A tendinopatia não insercional do tendão de Aquiles representa um desafio clínico, resultante de uma resposta de cicatrização defeituosa, afetando tanto atletas quanto não atletas. Diversos estudos indicam que a abordagem conservadora é inicialmente preferida, sendo eficaz em 25 a 45% dos casos, mas a taxa de sucesso pode ser significativamente ampliada com terapias combinadas. Por exemplo, um grupo tratado com terapia combinada — que pode incluir fortalecimento e ondas de choque extracorpóreas (ESWT) — apresentou melhora completa ou significativa em até 82% dos pacientes, superando a eficácia do fortalecimento isolado, que atingiu 56%. A ESWT, além de proporcionar analgesia a longo prazo ao modular tanto o sistema nervoso central quanto o periférico, promove a cicatrização tecidual, elevando fatores de crescimento como TGF-β1 e IGF-I, enquanto diminui mediadores inflamatórios como interleucinas e metaloproteinases matriciais em modelos experimentais. Apesar da eficácia demonstrada, a heterogeneidade dos pacientes, incluindo a participação de não atletas, pode impactar os resultados clínicos, refletindo a necessidade de individualização do tratamento.

Além da ESWT, diversas modalidades terapêuticas locais têm ganhado espaço, destacando-se as injeções de produtos sanguíneos autólogos (como o PRP), ácido hialurônico (HA), toxina botulínica, polidocanol, inibidores de protease, corticosteroides e injeções guiadas de alto volume (HVIGI). O uso de produtos sanguíneos autólogos busca estimular respostas celulares químioatraentes, proliferativas e anabólicas, facilitando a cicatrização in loco, embora seu benefício clínico adicional, quando associado a fisioterapia adequada, ainda seja controverso, não mostrando ganhos significativos na recuperação estrutural do tendão. O ácido hialurônico, apesar de ainda ser um tratamento emergente, demonstra em estudos in vitro aumento da viabilidade celular e redução da apoptose nas células do tendão, com resultados clínicos promissores comparáveis ao PRP em tendinopatias de Aquiles e patelar. As injeções de HVIGI parecem atuar mecanicamente sobre neovasos e nervos acompanhantes, aliviando a dor, especialmente quando combinadas com corticosteroides e exercícios excêntricos, embora seus efeitos a longo prazo careçam de comprovação robusta.

Quando a terapia conservadora e minimamente invasiva não surtem efeito, a intervenção cirúrgica torna-se necessária. A cirurgia aberta, tradicionalmente empregada, envolve excisão extensa do tecido patológico e, em alguns casos, transferência tendínea, com taxas de sucesso entre 50% e 100%, porém com risco significativo de complicações, incluindo necrose de borda cutânea, infecções, seromas, hematomas, irritação nervosa, ruptura tendínea e tromboembolismo, atingindo até 11% dos casos em grandes séries. Técnicas minimamente invasivas, como a separação do paratendão com ou sem fluidos de alta pressão, múltiplas tenotomias longitudinais percutâneas guiadas por ultrassom e desbridamento aberto minimamente invasivo com ressecção do tendão plantaris, têm demonstrado resultados promissores com menor índice de complicações e rápida recuperação, podendo ser realizadas sob anestesia local em regime ambulatorial. Ainda que faltem estudos comparativos definitivos entre as diferentes técnicas minimamente invasivas, elas surgem como alternativa intermediária eficaz antes da cirurgia aberta.

O advento da tendoscopia do tendão de Aquiles representa um avanço significativo, proporcionando desbridamento endoscópico com segurança, baixo índice de complicações e rápida reabilitação, consolidando-se como opção recomendada em casos crônicos de tendinopatia não insercional. A associação da tendoscopia com injeções de PRP não mostrou benefícios adicionais, reafirmando a eficácia da técnica isoladamente.

A compreensão da tendinopatia não insercional do tendão de Aquiles deve ir além do tratamento sintomático, incorporando a visão da fisiopatologia da cicatrização tecidual e da modulação inflamatória. É fundamental que o paciente compreenda que a recuperação completa depende da combinação equilibrada de estratégias que atuem tanto no alívio da dor quanto na restauração da estrutura e função tendíneas. O papel da fisioterapia, particularmente os exercícios excêntricos, permanece central em todas as fases do tratamento. O monitoramento individualizado e o ajuste terapêutico com base na resposta clínica são essenciais para otimizar os resultados. Além disso, o reconhecimento do impacto psicológico e funcional da tendinopatia reforça a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, integrando médicos, fisioterapeutas e, quando necessário, especialistas em dor e saúde mental.

