma energia única, como se Palissy tivesse infundido neles algo mais, algo que transcende a mera técnica. Essa energia que percebemos em sua obra não é fruto da imaginação de um artista, mas da dedicação absoluta a uma verdade mais profunda. Palissy pode não ter se considerado um grande artista, mas seu trabalho ressoa como um testemunho da capacidade humana de capturar a essência da vida e da natureza.
Ele também não se via como um "homem renascentista" no sentido pleno do termo, como Leonardo da Vinci, por exemplo. Da Vinci foi um mestre que se dedicou igualmente às artes e à ciência desde a infância. Palissy, por outro lado, era um homem de origem simples, autodidata, que descobriu sua vocação artística apenas mais tarde na vida. E ainda assim, sua busca pela verdade e seu método de trabalho nos lembram que a verdadeira arte muitas vezes surge de um lugar de dedicação absoluta e busca implacável por algo maior.
O que Palissy nos ensina, ao longo de sua vida cheia de desafios e reviravoltas, é que a arte não é apenas sobre técnica ou talento, mas sobre a verdade. Sua obra nos fala da possibilidade de transcender os limites da técnica, de unir ciência e arte em uma única busca pela compreensão do mundo. Em sua busca incansável pela perfeição da faiança, ele encontrou a verdadeira arte: a capacidade de transformar a matéria e a técnica em algo que vai além do visível, algo que toca as profundezas da experiência humana.
É importante lembrar que, para Palissy, o verdadeiro "artista" não era alguém que simplesmente imaginava, mas alguém que era capaz de observar profundamente a natureza e refletir essa observação de forma precisa e autêntica. E a lição que nos deixa é clara: a verdadeira arte não é apenas uma expressão da subjetividade humana, mas também uma busca pela verdade universal que reside em todos os aspectos da nossa realidade.
Como o Parque se Torna Vivo: A Jornada da Natureza e do Tempo
O parque parecia ganhar vida apenas ao cair da noite, quando as luzes dos postes já não queimavam e o céu do sul brilhava, vibrante, como em um planetário, descendo cada vez mais perto da terra. Era nesse momento que a realidade se diluía nas sombras e o lugar se transformava. Seres mitológicos e criaturas fantásticas pareciam surgir: renas, panteras, centauros e mulheres que lembravam Nefertiti, cada qual dando sua contribuição ao espetáculo etéreo da noite. A sensação era de que, a qualquer momento, poderíamos encontrar pegadas na terra úmida e escura, como se as rochas espalhadas pelo parque fossem portais para outro mundo. Essas pedras, grandes e vulcânicas, se tornavam mais do que elementos naturais, participando dessa magia silenciosa, tornando-se figuras animadas em um enredo que se renovava a cada noite.
Durante o dia, a cena mudava, mas a fascinação não diminuía. As rochas, que haviam sido moldadas pelo vento e pela chuva até atingirem formas quase humanas ou animais, repousavam firmemente sobre o solo que agora se tornava verdejante, com brotos de flores que se abriam como pequenas mãos cerradas. Eram rochas antigas, com milênios de história gravados em sua superfície, e sua presença parecia acentuar ainda mais a efemeridade da primavera, especialmente nas regiões altas da montanha. Com o tempo, percebi que a beleza dessas pedras, longe de ser meramente acidental, fazia parte de um desenho maior, uma harmonia que tomava forma à medida que o ciclo da natureza se completava. O parque não era apenas um conjunto de árvores e rochas, mas uma obra de arte viva, um testemunho de uma sabedoria que transcendia o tempo.
Foi durante minhas últimas semanas ali que conheci um homem que, com seu olhar atento e sorriso enigmático, parecia entender profundamente essa relação entre o espaço e o tempo. Um velho de pele escura e postura ereta, que caminhava com a leveza de quem sabia que estava conectando mundos distintos. Ele me falou sobre o parque com um entusiasmo discreto, quase como se estivesse contando um segredo: há quinze anos, as pedras estavam enterradas em um pântano, longe da vida e da luz. As árvores e as rochas, essas peças que formavam o caráter do lugar, eram mais do que simples elementos naturais; eram testemunhas de uma transformação, um trabalho árduo e paciente que havia feito do parque algo singular.
"Sem essas pedras, o parque não seria o mesmo", disse ele, com um tom que misturava a sabedoria dos velhos e a ironia de quem já viu o suficiente da vida para não se impressionar com os mistérios do mundo. Sua voz, jovial ao rir, parecia não pertencer ao corpo de um homem de mais de setenta anos. Quando me conduziu até uma árvore, uma abeto que parecia comum, mas que, aos seus olhos, tinha um significado especial, percebi que ele me mostrava algo mais do que apenas uma planta. Ele falava de uma era em que o parque era apenas um sonho e de como ele e outros homens, como ele, haviam dado forma a esse sonho, dia após dia, com suas próprias mãos e visão.
O parque não surgiu por acaso. Seu futuro estava ligado ao destino de uma cidade que buscava se tornar um centro de bem-estar mundial, tal como as famosas águas termais de Karlovy Vary na Checoslováquia. Contudo, as águas sozinhas não bastavam. Para que a cidade se tornasse um resort reconhecido, era necessário mais do que infraestrutura. Era preciso criar algo que representasse o espírito da cidade e da região – algo que fosse, ao mesmo tempo, belo, prático e ético. O parque não seria apenas uma atração turística, mas o coração da cidade, um reflexo do equilíbrio entre a economia e a ética, entre o benefício humano e o respeito pela natureza. Foi nesse contexto que o homem, a quem eu chamava de "Velho Amanhã-Depois", desempenhou um papel essencial: sua missão era transformar um pântano infértil em um jardim montanhoso capaz de inspirar gerações.
