A concepção de um mundo plano, envolto por um oceano de tamanho indeterminado, foi, por séculos, a visão predominante da humanidade. No entanto, a partir da Antiguidade, a ideia de uma Terra esférica começou a ganhar forma, apesar de ser rejeitada por muitos por um longo período. Filósofos como Aristóteles (384–322 a.C.) já acreditavam firmemente na esfericidade do planeta, argumentando, entre outras observações, pela forma da sombra da Terra na Lua durante um eclipse. Mas foi apenas com o gênio de exploradores e matemáticos que a questão da forma da Terra começou a se fundir com a busca pela expansão do conhecimento geográfico e pela navegação mundial.
No século IV a.C., Pytheas de Massália, um explorador grego, foi um dos primeiros a medir com precisão a latitude, utilizando a posição das estrelas como referência. Eratóstenes (c. 274–194 a.C.) avançou com um conceito de mapa que introduzia uma divisão conhecida como "esfárgides" (selos), que antecipava a grade moderna de coordenadas geográficas. Séculos depois, Ptolomeu de Alexandria (c. 90–168 d.C.) revolucionaria a cartografia com a elaboração de projeções de mapas que tentavam representar de maneira mais precisa a forma esférica da Terra, tornando sua obra, Guia de Geografia, a principal referência por mais de mil anos.
Apesar dessas descobertas, a ideia de realizar uma circunavegação completa da Terra permaneceu uma fantasia distante até o momento em que Cristóvão Colombo, em 1492, chegou ao continente americano, alterando para sempre a percepção europeia do mundo. Antes disso, a visão de que o planeta poderia ser circunavegado era considerada irrealista. Mesmo após a colonização das Américas por espanhóis e portugueses, navegadores como Vasco da Gama estabeleceram novas rotas comerciais pelo Oceano Índico, mas a verdadeira interligação entre os hemisférios europeus e asiáticos seria feita por meio da navegação ao redor do mundo.
A partir de então, os desafios da navegação, incluindo a necessidade de determinar com precisão a localização em alto-mar, ganharam importância crítica. A busca pela solução do problema da longitude, por exemplo, foi uma das questões mais complexas da história da navegação. Embora se soubesse desde os tempos de Aristóteles que a Terra era redonda, a capacidade de calcular com exatidão a posição no vasto oceano dependia de uma precisão que a tecnologia da época ainda não conseguia alcançar.
Os relógios marinhos, como os desenvolvidos por John Harrison no século XVIII, foram cruciais para resolver esse impasse. Harrison inventou um cronômetro que poderia manter a hora com precisão, mesmo nas turbulentas águas do mar. Antes disso, os navegadores usavam métodos como as tabelas lunares para estimar a posição, mas a imprecisão dessas ferramentas dificultava viagens longas e seguras.
A expedição de Fernão de Magalhães, em 1519, tornou-se um marco na história das grandes navegações. Embora Magalhães não tenha sobrevivido à jornada, seus homens completaram a primeira circunavegação do planeta, chegando de volta à Espanha em 1522. A travessia do estreito que leva seu nome, localizado no extremo sul da América do Sul, foi apenas o começo de uma jornada épica através do Pacífico até as ilhas Molucas. Esse feito consolidou a ideia de que, com os recursos e o conhecimento adequados, era possível dar a volta ao mundo e, assim, unificar partes do planeta antes consideradas separadas por oceanos intransponíveis.
No entanto, a travessia não foi isenta de dificuldades. Os navegadores enfrentaram mutinas, doenças e adversidades climáticas, desafios que ainda são comuns nas grandes viagens marítimas. A luta contra o escorbuto, uma doença provocada pela falta de vitamina C, foi um dos maiores obstáculos para as tripulações. Durante a expedição de Louis Antoine de Bougainville, por exemplo, a taxa de mortalidade foi consideravelmente menor do que nas viagens anteriores, mostrando que as lições de erros passados estavam finalmente sendo aplicadas.
Com a chegada do século XIX, as viagens de circunavegação se tornaram mais comuns. Charles Darwin, a bordo do HMS Beagle, e outros exploradores como Robin Knox-Johnston, que completou a primeira circunavegação sem escalas, em 1968, demonstraram a viabilidade das viagens marítimas globais, impulsionadas pela invenção dos cronômetros precisos. Essas viagens, muitas vezes conduzidas por embarcações menores e mais ágeis, possibilitaram uma nova era de exploração científica e de conectividade global.
