O conceito de securitarianismo emerge como uma reação de autodefesa diante das ameaças percebidas, seja por forças externas ou pelo próprio sistema político. Indivíduos com essa mentalidade enxergam a sociedade dominante como estando mergulhada em uma "complacência sem pensamento", onde a confiança no sistema e nas instituições os coloca em uma posição de vulnerabilidade. Eles buscam, antes de tudo, garantir sua própria segurança e a de seu grupo, adotando uma postura que combina o desejo de autoproteção com uma profunda desconfiança em relação ao governo e suas possíveis interferências.
A experiência do início da pandemia do coronavírus, por exemplo, serviu como um catalisador para muitos securitários, reforçando a ideia de que a autossuficiência e o isolamento são a chave para a sobrevivência. A questão central para esse grupo não é a segurança coletiva, mas a manutenção da capacidade individual de se defender. Esse desejo de autonomia, que remete a uma crítica ferrenha à dependência de instituições externas, implica, para os securitários, uma dificuldade de entender como aqueles fora de seu círculo podem viver com a ideia de não serem seus próprios protetores.
Essa visão é alimentada pela crença de que os indivíduos têm a responsabilidade existencial de se proteger. Para figuras como Michelle Malkin, a segurança da grandeza de uma nação não reside nas instituições tradicionais como o exército ou a polícia, mas sim nas mãos de "destruidores", ou disruptores: aqueles dispostos a desafiar o sistema para preservar os interesses genuínos da sociedade. Essa postura enfatiza a necessidade de transformação, questionando a eficácia e os valores das estruturas dominantes.
Ao refletir sobre a atitude libertária dos securitários, é possível perceber uma distância considerável entre suas crenças e o libertarianismo tradicional. Embora ambos compartilhem uma oposição à intervenção do governo, os securitários não se baseiam em uma crítica ao controle econômico ou social do Estado. Em vez disso, eles defendem um governo mínimo por temerem que qualquer tipo de autoridade pública possa restringir suas capacidades de se proteger. A crítica à interferência estatal em aspectos como a regulamentação da água, do gás ou até mesmo do lixo é emblemática dessa desconfiança.
O securitarianismo, por sua natureza, muitas vezes engendra teorias conspiratórias, pois a visão de um mundo onde forças externas estão constantemente tentando minar a segurança individual ou grupal se torna um terreno fértil para interpretações paranoicas. A ideia de que forças invisíveis atuam contra os interesses das pessoas comuns é uma característica comum entre muitos que apoiam figuras políticas como Donald Trump, que se apresenta como um "fora do sistema", alguém capaz de garantir a proteção sem recorrer aos mecanismos tradicionais de poder.
É interessante observar, no entanto, como essa postura se distancia tanto do fascismo quanto do autoritarismo. Enquanto os fascistas acreditam na centralidade do Estado e na uniformidade da sociedade, os securitários preferem a dissidência, o isolamento e a autonomia. Eles se posicionam como agentes de mudança, dispostos a desafiar as normas que, acreditam, têm comprometido a verdadeira segurança de sua nação. Ao contrário dos autoritários, que temem aqueles que abalam as estruturas de poder, os securitários abraçam a possibilidade de uma ruptura, caso seja necessária para preservar sua própria segurança.
Além disso, o securitarianismo possui uma tensão interna entre o desejo de um líder forte e a necessidade de garantir que esse líder não ultrapasse os limites impostos pela busca da proteção pessoal. Os securitários querem alguém com poder para defendê-los, mas ao mesmo tempo desejam evitar que esse poder seja usado contra suas próprias liberdades. Isso se traduz na exigência de um líder que, além de defender seus interesses, compartilhe seus valores de autossuficiência e resistência ao controle externo.
