O turismo indígena exige uma abordagem que seja clara, relevante e respeitosa para com as comunidades indígenas envolvidas. A acessibilidade nesse contexto não se restringe apenas a aspectos físicos ou estruturais, mas também envolve o acesso à informação, ao uso de tecnologias e à participação ativa dos povos indígenas na gestão e oferta turística. A diversidade dos turistas — em termos de cultura, idade, gênero, saúde, mobilidade, visão, audição e capacidades mentais — torna indispensável o desenvolvimento de um turismo que possa ser usufruído por todos, sem exclusões. A ideia de design universal, já amplamente aplicada no ambiente construído, deve ser expandida para o turismo, eliminando barreiras e promovendo a inclusão por meio de planejamentos e projetos que visem a não restrição voluntária e a ampliação do público.

Além da acessibilidade física, o conceito abrange a inclusão digital e informacional, garantindo que equipamentos e informações sejam acessíveis a todos, desde o planejamento até a experiência turística propriamente dita. Essa integração é fundamental para fortalecer o turismo indígena, oferecendo oportunidades econômicas constantes e práticas que respeitem e valorizem as identidades culturais das comunidades anfitriãs.

O campo da acessibilidade em turismo, especialmente no que tange ao turismo indígena, é multidisciplinar e está em evolução constante. Organizações internacionais, como a ONU, reconhecem o direito das pessoas com deficiência à participação plena na vida social, incluindo o turismo, refletindo esse princípio nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A cooperação eficiente entre diversos atores — governos, operadores turísticos, comunidades indígenas e organizações sociais — é imprescindível para garantir a competitividade futura dos destinos, promovendo sustentabilidade e respeito cultural.

No que diz respeito à hospedagem, a percepção tradicional associa-a a hotéis, pousadas e albergues, mas essa concepção tem se ampliado e se transformado. As acomodações, consideradas o “lar longe de casa” para o turista, representam uma parcela fundamental da economia do turismo mundial. Em 2019, nos Estados Unidos, por exemplo, havia milhões de propriedades de hospedagem que geraram centenas de bilhões de dólares e milhões de empregos. Historicamente, as acomodações já acompanhavam as rotas de comércio e peregrinação, mas com a revolução industrial e o desenvolvimento urbano, hotéis emblemáticos estabeleceram padrões internacionais que hoje influenciam a cultura global do turismo.

A inovação disruptiva, representada por plataformas peer-to-peer como o Airbnb, desafia o modelo tradicional de hospedagem, oferecendo diversidade e personalização sem precedentes. Esse modelo baseia-se na economia compartilhada, permitindo que pessoas ofereçam suas próprias residências para estadias curtas, criando uma comunidade de confiança e experiências únicas. Essa mudança demanda que o setor tradicional se adapte, incorporando novas tecnologias e formas de gestão para manter sua relevância e competitividade, especialmente após as transformações aceleradas pela pandemia de Covid-19.

As acomodações se diferenciam por tipos e características, incluindo hotéis boutique, resorts de destino, hotéis com foco em convenções, acomodações voltadas para atividades específicas como golfe, spa, cassinos ou esportes de inverno, entre outras. Essa diversificação responde às necessidades variadas dos turistas, incluindo aqueles com limitações físicas ou outras necessidades especiais. É fundamental que as instalações e os serviços sejam pensados dentro da lógica da acessibilidade e da inclusão, para que possam acolher de forma efetiva todos os públicos, ampliando o alcance e a sustentabilidade dos destinos turísticos.

Para além das definições e práticas atuais, é vital compreender que o turismo acessível e inclusivo transcende a eliminação de barreiras físicas. Trata-se de um compromisso ético e político com a dignidade humana, a valorização das diversidades e o reconhecimento das identidades culturais. Isso implica escutar as vozes dos próprios povos indígenas, dos idosos, das pessoas com deficiência e de outros grupos marginalizados, garantindo que suas experiências e necessidades sejam incorporadas nas estratégias de desenvolvimento turístico. A sustentabilidade e a prosperidade do setor dependem dessa perspectiva ampla, que promove não apenas o acesso, mas a participação plena e igualitária.