É importante notar que, ao longo dos séculos, as expedições marítimas não apenas expandiram o conhecimento geográfico, mas também trouxeram à tona questões culturais e políticas complexas. O processo de circunavegação não foi apenas uma busca por rotas comerciais ou descobertas científicas, mas também uma luta pela dominação de novos territórios e pela expansão do império europeu. As conquistas das grandes potências marítimas, como a Espanha, Portugal, Inglaterra e França, remodelaram o mundo de maneiras que ecoam até os dias de hoje.
Além disso, a exploração marítima ajudou a consolidar a ideia de que o mundo é um espaço interconectado, onde as distâncias não são barreiras intransponíveis, mas desafios a serem superados com engenhosidade humana. As lições dessas expedições são valiosas não apenas para o campo da navegação, mas também para compreender como a ciência, a tecnologia e a coragem humana podem transformar nossa visão do mundo e nosso lugar nele.
A Exploração e Cartografia de Terras Desconhecidas: Da Busca por Mapas à Superação de Desafios Geográficos
A exploração de regiões desconhecidas e a cartografia de terras inexploradas foram os principais motores que impulsionaram muitas das expedições geográficas que marcaram os séculos XVIII e XIX. A busca por mapear o mundo, até então envolto em lacunas e imprecisões, teve um papel fundamental na expansão do conhecimento geográfico europeu, principalmente em continentes como a África, Ásia, Austrália e as Américas.
A tradição de cartografia remonta à Grécia Antiga, com os filósofos Anaximandro e Hecataeus, e continuou se desenvolvendo ao longo dos séculos, chegando até os romanos, que, com a ajuda dos agrimensores, realizaram medições precisas dos territórios ao redor das novas colônias, dividindo-os em quadrados, um processo conhecido como centuriation. Já na Idade Média, o trabalho de Leonardo de Pisa e, posteriormente, o de Leon Battista Alberti no Renascimento, introduziu novos métodos e instrumentos de levantamento, como o uso da triangulação.
Após o primeiro desembarque de Colombo nas Américas, em 1492, o fluxo de novas informações geográficas cresceu exponencialmente. Isso resultou em um aumento considerável na quantidade de mapas em circulação, que passaram de alguns milhares antes de 1450 para milhões ao final do século XVI. Esse processo de mapeamento foi acompanhado por uma expansão da exploração das costas da América, África e das Índias Orientais, mas o interior desses continentes continuava a ser um grande mistério. O mapeamento de áreas como o deserto do Saara ou o interior da África subsaariana foi um desafio, com muitas dessas terras sendo representadas de maneira imprecisa nos mapas da época.
A ideia de uma "terra desconhecida" por trás de continentes estabelecidos se refletia na presença de "ilhas errôneas" e "lacunas" nos mapas, como no caso da Califórnia, que era frequentemente representada como uma ilha nos mapas do século XVII. Isso refletia não apenas a falta de informações precisas, mas também as muitas suposições e mitos que permeavam as descrições de terras inexploradas.
Outro aspecto importante foi a busca por rotas comerciais e a exploração de passagens entre continentes. A ideia de uma passagem noroeste, que conectaria o Atlântico ao Pacífico, inspirou inúmeras expedições no Canadá e no Alasca, enquanto os mapas das regiões da Ásia Central, como a Ásia Menor e a Sibéria, também continham grandes lacunas. A exploração dessas regiões foi muitas vezes guiada por interesses políticos e econômicos, como no caso das expedições britânicas e russas no "Grande Jogo" pela supremacia na Ásia Central, ou as missões de exploração para garantir o controle sobre territórios estratégicos.
A exploração da Austrália, por exemplo, foi inicialmente focada na busca de uma "grande terra do sul", Terra Australis, que mais tarde se revelou ser uma região árida e inóspita, mas de grande importância geopolítica. Os navegadores britânicos, como Matthew Flinders, que circunavegaram a Austrália no início do século XIX, foram fundamentais para o entendimento da costa e do interior do continente, que antes eram considerados praticamente inexplorados.
