Fiske e seus companheiros, isolados na vastidão silenciosa entre Helios e o Sol, experimentavam uma inquietação crescente. A Terra, sempre tão certa em seus cálculos e diretivas, agora falhava em responder com clareza. As mensagens recebidas pareciam incoerentes, como se seus emissores ignorassem completamente o conteúdo das transmissões enviadas da nave. A dúvida crescia: estariam realmente sendo ouvidos?
As verificações de rota não mostravam erros. Os giroscópios confirmavam a trajetória. A nave se encontrava fora da linha direta entre a Terra e Helios, o que eliminava a possibilidade de interferência de fundo estelar. Ainda assim, o silêncio persistia. Foi então que Mike decidiu reorientar as antenas, desta vez para Helios, e não mais para a Terra. A resposta foi imediata — saturação total do receptor, ruído ensurdecedor. O sinal era forte demais, incontornável, e revelava uma realidade incômoda: a interferência vinha do próprio destino da missão.
A dúvida evoluiu para inquietação técnica e, em seguida, para impasse logístico. Retornar à Terra agora significaria um desperdício crítico de combustível — talvez fatal. Mas prosseguir também não era simples. O comportamento instável dos campos gravitacionais próximos ao planeta-alvo significava que a órbita segura de hoje poderia se tornar traiçoeira amanhã. O treinamento intensivo que haviam recebido deixava claro: não se deve confiar em parâmetros passados para navegar uma anomalia presente.
Larson propôs alternativas: ou orbitavam Helios com cautela, poupando combustível, ou arriscavam uma aterrissagem e perdiam toda a chance de retorno — salvo uma eventual missão de resgate. O risco, porém, era perder tudo. Uma manobra mal calculada poderia não só consumir o combustível restante, mas lançar a nave em trajetória de fuga do sistema solar. A decisão era pesada.
Surgiu então uma proposta ousada de Mike: pedir ajuda aos russos. Sabia-se que a outra nave, sob comando soviético, carregava um especialista em órbitas e um sistema de computação mais robusto. Mas a ideia de depender dos russos provocava resistências. Havia orgulho em jogo, e o temor das repercussões políticas ao regressarem à Terra tendo recorrido ao “inimigo”. No entanto, a constatação de que os russos enfrentavam as mesmas dificuldades de comunicação dissipava parte da hesitação: nada poderia ser relatado à Terra até que tudo estivesse terminado.
Pitoyan, o cientista soviético, sentia-se no auge de sua autoridade. Sua capacidade de prever e calcular a órbita tornava-se agora essencial. O pedido americano o surpreendeu pouco — afinal, já sabiam da falha de comunicação com a Terra. O gesto dos adversários soava como confirmação de superioridade técnica. Para Kratov e Bakovsky, o fato de o Ocidente pedir ajuda parecia quase inverossímil: a mítica terra do excesso e da decadência moral dobrava-se agora diante da competência russa.
Com vigor renovado, Pitoyan traçou a órbita e transmitiu os dados. Fiske e sua equipe, sem alternativas, aceitaram o trajeto sugerido. A surpresa maior foi receber a solução completa, não apenas vetores parciais. Isso permitia checar sua consistência, embora não aliviasse completamente a desconfiança. Ainda assim, percebiam, talvez tardiamente, que seus critérios de “trapaça” estavam fora de sintonia com o contexto real.
Nesse ponto da missão, a nave estava quase equidistante entre o Sol e Helios. A imagem de um ponto luminoso observado anos antes, entre vapores de combustível e calçadas quentes da Flórida, agora se materializava como um destino concreto, perigoso e inescapável. A distância não era mais apenas física, mas simbólica — entre o ideal científico e o limite psicológico da colaboração forçada.
É fundamental compreender que, em situações de isolamento extremo, onde o erro implica em desaparecimento, o orgulho e a política devem ceder espaço à cooperação técnica. A fronteira entre autonomia e interdependência torna-se tênue, e a sobrevivência depende não apenas de cálculos precisos, mas da capacidade de reconhecer a competência do outro, mesmo que este represente tudo o que culturalmente se tentou rejeitar. A missão para Helios revela que o maior desafio não é o espaço desconhecido, mas os limites impostos pela própria humanidade.
