A mobilidade humana e a migração têm sido temas centrais nas discussões globais sobre políticas, economia e sociedade. A migração, especialmente entre os Estados Unidos e o México, tornou-se um fenômeno cada vez mais visível e relevante ao longo das últimas décadas. Nos últimos anos, a discussão sobre migração se intensificou com as políticas mais rigorosas, como a implementação de leis como o Ato de Reforma da Imigração de 1996 (IIRIRA) nos EUA, que visam restringir o fluxo de imigrantes ilegais. No entanto, essa dinâmica não afeta apenas os migrantes em si, mas também as economias, tanto nos países de origem quanto nos de destino.
No caso dos migrantes mexicanos, por exemplo, a experiência de migração tem sido profundamente ligada à busca por melhores condições de vida e ao acesso a mercados de trabalho mais promissores. A decisão de migrar é muitas vezes motivada por condições socioeconômicas no país de origem, como altas taxas de desemprego ou a falta de infraestrutura em regiões rurais. Esse movimento em direção ao norte não só busca garantir um futuro mais estável para as famílias, mas também se reflete em um padrão de mobilidade que está fortemente atrelado ao desenvolvimento da indústria automobilística no México, por exemplo, e ao impacto das mudanças nas políticas de comércio internacional, como o NAFTA.
No entanto, além do impacto econômico, a migração também é marcada por desafios culturais e sociais. As mudanças nas leis de imigração e os controles mais rigorosos na fronteira resultam em maiores taxas de detenção e deportação, o que leva muitos a questionarem a eficácia dessas políticas e seus efeitos sobre as famílias imigrantes. A reforma da imigração de 1996 foi um marco, mas também gerou controvérsias. Muitos argumentam que as políticas mais restritivas acabam por aumentar a vulnerabilidade das populações migrantes, principalmente aquelas que não têm acesso a recursos jurídicos ou financeiros para contestar decisões imigratórias.
No entanto, a migração não se limita a uma questão de movimento de pessoas. Ela está diretamente conectada a uma rede global de cadeias de valor, onde as políticas de imigração influenciam a força de trabalho disponível para indústrias-chave. Um exemplo disso é a contribuição dos trabalhadores migrantes para a indústria automobilística dos EUA e México, que, em muitos casos, depende de mão-de-obra imigrante. As decisões de mobilidade também impactam a produção e as exportações, com especial destaque para as exportações de produtos manufaturados, que são essenciais para a economia mexicana.
É fundamental entender que a migração de trabalhadores e as políticas migratórias não são fenômenos isolados, mas parte de um sistema econômico global interligado. A globalização tem promovido a liberalização do comércio e a formação de grandes cadeias produtivas globais, que, por sua vez, geram uma demanda constante por mão-de-obra. Quando se fala de migração, deve-se observar o impacto dessa mobilidade no comércio, nas economias locais e no mercado de trabalho, que sofre oscilações com cada mudança nas políticas imigratórias.
Além disso, as condições de saúde das populações migrantes, especialmente as de origem mexicana, têm sido um tema crescente nos debates públicos e políticos. A qualidade do atendimento médico, as condições de vida e o acesso a programas de saúde são frequentemente insuficientes para os migrantes, especialmente aqueles que enfrentam a deportação ou que vivem em áreas marginalizadas. As autoridades de saúde devem estar cientes desses desafios e trabalhar para garantir que os migrantes, independentemente de sua documentação, tenham acesso adequado a serviços de saúde essenciais.
Outro aspecto relevante diz respeito às questões de identidade e pertencimento. Os migrantes, ao cruzarem as fronteiras, carregam consigo não apenas seus bens materiais, mas também sua cultura, seus valores e suas identidades. Essas identidades são frequentemente moldadas pelo contexto social e econômico dos países que os recebem, o que pode gerar conflitos e tensões. O conceito de identidade panétnica e os desafios da assimilação cultural tornam-se, então, partes centrais desse fenômeno migratório.
Em um contexto mais amplo, as políticas públicas devem ser adaptadas para lidar com as complexidades da migração, equilibrando a necessidade de controle de fronteiras com o reconhecimento da migração como um fenômeno econômico e social inevitável. A implementação de soluções eficazes deve considerar tanto os direitos dos migrantes quanto as necessidades das economias nacionais.