A cartografia e a exploração do interior da África, da Ásia Central e da Austrália estavam frequentemente imersas em especulações. Muitos exploradores, como Francis Younghusband e Gertrude Bell, dedicaram-se à pesquisa e mapeamento dessas regiões, trazendo à tona tanto o desconhecido quanto o já revelado, com o objetivo de dar uma imagem mais precisa do mundo. As expedições, por sua vez, desafiavam as limitações tecnológicas da época, com métodos de navegação que dependiam de observações astronômicas e instrumentos rudimentares para medir distâncias e elevações, como o uso de quadrantes e a medição de ângulos.
Além dos desafios geográficos, as expedições também foram marcadas pelo encontro com povos e culturas desconhecidas, cujos modos de vida e práticas muitas vezes se chocavam com a visão europeia. O trabalho de exploradores como Mary Kingsley, que viajou pela África Ocidental, e o de Henry Morton Stanley, que explorou a África Central, não se limitava apenas ao mapeamento de territórios; era também uma tentativa de entender e documentar as culturas e os modos de vida de povos distantes.
A ascensão da tecnologia moderna, como os sistemas de navegação por satélite, tornou mais fácil e acessível a exploração e o mapeamento do mundo. No entanto, a necessidade de compreender e respeitar as terras e as culturas ainda permanece uma questão relevante. A experiência de explorar não é apenas sobre descobrir novas geografias, mas também sobre a percepção de que o mundo está em constante transformação, e que a cartografia é uma prática em evolução que continua a ter profundas implicações políticas e culturais.
A compreensão de que muitas dessas terras, antes vistas como em branco ou desconhecidas, já eram habitadas por culturas com sua própria história e identidade, é essencial para uma visão mais holística da exploração e do mapeamento. Além disso, a exploração não deve ser vista apenas como uma atividade de conquista e domínio, mas também como uma prática de intercâmbio, onde o conhecimento e a compreensão mútua podem ser fundamentais para o progresso global.
Como os Exploradores Desvendaram o Deserto Árabe: Doughty, Thomas e Thesiger
A exploração do deserto árabe por viajantes ocidentais é uma história de coragem, perseverança e profundo entendimento das culturas locais. A travessia do deserto, por mais que fosse um desafio físico, tornou-se também um teste de respeito e integração com as tribos que habitavam aquelas terras implacáveis. Os exploradores que se aventuraram nesses territórios áridos não apenas enfrentaram os rigores do clima e do isolamento, mas também buscaram um entendimento profundo da vida desértica e das tradições árabes, sem o qual a travessia teria sido impossível. Entre esses aventureiros, três nomes se destacam: Charles Montagu Doughty, Bertram Thomas e Wilfred Thesiger.
Charles Montagu Doughty foi um dos pioneiros a lançar um olhar mais atento sobre o mundo árabe. Em sua obra monumental, Travels in Arabia Deserta (1888), Doughty, sem dúvida, imortalizou suas observações e experiências no deserto da Arábia. Seu trabalho não foi um sucesso comercial imediato devido ao seu estilo peculiar e ao volume imenso de palavras — mais de 600.000. Mas sua importância, que antes foi ignorada, foi reconhecida após sua morte, com uma introdução de T.E. Lawrence, um nome que também ficaria associado à Arábia. O que Doughty conseguiu que poucos outros poderiam, foi documentar as paisagens árabes e suas complexidades com uma visão única e muitas vezes poética. Sua escrita era densa, mas com ela, ele trouxe à tona uma perspectiva rara sobre os habitantes do deserto e suas vidas cotidianas.
A travessia do deserto também foi marcada pela importância do conhecimento local. Bertram Thomas, outro explorador notável, foi o primeiro europeu a atravessar o Rub'al Khali, ou "Quadrante Vazio". Em 1930, após uma preparação meticulosa e discreta, Thomas partiu de Muscat com 28 guias beduínos e 48 camelos. Sua jornada foi um teste extremo de resistência. Ele sabia que a chave para a travessia não era apenas sobreviver ao deserto, mas entender as tribos que o habitavam, suas tradições, e os códigos de conduta que regiam o deserto. Em sua jornada, a água se mostrou uma mercadoria valiosa, e o conhecimento das fontes de água secretas, guardado a sete chaves pelas tribos, era um trunfo essencial para sua sobrevivência. Ele soube ganhar a confiança dos nômades e, através disso, conseguiu atravessar um dos desertos mais inóspitos do mundo.