A complexidade da acessibilidade exige atenção constante às mudanças sociais, tecnológicas e culturais, bem como o investimento em pesquisa aplicada e formação de profissionais sensíveis e capacitados. Os desafios metodológicos e a diversidade dos contextos indicam que não há soluções únicas, mas sim caminhos adaptativos e colaborativos. A inovação deve caminhar lado a lado com a tradição e o respeito aos modos de vida locais, assegurando que o turismo indígena e a hospedagem inclusiva sejam pilares para um futuro em que todos possam usufruir do direito ao lazer, à cultura e ao encontro com o outro.

O impacto do turismo no crescimento econômico: Uma análise da relação entre turismo e desenvolvimento econômico

O turismo, como atividade econômica, está longe de ser um fenômeno simples, e suas implicações econômicas podem variar de forma substancial entre diferentes regiões e economias. A literatura existente sobre o tema sugere que, em muitas regiões, especialmente em países pequenos ou estados insulares dependentes de turismo, o aumento da demanda por turismo pode levar a um crescimento econômico gradual, que se reflete em uma melhoria das taxas de crescimento e termos de troca. Estudos mais recentes, que abrangem dados longitudinais e análises empíricas, buscam identificar padrões causais na relação entre o crescimento do turismo e o crescimento econômico das regiões, com enfoque tanto em países isolados quanto em painéis mais amplos de países.

Esses estudos têm avançado ao incluir séries temporais mais longas e painéis de dados mais abrangentes, permitindo uma compreensão mais precisa dos impactos do turismo no desenvolvimento econômico. O crescimento do turismo tem sido descrito como um motor de recuperação econômica, especialmente em momentos de crise, como evidenciado pelos estudos de Dogru e Bulut (2018). Contudo, essa relação de causalidade não é simples nem unidirecional. O turismo pode ser visto tanto como um resultado do crescimento econômico, quanto como um fator que contribui para esse crescimento. Esse vínculo bidirecional é cada vez mais estudado, especialmente com o foco na avaliação do impacto do turismo em economias pequenas ou altamente dependentes dessa atividade, como observamos nas investigações de Schubert et al. (2011) e Pulido-Fernández e Cárdenas-García (2021).

Além disso, a sustentabilidade econômica dos destinos turísticos, levando em consideração os impactos ambientais e socioculturais, está se tornando uma área de crescente interesse. O desafio é garantir que o crescimento do turismo seja equilibrado com a preservação dos recursos naturais e a promoção do bem-estar social das comunidades locais. A sustentabilidade, no entanto, não se limita ao aspecto ambiental, mas também envolve aspectos econômicos e culturais, que precisam ser cuidadosamente analisados em um cenário de mudanças externas, como a pandemia de Covid-19 e as mudanças climáticas globais, que afetaram profundamente o setor.

A natureza multidisciplinar do turismo e sua interconexão com outros setores da economia, como a indústria de serviços, transportes e hospitalidade, demanda uma análise aprofundada que vá além da simples avaliação do número de turistas ou da receita gerada. O turismo, como produto, é composto por uma mistura de bens e serviços, que incluem tanto recursos naturais quanto artificiais, públicos e privados. Assim, o turismo não pode ser analisado apenas pela ótica da demanda de turistas, mas deve ser entendido como um sistema complexo onde as políticas públicas, as decisões de marketing e os desenvolvimentos tecnológicos desempenham papéis cruciais.

O produto turístico, em sua essência, é formado pela combinação de diversos elementos, e a qualidade e diversidade desses produtos influenciam diretamente a utilidade do turista, como defendido pela teoria da variedade e da coordenação (Candela & Figini, 2012). A relação entre a oferta e a demanda de turismo é, portanto, uma questão de coordenação eficiente entre os diversos stakeholders do destino turístico, como operadores turísticos, autoridades locais e outros agentes do mercado. O desenvolvimento das tecnologias de comunicação e a evolução dos processos de marketing têm sido fatores chave para essa coordenação, ampliando as possibilidades de interação entre os consumidores e os produtos turísticos disponíveis.

Contudo, o estudo da oferta turística enfrenta desafios devido à falta de consenso sobre a definição do próprio produto turístico e as características que o compõem. Em grande parte da literatura, observa-se um foco maior no estudo da demanda, mas isso está começando a mudar à medida que as questões relacionadas à oferta se tornam mais relevantes, especialmente no contexto das mudanças tecnológicas e da necessidade de inovação no setor. Além disso, a análise da oferta deve ser entendida como um processo dinâmico, que envolve tanto a adaptação das empresas turísticas quanto a implementação de políticas públicas que promovam um desenvolvimento sustentável e equilibrado.