Por fim, é importante perceber que a migração não é um fenômeno estático, mas sim dinâmico, sujeito a mudanças em função de políticas econômicas, sociais e culturais. O entendimento dessas transformações deve ser contínuo, especialmente em um mundo cada vez mais interconectado, onde os fluxos migratórios estão cada vez mais presentes e suas implicações são complexas.
A Erosão da Migração Mexicana Não Documentada: Transição Demográfica e Reforço das Fronteiras
A dinâmica da migração mexicana para os Estados Unidos sofreu mudanças significativas nas últimas décadas, impulsionadas por uma série de fatores econômicos, demográficos e de segurança nas fronteiras. Para entender o declínio da migração mexicana não documentada, é necessário considerar a interrelação entre essas variáveis e como cada uma delas contribuiu para essa transformação.
O impacto da transição demográfica no México foi um dos principais motores do exílio mexicano nos Estados Unidos. Nos anos 70, antes da introdução de políticas de planejamento familiar no México, as mulheres mexicanas tinham, em média, 4,3 filhos a mais do que suas contrapartes americanas. No final do século XX, essa diferença caiu para apenas 0,2 filhos. Esse declínio na taxa de natalidade e na redução do tamanho das famílias mexicanas diminuiu significativamente a oferta de mão-de-obra disponível para a migração, o que, por sua vez, afetou o volume de migração para o norte. A diminuição da população jovem em idade de trabalhar no México reduziu a “subvenção” demográfica que o país fornecia à economia dos Estados Unidos, especialmente em termos de trabalho não qualificado.
Gordon Hanson e Craig McIntosh, pioneiros na análise do impacto do crescimento demográfico mexicano sobre a migração, observaram que as mudanças na oferta de trabalho e as flutuações nos ciclos econômicos dos dois países desempenharam papéis importantes no declínio da migração mexicana. Entre 2000 e 2010, estudos mostraram que o impacto da oferta de trabalho mexicana, mais importante do que as mudanças cíclicas da economia dos Estados Unidos, ajudou a explicar a redução significativa da migração de indivíduos de 15 a 40 anos para os Estados Unidos, um fenômeno que foi apenas revertido pela bolha imobiliária da construção de casas.
Outro fator crucial que ajudou a moldar a migração mexicana foi o reforço das políticas de segurança nas fronteiras. Nas últimas três décadas, os Estados Unidos investiram pesadamente em patrulhamento de fronteira e segurança interna, particularmente durante a Grande Recessão e no período pós-recessão. No entanto, o impacto desse endurecimento das fronteiras tem sido objeto de debate. Em termos gerais, estudos indicam que os esforços de segurança na fronteira tiveram um efeito dissuasivo limitado sobre a migração não documentada do México. Por exemplo, durante os anos 70 e 80, quando os EUA aumentaram seus esforços de segurança na fronteira, não houve redução substancial no número de migrantes que cruzavam ilegalmente a fronteira.
Além disso, o que os reforços de fronteira conseguiram foi aumentar significativamente os riscos para os migrantes. O endurecimento da segurança levou a uma maior dependência dos traficantes de pessoas, com o aumento dos custos da migração e dos riscos associados. Consequentemente, muitos migrantes não retornaram ao México, estabelecendo-se de maneira permanente nos Estados Unidos, o que contribuiu para a perpetuação do fenômeno da migração não documentada.
É importante notar que, embora a quantidade de apreensões na fronteira tenha diminuído a partir de 2007, refletindo a queda no número de migrantes tentando cruzar a fronteira, os investimentos na segurança da fronteira continuaram a crescer. Entre 2006 e 2013, o número de agentes da patrulha de fronteira aumentou em 68%, mesmo quando o fluxo de migrantes estava em declínio. Este aumento no número de agentes e na infraestrutura de segurança durante um período de redução da migração levanta questões sobre a capacidade do governo dos Estados Unidos em adaptar suas políticas de segurança a uma nova realidade migratória.
Por fim, a relação entre os fatores econômicos, demográficos e de segurança nas fronteiras destaca a complexidade da migração não documentada. As políticas de segurança podem ter efeitos indiretos, aumentando o custo e os riscos associados à migração, mas sem necessariamente reduzir o desejo ou a necessidade dos migrantes de buscar melhores condições de vida. Além disso, as mudanças nas taxas de natalidade e na estrutura demográfica mexicana têm um impacto direto na quantidade de mão de obra disponível para migração, enquanto as flutuações econômicas nos dois países podem influenciar as decisões dos migrantes.