Qual é a Importância da Classificação e do Diagnóstico da Neuroartropatia de Charcot no Pé e Tornozelo?

A Neuroartropatia de Charcot (CN) é uma condição degenerativa que afeta as articulações, especialmente no pé e tornozelo, associada à neuropatia sensorial. Seu processo patológico é caracterizado por um conjunto de fases de evolução clínica e radiológica, que refletem o impacto da doença nos ossos e tecidos moles. O entendimento desses estágios é essencial para um diagnóstico precoce e eficaz, permitindo intervenções terapêuticas mais adequadas e prevenindo complicações graves, como úlceras e deformidades irreparáveis.

No estágio 2, denominado fase de coalescência, o quadro clínico e radiográfico apresenta sinais de resolução intermediária, com características agudas ainda presentes. Clinicamente, observa-se uma diminuição da inflamação, comparado com o estágio 1, porém o processo inflamatório ainda está presente de maneira moderada. Radiograficamente, é possível notar a esclerose óssea, indicando o início do processo de cura óssea. Esta fase é marcada pela formação óssea nas áreas de fraturas, além da reabsorção de fragmentos ósseos e o começo da cicatrização das articulações afetadas. A progressão para o estágio 3, de remodelação, é caracterizada pela ausência de sinais inflamatórios e pela consolidação óssea, mas com a possível presença de deformidades ósseas residuais.

É importante destacar que nos estágios 2 e 3, a atividade osteoclástica e inflamatória diminui significativamente, permitindo a cura óssea, mas com a consequência de deformidades residuais. Essas deformidades podem afetar a distribuição do peso durante a marcha, o que pode resultar em lesões teciduais e ulcerativas. A localização anatômica das lesões no pé pode influenciar a gravidade dessas complicações, com maior risco nas regiões que suportam maior carga, como a parte central do pé.

A classificação anatômica da CN, proposta por Brodsky e Rouse, descreve diferentes padrões de envolvimento, com a maior prevalência observada no mediopé (60%), seguido pelo retropé (25%), e menos frequentemente no tornozelo (10%) e tuberosidade calcânea (5%). Essa classificação tem implicações diretas nas escolhas terapêuticas, já que os tratamentos podem variar conforme a localização da lesão e o estágio da doença.

O diagnóstico da CN é fundamentalmente clínico, baseado na anamnese, exame físico e avaliação radiológica. O exame físico revela sinais clássicos como edema, aumento da temperatura local e hiperemia, além de deformidades e ulcerações nos pés. A diferença de temperatura em relação ao lado contralateral geralmente é superior a 2°C, e a dor, apesar da neuropatia, pode estar presente em uma parcela significativa dos pacientes. O diagnóstico pode ser desafiador devido à semelhança com outras condições, como gota ou infecções como celulite e osteomielite. Além disso, testes laboratoriais, como hemograma e proteína C reativa, podem ser úteis, mas devem ser interpretados com cautela, especialmente em pacientes diabéticos, onde os resultados podem ser negativos mesmo na presença de infecção.

A avaliação por imagem, inicialmente realizada com radiografias de pé e tornozelo, permite observar alterações como fraturas, luxações e sinais de consolidação óssea. A ressonância magnética (RM) é particularmente útil no estágio 0, onde pode identificar incongruências articulares sutis, associadas a edema e fraturas ósseas. A RM é considerada o exame de escolha nesse estágio, devido à sua alta precisão diagnóstica. Em casos de dúvida diagnóstica entre CN e osteomielite crônica, os exames de imagem nuclear, como a cintilografia com leucócitos marcados, e o PET-CT podem fornecer informações adicionais, embora esses métodos não sejam amplamente disponíveis.

O tratamento da CN deve ser adaptado ao estágio da doença. Nos estágios iniciais (0, 1 e 2), o objetivo é prevenir a progressão das fraturas e das luxações articulares. No estágio 3, quando o pé já está alinhado e estável, o tratamento se concentra na proteção do pé durante a marcha, utilizando calçados adequados e órteses. Casos em que as deformidades e instabilidades são graves e incompatíveis com o uso de órteses podem exigir reconstrução cirúrgica. De acordo com o estudo de Pinzur, em 2004, 60% dos pacientes com CN no mediopé permaneceram adaptados ao uso de calçados ou órteses, com boa função, sem necessidade de intervenção cirúrgica.

