A correção das deformidades do pé, especialmente aquelas relacionadas ao valgus e varus, apresenta desafios complexos e frequentemente exige uma abordagem cirúrgica detalhada e bem planejada. As deformidades do pé impulsionadas pelo antepé representam um campo interessante da cirurgia do pé e tornozelo, especialmente porque a deformidade do retropé muitas vezes é corrigida a partir da articulação do antepé e do mediopé. Esse processo de correção pode ser profundamente impactado pela mecânica tridimensional da articulação, o que implica que a estratégia cirúrgica deve considerar fatores de variação nos três planos do movimento: medial, transversal e coronal.

Quando se trata de deformidades do tipo valgus no retropé, é fundamental o foco na estabilização da coluna medial, que é a chave para a correção da deformidade. Nos casos em que se observam falhas ou insuficiências nos ligamentos, como o ligamento deltoide e o ligamento do arco plantar, é necessário reconstruí-los adequadamente para garantir a estabilidade duradoura da articulação do tornozelo e do pé. A reconstrução desses ligamentos pode ser feita por meio de enxertos tendinosos autólogos ou alógenos, sendo que, no contexto atual, o uso de suturas não reabsorvíveis, como o InternalBrace™, tem se mostrado uma opção eficaz, com menor morbidade associada ao procedimento.

Durante o procedimento, o cirurgião realiza uma abordagem posteromedial, seguindo o curso do tendão tibial posterior, com uma incisão um pouco dorsal a ele. A dissecção cuidadosa permite a exposição direta das estruturas essenciais: o ligamento deltoide e o ligamento do arco plantar. A partir dessa exposição, o cirurgião pode proceder com a inserção de âncoras de sutura nos pontos anatômicos corretos para garantir a reconstrução robusta e eficaz dos ligamentos.

O uso de osteotomias também é um componente importante nas correções tridimensionais dessas deformidades. A osteotomia em "Z", por exemplo, permite uma correção eficaz nos três planos do movimento, permitindo ajustes não apenas em termos de alinhamento medial, mas também em rotação transversal e coronal, proporcionando assim uma abordagem abrangente para a deformidade. A osteotomia calcânea, apesar de poderosa, pode apresentar dificuldades de fixação devido ao seu curso complexo, mas, quando bem executada, oferece resultados substanciais na correção de deformidades graves do pé.

É interessante notar que, em estudos biomecânicos, as reconstruções do ligamento deltoide mostraram-se eficazes na restauração da estabilidade do tornozelo, especialmente em testes que simulam a rotação externa e a eversão do pé. Os resultados indicam que, sob torques baixos, a reconstrução é capaz de restaurar a estabilidade de maneira comparável à do ligamento intacto, sem comprometer a flexibilidade ou a funcionalidade da articulação.

Essas técnicas, quando corretamente aplicadas, oferecem uma solução robusta e funcional para deformidades do pé, particularmente aquelas que afetam a dinâmica do antepé e o alinhamento do retropé. A escolha do método mais adequado depende da avaliação clínica detalhada e da análise radiográfica cuidadosa de cada caso individual, o que exige do cirurgião um profundo entendimento das condições do paciente e uma habilidade técnica refinada para implementar a correção necessária.

A correção das deformidades do pé é um processo técnico e sofisticado que exige mais do que uma simples habilidade cirúrgica. O cirurgião precisa estar atento não apenas aos aspectos anatômicos, mas também às implicações funcionais e mecânicas da intervenção. Cada correção deve ser personalizada, levando em conta a gravidade da deformidade, as estruturas envolvidas e o impacto funcional sobre a marcha e a qualidade de vida do paciente.

O sucesso das técnicas de correção depende da adequação do diagnóstico e da escolha do tratamento, sendo que a adaptação das abordagens cirúrgicas tradicionais a novos conceitos, como o uso de suturas não reabsorvíveis e a reconstrução anatômica de ligamentos, tem se mostrado cada vez mais relevante. A habilidade em realizar essas correções de forma eficaz pode transformar o prognóstico de pacientes com deformidades do pé, possibilitando uma recuperação funcional significativa e a redução da dor crônica, tão comum nesse tipo de patologia.