É essencial compreender que, além dos dados quantitativos e das análises econômicas, a migração é também um fenômeno profundamente humano, moldado por necessidades pessoais, familiares e comunitárias. Embora os fatores demográficos e econômicos expliquem em grande parte as tendências migratórias, é preciso também levar em consideração os aspectos culturais, sociais e psicológicos que influenciam as decisões de migração. Esses elementos, muitas vezes invisíveis nas estatísticas, são igualmente determinantes na construção da narrativa migratória.
Como as Mudanças Demográficas Impulsionaram a Migração Mexicana para os EUA
A demanda por trabalhadores mexicanos não autorizados cresceu substancialmente com a expansão da agricultura na Califórnia durante as décadas de 1960 e 1970. O aumento da irrigação e a conclusão de grandes projetos de infraestrutura incentivaram o crescimento da produção agrícola, especialmente em regiões que dependiam de mão de obra barata e menos qualificada. Durante esse período, a migração não autorizada de mexicanos para os Estados Unidos se intensificou, principalmente para a Califórnia. Embora as reformas de imigração de 1965 e o fim do Programa Bracero tenham fornecido um impulso inicial para o aumento da migração não autorizada, esses fatores não explicam completamente o crescimento contínuo da migração, que persistiu ao longo das décadas de 1990 e até 2007.
Mesmo após a crise financeira de 2008, quando o mercado imobiliário dos Estados Unidos demorou a se recuperar, outros setores da economia, como a agricultura e a construção, se recuperaram rapidamente, mantendo a demanda por trabalhadores menos qualificados, especialmente de origem mexicana. Isso indica que fatores além das políticas de imigração foram cruciais para entender esse fenômeno. Mudanças demográficas no país, como o envelhecimento da população nativa e a diminuição da taxa de fertilidade, contribuíram para uma escassez de trabalhadores nativos com baixa qualificação. Com menos nativos disponíveis para ocupações menos qualificadas, as migrações mexicanas continuaram a preencher essa lacuna no mercado de trabalho.
Ao longo do século XX, os Estados Unidos passaram por um processo gradual de elevação do nível educacional da população. Desde o início do movimento de conclusão do ensino médio, até a expansão do ensino superior pós-Segunda Guerra Mundial, a população nativa passou a ter um nível educacional progressivamente mais alto. De 1950 a 2010, a porcentagem de adultos nativos com mais de um diploma de ensino médio ou equivalente aumentou de 5,3% para quase 60%. Em contraste, o número de nativos sem o ensino médio diminuiu drasticamente, refletindo uma mudança estrutural na força de trabalho americana.
No entanto, a ascensão educacional não foi acompanhada de uma expansão proporcional na população de trabalhadores nativos menos qualificados. Entre 1970 e 2015, a população nativa de adultos com baixa escolaridade se manteve estagnada, com uma notável diminuição no número de mulheres e homens nativos qualificados apenas com o ensino médio ou menos. Este declínio, especialmente entre as mulheres, criou uma lacuna de trabalhadores menos qualificados no mercado de trabalho, especialmente após o fim do "baby boom" e a queda nas taxas de fertilidade. No período pós-1970, a fertilidade dos nativos americanos caiu de forma acentuada, o que resultou em uma redução no número de jovens trabalhadores disponíveis para preencher vagas de emprego menos especializadas.
Por outro lado, a migração mexicana, alimentada por esses fatores demográficos, preencheu esse vazio na força de trabalho. Os mexicanos, especialmente aqueles sem documentos legais, começaram a dominar setores de trabalho menos qualificados, principalmente na agricultura da Califórnia. Entre 1970 e 2015, o número de trabalhadores imigrantes mexicanos não autorizados aumentou significativamente, acompanhando a redução do número de nativos disponíveis para essas ocupações. Este fenômeno é explicado pela combinação de mudanças demográficas e a falta de alternativas legais de migração.
É importante notar que, apesar de uma parte significativa da migração mexicana ser não autorizada, os imigrantes mexicanos têm desempenhado um papel essencial na economia dos EUA, preenchendo uma lacuna crescente na força de trabalho que os nativos não estavam mais dispostos ou disponíveis para ocupar. A migração mexicana, portanto, não apenas preencheu um vazio no mercado de trabalho, mas também ajudou a impulsionar setores-chave da economia, como a agricultura, onde a demanda por trabalho manual continua a ser crucial.
