O questionamento público da legitimidade eleitoral, como visto nas ações do ex-presidente Trump ao desafiar os resultados em estados decisivos, revela um abalo profundo nas estruturas fundamentais da democracia americana. A alegação de fraudes generalizadas e manipulação eleitoral, difundida amplamente nas redes sociais e aceita por milhões de apoiadores, desmonta o entendimento coletivo das normas constitucionais que orientam o processo democrático há mais de dois séculos. Essa negação do sistema democrático e de suas bases legais não é um fenômeno isolado, mas sim parte de um padrão preocupante, que lembra momentos históricos sombrios, como o ascenso de regimes autoritários na Europa do século XX.

A invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 escancarou a vulnerabilidade de uma democracia que, embora sólida em sua arquitetura constitucional, depende da confiança e da adesão cidadã para se manter. O paralelo com o discurso inicial de Mussolini em 1922, quando ele ofereceu transformar o Parlamento italiano em um reduto militarizado, não é mera retórica, mas um alerta real sobre o perigo latente que movimentos populistas e autoritários podem representar, especialmente quando contam com a simpatia ou o apoio tácito de setores do poder.

Esse risco se perpetua hoje, não apenas pela figura de Trump, mas por seus seguidores e aliados, que continuam a promover a “Trumpificação” da política americana. Mesmo diante de investigações criminais e processos civis, o projeto político que ele inaugurou parece resistente, moldando uma base eleitoral fiel e mobilizada, que rejeita o sistema tradicional e abraça narrativas que distorcem a realidade. A invocação da Décima Quarta Emenda para impedir a participação de pessoas que tenham incitado insurreição demonstra que os instrumentos constitucionais existem, mas sua aplicação depende da coragem institucional e do comprometimento democrático dos responsáveis por fazê-los valer.

Além disso, a ligação de Trump com líderes autoritários como Putin, a quem ele qualificou como “gênio”, coloca em evidência uma visão política que valoriza estratégias de poder e controle, em detrimento dos valores democráticos e dos direitos humanos. Essa afinidade indica uma inquietante convergência entre certas lideranças que ameaçam o equilíbrio internacional e enfraquecem alianças tradicionais, impactando não só a política interna dos Estados Unidos, mas a estabilidade global, como exemplificado pelo conflito na Ucrânia.

A disseminação de informações imprecisas e a crescente polarização da esfera pública americana criam um terreno fértil para a desinformação e a manipulação das consciências. A dependência excessiva de meios eletrônicos e de entretenimento informativo contribui para um paradoxo: enquanto o acesso à informação se amplia, cresce também a dificuldade de distinguir o verdadeiro do falso, o fundamentado do sensacionalista. Essa situação fragiliza a consciência cívica e a capacidade de diálogo comum, elementos essenciais para o funcionamento saudável de qualquer democracia.

Portanto, é fundamental compreender que o desafio colocado pela “Trumpificação” não se limita a um único líder ou a um evento isolado, mas configura uma transformação profunda e preocupante na cultura política americana. A proteção da democracia exige, além do respeito às normas constitucionais, o fortalecimento da educação cívica, a promoção do pensamento crítico e o compromisso coletivo com a verdade e o debate pluralista. Somente assim será possível resistir aos impulsos autoritários e garantir que as instituições democráticas não sejam apenas estruturas formais, mas práticas vivas e inclusivas que representem a diversidade e a vontade popular.

Como as Relações entre Fascismo, Oriente Médio e Interesses Energéticos Redefiniram a Geopolítica Moderna?

Hitler via com entusiasmo o sucesso da Marcha sobre Roma, considerando-a a consolidação de um poder que eliminava as fragilidades do governo liberal italiano. No Zweites Buch, ele celebra a ascensão do Fascismo como o triunfo do interesse nacional italiano sobre as influências internacionais, vendo em Mussolini não apenas um líder eficaz, mas um mestre na arte de conquistar o poder. Essa admiração era recíproca e cuidadosamente cultivada por intermediários como Giuseppe Renzetti, que reportava ao Duce a devoção do Führer, inclusive referindo-se a ele como “o último dos romanos”.