Porém, embora a mentalidade securitária tenha raízes profundas na sociedade americana, ela não se limita a esse contexto. Em diversas partes do mundo, onde a posse de armas não é uma realidade, os securitários ainda buscam outras formas de garantir sua segurança. No Reino Unido, por exemplo, a resistência à União Europeia foi alimentada por uma sensação de perda de controle sobre o destino do país. Nas Filipinas, a administração Duterte foi vista como uma resposta favorável ao desejo securitário por justiça severa e controle social. Na França, na Hungria e em muitos outros países, a resistência à imigração se tornou uma extensão da busca por proteger identidades culturais e sistemas de bem-estar social.
O securitarianismo, portanto, manifesta-se de maneira variada ao redor do mundo, mas sempre com um foco comum: a preservação da autonomia individual frente a forças externas percebidas como ameaçadoras. Isso é visível em movimentos locais, como as milícias no México ou as iniciativas de vigilância comunitária em diversos países, onde a desconfiança nas autoridades tradicionais leva os cidadãos a buscar formas alternativas de defesa.
Embora o conceito de securitarianismo, especialmente no contexto da posse de armas, seja frequentemente associado aos Estados Unidos, ele não é exclusivo desse país. Sua essência transcende fronteiras e pode ser observada em diversos locais, onde a proteção pessoal, a resistência ao controle externo e o desejo de autonomia são valores universais. Além disso, a reflexão sobre o securitarianismo é importante não apenas para entender esses movimentos de autodefesa, mas também para perceber como eles interagem com as instituições democráticas e as normas de segurança pública, desafiando continuamente o equilíbrio entre liberdade individual e proteção coletiva.
Qual é a verdadeira motivação dos apoiadores fervorosos de líderes como Trump?
As categorias clássicas da ciência política — autoritarismo, libertarismo, comunitarismo e populismo — muitas vezes falham em capturar a motivação central de certos grupos políticos, especialmente daqueles que apoiam com fervor figuras como Donald Trump. A análise mais atenta revela que o impulso dominante entre esses indivíduos não é a adesão a uma ideologia tradicional, mas sim uma busca obsessiva por segurança — física e cultural — diante de ameaças percebidas.
A segurança, nesse caso, não é meramente uma questão de proteção contra violência ou crime. Trata-se de uma necessidade visceral de manter a integridade de um modo de vida percebido como ameaçado por forças externas: imigrantes, mudanças culturais, globalização, transformações demográficas. Esses "securitários", como se pode chamá-los, veem o mundo em termos binários de "nós" e "eles", e estruturam sua política em torno da defesa do "nós" contra a intrusão do "outro".
O comunitarismo, nesse contexto, assume uma forma peculiar e radicalmente distinta da visão idealizada e cooperativa que aparece na literatura acadêmica. Nas pequenas cidades rurais dos Estados Unidos, que servem de cenário para a pesquisa de Robert Wuthnow, o senso de comunidade está enraizado em um pragmatismo conservador: cada um cuida do seu, evita depender do outro, e a ordem social é mantida pela previsibilidade e homogeneidade. O senso de obrigação comunitária é menos um chamado à solidariedade ampla do que um pacto silencioso de não interferência mútua.
A exclusão torna-se, portanto, um mecanismo funcional para a manutenção dessa ordem. A familiaridade é sinônimo de controle, e o desconhecido é automaticamente visto como uma ameaça. Assim, o ideal securitário se encaixa perfeitamente com o universo das pequenas comunidades: menos diversidade, mais estabilidade; menos estranhos, mais segurança. Não se trata de acolher o outro, mas de proteger-se dele.
O populismo, outra categoria frequentemente associada a líderes como Trump, revela-se igualmente insatisfatória para descrever seus seguidores. Embora o discurso populista, com sua retórica de “vontade do povo” contra as elites, esteja presente, ele funciona mais como uma ferramenta instrumental do que como um compromisso ideológico profundo. Esses indivíduos não necessariamente acreditam na sabedoria coletiva do povo, e muitas vezes expressam desconfiança quanto ao julgamento das massas. Ainda assim, preferem dar mais poder ao povo comum porque consideram as elites ainda mais incompetentes, corruptas ou descoladas da realidade. A lógica é de negação — se não posso confiar nos especialistas, resta apostar nos iguais, mesmo que imperfeitos.