Além disso, a dificuldade em encontrar formas legais para que imigrantes mexicanos entrem nos EUA criou um ciclo contínuo de migração não autorizada, com trabalhadores vindo de forma temporária ou ilegal para suprir a crescente demanda. Mesmo com os esforços para reformar a imigração e reverter essa situação, as mudanças demográficas e as necessidades econômicas continuam a impulsionar a migração não autorizada.
Finalmente, para que se entenda essa dinâmica, é necessário observar que a migração mexicana não é apenas uma questão de políticas de imigração ou da falta de emprego entre os nativos. Trata-se de uma transformação mais ampla na estrutura demográfica do país, que incluiu o aumento da educação, a diminuição da fertilidade e o envelhecimento da população. O aumento contínuo da migração mexicana pode ser interpretado, portanto, não apenas como uma consequência de políticas ou crises econômicas, mas como uma resposta a uma mudança estrutural no mercado de trabalho dos EUA, que exige cada vez mais trabalhadores imigrantes para manter a vitalidade de sua economia, especialmente nos setores de trabalho menos qualificados.
Como o USMCA Impacta a Produção Automotiva e os Direitos de Investidores Estrangeiros
O setor automobilístico sempre foi um dos pilares da economia norte-americana, e sua relevância nas negociações do USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá) reflete essa importância. Durante as renegociações do NAFTA, um dos pontos críticos foi a preocupação dos EUA em enfraquecer os incentivos que permitiam às empresas americanas transferir a produção para o México. A indústria automotiva foi central nesse debate, e o USMCA introduziu mudanças significativas nas regras que regem a origem dos produtos automotivos.
Primeiramente, as novas exigências para a isenção tarifária regional foram endurecidas. A exigência de conteúdo norte-americano para que os automóveis se qualifiquem para essa isenção subiu de 62,5% para 75%. Além disso, a fonte de aço e alumínio utilizado na fabricação dos automóveis também deve ser de produtores norte-americanos. Outro ponto crucial foi a imposição de uma nova condição: 40 a 45% do valor de um carro acabado deve ser produzido por trabalhadores que recebam pelo menos 16 dólares por hora, um salário significativamente superior ao dos trabalhadores mexicanos do setor, mas ainda assim bem abaixo do que é pago nos EUA e no Canadá. A intenção era forçar as montadoras a optar por aumentar os salários no México ou transferir parte da produção para os Estados Unidos ou Canadá.
Apesar das intenções, os efeitos reais dessa mudança ainda são incertos. Grande parte dos carros produzidos no México já atende à exigência de 75% de conteúdo regional, mas a aplicação do novo requisito salarial pode resultar na reconfiguração das cadeias de fornecimento regionais. Isso certamente elevaria os custos de produção, tornando os carros norte-americanos menos competitivos nos mercados globais e mais caros para os consumidores dos três países. Contudo, caso a exigência de salários mais altos se mostre eficaz, isso poderia beneficiar alguns trabalhadores, que teriam salários mais elevados no México ou mais oportunidades de trabalho nos EUA ou no Canadá.
No entanto, a imposição de regras de origem mais rígidas e o requisito salarial, embora possam impulsionar a produção regional, apresentam limitações. As montadoras, diante do aumento dos custos, poderiam optar por ignorar as preferências tarifárias do USMCA e importar carros para os EUA sob a tarifa de nação mais favorecida (MFN) de 2,5% prevista pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Caso isso aconteça, algumas montadoras poderiam até transferir suas operações para fora da América do Norte e exportar para os EUA de outras regiões, pagando essa tarifa de 2,5%. Para lidar com essa possibilidade, autoridades comerciais dos EUA, como Robert Lighthizer, sugeriram a imposição de uma tarifa de 25% sobre todas as importações de automóveis, alegando “segurança nacional”, uma justificativa que já foi utilizada para as tarifas sobre aço e alumínio.
Ainda no âmbito do USMCA, um dos aspectos mais controversos do NAFTA foi a cláusula de “expropriação” do Capítulo 11, que dava aos investidores estrangeiros direitos de propriedade não reconhecidos pelas leis nacionais dos países membros, permitindo-lhes contestar regulamentações como leis ambientais que poderiam reduzir seus lucros. Essa cláusula gerava um efeito inibidor em governos que desejavam adotar regulações sociais ou ambientais benéficas, devido à ameaça constante de ações judiciais nos tribunais de ISDS (investor-state dispute settlement). O USMCA, buscando enfraquecer esse mecanismo, aboliu o ISDS entre os EUA e o Canadá, e, embora tenha mantido algumas exceções para o México, a mudança representa um alívio para os defensores de regulação mais rígida nas áreas social e ambiental. Essa reforma foi amplamente apoiada pelos sindicatos americanos e grupos progressistas, mas vista com ceticismo pelas empresas que tradicionalmente apoiam acordos comerciais.
