As equações diferenciais de primeira ordem representam uma das ferramentas mais fundamentais no estudo da matemática aplicada, com implicações diretas em diversas áreas da engenharia e das ciências físicas. A solução dessas equações pode ser única, inexistente ou possuir múltiplas soluções, dependendo das condições iniciais e das propriedades da função envolvida.
O teorema da existência e unicidade fornece um guia crucial para determinar a viabilidade das soluções. Se uma função real é contínua em um retângulo no plano , contendo o ponto no interior, então o problema de valor inicial dado por
terá pelo menos uma solução no intervalo aberto que contém . Adicionalmente, se a derivada parcial de em relação a , denotada por , também for contínua nesse retângulo, então a solução será única em um intervalo aberto que contém .
Exemplos de Aplicação de Equações Diferenciais de Primeira Ordem
Exemplo 1.2.4: Problema de Valor Inicial Não Linear
Considere o problema de valor inicial dado por com a condição . Aqui, e a derivada parcial é contínua em torno de , o que garante uma solução única nesse ponto. A solução desse problema é dada por .
Porém, se alterarmos a condição inicial para , vemos que não é contínua em torno de , resultando na inexistência de uma solução única. Nesse caso, podemos encontrar duas soluções diferentes, como e para , cada uma válida em intervalos diferentes.
Exemplo 1.2.5: Equação Hidrostática
Considere uma atmosfera onde a densidade varia apenas na direção vertical. A pressão na superfície é igual ao peso por unidade de área de toda a coluna de ar, desde o nível do mar até o espaço exterior. Conforme subimos, a quantidade de ar diminui e, consequentemente, a pressão diminui. O comportamento da pressão em relação à altura é descrito pela equação diferencial:
onde é a densidade do ar, é a aceleração gravitacional e é o pequeno incremento na altura. Substituindo a lei dos gases ideais na equação diferencial e separando as variáveis, obtemos:
A solução dessa equação é dada por:
o que mostra que a pressão diminui exponencialmente com a altura.
Exemplo 1.2.6: Velocidade Terminal
Quando um objeto cai através de um fluido, a resistência do fluido (arrasto) age contra a sua aceleração. A equação de movimento para a velocidade do objeto é dada por:
onde é a massa do objeto, é a aceleração gravitacional e é o coeficiente de arrasto. O movimento é descrito pela equação diferencial:
onde e é a distância percorrida. Após separar as variáveis e resolver, obtemos:
onde . Como aumenta, a velocidade se aproxima de um valor constante, conhecido como a velocidade terminal.
Exemplo 1.2.7: Taxa de Juros
Um banco paga uma taxa de juros sobre o saldo de uma conta, ao mesmo tempo que uma quantia é retirada anualmente. A variação do saldo da conta é governada pela equação diferencial:
A solução dessa equação, dado o depósito inicial , é:
Dependendo do valor de e , o saldo da conta pode crescer sem limite, decair até zero, ou atingir um valor de equilíbrio onde o saldo é constante e igual a .
Exemplo 1.2.8: Fluxo Estacionário de Calor
Em um fluxo estacionário de calor, a transferência de calor entre duas superfícies a diferentes temperaturas é descrita pela equação diferencial:
onde é a condutividade térmica, é a área da superfície e é a temperatura. Para um cilindro oco com raios internos e externos e , respectivamente, a equação torna-se:
Resolvendo essa equação com as condições de contorno apropriadas nas superfícies e , obtemos a distribuição de temperatura no interior do cilindro.
É essencial que o leitor compreenda que as equações diferenciais, mesmo em contextos aparentemente simples como o de uma conta bancária ou do fluxo de calor, têm uma profundidade significativa na modelagem de fenômenos naturais e artificiais. A compreensão das condições de existência e unicidade das soluções é fundamental para a correta interpretação dos resultados obtidos a partir dessas equações. Além disso, a seleção adequada das condições iniciais e de contorno pode alterar drasticamente as soluções, refletindo a importância da precisão na formulação dos problemas matemáticos.
Como Resolver Equações Diferenciais de Primeira Ordem: Exemplos e Aplicações
As equações diferenciais de primeira ordem surgem em muitos campos da engenharia e da física, desde a análise de circuitos elétricos até o estudo do movimento de partículas. A solução dessas equações pode ser feita de várias maneiras, e o comportamento das soluções pode revelar muito sobre o sistema em questão. Vamos ilustrar o processo de resolução dessas equações com alguns exemplos práticos, começando pela utilização do software MATLAB.
Para resolver uma equação diferencial de primeira ordem, podemos usar a ferramenta simbólica do MATLAB, que permite expressar a solução de forma simbólica e, em seguida, transformá-la em um código executável. Por exemplo, a equação pode ser resolvida com o seguinte código:
Este código resolve a equação diferencial simbólica e gera gráficos para diversas condições iniciais de , onde varia de -2 a 4. Ao observar os gráficos, podemos notar que, à medida que , todas as soluções se comportam de maneira similar, aproximando-se de , o que indica que a solução tem um comportamento assintótico nesse limite.
Outro exemplo clássico de equação diferencial de primeira ordem envolve circuitos elétricos, como os que contêm resistores, indutores e capacitores. A lei de Kirchhoff, que afirma que a soma algébrica das quedas de tensão em um circuito fechado é zero, nos leva a equações diferenciais que descrevem a dinâmica de correntes e tensões. Por exemplo, em um circuito com um resistor e um indutor, a equação diferencial que governa o sistema pode ser escrita como:
Aqui, é a indutância do indutor, é a resistência do resistor, é a corrente no circuito e é a força eletromotriz constante. A solução dessa equação nos fornece a corrente no tempo, que pode ser expressa como:
Esta solução revela que, no início, a corrente aumenta rapidamente, mas à medida que o tempo passa, o crescimento desacelera, aproximando-se de um valor constante. A solução pode ser dividida em duas partes: uma solução transitória (que diminui com o tempo) e uma solução estacionária (que permanece constante).
Em outros casos, como circuitos com resistores e capacitores, a equação diferencial se torna:
onde é a carga instantânea no capacitor, é a resistência e é a capacitância. Quando a força eletromotriz é uma função do tempo, como , a solução para a carga pode ser encontrada usando o fator integrador. A solução final leva em consideração tanto a resposta transitória quanto a solução estacionária, que é uma função oscilatória com uma frequência determinada pelas características do circuito.
Além desses exemplos básicos, também encontramos situações em que a não linearidade de certos componentes, como resistores não lineares, pode afetar significativamente o comportamento do sistema. A presença de um resistor não linear, por exemplo, pode alterar a taxa de decaimento da corrente, como mostrado na solução para o circuito RL sem fonte de corrente constante. A equação resultante, , mostra como a corrente depende da resistência não linear, com a solução sendo influenciada pelo parâmetro .
Esses exemplos ilustram a importância de entender as condições iniciais e os parâmetros do sistema ao resolver equações diferenciais. As soluções podem ter comportamentos bastante distintos dependendo da natureza da equação e dos valores dos parâmetros. Além disso, é fundamental entender que, em sistemas reais, a presença de não linearidades pode modificar de maneira significativa a resposta do sistema, o que exige uma análise cuidadosa das equações e suas soluções.
A resolução de equações diferenciais de primeira ordem não se limita a situações teóricas. Elas são aplicadas em uma vasta gama de problemas práticos, desde o estudo de circuitos elétricos até a modelagem de processos dinâmicos em sistemas físicos e biológicos. Ao resolver essas equações, é essencial considerar não apenas as soluções formais, mas também o comportamento assintótico, os efeitos de transientes e a interação entre as diferentes partes do sistema.

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