Ele e sua equipe, com sua dedicação silenciosa, representavam a luta pela criação do belo e do sustentável. O futuro do parque, e com ele o futuro da cidade de Dzhermuk, dependia de uma visão que não se deixava limitar pelo imediatismo das necessidades atuais, mas que enxergava o panorama em sua totalidade. Era como se ele estivesse plantando não apenas árvores, mas também futuros, como se cada semente que ele colocava na terra carregasse uma promessa de renovação.
Era claro, então, que a verdadeira tarefa não era apenas o cultivo da terra, mas a criação de algo imortal: um espaço que, embora alterado pela mão humana, continuaria a ressoar com a força da natureza. A cidade e o parque eram como dois protagonistas de uma história que ainda estava sendo escrita, e a cada gesto, a cada ação do homem, o que parecia impossível se tornava realidade.
A percepção do que está em jogo nesse tipo de obra – a criação de um espaço natural que também é um símbolo de um projeto coletivo – vai além da beleza superficial do lugar. O que está sendo cultivado não são apenas plantas e árvores, mas a própria ideia de harmonia entre o homem e seu ambiente. O parque, com suas rochas milenares e suas árvores recém-plantadas, não é apenas um refúgio de tranquilidade, mas um exemplo de como a persistência e a visão podem transformar até mesmo os lugares mais improváveis em algo extraordinário.
Qual é a verdadeira natureza da crueldade em Nietzsche e Dostoiévski?
Nietzsche e Dostoiévski, embora frequentemente comparados por sua profunda exploração da alma humana, representam abordagens essencialmente distintas sobre a existência e a condição humana. Enquanto Dostoiévski buscava a perfeição e a harmonia, idealizando a compaixão e a compreensão, Nietzsche enveredava por caminhos mais sombrios, revelando um ressentimento profundo e uma crueldade que nasce da solidão e da ausência de reconhecimento. Essa crueldade, no caso de Dostoiévski, emerge do sofrimento e de uma compaixão exacerbada, quase como uma forma dolorosa de empatia, enquanto em Nietzsche ela nasce da frustração e do desejo não realizado de ser um artista.
Nietzsche, que não se considerava um verdadeiro poeta, parecia substituir sua frustração artística pela filosofia, criando uma visão de mundo que ele mesmo chamou de "vida", mas que era, em grande parte, uma ilusão estética. Sua vida idealizada não incluía nem a bondade nem o amor ao próximo; em vez disso, ele exaltava a beleza pura e o poder, desvinculados de qualquer conteúdo moral ou social. Tal concepção implica um paradoxo triste, pois a beleza divorciada da bondade torna-se a “beleza do mal”. O poder, sem a humanidade que o modere, torna-se destrutivo, manifestando-se em desvios demoníacos. Assim, para Nietzsche, o indivíduo moral é visto como um tipo inferior, mais fraco, enquanto a força de vontade é medida pela capacidade de suportar a dor e transformar sofrimento em vantagem.
Nietzsche via a vida como um grande teatro estético, onde a moralidade é um tipo de limitação que reduz a riqueza da personalidade. Sua admiração por figuras como Cesare Borgia, alguém cruel e imoral, reflete a sua ideia de que a força e o caráter dominante são superiores às fraquezas morais da sociedade burguesa que ele desprezava. Essa visão estética da vida, desprovida de ética, revela uma perda irreparável de valores, da qual Nietzsche tinha consciência e que lhe provocava uma profunda angústia, traduzida em auto-ódio e no uso constante da ironia extrema.
A recusa de Nietzsche em aceitar a realidade e sua fuga para ilusões filosóficas mostram o quanto sua visão de mundo foi marcada por uma espécie de loucura latente. Seu fascínio pelo desastre e pelo sofrimento em massa, como no caso do terremoto em Java, onde viu a morte de milhares como algo “esplêndido”, revela uma quebra com as concepções tradicionais de humanidade e compaixão, aproximando-se do abismo da insanidade.
Tanto Nietzsche quanto Ivan Karamazov, personagem de Dostoiévski, enfrentam a questão da virtude e da imortalidade. Para Ivan, a ausência de imortalidade torna a virtude sem sentido, um dilema que também se apresenta em Nietzsche, embora este apenas aceite a virtude quando vinculada a valores maiores como a beleza ou o poder. Para ele, a virtude pode se tornar supérflua diante da vitória do poder e da beleza, refletindo uma visão trágica do mundo onde a verdadeira imortalidade não existe. Ainda assim, a virtude permanece necessária porque protege a inocência e a pureza da vida, valores essenciais para a existência humana.
É crucial compreender que tanto a crença ingênua na bondade universal quanto a convicção absoluta de que o mundo está cheio de mal são ilusões perigosas. Nietzsche e seus seguidores parecem acreditar que há uma superabundância de compaixão no mundo, a ponto de ameaçar a própria sobrevivência da humanidade. Sua provocação para que nos deleitemos com o sofrimento alheio, em vez de lamentá-lo, escancara uma visão niilista e perturbadora da existência, que desafia as bases éticas da convivência humana.
Além disso, é importante que o leitor entenda que a visão de Nietzsche não deve ser tomada apenas como um mero nihilismo ou pessimismoi, mas como uma crítica radical que expõe as tensões entre arte, poder, moralidade e sofrimento na condição humana. Sua filosofia oferece um espelho inquietante da modernidade, onde o desencantamento com valores tradicionais pode levar tanto à destruição quanto à possibilidade de uma nova compreensão da força e da vontade. Porém, essa força sem humanidade é perigosa, pois pode conduzir à perda da própria essência do que significa ser humano.

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