É importante destacar que o turismo não é apenas um motor econômico imediato, mas também uma força capaz de provocar mudanças sociais e culturais significativas. A capacidade de um destino para atrair turistas depende não apenas de sua infraestrutura e recursos naturais, mas também da maneira como ele se posiciona no mercado global e como os turistas percebem a experiência oferecida. A evolução do turismo, portanto, deve ser vista de maneira holística, considerando não apenas o impacto econômico, mas também as transformações culturais e sociais que ele provoca.

Neste sentido, a compreensão das dinâmicas entre o turismo e o crescimento econômico vai além da análise das variáveis tradicionais, como o PIB ou as receitas geradas diretamente pela indústria. A análise deve incorporar a capacidade de adaptação das economias locais, as transformações nas estruturas de mercado e os impactos de longo prazo na qualidade de vida das populações. A pesquisa futura nesse campo, especialmente em um contexto global de incertezas, deve aprofundar-se na resiliência do turismo diante de crises externas e na capacidade do setor de se adaptar a um mundo em constante mudança.

Como a Internacionalização e a Evolução das Publicações Impactam o Estudo de Turismo e Hospitalidade

Nas últimas duas décadas, o campo do turismo e hospitalidade tem se transformado substancialmente, impulsionado por uma série de mudanças que influenciam tanto a educação quanto as publicações acadêmicas. Em particular, a oferta de programas de turismo tem se expandido consideravelmente, refletindo uma maior demanda por uma abordagem mais integrada para analisar o turismo de uma perspectiva global. Nos últimos anos, observamos um crescimento significativo do número de cursos de turismo, não apenas nas grandes potências acadêmicas como os Estados Unidos e Europa, mas também em regiões emergentes, como China, Brasil e Sudeste Asiático. Essa expansão global resultou em uma diversificação da produção de pesquisas e da necessidade de novas plataformas para a disseminação do conhecimento, o que trouxe implicações para a publicação científica.

A internacionalização da educação e das populações estudantis tem sido uma força motriz no aumento da produção acadêmica no setor de turismo e hospitalidade. Desde 2004, por exemplo, o número de programas de turismo no Brasil cresceu mais de 1000%, uma mudança que reflete tanto o aumento da demanda local quanto o desejo de tornar o turismo mais acessível em uma escala global. Isso, por sua vez, gerou um mercado em expansão para publicações especializadas em turismo. Em paralelo, a colaboração internacional entre acadêmicos de diferentes países tem se tornado cada vez mais comum, com muitos pesquisadores de regiões como a América Latina, Ásia e Oriente Médio contribuindo com novas perspectivas e métodos de pesquisa.

Esse fenômeno gerou uma série de mudanças nas publicações acadêmicas. Uma das mais evidentes é a proliferação de revistas científicas fora dos países desenvolvidos de língua inglesa, com uma quantidade significativa de títulos surgindo em economias como Brasil, Índia, Rússia e Turquia. Apesar da crescente popularidade dessas publicações, a língua inglesa continua sendo a principal língua de pesquisa em turismo, o que pode limitar o alcance de algumas pesquisas publicadas em outras línguas. Embora as revistas em idiomas não ingleses ofereçam novas abordagens culturais e metodológicas, a transferência de conhecimento entre as diferentes comunidades acadêmicas permanece um desafio, uma vez que muitas dessas publicações não são acessíveis a pesquisadores não familiarizados com esses idiomas.

Além disso, uma tendência crescente nas publicações acadêmicas é a ênfase nas pesquisas qualitativas em vez das tradicionais análises quantitativas. Embora os estudos quantitativos ainda dominem, há uma crescente valorização das abordagens qualitativas que consideram contextos culturais e sociais únicos, aspectos muitas vezes negligenciados nas pesquisas mais generalistas. Essa mudança reflete uma compreensão mais profunda da diversidade do turismo e da hospitalidade ao redor do mundo, e um reconhecimento da necessidade de abordagens metodológicas mais adaptáveis e locais.