Como a Confusão e o Conflito Moldam o Destino dos Astronautas
Sem uma palavra, ele tomou o braço dela e a guiou suavemente na direção do estacionamento. Era uma caminhada longa, o ar quente e abafado, mas finalmente chegaram ao seu bar móvel. Conway pensou em comer alguma coisa, mas desistiu. Era melhor esperar até que Cathy ficasse com fome o suficiente para não recusar. Quando chegassem ao destino, com certeza ela estaria faminta, já que a viagem de quase 160 quilômetros, considerando o tráfego que Conway imaginava, levaria de seis a sete horas. No entanto, as estradas estavam surpreendentemente livres, e chegaram por volta da meia-noite. Ele começou a tirar suas roupas e disse: "É melhor tomar um banho." Cathy seguiu seu exemplo, lentamente. Mais tarde, ele a colocou na cama e foi até a kitchenette. Preparou para ambos um prato de salada de frutas e queijo, além de bebidas fortes com bastante gelo, e levou a bandeja até o quarto. Cathy comeu um pouco, e então disse: "Tentei descobrir para onde o levaram. Mas ninguém me disse. Você pode descobrir, Hugh?"
"Não esta noite."
"Por que não esta noite?"
"Porque está tudo uma confusão. Algo aconteceu que não estava no plano. É como uma batalha. Ninguém sabe o que os outros estão fazendo."
"Ele deve estar em algum lugar."
"Claro que está em algum lugar, em algum lugar na América ou na Europa. É impossível saber onde o levaram. Ninguém com quem eu possa falar saberia."
"O que eu vou fazer?"
"Esperar. Até amanhã, as coisas começarão a se esclarecer. Depois de amanhã, ou talvez no dia seguinte, vai ser fácil."
Ela o olhou com uma incredulidade silenciosa. "Você não pode entender, Cathy? Só um punhado de pessoas sabe onde Mike Fawsett está. Amanhã, muitas mais pessoas saberão, e no final da semana, todos saberão. Você provavelmente o encontrará em três dias, mas não pode encontrá-lo esta noite."
Finalmente, parecia que ela havia entendido o que ele queria dizer. Ele levou as coisas de volta para a cozinha, fez outra bebida para si mesmo e foi sozinho para seu quarto.
O grande evento no campo de pouso era, evidentemente, uma fachada. Os oficiais e seus assessores de ambos os lados estavam contando os minutos até que pudessem retirar os três astronautas. Os russos, em particular, queriam colocar Ilyana e Pitoyan sob seu controle o mais rápido possível. As primeiras horas seriam cruciais. O grupo seguiu até uma grande base militar, cerca de trezentos quilômetros ao norte de Miami. A viagem foi rápida, em menos de três horas, pois a estrada foi liberada para eles.
Os passos eram formais e cuidadosamente planejados, como em uma dança antiquada. Primeiramente, houve felicitações de todos os lados. Os oficiais ocidentais penduraram medalhas nas túnicas dos três astronautas. Os oficiais russos fizeram o mesmo. Houve uma intensa troca de apertos de mão e, por fim, dois jovens coronéis robustos, vestidos com uniforme do Exército Vermelho, pediram a Pitoyan e Ilyana para os seguir. Com uma percepção instantânea, Ilyana percebeu que aquele era o ponto de divisão. Se ela saísse da sala com esses dois homens, seria muito mais difícil voltar do que permanecer onde estava. Ela disse em voz baixa que preferia ficar. Os coronéis repetiram o pedido educadamente, usando russo coloquial para dificultar a compreensão dos ocidentais. Ilyana balançou a cabeça.
Eles falaram mais alto agora. Como ela esperava, o pedido se transformou em uma ordem. Ela se virou para Fiske: "Eles estão tentando me levar embora. Eu não quero ir."
Fiske sorriu: "Isso é ótimo. Então você não vai."
Mas os russos estavam irritados. Um dos coronéis falou com seu general, a voz reverberando pela sala. O general não se dignou a falar diretamente com Ilyana ou Fiske. Ele se dirigiu ao general ocidental, responsável pela operação, e exigiu que uma escolta fosse providenciada para levar os dois astronautas russos até os carros que os aguardavam. O general ocidental deu a ordem, e um jovem coronel americano se aproximou de Ilyana e disse: "É melhor você ir, senhora."