Mas a experiência de atravessar o deserto não se limitava apenas a lutar contra a natureza. Wilfred Thesiger, um dos mais conhecidos exploradores do século XX, também enfrentou o deserto árabe, mas com uma abordagem ainda mais imersiva. Em suas viagens, Thesiger não se contentava em ser um mero observador; ele abraçava completamente as culturas que encontrava. Aprendeu árabe, vestiu-se como os beduínos e viveu segundo seus códigos de honra. Em suas viagens pelo deserto, ele retratou com um olhar íntimo e respeitoso as vidas daqueles que cruzavam sua jornada, preocupando-se em preservar o estilo de vida tradicional das tribos, ameaçado pelo avanço da modernidade. Thesiger via o deserto não como uma adversidade, mas como um modo de vida, uma filosofia que ele procurava capturar em sua escrita e fotografia.
Esses três exploradores não apenas cruzaram o deserto árabe fisicamente, mas também o desbravaram espiritualmente e culturalmente. O que fica claro em suas histórias não é apenas a grandeza do deserto, mas a complexidade das relações humanas que se tecem nesse ambiente desafiador. Atravessar o deserto exigia mais do que resistência física; era necessário entender o ambiente, respeitar a cultura local e, acima de tudo, ganhar o respeito daqueles que o conheciam melhor do que qualquer ocidental.
O aprendizado com essas expedições é imenso. Cada um desses exploradores, através de sua trajetória, nos mostra que o deserto não deve ser visto apenas como um vazio, mas como um mundo repleto de vida, sabedoria e desafios. Para aqueles que buscam entender a Arábia e seu deserto, é imprescindível que se apropriem desse conhecimento profundo das culturas locais e que reconheçam a importância de respeitar as tradições de um povo que vive em um dos ambientes mais inóspitos do planeta. A verdadeira travessia do deserto não é apenas uma questão de percorrer a areia, mas de se conectar com as pessoas que a habitam e compreender a filosofia de vida que elas carregam com elas.
A Jornada de Darwin: Uma Viagem de Transformação e Descobertas Científicas
Em 1831, Charles Darwin iniciou uma das mais importantes expedições científicas de todos os tempos, a bordo do HMS Beagle. Sua jornada, inicialmente planejada para durar dois anos, estendeu-se por quase cinco e teve um impacto decisivo em sua formação intelectual e no desenvolvimento de suas teorias sobre a evolução das espécies. Essa expedição não apenas moldou sua carreira, mas também transformou para sempre a compreensão científica da natureza e da origem das espécies.
Ao embarcar na Beagle, Darwin ainda era um jovem naturalista, influenciado pelas ideias de William Paley, que via a complexidade da natureza como evidência de um design divino. Como muitos de seus contemporâneos, ele acreditava que as espécies eram imutáveis. Contudo, à medida que a expedição avançava, Darwin começou a observar fenômenos naturais que questionavam essas concepções. O que inicialmente parecia uma simples viagem de exploração científica tornou-se uma jornada de profunda transformação pessoal e teórica.
Entre os momentos mais marcantes de sua expedição, destaca-se sua experiência no Brasil. Ao chegar em Bahia, Darwin se deparou com a exuberância das florestas tropicais, uma experiência que ele descreveu como “um caos de delícias”, onde a diversidade da vida parecia infinita. Essa sensação de deslumbramento, somada à observação de organismos e ecossistemas tão distintos dos conhecidos na Europa, foi fundamental para que ele começasse a questionar a ideia de que as espécies eram fixas e imutáveis.
Na região do Rio da Prata, a viagem continuou, com Darwin se aventurando pela Argentina e Uruguai. Foi ali que ele iniciou suas observações sobre fósseis, começando a formular suas ideias sobre as mudanças no ambiente e suas consequências para as espécies. Darwin também enfrentou condições extremamente difíceis, como em sua incursão ao sul da América, em Tierra del Fuego, onde ele e sua equipe trabalharam sob condições climáticas severas, com frio intenso e terrenos lamacentos. Em um desses episódios, ele conseguiu salvar uma expedição em barcos pequenos, quando uma parede de gelo ameaçou destruí-los.
