O exercício físico pode ter um efeito profundamente complexo nas articulações acometidas pela osteoartrite (OA), podendo tanto agravar quanto melhorar a condição, dependendo da intensidade e da forma de execução. A cartilagem articular nas articulações artríticas reage de maneira distinta ao exercício, podendo ser alterada positivamente ou negativamente. Sob cargas fisiológicas normais, a cartilagem saudável vê um aumento na síntese da matriz extracelular, uma diminuição dos caminhos inflamatórios e um aumento das vias anti-catabólicas, favorecendo a manutenção de sua integridade (Bader et al., 2011). Porém, quando as articulações não são adequadamente carregadas, como ocorre em um estilo de vida sedentário ou em situações em que o membro fica imobilizado ou sem carga, a síntese de colágeno pelos condrócitos é reduzida e os processos catabólicos são exacerbados (Zhou et al., 2015).

Por outro lado, quando as articulações são submetidas a estresses mecânicos excessivos, como os causados por atividades repetitivas de salto, a cartilagem sofre uma maior degradação, resultando em catabolismo exacerbado da matriz, apoptose e necrose celular (Radin et al., 1978; Chen et al., 2001). Um estudo realizado por Liu e seus colegas demonstrou esses efeitos em roedores: ratos foram divididos em grupos que passaram por diferentes intensidades de exercícios (sedentário, baixo, moderado e alto) após a indução de osteoartrite no joelho com injeção de monoiodoacetato. Os resultados mostraram que os ratos que realizaram exercícios moderados apresentaram menor formação de osteófitos radiográficos e a cartilagem articular com características mais normais em comparação ao grupo controle. O grupo sedentário sofreu o maior dano, seguido pelos ratos que realizaram exercícios de alta intensidade (Liu et al., 2023).

Para os donos de animais com OA, a ideia de que o repouso é a melhor solução para aliviar a dor e retardar a progressão da doença pode ser equivocada. Este estudo sugere que a prática regular de exercícios moderados pode, na verdade, ser mais benéfica para a saúde articular a longo prazo. Quando se prescreve exercício terapêutico para cães com OA, é essencial que este seja realizado de forma constante e com uma carga moderada na articulação afetada. Caminhadas diárias, com inclinações suaves e em terrenos variados, são altamente recomendadas. Um estudo de 2013 demonstrou que caminhadas de 60 minutos reduzem melhor a claudicação em cães com OA do quadril do que caminhadas de apenas 20 minutos (Greene et al., 2013).

Além disso, os exercícios domiciliares devem se concentrar no fortalecimento muscular das articulações afetadas e no core para melhorar o equilíbrio e a transição funcional. A flexibilidade muscular e os exercícios de amplitude de movimento articular também são essenciais para preservar a funcionalidade das articulações e dos músculos. Exercícios proprioceptivos, como aqueles realizados em terapia aquática, são de grande importância, pois ajudam a melhorar a amplitude de movimento articular, fortalecem os músculos e promovem efeitos cardiovasculares, com menos impacto nas articulações dolorosas.

No entanto, é crucial que os donos de cães com OA sejam educados sobre os riscos das atividades de impacto, como pular para pegar objetos ou sair de veículos e móveis. Essas atividades podem acelerar a progressão da OA e intensificar as crises de dor. Manter um programa regular de exercícios durante toda a vida do animal é uma estratégia importante para o alívio da dor e a melhoria da função. A OA é uma condição progressiva e crônica que exige um acompanhamento contínuo, o que pode ser desafiador tanto para o animal quanto para o proprietário. A observação da perda de entusiasmo do cão pelas caminhadas diárias é uma realidade difícil de enfrentar, especialmente quando a dor aumenta. Um estudo de 2022 revelou que até 41,5% dos donos de animais com OA consideram a eutanásia como uma opção quando o diagnóstico é dado (Spitznagel et al., 2022).

Por isso, a educação sobre as opções terapêuticas viáveis para esses cães é fundamental. O exercício terapêutico, embora demore para mostrar resultados, é uma abordagem de baixo custo que pode melhorar significativamente a qualidade de vida do animal, permitindo que ele se movimente e se sinta melhor por um período mais longo.

Quais são os padrões de locomoção mais comuns em cães de trabalho e performance?