Entender a evolução da doença e a importância da classificação nos permite não apenas definir a conduta terapêutica, mas também minimizar as complicações e promover uma melhor qualidade de vida para os pacientes. Além disso, a abordagem multidisciplinar, envolvendo exames clínicos, radiológicos e laboratoriais, é essencial para o diagnóstico e acompanhamento adequados dessa condição.

Como a Terapia de Pressão Negativa Incisional e Cuidados Pós-operatórios Otimizam a Cicatrização de Feridas Cirúrgicas

A terapia por pressão negativa em feridas (TPNF) revolucionou o manejo de feridas desde sua introdução em 1997, inicialmente voltada para feridas abertas, sendo rapidamente adotada como tratamento de ponte e até definitivo em diversos contextos. Com o passar do tempo, sua aplicação se expandiu para feridas cirúrgicas fechadas, conceito conhecido como terapia por pressão negativa incisional (TPNI), que foi detalhado por Gomoll e colaboradores em 2006, especialmente em cirurgias de tornozelo e pé.

A TPNI consiste na aplicação de uma pressão negativa sobre feridas fechadas, atuando como um curativo que exerce pressão sobre a linha de sutura. Este método promove melhorias significativas na microcirculação local, reduz a tensão nas bordas da ferida, diminui o edema e contribui para a obliteracão eficiente de espaços mortos, que são potenciais focos de complicações. A crescente popularidade da TPNI decorre da evidência clínica que demonstra redução nas taxas de deiscência e infecções da ferida cirúrgica.

Entretanto, a literatura ainda não apresenta consenso absoluto sobre a eficácia global e a relação custo-benefício da TPNI, embora recomendações práticas indiquem seu uso em feridas de alto risco: aquelas fechadas sob tensão moderada, realizadas em tecidos traumatizados, em pacientes com fatores de risco como obesidade e tabagismo, diante da presença de edema importante e em procedimentos como artroplastias, em que a infecção pode ter consequências devastadoras.

A aplicação da TPNI é relativamente simples e pode ser realizada com dispositivos comerciais prontos para uso, como o VAC Prevena™, ou adaptando equipamentos tradicionais de TPNF. O processo envolve proteger as bordas da ferida com curativo transparente, deixando exposta apenas a linha de sutura, sobre a qual se aplica a espuma do curativo conectada ao dispositivo de sucção, geralmente operando com pressão contínua de -125 mmHg. A remoção do sistema deve ocorrer entre 5 e 7 dias, salvo complicações que exijam antecipação, e pode ser repetida se a cicatrização ainda não estiver consolidada.

Outro ponto relevante é o momento da retirada dos pontos, tema frequente de dúvidas para pacientes e cirurgiões. Não há uma regra única; a decisão deve considerar a localização da ferida, idade do paciente, qualidade dos tecidos e fatores de risco específicos. Em regiões como tornozelo, os pontos podem permanecer de 10 a 14 dias em pacientes jovens e até 21 dias em casos de maior risco. No dorso do pé, a remoção ocorre geralmente entre 7 e 10 dias, enquanto na sola deve ser adiada para 21 dias, especialmente quando o paciente já pode apoiar o pé. Remoções precoces podem causar deiscência, enquanto remoções tardias podem deixar marcas visíveis. Uma estratégia eficaz é a remoção parcial dos pontos para equilibrar suporte e minimização de cicatrizes, complementada pela utilização de fitas adesivas para reforço.

O manejo das cicatrizes após a remoção dos pontos é crucial para otimizar o resultado estético e funcional. Manter a hidratação adequada da pele com uso regular de hidratantes, promover compressão através de fitas de papel ou folhas de silicone autoaderentes, e proteger a cicatriz da exposição solar são medidas essenciais. O uso de protetor solar com fator elevado (SPF 50) e reaplicação frequente previne hiperpigmentação e alterações pigmentares durante o processo de cicatrização. Em cicatrizes patológicas, esses cuidados devem ser intensificados.

