Quando se fala sobre a saúde mental das crianças, é fundamental que os pais adotem uma postura empática e atenta. A transição de um mundo mais isolado para um de mais interações sociais pode ser um desafio profundo, especialmente quando lidamos com questões como a depressão. Embora todos os filhos experimentem tristeza em algum momento, a depressão é uma condição mais complexa, que vai além de sentimentos passageiros de melancolia. A necessidade de reconhecimento precoce dos sinais dessa condição e a construção de uma comunicação aberta são aspectos essenciais para ajudar os filhos a enfrentarem esse momento.

A depressão infantil não se resume apenas ao comportamento visível de tristeza. Pode manifestar-se através de um desinteresse por atividades que antes eram prazerosas, isolamento social, mudanças nos padrões alimentares e de sono, e até sentimentos de inutilidade ou culpa. Crianças que passam por essa condição, muitas vezes, têm pensamentos negativos e até considerações suicidas, algo que deve ser tratado com extrema seriedade. Em tempos de isolamento ou monotonia, como os causados por pandemias ou outras crises, muitos jovens podem ter seus sintomas potencializados, criando um ambiente ainda mais difícil para que eles se sintam compreendidos.

O cérebro infantil, em desenvolvimento, depende de novas experiências e interações interpessoais para se fortalecer. A falta de estímulos pode resultar no "podamento" de regiões cerebrais essenciais, o que dificulta ainda mais a capacidade da criança de lidar com as adversidades. A isso se soma a falta de resiliência por parte dos pais, que, muitas vezes, já estão lidando com o desgaste emocional de suas próprias experiências. Esse cenário exige paciência, compreensão e apoio externo, com a busca por ajuda profissional sendo crucial para tratar adequadamente a depressão infantil.

Em relação à forma como os pais podem reagir, é importante não subestimar nem exagerar a situação. Uma reação serena, baseada em escuta ativa e apoio, tem muito mais eficácia do que uma postura dramática ou uma resposta excessivamente protetora. A chave está em criar um espaço seguro, onde a criança possa expressar seus sentimentos sem medo de julgamento. Ensinar a elas que as emoções, por mais complexas que sejam, podem ser conversadas e compreendidas, sem vergonha, é um dos passos mais importantes nesse processo.

É fundamental, para os pais, que a comunicação seja aberta e sem pressões. Um bom começo pode ser algo simples como perguntar diretamente sobre o que a criança está sentindo, sem impor uma resposta ou pressioná-la a falar. Perguntas como “Como você está se sentindo sobre voltar à escola?” ou “Quais coisas têm te deixado mais triste ou irritado ultimamente?” podem abrir portas para conversas mais profundas. Para os adolescentes, é relevante reconhecer que o termo "depressão" pode ser entendido de maneiras diferentes. A utilização de uma abordagem mais honesta e vulnerável, talvez compartilhando uma experiência própria ou de alguém próximo, pode ajudar a quebrar barreiras e tornar a conversa mais acessível.

Ademais, a técnica da "Regra do Platina", que consiste em tratar os outros da maneira que eles gostariam de ser tratados, deve ser aplicada. Isso não significa ser submisso, mas respeitar a individualidade da criança e seus próprios tempos e maneiras de lidar com as emoções. Para os pais que são mais verbais, é necessário encontrar maneiras de oferecer apoio sem impor uma solução ou intervenção imediata. Às vezes, apenas escutar, sem pressa de dar conselhos ou soluções, é o maior gesto de empatia.

Além disso, crianças que já estavam em sofrimento antes da pandemia podem, paradoxalmente, ter se sentido mais "normais" nesse período de isolamento coletivo. Para essas crianças, entender que essa sensação de "adequação" pode ser temporária e muitas vezes não condiz com a realidade de uma vida social saudável é um passo importante. Pais precisam estar atentos a esses sentimentos e discutir com seus filhos sobre as complexidades da saúde mental, assegurando que saibam que podem buscar ajuda sempre que necessário.

Ao identificar sinais de depressão, é essencial que os pais procurem ajuda profissional de forma ágil, para evitar que o quadro se agrave. Muitos pais, por medo ou incerteza, adiam essa busca, o que pode resultar em consequências mais sérias para a criança. A consulta com um terapeuta especializado em depressão infantil pode ser o primeiro passo para um tratamento eficaz. Lembre-se de que a depressão é tratável, e com o suporte adequado, as crianças podem aprender a lidar com suas emoções de maneira saudável e resiliente.