No entanto, o impacto real dessa mudança pode ser mais complexo. O México, por exemplo, já implementou uma série de proteções à propriedade intelectual e aos investimentos estrangeiros, o que ajuda a tranquilizar as empresas internacionais operando em seu território. Além disso, a abolição do ISDS pode permitir aos governos adotar políticas de maior proteção social e ambiental sem a constante ameaça de litígios por parte de corporações estrangeiras. Isso abre um espaço para políticas públicas mais robustas que podem beneficiar as populações locais sem comprometer a competitividade econômica.
Outro aspecto significativo do USMCA foi a definição de um prazo de 16 anos para sua vigência, com uma revisão prevista após 6 anos. Embora isso permita que as empresas realizem um planejamento de longo prazo, a perspectiva de uma revisão periódica foi pensada, em parte, para manter a flexibilidade e poder de renegociação do governo dos EUA, o que poderia induzir investidores a localizar novas fábricas no país ao invés de no México.
É importante entender que, além das questões diretamente relacionadas à indústria automobilística, o USMCA também redefiniu a relação entre os países membros em termos de investimentos, regulamentações ambientais e direitos dos trabalhadores. As negociações e modificações que ocorreram demonstram não apenas o desejo de cada país de proteger sua economia, mas também uma tentativa de modernizar as regras do comércio internacional, refletindo os desafios e as dinâmicas atuais.
Quais são as consequências sociais da demonização de imigrantes pelos elites políticas?
Em 16 de junho de 2015, Donald Trump anunciou sua candidatura à presidência dos Estados Unidos em um comício na Trump Tower, em Nova Iorque. Até aquele momento, o Comitê Nacional Republicano havia atribuído a dura postura em relação à imigração à derrota de Mitt Romney nas eleições de 2012 para Barack Obama, particularmente após a proposta de Romney de promover a "auto-deportação" dos imigrantes indocumentados. Romney obteve apenas 27% do voto hispânico. No entanto, em 2015, Trump quebrou a linha do partido ao trazer a imigração para o centro de seu discurso de anúncio. Ele afirmou: "Quando o México envia seus cidadãos, não estão enviando os melhores. Não estão enviando vocês... Eles estão enviando pessoas com muitos problemas, e estão trazendo esses problemas com eles. Estão trazendo drogas. Estão trazendo crimes. São estupradores. E alguns, presumo, são pessoas boas. Mas falo com os guardas de fronteira e eles nos dizem o que estamos recebendo. E isso faz sentido comum. Eles não estão nos enviando as pessoas certas. Isso vem de mais do que o México. Vem de toda a América do Sul e Latina, e provavelmente—provavelmente—vem do Oriente Médio". Este discurso, amplamente coberto pela mídia, teve grande influência. Eventualmente, todos os outros candidatos republicanos, exceto Jeb Bush, adotaram uma postura rígida em relação à imigração.
Embora muitos esperassem que Trump se tornasse mais conciliatório após vencer as eleições, como presidente, ele continuou a demonizar os imigrantes, prometendo construir um "grande, lindo muro" que "salvaria bilhões de dólares dos contribuintes ao reduzir o crime, o fluxo de drogas, fraudes no bem-estar social e sobrecarga nas escolas e hospitais" (Trump 2018). Dada a posição de Trump no topo da estrutura de poder político do país e seu acesso quase irrestrito à mídia, este capítulo explora as consequências intencionais e não intencionais que a demonização dos imigrantes por políticos causou na Califórnia, Flórida e Pensilvânia. O texto também fornece evidências das consequências imediatas da retórica de Trump, tentando prever algumas de suas consequências a longo prazo no nível nacional.