O general ocidental sabia que estava à beira de um grande incidente internacional. Ele até gostava da aparência da jovem, mas não arriscaria sua carreira por ela. Pegou-a pelo braço e disse: "Vamos, minha querida." Ilyana olhou para Tom com uma expressão de pânico: "Não deixe eles me levarem."
A lembrança de uma pista de grama surgiu na mente de Tom Fiske. Ele se lembrou do peso esmagador do homem sobre seu ombro enquanto uma garota se aproximava dele, e de quando a havia beijado pela primeira vez. "Escute, amigo," disse ele ao general, "se você não tirar as mãos dela, eu vou expor tudo na imprensa. Depois do que vou fazer, você vai se considerar sortudo se se aposentar com uma pensão pequena."
Fiske sabia que sua carreira nos corredores do poder estava terminada, mas também sabia que nem o governo, nem o insignificante general, poderiam resistir à fúria que seria liberada se a garota fosse entregue contra sua vontade. Ele havia se protegido no passado e não via razão para não continuar fazendo isso. Tinha alcançado seu objetivo e agora tinha a mulher que queria.
O general tentou desafiá-lo com o olhar, mas então viu a mão de Fiske cerrada ao lado do corpo e, com uma exclamação, virou-se de costas e saiu da sala. Fiske arrancou as medalhas do peito de Ilyana e do seu próprio peito, lançou-as ao ar e saiu após o general com Ilyana em seus braços. Ninguém o desafiou. O grande Deus da Publicidade estava com ele.
Pitoyan observou o que acontecera e lambeu os lábios nervosamente. Gostaria de ter feito o mesmo, não por razões pessoais ou ideológicas, mas porque isso teria evitado muitas perguntas inconvenientes. Quando o mandaram ir até os carros, ele caiu na armadilha que Ilyana havia evitado. Pensou que seria melhor dar a si mesmo um tempo para pensar na situação. Sempre poderia decidir mais tarde. No entanto, não houve mais tempo. Dentro do carro, ele não pôde sair, estava flanqueado por dois grandes homens, e seu braço direito ainda não estava bom. Dirigiram por duas horas e, então, entraram em um aeroporto pequeno. Um ferry aéreo, de fabricação russa, os aguardava.
Pitoyan foi escoltado por um grupo composto igualmente por russos e americanos. Ainda seria possível escapar, mas havia o risco de os americanos perderem caso houvesse uma luta, e depois do que aconteceu com Ilyana, não havia razão para que eles o apoiassem. Ele se deixou empurrar para o avião e, em menos de quatro horas, antes do amanhecer, estava em Moscou.
Não houve uma grande recepção no aeroporto onde aterrissou, em uma seção deserta. Um carro potente o aguardava. Em meia hora, estava entrando na Praça Vermelha. Foi conduzido a uma sala repleta de fotos dos líderes devotados do Oriente. O Partido estava esperando por ele, uma série de homens fortes e implacáveis.
Agora ele compreendia o que Ilyana havia percebido na noite anterior. Perguntava-se onde Ilyana estaria naquele momento. Não teria aliviado a dor apertada em seu estômago saber que ela estava dormindo em um hotel nas montanhas da Virgínia, com seus cabelos loiros caindo sobre o ombro nu de Tom Fiske. O presidente começou a falar e, enquanto ele o fazia, Pitoyan reuniu suas forças. Sabia que precisava ser bom, e o foi. A história que contou tinha uma crudeza teatral.
O Impacto da Mentira na Política e na Sociedade: A História de Pitoyan e os Jogos de Poder entre o Oriente e o Ocidente
A história de Pitoyan e sua experiência com o falso relato sobre sua viagem ao espaço é um exemplo claro de como as mentiras podem ser não apenas convenientes, mas também perigosamente transformadoras, alterando realidades políticas e sociais. Quando Pitoyan chegou de volta, foi recebido com entusiasmo. Ele trazia consigo uma história que, embora questionada em vários aspectos, foi rapidamente aceita por todos, desde os líderes soviéticos até a população. Mas a verdadeira habilidade de Pitoyan estava em sua capacidade de manter a história simples, de se recusar a adicionar detalhes desnecessários ou a estendê-la além do que era realmente necessário.