A travessia do estreito de Magalhães e a chegada à Terra do Fogo foram momentos marcantes para Darwin, que, a cada passo, acumulava novos dados sobre a fauna e a flora locais. Seu caderno de campo revelava observações meticulosas e reflexões profundas, e seu envolvimento crescente com as descobertas não só alimentava sua curiosidade científica, mas também provocava uma mudança paradigmática em sua visão do mundo natural.
A chegada às Ilhas Galápagos foi outro ponto de inflexão crucial. Ali, Darwin fez uma das descobertas mais notáveis de sua jornada: a observação de diferentes espécies de tentilhões, que pareciam ter se adaptado às condições específicas de cada ilha. Ele ficou fascinado com a diversidade de formas e comportamentos, o que o levou a formular a hipótese de que as espécies poderiam evoluir ao longo do tempo, adaptando-se ao ambiente de maneira gradual. Esse insight se tornaria a base da teoria da seleção natural, embora Darwin ainda não estivesse completamente pronto para publicar suas ideias.
Durante o restante da viagem, Darwin continuou a coletar espécimes e dados, com grande foco na geologia e nos fósseis encontrados nas regiões andinas. Em 1837, ao retornar à Inglaterra, ele começou a compilar suas observações e elaborar suas teorias, mas demoraria ainda 20 anos até que se sentisse pronto para apresentar ao mundo sua teoria da evolução por seleção natural, que revolucionaria a biologia.
É fundamental entender que, embora a expedição tenha sido um evento determinante para o desenvolvimento das ideias de Darwin, a construção de sua teoria não foi imediata. Ele não apenas acumulou dados, mas refletiu profundamente sobre o que observava, questionando os modelos vigentes e buscando por padrões que pudessem explicar a diversidade e a adaptação das espécies. O método científico de Darwin foi construído sobre uma base de paciência, observação e reflexão contínua, o que exigiu dele uma profunda abertura para desafiar as crenças estabelecidas.
Além disso, o que muitos podem não perceber é que a teoria de Darwin não surgiu de uma única descoberta ou momento de inspiração, mas de uma longa jornada de observação e reflexão. Seus escritos revelam não só sua capacidade de detalhar minuciosamente o mundo natural, mas também uma constante disposição para revisar suas ideias à medida que novas evidências surgiam. Esse aspecto da ciência de Darwin, a disposição para duvidar e questionar suas próprias conclusões, é um exemplo claro da natureza dinâmica e sempre aberta da ciência verdadeira.
Por fim, é essencial que o leitor compreenda que a teoria de Darwin não apenas alterou nossa compreensão das espécies, mas também lançou as bases para a biologia moderna. Sua ideia de que todas as formas de vida são o produto de um processo evolutivo contínuo ainda é um pilar fundamental da ciência atual, influenciando campos tão diversos quanto genética, ecologia, paleontologia e até mesmo a medicina.
Qual é o preço da coragem na exploração polar? O legado de Franklin e os desafios da sobrevivência nas regiões árticas
Explorar os polos da Terra sempre foi uma empreitada fascinante, um teste de resistência física e mental. No entanto, mesmo os mais audaciosos entre os exploradores, com todo o conhecimento científico e tecnologia disponíveis para eles, enfrentaram condições extremas que os desafiavam de maneiras que poucos podem compreender. No caso da famosa expedição de Sir John Franklin, que partiu em 1845 com a missão de encontrar a Passagem do Noroeste, a tragédia que se seguiu revela muito sobre o custo da ousadia na exploração polar.
A expedição de Franklin, a bordo dos navios HMS Erebus e HMS Terror, foi bem equipada com tecnologia de ponta para a época. As embarcações possuíam cascos de ferro e propulsores a vapor, e a tripulação era composta por mãos experientes, já acostumadas ao rigor das viagens no Ártico. No entanto, algumas falhas fatais marcaram essa jornada. A falta de vestuário adequado para as condições extremas, o número excessivo de tripulantes e, possivelmente, a contaminação por chumbo nos alimentos enlatados, foram fatores que contribuíram para a morte de muitos. Além disso, a idade de Franklin, 59 anos na época, pode ter sido um fardo físico considerável.