A retórica xenofóbica dos líderes políticos nativistas pode afetar a opinião pública em relação aos imigrantes e às minorias étnicas? Uma teoria, a perspectiva da política simbólica, sugere que sim, que as declarações das elites podem moldar as atitudes públicas em relação aos grupos-alvo. De acordo com essa perspectiva, os indivíduos adquirem predisposições afetivas, como etnocentrismo, atitudes raciais e altruísmo, durante a socialização na infância. Essas predisposições guiam as atitudes em relação a questões sociais e políticas. Quando promovem políticas públicas divisivas, os políticos utilizam uma linguagem simbólica que identifica implicitamente grupos sociais, como minorias raciais, imigrantes e famílias de baixa renda, como fontes dos problemas sociais. Quando esses apelos simbólicos se conectam com as predisposições emocionais das pessoas, o público em geral frequentemente se mobiliza em torno de políticas punitivas que visam esses grupos e pode até moldar suas percepções sobre esses grupos. No entanto, estudos anteriores não estabeleceram claramente se os políticos que defendem políticas restritivas de imigração estão causando ou apenas refletindo a opinião pública. É certamente plausível que as declarações dos políticos possam ter um efeito independente na opinião pública em relação às minorias, mas também é possível que eles simplesmente reflitam as visões da população geral ao adotar uma postura anti-minorias.
Para antecipar os efeitos da retórica nativista de Trump, é relevante examinar exemplos anteriores de demonização de imigrantes por elites políticas nos Estados Unidos. A demonização de imigrantes por elites políticas costuma gerar uma série de efeitos sociais, que variam de acordo com sua intencionalidade (seriam efeitos intencionais ou não pelos elites nativistas?) e durabilidade (as consequências sociais são de curto ou longo prazo?). O conflito de longa data entre os imigrantes e as elites políticas da cidade de Hazleton, na Pensilvânia, ilustra alguns desses processos.
Hazleton é uma cidade operária com cerca de 25.000 habitantes, em sua maioria descendentes de mineiros do Sul e Leste da Europa. Em 2006, Hazleton ganhou as manchetes internacionais ao aprovar o "Illegal Immigration Relief Act" (IIRA), uma rigorosa lei de imigração que multava empregadores e proprietários de imóveis que alugassem para imigrantes indocumentados e estabelecia o inglês como a língua oficial do governo local. Lou Barletta, o prefeito de Hazleton e principal defensor da lei, tornou-se uma figura constante nas notícias nacionais, culpando os imigrantes latinos por trazerem crime, abusarem dos serviços sociais e prejudicarem a qualidade de vida de Hazleton. Realizei entrevistas com moradores de Hazleton durante dois períodos, nos verões de 2007 e 2011, com o objetivo de entender como esses processos liderados pelas elites estavam moldando o ambiente social de Hazleton e examinar as ramificações sociais de curto e médio prazo da lei para imigrantes e nativos.
Desde sua fundação, a população de Hazleton sempre foi predominantemente branca não-hispânica. Isso começou a mudar no final dos anos 1990, com a chegada de imigrantes hispânicos na região. Até 2000, os hispânicos representavam 4,9% da população da cidade, sendo a maioria originária da República Dominicana, e os afro-americanos eram 1,1%. Muitos dos novos imigrantes dominicanos vieram de áreas urbanas de Nova Iorque e Nova Jersey, atraídos pelos preços acessíveis de imóveis e pela disponibilidade de empregos em serviços e manufatura leve. A IIRA foi proposta após dois crimes de destaque supostamente envolvendo imigrantes dominicanos. Em uma carta aberta aos moradores locais, o prefeito Barletta afirmou que os "imigrantes ilegais" estavam "destruindo nossos bairros e diminuindo nossa qualidade de vida" ao trazerem crime, superlotar salas de aula e consumir serviços sociais. Barletta prometeu "livrar-se dos imigrantes ilegais" ao impor a IIRA, que havia sido originalmente criada, mas rejeitada, em Escondido, na Califórnia. "É simples assim", argumentava o prefeito, "eles precisam ir embora".
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) processou a cidade de Hazleton para impedir a implementação da IIRA, e a lei não foi aplicada. No entanto, a retórica e as políticas públicas que visavam os imigrantes continuaram a moldar a dinâmica social e política da cidade.
Além disso, é importante compreender que as consequências de tais políticas não se limitam a um único grupo. Elas afetam tanto os imigrantes quanto os nativos, criando divisões sociais profundas. A retórica de exclusão pode gerar um ambiente de hostilidade que desumaniza os imigrantes, levando a um aumento da discriminação, do isolamento e da violência. Ao mesmo tempo, a população nativa também pode sofrer com essas divisões, especialmente em termos de coesão social e qualidade de vida. A violência verbal, muitas vezes alimentada por discursos políticos, pode se traduzir em ações concretas de intolerância e repressão.
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