A locomoção canina, fundamental para a execução de diversas tarefas, apresenta uma complexidade biomecânica que varia conforme a função desempenhada pelo cão. Seja em atividades de performance como agility e obediência, ou em funções específicas como cães de polícia e detecção, os cães utilizam diferentes gaits (marcha), que são padrões de movimento com características únicas. Entender esses padrões é crucial, não apenas para melhorar o desempenho dos cães, mas também para diagnosticar e tratar possíveis problemas de locomoção.

O andamento mais básico e comum é o passo (walk), o mais lento dos gaits. No passo, a sequência de toque no solo segue um padrão específico de movimentação dos membros: após o movimento do membro pélvico, o membro torácico do mesmo lado avança, colocando-se no solo à frente do membro traseiro. A particularidade do passo é a alternância entre dois e três pés no solo, o que o torna facilmente identificável, independentemente da velocidade do movimento. Ao analisar as forças verticais durante este andamento, percebe-se uma distribuição caracterizada por dois picos: o primeiro no início da fase de apoio, com a desaceleração da energia de avanço, e outro ao final, quando ocorre a propulsão. Em cães saudáveis, a análise dos parâmetros temporoespaciais do passo pode ser feita por meio de sistemas objetivos de análise de marcha, como placas de força ou tapetes de pressão, que permitem medir forças verticais e a duração das fases do ciclo de marcha.

No trote, o cão movimenta os membros diagonais de forma simultânea, o que cria uma suspensão momentânea a cada par de pernas que se eleva do solo. Em uma marcha eficiente, a extremidade torácica deve avançar até o ponto onde o membro frontal do lado oposto estava, e os membros pélvicos devem ser estendidos para trás com total extensão das articulações coxofemorais e do joelho. O trote é ideal para avaliar a presença de claudicação, pois é nesse andamento que os membros torácicos e pélvicos são mais visíveis, tornando os problemas de locomoção mais fáceis de detectar. No entanto, algumas raças, como o Border Collie, têm adaptações específicas para melhorar a performance, como um alcance reduzido no movimento frontal e uma extensão mais curta no membro posterior, o que, embora diminua a eficiência do trote, favorece a habilidade de realizar rápidas mudanças de direção, algo essencial para o pastoreio. Essas modificações permitem que o cão execute manobras rápidas, similar ao aumento da velocidade de um patinador ao aproximar os braços do corpo.

Por sua vez, no galope, um dos andamentos mais rápidos, o cão avança com ambos os membros torácicos ou pélvicos se movendo simultaneamente, o que resulta em um padrão de movimento contínuo e fluido. Este andamento é mais utilizado em cães de caça e cães policiais, onde a velocidade é necessária para cobrir grandes distâncias rapidamente.

É importante destacar que o conhecimento detalhado sobre os gaits não só contribui para melhorar o desempenho de cães de trabalho, mas também permite identificar sinais precoces de lesões ou anomalias na locomoção. O exame objetivo da marcha oferece informações valiosas, como o tempo de contato de cada pata com o solo, a distância percorrida em cada ciclo de marcha e a força aplicada durante o movimento. O acompanhamento regular da locomoção do cão, especialmente em atletas de trabalho, pode evitar a progressão de lesões e promover uma melhor recuperação caso algum problema seja identificado.

Além disso, vale ressaltar que, ao se analisar os andamentos de cães de diferentes funções, deve-se levar em consideração as particularidades de cada raça e como seus padrões de movimento são moldados para atender a necessidades específicas. Isso inclui adaptações anatômicas como membros mais angulados ou uma postura corporal específica que podem alterar a forma como o cão realiza os seus gaits. A compreensão dessas variações pode ser crucial para otimizar tanto o desempenho quanto a saúde do cão.

Quais são as anomalias vertebrais e suas implicações clínicas em cães?

Anomalias da coluna vertebral são condições complexas que podem variar desde alterações menores, não perceptíveis clinicamente, até distúrbios severos que afetam o movimento e o sistema nervoso central. Tais anomalias são comumente diagnosticadas por radiografia, embora a tomografia computadorizada (TC) ofereça uma visão mais detalhada e precisa para a classificação de defeitos vertebrais. Uma dessas anomalias são as hemi- ou vértebras bloqueadas, frequentemente encontradas em cães de raças com cauda enroscada, como o Bulldog Francês, e associadas a defeitos mesodérmicos que alteram a conformação das vértebras.