Outro ponto importante é a educação dos pais sobre o que é a depressão e como ela se manifesta nos filhos. O conhecimento profundo sobre a condição pode ajudar os pais a entenderem melhor os desafios enfrentados pelas crianças e a responder de maneira mais adequada e acolhedora. A pesquisa e a busca por fontes confiáveis sobre o tema são fundamentais nesse processo. Não subestime os sinais e não caia na armadilha de achar que o problema se resolverá sozinho. Quanto mais cedo a intervenção, mais eficaz será o tratamento e o apoio dado à criança.

Como a Pandemia Remodelou Nossa Realidade Emocional: Reflexões e Lições

O impacto da pandemia de COVID-19, com suas imposições de quarentena e distanciamento social, reverberou profundamente em todos nós. A experiência de Shay e seus filhos ilustra uma realidade comum a muitas famílias: o isolamento forçado, o medo constante da contaminação, a perda de rotinas estabelecidas e a necessidade urgente de se adaptar a um novo estilo de vida sem as interações pessoais que antes eram fundamentais. A interrupção dos vínculos com familiares, a falta de uma rede de apoio e a impossibilidade de estabelecer novas relações, como com médicos ou educadores, criaram um vazio emocional difícil de lidar. Em muitos casos, a sensação de estagnação se aprofundou à medida que o confinamento se alongava, e o desejo de retomar uma vida "normal" tornava-se uma miragem cada vez mais distante.

O tempo foi passando, mas a promessa de uma recuperação rápida se dissipou à medida que as dificuldades se intensificaram. A insegurança financeira, a perda de empregos, as preocupações com a saúde e a sensação de ser imerso em um cenário de incerteza total se tornaram a nova normalidade. A solidão e o cansaço acumulado tornaram-se visíveis nas reações emocionais de Shay e seus filhos, que, apesar de estarem juntos fisicamente, sentiam uma desconexão emocional ainda maior. A crise de saúde pública não era apenas sobre a luta contra o vírus, mas também sobre como lidar com as cicatrizes emocionais deixadas por essa experiência coletiva.

A perda de rituais e eventos importantes, como formaturas, casamentos e viagens aguardadas, não foi apenas uma perda prática, mas um luto que cada um carregava em seu corpo e mente. Essas perdas não podem ser subestimadas, pois deixam marcas profundas, muitas vezes ignoradas ou minimizadas. Essas marcas, por menores que pareçam, são traumas que se manifestam de maneiras imprevisíveis, afetando nossas respostas e reações no futuro.

Como psicóloga, sempre recorro à analogia do campo ensolarado para explicar o trauma. Imagine que você caminha por um campo, aprecian­do a beleza à sua volta. De repente, você é mordido por uma cobra, um evento traumático. No momento da mordida, seu corpo e mente registram uma resposta imediata e intensa, condicionando suas reações futuras a qualquer elemento que se assemelhe àquela experiência traumática. Após a pandemia, não é difícil entender como esses traumas, grandes ou pequenos, podem surgir quando menos esperamos, acionando nossos mecanismos de defesa de maneira instintiva.

No entanto, é importante lembrar que não estamos sozinhos nesse processo. Cada um de nós, de maneira única, vivenciou sua própria versão de perda e trauma durante esses tempos. Embora a dor de alguns possa parecer maior ou mais grave do que a de outros, o impacto do isolamento e da incerteza afetou a todos. Essa experiência de distanciamento forçado não é algo que se resume ao espaço físico, mas que atravessa e reorganiza as formas como nos conectamos, tanto com os outros quanto conosco mesmos.

Refletir sobre os acontecimentos que nos marcaram é essencial para entendermos os comportamentos que surgem dessas experiências. Um dos exemplos mais ilustrativos desse comportamento emergente durante o início da pandemia foi o pânico coletivo em torno do papel higiênico. A escassez de itens básicos foi um reflexo do medo generalizado. O papel higiênico tornou-se, por um breve momento, um símbolo de controle. A necessidade de possuir algo concreto, algo tangível em um mundo incerto, levou à escassez irracional desse item. Esse fenômeno, embora pareça trivial, expõe uma verdade mais profunda: quando estamos em situações de incerteza e medo, nossa tendência é agarrar aquilo que pode nos dar um falso senso de segurança, mesmo que esse objeto não seja, de fato, um verdadeiro recurso.