A princípio, sua narrativa parecia inofensiva, uma fantasia que poderia ser considerada como uma mera extensão da propaganda estatal. No entanto, Pitoyan sabia que as questões poderiam ser complicadas por investigações mais aprofundadas. Portanto, ele decidiu manter a verdade de sua história no mínimo, evitando, ao máximo, qualquer tentativa de tornar os fatos mais complexos do que realmente eram. Em sua mente, a simplicidade da mentira seria sua maior proteção. Essa decisão reflete a fragilidade de qualquer narrativa quando confrontada com a verdade, ou a falta dela, e como a escolha de preservar a integridade de uma mentira pode, paradoxalmente, torná-la mais convincente.
Entretanto, o impacto dessa mentira foi imediato e profundo. A União Soviética, tão investida em sua própria propaganda, recebeu o relato com entusiasmo. Para o governo russo, a história de Pitoyan validava um tipo de narrativa desejada: a de que o Ocidente estava em decadência, incapaz de conquistar o que eles já haviam alcançado. O retorno triunfante de Pitoyan, acompanhado por uma recepção com parade e medalhas, não apenas aumentou sua fama, mas também fortaleceu o regime soviético em um momento de tensão internacional. A tensão entre o Oriente e o Ocidente atingiu um pico, já que a história criada por Pitoyan alimentava o antagonismo entre as duas potências.
Além disso, a reação das potências ocidentais não foi menos dramática. Os líderes ocidentais estavam cientes do potencial explosivo da situação. A perda de prestígio que o Ocidente sofrera era irreparável. Perderam uma nave, seus homens e, de maneira ainda mais simbólica, perderam a face. Isso não era algo que poderiam simplesmente ignorar. A maneira como o Ocidente reagiu – com reuniões urgentes e tentativas de apaziguar os russos – é uma reflexão clara sobre a importância da imagem e da reputação no jogo geopolítico.
A resposta do Ocidente também incluiu medidas contra os matemáticos que haviam recomendado a inclusão de Ilyana na expedição, e a punição de Popkin, que foi banido de sua cidade natal. Essas reações demonstram como o sistema soviético lidava com falhas internas, punindo não apenas os responsáveis diretamente, mas também aqueles que, por alguma razão, haviam falhado em antecipar os possíveis desdobramentos negativos. No final, Pitoyan foi exaltado como herói, não por suas ações concretas, mas por sua capacidade de manipular a realidade a seu favor e por sua habilidade em manter a consistência de sua narrativa.
Esse episódio ressalta uma lição importante: o poder das narrativas, quando bem manipuladas, pode ter um impacto muito mais profundo do que qualquer verdade incômoda. Em tempos de grande tensão política, a narrativa e a imagem se tornam ferramentas de poder tão eficazes quanto qualquer força militar. A capacidade de controlar a história e a percepção pública é, na prática, uma forma de poder político. Isso é algo que os líderes, tanto no Oriente quanto no Ocidente, reconhecem como um fator crucial em suas estratégias de domínio global.
Além disso, a história de Pitoyan revela algo mais profundo sobre a natureza humana: a tendência de se apegar à conveniência da mentira quando ela oferece uma vantagem imediata. Muitas vezes, em situações de alta pressão, a verdade é sacrificada pelo desejo de evitar consequências ou pela tentação de controlar uma situação de maneira mais eficaz. Porém, essa escolha pode ter um custo, não apenas para os envolvidos diretamente, mas para o tecido social e político em que a mentira é inserida. As mentiras, mesmo aquelas que parecem inofensivas ou bem-intencionadas, podem se espalhar e gerar consequências de longo alcance, alterando o curso dos eventos de maneira imprevisível.
No caso de Pitoyan, a história que ele criou foi um reflexo de um sistema político que valorizava mais a propaganda do que a verdade, e isso se refletiu em sua recepção como herói. O sistema de recompensas e punições, ao invés de lidar com a verdade de forma honesta, preferiu alimentar e reforçar as narrativas que mais se adequavam às suas necessidades. No fim, a mentira de Pitoyan não só o colocou em uma posição de poder, mas também ajudou a manter a ilusão de força e controle dentro de um sistema que, na verdade, estava apenas tentando proteger sua própria imagem.

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