A internacionalização também gerou desafios para as editoras, especialmente aquelas de menor porte. Com o aumento da oferta de publicações, tornou-se cada vez mais difícil para as editoras independentes e revistas especializadas se manterem competitivas em um mercado saturado. O avanço das tecnologias de publicação digital, juntamente com a pressão por maior acessibilidade e formatos de acesso aberto, tem desafiado o modelo tradicional de negócios de muitas editoras. O movimento em direção ao acesso aberto, impulsionado principalmente pela União Europeia, pode alterar significativamente o panorama da publicação acadêmica, com implicações para os custos e acessibilidade de artigos científicos. No entanto, o modelo de acesso aberto também levanta questões sobre o financiamento de publicações, com autores de universidades menos favorecidas podendo ser prejudicados por custos elevados.

Ainda, a proliferação de "revistas predatórias" tem sido um ponto crítico dentro do campo do turismo e hospitalidade. Essas revistas, que muitas vezes se concentram mais na quantidade do que na qualidade da pesquisa, representam uma ameaça à integridade acadêmica, com algumas delas buscando um fluxo constante de manuscritos, independentemente da qualidade dos mesmos. Este fenômeno é especialmente visível em países em desenvolvimento, onde o desejo de publicar e a pressão para produzir resultados acadêmicos muitas vezes levam os pesquisadores a recorrer a essas revistas, que podem não proporcionar uma validação rigorosa dos trabalhos publicados.

Por fim, o futuro das publicações acadêmicas no campo de turismo e hospitalidade aponta para uma maior diversificação de mídias. Embora os formatos tradicionais em PDF ainda sejam predominantes, as novas tecnologias estão abrindo caminho para a utilização de áudio, vídeo e até mesmo mídias sociais como veículos potenciais para a disseminação de pesquisa acadêmica. Esses formatos multimodais podem transformar a maneira como o conhecimento é consumido e compartilhado, proporcionando uma experiência mais interativa e acessível, especialmente em um contexto global. A capacidade de adaptar e inovar na forma de publicar será fundamental para garantir que a pesquisa em turismo e hospitalidade continue a evoluir de maneira eficaz.

O desenvolvimento da pesquisa e das publicações em turismo e hospitalidade não é apenas uma questão de crescimento quantitativo, mas também de qualidade e diversificação metodológica. As publicações não devem se limitar à reprodução de modelos ocidentais ou de práticas acadêmicas tradicionais, mas sim refletir a diversidade cultural, social e econômica do turismo global. Além disso, as soluções de publicação inovadoras, como o acesso aberto e as novas formas de disseminação digital, têm o potencial de democratizar o acesso ao conhecimento e ampliar a troca de informações entre diferentes regiões do mundo.

Como a Paisagem Turística se Constrói e se Transforma: Métodos e Perspectivas Futuras

A pesquisa sobre paisagens turísticas envolve uma ampla gama de abordagens metodológicas e teóricas. Cada uma dessas abordagens oferece uma visão única de como o ser humano interage com o ambiente natural e cultural, resultando em uma experiência estética, cognitiva e emocional que é fundamental para o turismo. A paisagem, neste contexto, não é apenas um espaço físico, mas também um conjunto de significados subjetivos que são gerados a partir da interação entre o observador (o turista) e o ambiente. O entendimento da paisagem turística, portanto, está longe de ser estático ou universal: ele é moldado por contextos culturais, históricos e sociais específicos, além de ser influenciado por tendências globais e locais.

Entre os métodos mais usados para avaliar as paisagens turísticas estão a avaliação contingente, a precificação hedônica e o método de custos de viagem. Esses métodos visam, principalmente, compreender o valor econômico das paisagens, bem como a percepção que os turistas têm de diferentes cenários. A utilização de sistemas de informações geográficas (SIG), escalas multidimensionais, sensoriamento remoto e métodos estatísticos é comum, pois possibilita uma análise mais detalhada e precisa das paisagens em questão, incorporando dados visuais, sonoros e até mesmo táteis para enriquecer a experiência do visitante. Tecnologias emergentes, como a realidade aumentada e a realidade virtual, também têm sido aplicadas no estudo das paisagens turísticas, criando novas formas de interação e reconfiguração da paisagem.

Essas tecnologias, aliadas a abordagens como a simulação paisagística e a avaliação da beleza cênica, destacam a mudança do enfoque puramente estético para um processo mais dinâmico e subjetivo de criação de paisagens. A relação entre a paisagem e o olhar do turista, conhecida como “gaze” turístico, altera a percepção e a experiência do ambiente, levantando questões sobre a subjetividade, a interculturalidade e os aspectos políticos das paisagens no contexto da globalização. A paisagem, portanto, não é mais apenas uma representação visual de um espaço, mas um espaço de negociação constante entre o sujeito e o objeto, onde as interpretações se entrelaçam.