A reflexão sobre esses comportamentos, como a obsessão pelo papel higiênico, pode ser uma chave para entender nossas reações futuras. Esse impulso de controle, essa busca por um ponto de apoio em tempos de instabilidade, é um reflexo direto de um comportamento humano que se adapta a condições extremas. A pandemia, portanto, não apenas revelou nossa vulnerabilidade, mas também as formas como reagimos a ela. Esses impulsos podem continuar a se manifestar de várias maneiras, especialmente se não reconhecermos o trauma que eles carregam.

Em momentos de crise, uma mentalidade de escassez tende a se instalar. A crença de que "não há o suficiente para todos" nos torna mais competitivos, ansiosos e muitas vezes menos empáticos. Esse estado de escassez não afeta apenas nossa relação com os recursos materiais, mas também nossas relações interpessoais. A insegurança e o medo de perder algo importante nos tornam menos dispostos a compartilhar ou colaborar, seja em nível pessoal ou coletivo. Esse fenômeno pode ser especialmente difícil de lidar quando se está diante de mudanças profundas na vida, como as que ocorreram durante a pandemia. Reflexões sobre os períodos em que experimentamos competição por recursos ou sentimos que faltava algo, podem revelar muito sobre nossa mentalidade e os comportamentos gerados pela escassez.

A construção de uma nova mentalidade, mais orientada para a abundância e a colaboração, será essencial para a recuperação emocional e social no pós-pandemia. Apenas por meio da reflexão consciente sobre nossas experiências, podemos transformar a dor em aprendizado e encontrar maneiras de nos curarmos. O simples ato de reconhecer nossas próprias perdas e traumas pode abrir um caminho para a cura, promovendo uma reaproximação conosco mesmos e com os outros.

Como nossos "sim's" se traduzem em "não's" inconscientes e como aprimorar nossa comunicação

Tornar-se consciente de como os nossos "sim's" muitas vezes se traduzem em "não's" inconscientes é um primeiro passo essencial para o desenvolvimento pessoal. Muitas vezes, o que parece ser um simples consentimento exterior, um “sim” apressado, pode ser, na realidade, uma forma de evitar confrontos internos, de não confrontar nossos próprios limites ou de ceder a pressões externas. Essa desconexão entre o que dizemos e o que sentimos é uma das raízes de muitos problemas nas relações interpessoais. Por isso, é fundamental sermos intencionais em nossas escolhas e refletirmos sobre o impacto que nossas decisões têm em nós mesmos, especialmente quando essas escolhas envolvem outros. É preciso estar atento aos hábitos de codependência que podem surgir.

A codependência é um padrão emocional ou psicológico no qual uma pessoa depende excessivamente de outra para manter o seu próprio bem-estar. Essa dependência pode se manifestar de formas variadas, mas uma característica comum é a perda da autonomia emocional, como se a felicidade ou estabilidade de um dependesse exclusivamente da outra. Se você se encontra constantemente dedicando grandes quantidades de tempo e energia a outra pessoa, na esperança de que o bem-estar dela garanta o seu, pode ser um sinal de que há um padrão de codependência em jogo. O primeiro passo é buscar ajuda para desfazer esses padrões, trabalhando de forma consciente para estabelecer limites saudáveis e reconectar-se com o seu próprio senso de identidade.

Outro aspecto importante a ser cultivado é a comunicação. A capacidade de se comunicar de forma honesta e respeitosa é uma das ferramentas mais poderosas para manter relações saudáveis, tanto com os outros quanto consigo mesmo. A pandemia de COVID-19 evidenciou falhas nas nossas habilidades comunicativas, especialmente no momento em que os contatos informais diminuíram e as conversas mais profundas tornaram-se mais intensas e, muitas vezes, polarizadas. A quarentena, por exemplo, trouxe à tona a dificuldade em lidar com opiniões divergentes, ampliando a distância emocional entre muitas pessoas. A comunicação se tornou, para muitos, uma fonte de grande frustração e desconforto, enquanto as palavras, muitas vezes, se transformaram em armas de destruição. Esse cenário, embora extremo, nos mostrou a necessidade urgente de melhorar a maneira como nos expressamos e como escutamos os outros.

