A traqueostomia é a criação de uma abertura na traqueia, o que implica uma conexão com a pele através da formação de um estoma. Historicamente, esse procedimento remonta a aproximadamente 3600 a.C., registrado em antigos tabletes egípcios. No entanto, ele se consolidou como uma técnica cirúrgica amplamente utilizada apenas no século XIX, especialmente em pacientes que sofriam de difteria. Com o tempo, a mortalidade associada à operação foi reduzida significativamente, mas a técnica permaneceu com uma taxa de risco considerável até a introdução de melhorias nos métodos de gestão.

O principal objetivo da traqueostomia é fornecer uma via aérea segura, essencial para pacientes com obstrução das vias respiratórias superiores, além de facilitar a ventilação mecânica em casos de dificuldades respiratórias prolongadas. Este procedimento é considerado especialmente importante em unidades de terapia intensiva, onde a ventilação mecânica é necessária por mais de 10-14 dias. Nesse contexto, a traqueostomia permite a diminuição da sedação e facilita a remoção de secreções pulmonares, evitando a aspiração pulmonar de conteúdos gástricos.

O procedimento de traqueostomia, em sua maioria, é realizado de forma eletiva, com uma alta prevalência de casos em adultos. A maioria das traqueostomias feitas em adultos (aproximadamente 85%) ocorre em ambientes de terapia intensiva e é feita de forma percutânea, o que torna o processo mais simples e rápido tanto para o paciente quanto para a equipe médica. Essas traqueostomias percutâneas geralmente não requerem transporte do paciente para o centro cirúrgico e são realizadas com o auxílio de técnicas de dilatação, utilizando agulhas e dilatadores para criar a abertura na traqueia.

A anatomia da região cervical é crucial para a execução bem-sucedida de uma traqueostomia. A inserção do tubo traqueal geralmente ocorre na linha média do pescoço, entre o segundo e terceiro anéis traqueais, logo abaixo da cartilagem cricoide. A palpação precisa dessas estruturas é essencial para garantir uma localização adequada da incisão, o que pode ser desafiador em pacientes com pescoço edematoso ou com gordura excessiva. A cartilagem cricoide forma um anel completo e é facilmente palpável, funcionando como o principal ponto de referência para a incisão.

O procedimento deve ser realizado em ambiente adequado, de preferência sob anestesia geral. Embora a anestesia local seja uma alternativa, ela é mais indicada em situações específicas, como quando o paciente apresenta contraindicações para a anestesia geral. Quando a traqueostomia é realizada sob anestesia local, deve-se considerar a administração de sedativos intravenosos e oxigênio em alto fluxo, o que melhora a experiência para o paciente e facilita o procedimento.

Uma traqueostomia de emergência é indicada em casos de obstrução aguda das vias respiratórias superiores, como em reações anafiláticas, infecções profundas do pescoço, estenose subglótica ou traumas significativos nas vias aéreas. Nestes casos, o procedimento cirúrgico costuma ser realizado por um cirurgião especializado em otorrinolaringologia (ENT), visando garantir que a via aérea esteja desobstruída e que a oxigenação seja restabelecida rapidamente.

Existem também indicações eletivas para a realização de uma traqueostomia, como em pacientes que necessitam de ventilação mecânica prolongada em unidades de terapia intensiva, ou em situações onde a ventilação invasiva é considerada a melhor opção para manutenção da via aérea segura. Durante procedimentos cirúrgicos de cabeça e pescoço, a traqueostomia pode ser planejada para proteger a via aérea de sangramentos ou edemas pós-operatórios, evitando que o tubo endotraqueal interfira na cirurgia.

Em termos de técnica cirúrgica, a traqueostomia envolve uma incisão horizontal entre a cartilagem cricoide e o esterno, com a separação das estruturas musculares do pescoço e a exposição da traqueia. Em casos de obstrução nas vias aéreas superiores, o procedimento pode ser realizado rapidamente para garantir a ventilação adequada, muitas vezes utilizando um acesso vertical no pescoço, embora a escolha da incisão dependa da situação clínica do paciente.

Além disso, é importante considerar os riscos associados à traqueostomia. Embora seja uma técnica geralmente segura, complicações podem surgir, incluindo infecções no local da incisão, sangramentos, danos às estruturas adjacentes, como os nervos laríngeos, e a formação de estenoses traqueais. A monitorização pós-operatória rigorosa é necessária para detectar precocemente qualquer complicação e garantir a recuperação do paciente.

Entender a traqueostomia implica também compreender que, em muitas situações, ela é uma intervenção temporária e reversível. A remoção do tubo traqueal pode ser realizada uma vez que a condição clínica do paciente melhore e a ventilação mecânica não seja mais necessária. No entanto, em casos de procedimentos como a laringectomia, a traqueostomia pode se tornar permanente, necessitando de cuidados específicos e acompanhamento a longo prazo.

Quais são os marcos anatômicos e funções dos seios paranasais na cirurgia nasal?