Feridas traumáticas, que incluem fraturas expostas e lesões extensas de tecidos moles, requerem abordagens específicas, ainda que fundamentadas nos princípios já expostos. A desbridamento cirúrgico rigoroso para remoção de tecidos necrosados é indispensável, assim como a avaliação criteriosa do local e da técnica de incisão. Evitar pontos trançados, que favorecem infecção, e empregar cuidados avançados que preservem a integridade cutânea são recomendações fundamentais.

Quando o fechamento primário não é possível devido à tensão excessiva ou comprometimento dos tecidos, recomenda-se o uso de pontos separados e espaçados distantes das bordas da ferida para minimizar a pressão local, facilitando a aproximação gradual dos tecidos sem comprometer a vascularização. Esta técnica pode evitar complicações associadas ao fechamento forçado e permitir o manejo adequado do tecido comprometido.

Além disso, é fundamental que o controle metabólico, especialmente da glicemia, seja mantido rigorosamente para favorecer a cicatrização, assim como a suspensão do tabagismo, que prejudica a microcirculação e a resposta inflamatória local. A elevação do membro e o repouso também desempenham papel vital na redução do edema, fator que pode atrasar a cicatrização e aumentar o risco de complicações.

A compreensão integral desses aspectos proporciona uma base sólida para o manejo eficaz de feridas cirúrgicas e traumáticas, promovendo a recuperação funcional e estética do paciente, minimizando riscos e acelerando a reintegração às atividades diárias.

Como a Biomecânica do Pé e Tornozelo Influencia a Mobilidade Humana

A biomecânica do pé e tornozelo desempenha um papel crucial na dinâmica da marcha humana, sendo fundamental para entender como o corpo humano se adapta e responde ao movimento. As articulações do pé e tornozelo são responsáveis não apenas pela locomoção, mas também pela absorção de impactos, a estabilidade e o equilíbrio do corpo durante a caminhada e a corrida. Ao analisar a biomecânica dessas estruturas, é possível perceber a complexidade do movimento e como uma pequena alteração pode gerar consequências significativas para a mobilidade do indivíduo.

A marcha humana é um processo altamente coordenado que envolve a interação de várias articulações e músculos, especialmente os do pé e tornozelo. Esses componentes trabalham em conjunto para permitir que o corpo execute movimentos como a flexão, extensão e rotação durante os ciclos de caminhar ou correr. Durante a fase de apoio da marcha, o tornozelo tem a função de estabilizar o corpo enquanto a perna avança, sendo responsável pela transferência de peso de um pé para o outro. Já o pé, em sua complexidade anatômica, permite a adaptação ao terreno e distribui as forças geradas durante o impacto com o solo.

No entanto, lesões ou disfunções nas articulações do tornozelo podem afetar toda a cadeia cinemática do movimento. Alterações biomecânicas, como a pronação excessiva ou a rigidez da articulação do tornozelo, podem levar a desequilíbrios na marcha, sobrecarga de outros segmentos corporais, dor crônica e até mesmo lesões secundárias. O entendimento profundo das forças que atuam sobre o pé e tornozelo, juntamente com uma análise detalhada da marcha, torna-se essencial para o diagnóstico e tratamento eficaz de tais condições.

A evolução da tecnologia tem permitido uma análise mais precisa da biomecânica do pé e tornozelo. Ferramentas como plataformas de pressão e câmeras de captura de movimento possibilitam uma avaliação detalhada das forças e dos padrões de movimento, oferecendo aos profissionais da saúde dados concretos para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas personalizadas. Esse tipo de análise é fundamental tanto para a reabilitação de pacientes com lesões quanto para a prevenção de novas condições, principalmente em atletas ou pessoas que praticam atividades físicas intensas.

Além disso, a biomecânica do pé e tornozelo não se limita à simples análise de movimento. Ela está intrinsecamente relacionada ao estudo de patologias que afetam essas articulações. Doenças como a artrite, a fascite plantar, e deformidades como o pé plano ou o pé cavo, são condições em que os processos biomecânicos desempenham um papel central no desenvolvimento e agravamento dos sintomas. O tratamento adequado dessas patologias envolve a correção das disfunções biomecânicas, frequentemente por meio de ortopedia, fisioterapia e, em casos mais graves, intervenções cirúrgicas.

Importante compreender que, além da análise biomecânica, fatores como o tipo de calçado, a superfície de contato e o estilo de vida também influenciam diretamente a dinâmica do movimento. Por exemplo, o uso inadequado de calçados ou a prática de atividades físicas em terrenos irregulares pode sobrecarregar as articulações do pé e tornozelo, agravando desequilíbrios biomecânicos. Dessa forma, a abordagem para tratar ou prevenir lesões deve ser abrangente, levando em consideração todos esses elementos e promovendo a educação do paciente sobre a importância de hábitos saudáveis e do cuidado com as articulações.