Contudo, essa aparente afinidade ideológica não foi suficiente para gerar uma aliança estável entre Itália e Alemanha durante os anos iniciais do entre-guerras. O Tratado de Versalhes, odiado por ambos os países, não uniu as nações, e a relação bilateral permaneceu marcada por frieza e desprezo. Hitler via os italianos com racismo latente, considerando-os inferiores com a exceção do próprio Mussolini — uma deferência isolada e estratégica. A falha da Frente de Stresa em 1935 deixou a Itália isolada diante do expansionismo nazista, consolidando uma distância que só seria suprimida por necessidades bélicas, não por afinidades duradouras.

Enquanto isso, nos bastidores da geopolítica, o Oriente Médio tornava-se palco de manobras imperiais e disputas estratégicas. Os poços de petróleo do Iraque, tomados pela Grã-Bretanha após a Primeira Guerra Mundial, eram uma ferida aberta para Mussolini, que exigia, em nome dos mortos italianos na frente de batalha, uma compensação energética. A criação artificial do Estado iraquiano em 1921 por Churchill, feita numa noite no Hotel Semiramis do Cairo, serviu como manobra para garantir o controle britânico sobre vastas reservas de petróleo. Ao longo da década seguinte, Mussolini pressionou com diplomacia e força econômica, culminando na formação da British Oil Development (BOD) em 1932, onde a Itália, por meio da Agip, garantiria uma participação majoritária. Até 1935, Roma controlava 53% da companhia, reforçando sua presença no teatro energético do Oriente Médio.

No pós-Segunda Guerra, os alinhamentos internacionais começaram a se deslocar do eixo europeu para o tabuleiro instável do Oriente Médio. A relação entre Estados Unidos e Israel tornou-se um dos pilares da política externa norte-americana, sustentada mesmo diante de críticas sobre violações dos direitos palestinos. Sob Obama, a relação com Netanyahu se deteriorou; o presidente americano buscava um reequilíbrio entre Arábia Saudita e Irã, rompendo com a abordagem pró-Israel incondicional. Apesar disso, Obama garantiu ajuda militar e apoio diplomático a Israel, vetando resoluções da ONU e bloqueando avanços palestinos em instituições internacionais. A tensão com Netanyahu, entretanto, persistiu, marcada por divergências sobre a política nuclear iraniana.

Com a eleição de Donald Trump, a balança se inclinou decisivamente a favor de Israel. O novo presidente abandonou a política de dois Estados, transferiu a embaixada americana para Jerusalém e endossou tacitamente a expansão de assentamentos ilegais. Por trás dessa aliança estava a poderosa influência da família Kushner, historicamente ligada a Netanyahu. A política externa dos EUA, sob o lema “America First”, adotou um viés transacional e descomprometido com o multilateralismo. Ainda assim, paradoxalmente, Trump implementou medidas profundamente intervencionistas no Oriente Médio: assassinou o general iraniano Qasem Soleimani, fortaleceu alianças anti-Irã com Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos e abandonou aliados estratégicos como os curdos, abrindo espaço para a intervenção turca — tudo sob o olhar atento e satisfeito da Rússia, que expandia suas redes de influência na região.

A Palestina, nesse contexto, viu-se cada vez mais marginalizada. As esperanças geradas pelos Acordos de Oslo de 1993 dissiparam-se lentamente, com a expansão de colonatos israelenses e a ausência de uma vontade política real de avançar para uma solução de dois Estados. Mesmo com metade da população israelense apoiando teoricamente essa solução, o ceticismo mútuo tornou o cenário diplomático estagnado. A política de Netanyahu consistiu em reduzir a centralidade da questão palestina no debate internacional, substituindo-a por uma coalizão regional baseada na oposição ao Irã, reforçando, assim, a lógica de um novo equilíbrio de poder regional em que a Palestina ocupa apenas um papel colateral.

A instrumentalização dos conflitos sectários entre sunitas e xiitas, a reconfiguração de alianças sob interesses econômicos e militares, e a fragmentação dos compromissos ocidentais com os direitos humanos transformaram o Oriente Médio em um espelho das contradições da política internacional contemporânea. Potências como China e Índia, impulsionadas por interesses comerciais e energéticos, começam a surgir como possíveis moderadores em uma arena onde o Ocidente se mostra cada vez mais desorientado.

É importante compreender que as decisões tomadas por líderes como Mussolini, Hitler, Churchill, Obama, Netanyahu e Trump não são meros episódios isolados, mas partes interconectadas de uma mesma engrenagem geopolítica. A interseção entre ideologia, interesse energético e hegemonia regional moldou — e continua a moldar — os destinos de nações inteiras. A partir do momento em que o petróleo se tornou a mercadoria estratégica por excelência, o Oriente Médio deixou de ser apenas um espaço geográfico: passou a ser o fulcro de disputas civilizacionais e o palco de constantes reposicionamentos de poder.