A Comunicação Não-Violenta (CNV), desenvolvida por Marshall Rosenberg, oferece um quadro e ferramentas valiosas para ajudar nesse processo. A CNV é descrita como uma "linguagem da vida" que visa transformar velhos padrões de defensividade e agressividade em compaixão e empatia, aprimorando a qualidade de todas as nossas relações. Ela se baseia em quatro componentes principais: observação, sentimento, necessidades e pedido, além de dois aspectos fundamentais: empatia e honestidade. O simples ato de estruturar uma conversa de forma a observar sem julgamento, expressar sentimentos de maneira clara, identificar necessidades e fazer um pedido respeitoso pode transformar profundamente a dinâmica de qualquer interação.

A prática do script básico da CNV pode ser simples, mas eficaz. A frase inicial pode ser formulada assim: “Quando vejo que ____________, eu sinto ____________ porque minha necessidade de ____________ não está atendida. Você estaria disposto(a) a ____________?” Essa estrutura nos ajuda a observar sem criticar, expressar o que sentimos de forma honesta, identificar as necessidades não atendidas e fazer um pedido de maneira respeitosa e não agressiva. Com a prática, essa forma de se comunicar se torna mais natural, promovendo conversas mais saudáveis e a construção de relacionamentos mais profundos e respeitosos.

Ser um bom comunicador não é algo com o que nascemos; é uma habilidade que desenvolvemos ao longo da vida. Assim como a resiliência, a comunicação exige atenção constante e aprimoramento. Fazer uma autoavaliação ou pedir feedback daqueles que estão próximos pode ser o ponto de partida para identificar áreas onde precisamos melhorar. Uma vez que entendemos nossas falhas e pontos fortes na comunicação, podemos buscar educação e prática para nos tornarmos melhores ouvintes e oradores. Dado que a comunicação será a ferramenta principal para reconstruir nossas comunidades, é crucial que ela esteja em boas condições, confiáveis e abertas ao diálogo.

Além disso, a prática do autocuidado é essencial para manter a clareza na comunicação. O autocuidado não é um luxo, como muitas vezes é retratado nas mídias, mas sim uma necessidade vital para a nossa saúde mental e emocional. Como bem disse Audre Lorde, “Cuidar de mim mesma não é indulgência, é preservação de mim mesma, e isso é um ato de guerra política.” Durante a pandemia, muitos se viram sobrecarregados, cuidando dos outros enquanto negligenciavam suas próprias necessidades, o que gerava um ciclo de exaustão e insatisfação. O autocuidado verdadeiro é aquele que nos permite estar em equilíbrio, renovando nossa energia para podermos estar presentes de forma íntegra para os outros.

Para aprimorar a nossa comunicação, devemos constantemente buscar cursos, webinars e outras formas de aprendizado. O objetivo é melhorar tanto a escuta quanto a fala, sendo flexíveis em ambos os aspectos. Pequenas mudanças na forma como abordamos a comunicação podem ter um impacto significativo. A responsabilidade pessoal também é fundamental, utilizando afirmações no estilo "Eu sinto..." em vez de "Você me faz sentir...". Dessa maneira, tomamos posse das nossas emoções e ações, evitando a postura de vítima e cultivando um senso de controle e de respeito por nós mesmos.

Envolva-se no diálogo, não no debate. O diálogo busca a compreensão mútua, enquanto o debate visa uma vitória. Praticar o diálogo implica em ouvir o outro, entender suas perspectivas e, mesmo que não cheguemos a um acordo, respeitar a diversidade de opiniões. Além disso, técnicas como o uso do “Ouch/Oops” podem ser úteis para lidar com microagressões em um ambiente de respeito mútuo, permitindo que a conversa siga sem que os sentimentos de ofensa ou ataque minem a interação.

Por fim, desenvolver uma relação saudável com o conflito é essencial. O conflito, quando bem administrado, pode fortalecer os vínculos e promover o entendimento. A CNV oferece um excelente ponto de partida, e a prática constante desse modelo pode ajudar a aprimorar a nossa habilidade de lidar com divergências de maneira construtiva.