Além de ser fundamental para a prevenção de lesões, o estudo da biomecânica do pé e tornozelo oferece uma visão mais ampla da mobilidade humana, permitindo que os profissionais de saúde, fisioterapeutas e ortopedistas ofereçam tratamentos mais eficazes e personalizados. Com a aplicação da biomecânica, é possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes, restaurar sua funcionalidade e, sobretudo, garantir que a locomoção seja realizada de forma eficiente e sem dor.

Quais são as limitações e complexidades na correção cirúrgica da braquimetatarsia?

A braquimetatarsia representa um desafio singular dentro da cirurgia reconstrutiva do antepé. Trata-se de uma condição rara, caracterizada pelo encurtamento congênito de um ou mais ossos metatarsianos, com maior prevalência no quarto metatarso. As motivações para a correção cirúrgica são, na maioria das vezes, estéticas; contudo, é fundamental destacar que os ganhos funcionais são frequentemente limitados. O paciente, portanto, deve estar plenamente consciente de que a expectativa realista é uma melhora na aparência, e não necessariamente na funcionalidade, sobretudo considerando o alto grau de rigidez que costuma persistir na articulação metatarsofalângica (MTPJ) após a correção.

Dentre os métodos cirúrgicos utilizados, destacam-se duas abordagens principais: o alongamento por distração óssea gradual e o alongamento em estágio único com enxerto ósseo interposto. O primeiro método, baseado na técnica de callotasis, permite um controle milimétrico da distração ao longo do tempo, favorecendo uma regeneração óssea mais orgânica. No entanto, a lentidão na formação do calo ósseo pode demandar intervenções adicionais, como o enxerto de osso alógeno da crista ilíaca e o uso de placas bloqueadas para garantir a estabilidade e a consolidação do osso regenerado.

O segundo método, de alongamento em um único tempo, embora mais direto, tem uma limitação clara quanto à extensão do alongamento possível sem comprometer a vascularização e integridade dos tecidos adjacentes. Ainda assim, apresenta-se como uma alternativa eficaz quando o objetivo é uma correção mais modesta, e os riscos associados à distração prolongada são inaceitáveis para o perfil do paciente.

Radiografias em vistas anteroposterior e lateral são essenciais para acompanhar tanto a manutenção do comprimento obtido quanto o grau de consolidação óssea. A distração axial adequada é um fator crítico na prevenção de deformidades secundárias e no alinhamento funcional do metatarso alongado.

A seleção do método ideal depende de múltiplos fatores: idade do paciente, grau de encurtamento, qualidade óssea, tolerância ao uso de fixadores externos, e, sobretudo, compreensão e adesão do paciente ao protocolo pós-operatório, que inclui tempo prolongado de recuperação e, muitas vezes, reabilitação intensiva. A experiência do cirurgião, aliada a um planejamento meticuloso, impacta significativamente nos resultados, que, embora frequentemente satisfatórios do ponto de vista subjetivo, não garantem normalização biomecânica.

É imprescindível considerar as complicações inerentes ao processo de alongamento ósseo, como não consolidação, infecções relacionadas ao material de síntese, fraturas no local da regeneração, deformidades angulares, e dor crônica. A literatura evidencia que, mesmo nos casos em que se alcança a meta estética, o movimento articular pode permanecer restrito, sendo a rigidez da articulação MTPJ um dos achados mais consistentes no pós-operatório tardio.

O acompanhamento clínico a longo prazo é indispensável. Pacientes submetidos a alongamento metatarsal devem ser monitorados para avaliação da integridade estrutural, função articular, qualidade da regeneração óssea e ocorrência de alterações na marcha. As avaliações devem ser integradas à percepção subjetiva de satisfação, pois esta frequentemente transcende os dados objetivos em relação à extensão do alongamento obtido.

É importante entender que a decisão pela cirurgia de correção da braquimetatarsia deve estar fundamentada em uma análise multidimensional que vá além do desejo estético. A integração entre expectativas do paciente, critérios técnicos e compreensão das limitações biomecânicas é o que define o verdadeiro sucesso terapêutico.