Essas vértebras malformadas podem ser encurtadas, levando ao apinhamento das costelas e, em muitos casos, à formação de curvaturas anormais na coluna, como a cifose ou escoliose. A alteração na curvatura vertebral pode levar à instabilidade da coluna e subsequente compressão da medula espinhal, resultando em condições degenerativas da coluna e, em casos mais graves, em déficits neurológicos. O uso do ângulo de Cobb, que mede a gravidade da curvatura espinhal, pode ser útil para determinar a necessidade de intervenção clínica. Cães com ângulo de Cobb superior a 35° e sinais clínicos de mielopatia podem exigir atenção urgente para evitar danos irreversíveis.

Outra anomalia comum, especialmente em raças com cauda curta, é a espinha bífida. Essa condição ocorre quando há falhas na fusão dos arcos vertebrais, frequentemente observada no sacro, podendo afetar também a vértebra L7. A espinha bífida pode estar associada à displasia da medula espinhal e à protrusão das meninges, resultando em condições como incontinência urinária ou fecal. Em casos mais graves, pode levar a paralisia parcial ou total, exigindo cuidados contínuos e intervenções médicas específicas.

A síndrome da malformação occipital caudal é outra condição relevante, particularmente prevalente em raças como Cavalier King Charles Spaniel e Bruxelas Griffon. Nessa síndrome, a cerebelo está comprimido na fossa caudal do crânio, causando cavitação ou sírinx dentro da medula espinhal cervical. Essa cavitação pode se estender até as regiões lombares inferiores, provocando dor no pescoço, perda de coordenação e, em casos graves, paralisia. O desenvolvimento dessa condição pode ocorrer desde os primeiros meses de vida ou se agravar com a idade, sendo um fator de risco importante para os proprietários dessas raças.

A instabilidade atlanto-axial é uma outra condição crítica, caracterizada pela subluxação da segunda vértebra cervical (C2) devido à hipoplasia ou aplasia da dentada de C2. Isso pode resultar em deslocamento da coluna cervical e compressão da medula espinhal. Esse problema é mais comum em raças pequenas e toy, e pode levar a sérios distúrbios neurológicos, como dificuldade para movimentar a cabeça ou até paralisia. Radiografias podem identificar esse distúrbio, mas o tratamento precoce é crucial para evitar complicações irreversíveis.

Além das anomalias congênitas, existem condições adquiridas que afetam a coluna vertebral, como a estenose congênita da coluna vertebral. Essa condição resulta em um canal espinhal mais estreito do que o normal, o que pode comprimir a medula espinhal e os nervos ao longo da coluna, especialmente nas regiões cervicais e lombares. Cães de grande porte, como os de raças gigantes, podem desenvolver essa condição, que muitas vezes é detectada antes do primeiro ano de vida. A compressão medular pode resultar em sinais clínicos como dificuldades motoras e ataxia proprioceptiva, prejudicando a mobilidade do animal.

Além disso, tumores primários na coluna vertebral e medula espinhal também podem causar alterações significativas, levando à compressão da medula e fraturas patológicas. Tumores ósseos, como osteossarcomas e fibrossarcomas, ou tumores da medula espinhal, como gliomas, podem aparecer em qualquer parte da coluna vertebral e exigir intervenção imediata. O diagnóstico precoce, através de exames como a TC ou ressonância magnética, é essencial para o planejamento do tratamento adequado.

Entender que essas condições podem se manifestar de maneiras variadas e muitas vezes subclínicas é crucial. Embora muitas anomalias possam ser encontradas incidentalmente durante exames de rotina, os proprietários devem estar atentos a sinais como dor, dificuldade de movimento, e alterações comportamentais que possam indicar problemas na coluna vertebral. Além disso, a genética desempenha um papel significativo em várias dessas condições, especialmente em raças específicas, o que torna o monitoramento e o cuidado preventivo ainda mais importantes. O diagnóstico preciso e a intervenção precoce são fundamentais para melhorar o prognóstico e evitar complicações graves, como danos permanentes à medula espinhal.

Como a Gestão de Dor Intervencionista Pode Transformar o Tratamento de Cães com Lesões e Doenças Articulares

A utilização de técnicas avançadas de gestão de dor intervencionista (IPM, na sigla em inglês) tem mostrado resultados promissores no tratamento de condições dolorosas em cães, especialmente em procedimentos relacionados a doenças articulares e lesões nos tendões. A prática, que busca aliviar a dor e acelerar o processo de cura por meio de intervenções minimamente invasivas, está ganhando atenção tanto na medicina veterinária como na humana.