A tradição de pesquisa em paisagens turísticas pode ser dividida em quatro fases principais: a descrição e classificação, a percepção e cognição, a avaliação e o julgamento, e, finalmente, a experiência e criação. Cada uma dessas fases está intimamente ligada a uma série de correntes filosóficas que influenciam a forma como a paisagem é interpretada. O empirismo, o positivismo, o humanismo, o marxismo e outras vertentes filosóficas contribuem para a construção de diferentes paradigmas e epistemologias dentro da pesquisa em paisagens turísticas, refletindo abordagens variadas para compreender o fenômeno da interação humana com a paisagem.

A percepção e a cognição da paisagem sempre foram elementos centrais nos estudos de avaliação. Inicialmente, essas pesquisas se concentravam na análise dos sentidos visuais, mas ao longo do tempo, outras dimensões sensoriais, como os estímulos auditivos, táteis e olfativos, começaram a ser reconhecidas como componentes igualmente importantes na construção da experiência do turista. Além disso, modelos quantitativos e qualitativos, como os hierárquicos de ponderação, se mostraram eficazes na medição das diferentes dimensões da paisagem, ajudando a identificar as preferências e as percepções do público em relação ao ambiente. A utilização de tecnologias avançadas, como o rastreamento ocular e as análises de dados de grandes volumes (big data), tem se mostrado uma ferramenta poderosa na avaliação e no entendimento da paisagem turísticas, permitindo insights mais profundos sobre como os turistas se comportam e se relacionam com o ambiente.

A interseção entre a paisagem e a cultura material, no entanto, continua a ser um campo de estudo amplamente explorado. A paisagem turística não é apenas um produto visual ou estético, mas também um componente de identidade e memória coletiva. Os elementos simbólicos presentes nas paisagens, como monumentos culturais, monumentos naturais e até paisagens “mediatizadas” pela mídia, desempenham um papel crucial na construção da experiência turística. A cada nova interação com a paisagem, o turista reconfigura sua própria compreensão do espaço, projetando nele significados pessoais, culturais e sociais que são muitas vezes influenciados por forças externas, como a globalização e os processos de urbanização.

A importância da interpretação contextualizada é essencial para a pesquisa em paisagens turísticas, uma vez que a compreensão de um ambiente depende de fatores como o contexto sociocultural, histórico e até mesmo político. O que é considerado atraente e significativo em uma cultura pode ser percebido de maneira completamente diferente em outra. A globalização, portanto, não apenas amplia o acesso aos destinos turísticos, mas também altera as formas como os turistas interagem com as paisagens. As paisagens do medo, por exemplo, ou as paisagens pós-desastre, são novos campos de pesquisa que destacam o papel das emoções e da memória na formação da experiência turística.

Além disso, a pesquisa sobre paisagens turísticas deve considerar as limitações e os desafios da interpretação. As paisagens podem ser simultaneamente lugares de celebração e de destruição, e a maneira como elas são percebidas pode mudar com o tempo e com os contextos. O turismo sustentável, portanto, não se limita a preservar as paisagens no sentido físico, mas também deve considerar a manutenção de suas dimensões simbólicas e culturais. Os desafios estão em equilibrar o valor estético, o valor cultural e o valor econômico das paisagens, buscando um modelo de preservação que seja inclusivo e responsável, levando em conta as necessidades dos turistas, dos moradores locais e do meio ambiente.

Como o Turismo Reflete Mudanças Sociais e Culturais no Mundo Contemporâneo?

Nos anos 1980, uma série de discussões sobre o turismo e seus efeitos sociais começaram a ganhar destaque. Entre elas, destaca-se a análise sobre a busca de autenticidade, especialmente nos escritos de Dean MacCannell. Durante esse período, o turismo passou a ser visto não apenas como uma indústria, mas também como um reflexo das transformações sociais mais amplas. O conceito de autenticidade, que atrai cada vez mais turistas em busca de experiências genuínas, foi discutido em diversos círculos acadêmicos e se tornou um fenômeno crescente. O turismo passou a ser interpretado como um veículo de significados, que permitia aos viajantes não apenas visitar locais, mas também reinterpretar a realidade a partir de um novo olhar sobre os destinos.