Nesse cenário, Trump emerge não como o porta-voz autêntico de uma ideologia coerente, mas como um canalizador das ansiedades securitárias. Ele promete proteção, controle, restauração da ordem tradicional. Invocar “o povo” serve apenas quando isso reforça a unidade interna e rejeita a ameaça externa. Quando a voz do povo se torna dissonante ou desatenta às demandas de segurança e patriotismo, ela é ignorada ou descartada. O securitário não é fiel a princípios abstratos — é fiel ao instinto de defesa.
Na verdade, o verdadeiro eixo ideológico que separa as forças políticas não gira em torno de economia, moral ou liberdade, mas de atitudes frente ao "outro". A dicotomia mais poderosa e constante é entre aqueles que desejam incluir o estranho e aqueles que desejam excluí-lo. Os democratas nos EUA, segundo essa análise, representam a coalizão dos que acolhem os de fora; os republicanos, os que os rejeitam — exceto quando esses de fora podem provar, de forma inequívoca, que não representam uma ameaça à segurança do grupo interno.
As políticas que emergem dessas posturas não seguem uma lógica tradicional de coerência ideológica, mas uma lógica emocional e cultural. A inclusão leva à complexidade, à fluidez de ideias e à aparente falta de coesão. A exclusão, ao contrário, produz políticas claras, diretas e inflexíveis. Não é que um lado seja ideológico e o outro não; é que um lado constrói sua ideologia a partir da abertura, o outro a partir do fechamento.
O erro recorrente entre cientistas políticos é confundir ideologia com sofisticação intelectual ou com coerência temática. Porém, a ideologia mais poderosa é aquela que opera abaixo da superfície, moldando percepções, emoções e reações instintivas diante do mundo. A estrutura profunda que realmente organiza o comportamento político não são os argumentos racionais sobre tributação ou regulação, mas sim a resposta afetiva à alteridade — o desejo de proximidade ou de distância em relação ao que é diferente.
É crucial entender que esse desejo por segurança não é meramente irracional ou conservador no sentido convencional. Ele pode ser uma resposta legítima a experiências de perda, deslocamento e insegurança cultural real ou percebida. No entanto, ao ser canalizado politicamente, ele tende a cristalizar-se em formas de exclusão que minam a possibilidade de convivência democrática plural.
Importante compreender que esse impulso securitário não é exclusivo dos EUA. Ele se manifesta de formas diversas em contextos nacionais distintos, adaptando-se às particularidades culturais, históricas e econômicas. Mas sua estrutura básica — proteção do grupo interno contra um externo ameaçador — é constante e recorrente. Esse padrão explica o sucesso de líderes que, ainda que variados em estilo e contexto, compartilham a mesma promessa central: segurança através da exclusão.
Por que os apoiadores fervorosos de Trump buscam segurança contra os “outsiders”?
Os seguidores mais ardorosos de Donald Trump não desejam simplesmente uma autoridade genérica nem uma segurança abstrata; o que eles buscam é uma forma específica de segurança: proteção contra os “outsiders”. Esses “outsiders” podem estar fisicamente fora do país, mas também podem ser aqueles que vivem dentro da nação e que, na visão dos apoiadores de Trump, não demonstraram compromisso genuíno com a segurança e prosperidade do núcleo histórico do país — os “insiders”. Para essa base securitária, imigrantes, minorias raciais e unitários representam as ameaças mais claras à força dos insiders, à unidade cultural e ao orgulho nacional.
A retórica de Trump em organismos internacionais, como na Assembleia Geral da ONU em 2019, enfatiza essa ideia: a verdadeira meta de uma nação só pode ser perseguida por aqueles que a amam profundamente, que estão enraizados em sua história, nutridos por sua cultura e comprometidos com seus valores. Embora tais atitudes, em alguns casos, degener
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