Quando os navios ficaram presos no gelo em 1846, a expedição já estava em apuros. Depois de um ano esperando pelo degelo, os sobreviventes abandonaram os navios e tentaram alcançar o continente, mas acabaram sucumbindo à fome, escorbuto, envenenamento por chumbo, e, em um ato desesperado, canibalismo. Em 1859, a expedição de resgate liderada por Fox encontrou alguns vestígios dessa tragédia: documentos, itens pessoais dos tripulantes e o corpo de Franklin, que falecera de causas desconhecidas em 1847. Sua última contribuição, no entanto, foi encontrar uma seção da Passagem do Noroeste, antes inexplorada.
O sofrimento da tripulação de Franklin não foi um evento isolado. Outros exploradores enfrentaram desafios igualmente imensos, e as condições de vida nos polos, tanto no Ártico quanto na Antártida, eram e continuam sendo implacáveis. O frio extremo e o isolamento completo tornam a sobrevivência uma tarefa de engenhosidade constante. Comer em grandes altitudes e temperaturas baixas exige uma ingestão calórica impressionante. Exploradores modernos podem consumir até 6.000 calorias por dia, três vezes mais do que o normal. No passado, no entanto, as rações eram escassas e mal balanceadas. Em alguns casos, como o do canadense Vilhjamur Stefansson, que viveu entre os Inuit, a dieta dos exploradores era baseada em carne e gordura animal, uma solução para a falta de vegetais que, embora eficaz em termos de calorias, não prevenia doenças como o escorbuto.
O escorbuto, uma doença causada pela falta de vitamina C, era o grande vilão entre os exploradores. Esse mal, conhecido como o "flagelo do Ártico", fez inúmeras vítimas durante os séculos XIX e XX. Os sintomas incluem gengivas inchadas e sangrando, perda de dentes, sangramentos internos e até morte. Só em 1932, com os estudos de Charles King, foi possível identificar a causa do escorbuto, algo que, até então, os exploradores desconheciam.
Outro grande desafio das regiões polares é a falta de água potável. Os polos são os lugares mais secos da Terra, com menos precipitação que o deserto do Saara. Isso significa que a água precisa ser derretida a partir do gelo, exigindo uma grande quantidade de combustível. Além disso, as temperaturas no Ártico e na Antártida são tão extremas que tendem a fazer com que as tendas se tornem inadequadas para proteção prolongada. Para sobreviver, os exploradores recorrem a abrigos mais resistentes, como as estruturas subterrâneas que alguns expedicionários, como o da expedição Oxford, construíram ao escavar blocos de gelo.
As condições de saúde e segurança no Ártico e na Antártida vão além do que a maioria dos seres humanos é capaz de suportar. A hipotermia é uma ameaça constante, pois o corpo humano não está preparado para resistir a temperaturas tão baixas por períodos prolongados. A exposição ao frio intenso pode causar falhas nos órgãos e, em casos extremos, leva à morte. A frostbite, ou congelamento, também representa um risco grave, podendo levar à perda de membros e até à morte, caso não seja tratado imediatamente. Essas condições representam o lado mais sombrio da exploração polar.
Se, por um lado, as tecnologias de transporte, abrigo e alimentação avançaram significativamente desde os dias de Franklin, por outro, as regiões polares continuam a ser locais de extremo perigo. Mesmo com o auxílio dos Inuit, que foram cruciais para muitos exploradores no Ártico, como Roald Amundsen, que aprendeu com eles a conduzir trenós puxados por cães, os desafios não diminuem. As condições atmosféricas ainda são imprevisíveis e podem mudar de forma abrupta, colocando qualquer expedição à mercê da natureza.
Em termos de transporte, as lições tiradas da experiência com cães de trenó e outros animais, como os renos, são de importância vital. No entanto, mesmo essas abordagens tradicionais não garantem o sucesso em todas as situações. A história de Amundsen, que soube tirar proveito da experiência Inuit para sua viagem ao Polo Sul, é uma das poucas que resulta em sucesso. Enquanto isso, as tentativas de Scott, que usava ponis siberianos, terminaram em tragédia, revelando a importância de entender o ambiente local e as melhores práticas para a sobrevivência.
Explorar os polos continua a ser um risco imenso, tanto para a saúde quanto para a vida. As histórias de Franklin e outros grandes exploradores nos lembram das forças implacáveis da natureza e da constante necessidade de preparação, adaptação e aprendizado com os povos que habitam essas regiões extremas há milênios.
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