Esse movimento levou à análise dos símbolos e imagens usados nas promoções turísticas. As atrações turísticas passaram a ser vistas como sinais que apontavam para uma "realidade oculta", e o turismo começou a ser tratado como um fenômeno semiótico, onde os lugares e experiências adquiriam significados além da superfície. Por exemplo, destinos culturais tornaram-se ícones representativos, cujas imagens eram capturadas e compartilhadas para confirmar a presença e a vivência do turista naquele espaço. Este fenômeno é, muitas vezes, acompanhado por um foco quase exclusivo no sentido da visão, como se a experiência de viajar fosse apenas uma questão de ver e registrar, sem considerar as outras formas de interação sensorial que poderiam enriquecer a experiência.

Além disso, à medida que a sociedade se tornava mais consciente das questões de deficiência e diversidade sensorial, surgiram novas abordagens sobre como as pessoas com diferentes habilidades sensoriais vivenciam o turismo. A crescente atenção à alteridade e ao papel da linguagem na promoção do turismo também abriu portas para uma análise mais crítica sobre o impacto do turismo na sociedade. As discussões passaram a se concentrar não só nas motivações dos turistas, mas também nas formas como as comunidades anfitriãs estavam sendo transformadas por esses fluxos de visitantes.

Em termos de motivação, o conceito de "turismo escuro", como o fenômeno do que é denominado "thanatourism" (turismo relacionado à morte e desastres), ilustra como os turistas buscam novas formas de experiências que transcendem o simples lazer. Destinos que associam sofrimento e tragédia, como campos de batalha ou locais de desastres naturais, se tornam objetos de curiosidade, questionando as fronteiras entre o entretenimento e a reflexão sobre a morte, e trazendo à tona um debate sobre o que constitui a autenticidade nas experiências turísticas.

A mudança do foco ocular para análises mais multissensoriais também representa um avanço significativo. Inicialmente, a ênfase era no olhar, na observação, no ato de ver as paisagens e culturas estrangeiras. Com o tempo, começou-se a entender que o turismo não pode ser reduzido a um simples fenômeno visual, e que a interação, o toque, os sons e até o cheiro de um lugar também fazem parte da experiência imersiva. Isso abre um leque de possibilidades de como os turistas interagem com os destinos e como esses locais são representados em um contexto global.

Outro avanço relevante no campo do turismo é o estudo das comunidades locais e como o turismo pode ser utilizado para reviver áreas rurais que enfrentam o despovoamento. A ideia de "turismo comunitário" ganha força, com a noção de que as comunidades podem não apenas se beneficiar economicamente com o turismo, mas também revitalizar seu capital social e aumentar sua resiliência. Estudos mais recentes sugerem que as comunidades, ao se engajarem de maneira autêntica com o turismo, podem transformar as próprias dinâmicas locais e criar novas oportunidades de desenvolvimento social e cultural.

Ademais, a transição dos turistas do Norte para o Sul, ou do Oeste para o Oriente, perdeu um pouco de relevância. As dinâmicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento começaram a se desconfigurar, com a ascensão de novas economias que passaram a desempenhar papéis cada vez mais importantes no mercado global de turismo. A digitalização e o advento das redes sociais também trouxeram novas complexidades, tornando os turistas mais agentes ativos na criação de narrativas sobre os destinos. Hoje, qualquer visitante pode contribuir com sua própria versão de um lugar, compartilhando imagens, opiniões e histórias, o que altera profundamente a dinâmica de interação entre anfitriões e visitantes.

Essas mudanças, de certa forma, refletem a crescente influência do chamado "soft power" — o poder que um país exerce no cenário global por meio da cultura, valores e políticas, ao invés do uso de força militar ou econômica. O turismo, dentro desse contexto, se torna uma ferramenta importante na promoção da cultura nacional e no fortalecimento da imagem de um país no exterior. Por meio do turismo, um país pode atrair turistas, investimentos e até mesmo talentos, influenciando a percepção global sobre sua identidade e seus valores. O objetivo é criar uma identificação emocional com outros povos, fazendo com que estes sintam simpatia e empatia pela nação e seus princípios.

O turismo, portanto, deixa de ser apenas uma indústria de lazer e se transforma em uma poderosa ferramenta de transformação social e cultural. Ele pode ser um veículo de mudança, um reflexo das novas dinâmicas globais e uma chave para entender o complexo equilíbrio entre o local e o global, o cultural e o econômico.