O uso de orientação por ultrassom tem se mostrado eficaz para reduzir o desconforto pós-procedimento e evitar danos iatrogênicos aos tecidos em pacientes humanos, sendo igualmente recomendado para cães, conforme estudos recentes (Frye & Miller, 2022). Esse método permite uma administração mais precisa de medicamentos e tratamentos, especialmente quando se trata de condições como a radiculite associada à estenose lombossacral. O uso de corticosteroides por via epidural tem apresentado bons resultados na redução da dor e inflamação nesses casos, com resultados semelhantes observados em injeções perineurais de corticosteroides para radiculite canina (Janssens et al., 2009; Gomes et al., 2020).

Além disso, técnicas de ablação nervosa, como a radiofrequência, a neuroálise química e a crioneuroálise, demonstraram ser eficazes no fornecimento de alívio prolongado para a dor, interferindo diretamente nos nervos que transmitem a sensação dolorosa (Boesch, 2019). Em um estudo com Beagles de laboratório, a radiofrequência térmica no nervo safeno e a terapia de radiofrequência pulsada no nervo ciático demonstraram uma degeneração de Waller suficiente para impedir a transmissão sensorial, sugerindo que essas técnicas podem ser úteis para dores crônicas.

Do ponto de vista terapêutico, o uso de ortobiológicos, como plasma rico em plaquetas (PRP) e terapias com células-tronco, tem mostrado eficácia na modulação da inflamação e no auxílio na cura de tendões lesados em cães (Case et al., 2013; Ho et al., 2015; Canapp et al., 2016). Esses tratamentos são especialmente promissores em condições de tendinopatia crônica, como ilustrado em um caso de um American Staffordshire Terrier com tendinopatia calcânea distal. A combinação de técnicas como PRP com uso de imobilizadores ortopédicos, exercício terapêutico e monitoramento contínuo demonstrou ser eficaz no controle da dor e na recuperação da função articular.

Embora os avanços na IPM para cães estejam bem documentados, a área ainda precisa de mais pesquisa, particularmente estudos clínicos controlados, para validar a segurança e a eficácia a longo prazo dessas intervenções. A falta de padronização e a necessidade de habilidades avançadas para diagnóstico e execução desses procedimentos fazem com que o tratamento da dor crônica e aguda em cães seja frequentemente limitado a especialistas. Por isso, a colaboração interdisciplinar entre áreas como anestesia e medicina esportiva veterinária é essencial para o avanço dessas técnicas.

O treinamento contínuo de profissionais da saúde veterinária por meio de programas de residência e educação continuada é crucial para que a medicina veterinária consiga acompanhar os desenvolvimentos nesta área. A integração entre diferentes especialidades e o aprimoramento das técnicas de diagnóstico por imagem, como a ultrassonografia, será fundamental para o sucesso dessas abordagens no manejo da dor em cães.

Em relação aos procedimentos cirúrgicos, a abordagem de “dose cirúrgica baixa” é mais indicada para casos onde a dor pós-operatória esperada é menos intensa, sendo adequada para procedimentos com menor risco de sensibilização e dor maladaptativa. Por outro lado, em cirurgias mais invasivas ou em pacientes com dor crônica ou lesões nervosas, a "dose cirúrgica alta" deve ser considerada, com o uso de analgesia avançada para controle adequado da dor.

Outro ponto importante a ser considerado é a utilização de técnicas adicionais perioperatórias, como o uso de CRI (infusão contínua) de ketamina, lidocaína ou dexmedetomidina para promover analgesia, além de terapias não farmacológicas como compressão fria para reduzir a inflamação e a dor. Essas abordagens devem ser cuidadosamente integradas ao plano de tratamento de cada paciente, garantindo que os métodos mais adequados sejam escolhidos com base nas necessidades específicas de cada cão.

A abordagem multidisciplinar e a personalização do tratamento são cruciais para o sucesso da gestão da dor, especialmente em cães com condições complexas e dolorosas. A eficácia de qualquer técnica, seja ela invasiva ou conservadora, depende da habilidade do clínico em escolher o melhor tratamento para cada situação clínica, sempre levando em consideração o histórico do paciente, sua condição atual e as respostas aos tratamentos anteriores.