Como as experiências familiares e comportamentais moldaram a personalidade e atitudes de Donald Trump

A formação da personalidade de Donald Trump está profundamente marcada por suas experiências familiares e os padrões comportamentais que desenvolveram-se desde sua infância. Um episódio crucial foi o sofrimento de sua mãe, que após dar à luz seu quinto filho, enfrentou graves complicações de saúde, incluindo hemorragias e uma histerectomia. Isso limitou sua capacidade de estar presente para seus filhos, especialmente para Donald, que tinha apenas dois anos e meio na época. Tal ausência afetou diretamente seu senso de segurança e autoconfiança, fatores essenciais para a construção da identidade na primeira infância. A sensação de abandono materno, conforme discutido por Steven Buser e Leonard Cruz, pode gerar comportamentos exagerados e uma busca compulsiva por atenção e aprovação, características que se manifestam de maneira evidente na trajetória de Trump.

Durante a adolescência, Trump foi enviado a uma escola militar rigorosa, como tentativa dos pais de disciplinar seu comportamento rebelde. Esse ambiente, somado à rigidez de seu pai Fred Trump Sr., que exigia dele que fosse “um predador e um rei”, moldou sua ambição e agressividade, mas também intensificou sua carência afetiva. Relatos de colegas e mentores indicam que Donald falava pouco sobre sua mãe, o que sugere uma relação distante e desprovida de afeto. Sua mãe, fascinada pelo esplendor da monarquia inglesa, dedicava-se mais a interesses externos do que à vida familiar, enquanto o pai, uma figura dominante e inflexível, impunha severas expectativas, desprezando o sucesso do primogênito por ter escolhido outra carreira.

Fred Trump Sr. construiu um império imobiliário baseado em habitações populares, mas seu histórico é controverso, com investigações por fraude e acusações de racismo, incluindo supostas simpatias pelo Ku Klux Klan, embora nunca tenha sido formalmente condenado. A influência do pai sobre Donald foi determinante não só para sua carreira, mas para a formação de um caráter marcado pela busca incessante por poder e reconhecimento. Donald tornou-se o filho favorito, uma posição que consolidou seu papel no legado familiar.

No que tange às atitudes em relação às mulheres, observa-se um padrão persistente e preocupante. Com base em mais de cem entrevistas feitas por autores que investigaram seu comportamento, fica evidente que Trump tem uma predileção por mulheres mais jovens, frequentemente objetificadas. Comentários sobre a filha Ivanka, quando ela tinha a mesma idade de modelos jovens, e relatos de assédios — como empurrar mulheres contra a parede, tentar beijá-las à força, ou invadir quartos que ele possuía — delineiam um comportamento repetitivo e sistemático. Curiosamente, muitas das mulheres entrevistadas tendem a culpar a si mesmas, questionando o que estavam vestindo ou que “vibração” teriam passado, quando na verdade o padrão revela uma dinâmica que independe dessas variáveis individuais. O problema reside no caráter abusivo e controlador de Trump, e não no comportamento ou aparência das mulheres.

Este conjunto de experiências e comportamentos revela a complexidade da personalidade de Trump: um homem moldado por traumas de infância, influências paternas severas e ausência afetiva materna, que expressa sua busca por poder através de ações dominadoras e, por vezes, predatórias. Compreender esse contexto é essencial para analisar não apenas suas ações públicas e privadas, mas para apreender a origem de sua relação disfuncional com o poder e com o outro, em especial com as mulheres.

É importante reconhecer que o comportamento de Trump não pode ser entendido isoladamente ou como um mero reflexo das ações das mulheres ao seu redor. Trata-se de um padrão repetitivo, demonstrativo de uma personalidade que busca incessantemente reafirmação, utilizando o domínio e a manipulação. Para além da análise factual, o leitor deve considerar os impactos psicológicos e sociais dessas dinâmicas, refletindo sobre como traumas não resolvidos e modelos familiares disfuncionais podem gerar comportamentos destrutivos em posições de grande influência. Isso também implica na necessidade de um olhar crítico sobre as estruturas de poder e as normas culturais que permitem que tais comportamentos sejam frequentemente naturalizados ou minimizados.