A anatomia dos seios paranasais e as estruturas envolvidas em procedimentos cirúrgicos nasais são essenciais para o planejamento e execução segura das intervenções. Durante a cirurgia, diversos marcos anatômicos são encontrados sequencialmente, sendo cruciais para a navegação precisa na área. A identificação adequada desses marcos pode prevenir danos a estruturas vitais como nervos e vasos sanguíneos, além de minimizar o risco de complicações pós-operatórias.

O primeiro marco anatômico é a célula do agger nasi, localizada na porção ascendente da lâmina, e o processo unciforme, situado na porção descendente. Estas estruturas estão intimamente associadas à fovea etmoidal, uma área crítica na transição para a cavidade craniana anterior. Durante a cirurgia, esse trajeto se desvia em dois ângulos de 90 graus, começando no plano parasagital e movendo-se lateralmente no plano coronal, penetrando na parte anterior da lâmina cribriforme e atingindo a cavidade nasal.

O segundo marco importante é a bula etmoidal, que é geralmente a maior célula do seio etmoidal anterior e um ponto consistente de referência durante a cirurgia nasal. Algumas variações anatômicas podem surgir, como células etmoidais posteriores que se estendem superiormente e lateralmente em direção ao seio esfenoidal, criando uma célula esfenoetmoidal, também conhecida como célula de Onodi ou célula frontal do seio esfenoidal.

A irrigação sanguínea dos seios paranasais, especialmente o seio etmoidal, é realizada através das artérias etmoidais anterior e posterior, bem como da artéria esfenopalatina. A drenagem venosa segue o suprimento arterial, com a drenagem linfática ocorrendo principalmente para os linfonodos submandibulares. As células etmoidais posteriores, por exemplo, drenam para o meato superior ou supremo, e suas configurações celulares variam em comparação com as células anteriores, sendo geralmente mais raras e maiores.

O seio frontal, por sua vez, é uma estrutura pneumática com significativa variação na formação. Em aproximadamente 5% da população, os seios frontais podem ser ausentes, sendo uma anomalia importante a ser reconhecida antes de qualquer intervenção cirúrgica. A drenagem do seio frontal ocorre por meio do recessus frontal, localizado na parte superior do infundíbulo etmoidal, e sua anatomia pode ser complexa devido à proximidade com o cérebro e outros órgãos vitais.

Em relação ao seio maxilar, este é localizado no osso maxilar e tem formato piramidal. Sua base forma parte da parede lateral da cavidade nasal e seu ápice aponta para o processo zigomático. A parte superior da parede do seio maxilar faz parte do piso orbital, com o nervo infraorbital frequentemente se projetando para dentro do seio maxilar em cerca de 10% dos casos. A configuração do seio maxilar é crucial para a realização de intervenções cirúrgicas, pois sua relação com a fossa pterigomaxilar e estruturas nervosas importantes, como o nervo alveolar superior e o nervo maior palatino, pode ser desafiadora.

O seio esfenoidal, localizado na parte mais profunda dos seios paranasais, tem uma importância significativa devido à sua proximidade com estruturas vitais como o nervo óptico e a artéria carótida interna. Este seio pode ser ausente em 1% da população, e sua anatomia pode variar, sendo que até 30% dos casos apresentam fontanelas ósseas patentes, com algumas podendo formar ostios acessórios não funcionais. Além disso, as relações estreitas do seio esfenoidal com a sela turca e o osso clival exigem cuidados especiais durante as abordagens cirúrgicas para evitar danos a essas áreas.

Na fisiologia, os seios paranasais desempenham funções essenciais como a modulação do fluxo de ar inspirado e a olfação. O fluxo de ar na cavidade nasal inicia-se na vestibular nasal, onde ocorre uma filtragem de partículas grandes, graças aos vibrissas. Em seguida, o ar percorre a cavidade nasal em um estado de fluxo laminar, passando pelas diversas estruturas como os cornetos nasais, que direcionam o ar para a região superior da cavidade nasal, facilitando o processo de condicionamento do ar. A resistência nasal, que pode representar de 50% a 75% da resistência total ao fluxo de ar, ocorre principalmente na válvula nasal, onde o ar atinge velocidades elevadas, permitindo o processo de aquecimento, umidificação e purificação do ar antes de alcançar os pulmões.

Além disso, o fluxo de ar nasal contribui para o olfato, criando um ambiente ideal para a detecção de odores. A mudança do fluxo laminar para turbulento após a válvula nasal aumenta a área de contato do ar com a mucosa nasal, o que não só facilita a percepção olfativa, mas também prepara o ar para a entrada nos pulmões de maneira controlada.

É fundamental que o profissional entenda as relações anatômicas e fisiológicas detalhadas ao planejar procedimentos nasais, considerando as variações individuais e a proximidade de estruturas de risco, como os nervos e vasos. Além disso, a importância do conhecimento detalhado sobre os sistemas de irrigação sanguínea e drenagem venosa e linfática não pode ser subestimada, visto que afeta diretamente o processo de recuperação e a eficácia da cirurgia.