Fraturas dos Metatarsos: Diagnóstico e Tratamento em Pacientes com Baixa Densidade Mineral Óssea

As fraturas de metatarso em pacientes com baixa densidade mineral óssea apresentam um padrão clínico que exige atenção cuidadosa e diagnóstico preciso. Essas fraturas, frequentemente causadas por esforços repetitivos, podem inicialmente não ser detectadas em exames radiológicos, já que as linhas de fratura muitas vezes não são evidentes nos primeiros estágios. O diagnóstico geralmente é estabelecido após a avaliação clínica detalhada e acompanhamento radiológico, com a presença de reações periosteais, reabsorção óssea ou sinais de cicatrização óssea que emergem após semanas. Em exames de ressonância magnética (RM), é possível observar edema no periosto, na medula óssea, nas linhas de fratura e nos tecidos moles circundantes. As fraturas de estresse podem ser proximais ou distais, dependendo de fatores como a condição dos tendões e a intensidade do treinamento, com diferentes padrões de envolvimento de acordo com a localização.

A avaliação cuidadosa da história clínica, associada ao exame físico e ao uso de tecnologias de imagem como a RM e a tomografia computadorizada (TC), é fundamental para a confirmação do diagnóstico e a elaboração do plano de tratamento. A fratura do metatarso pode ser classificada em dois tipos principais: deslocamentos não significativos, que podem ser tratados de forma conservadora, e fraturas com deslocamento ou angulação significativos, que necessitam de intervenção cirúrgica.

O tratamento das fraturas metatársicas depende da magnitude do deslocamento e da angulação da fratura. Em casos de fraturas não deslocadas ou com deslocamento mínimo, é possível o uso de tratamento conservador, com imobilização em botas ortopédicas ou sapatos rígidos, durante um período que varia entre 4 e 6 semanas, com novos exames radiológicos realizados após 2 semanas para verificar a estabilidade da fratura. Já as fraturas com deslocamento superior a 2 mm ou angulação maior que 10° exigem tratamento cirúrgico, com redução e fixação anatômica. O uso de placas de fixação e parafusos de baixo perfil ou de parafusos sem cabeça é indicado, especialmente em fraturas envolvendo articulações.

A fratura do primeiro metatarso merece atenção especial devido às suas implicações biomecânicas. A cabeça do primeiro metatarso suporta o dobro do peso em comparação aos metatarsos laterais durante a fase de apoio. Como resultado, maluniões dessa fratura podem gerar alterações significativas na mecânica do pé, com possíveis deformidades, como o hallux valgus ou varus. Essas fraturas geralmente resultam de traumas de alta energia e podem envolver a articulação, o que requer avaliação cuidadosa por tomografia computadorizada para determinar a extensão do comprometimento articular. O tratamento conservador é possível quando o deslocamento é mínimo, mas em casos mais graves, a fixação cirúrgica é necessária.

No caso das fraturas dos metatarsos menores, a correção do deslocamento e da angulação é essencial para restaurar a mecânica do antepé. Mesmo pequenas fraturas podem gerar desvios nos dedos, gerando dor e até fraturas secundárias nos ossos adjacentes. A fixação dessas fraturas pode ser feita através de redução anatômica, com uso de placas e parafusos para restaurar a alinhamento dos ossos. O tratamento cirúrgico pode ser particularmente necessário em fraturas transversais ou aquelas com fraturas múltiplas.

É fundamental que o tratamento das fraturas do metatarso seja adaptado ao tipo e à localização específica da lesão. A escolha entre o tratamento conservador ou cirúrgico dependerá do grau de deslocamento, do tipo de fratura e da resposta clínica do paciente ao tratamento inicial. As complicações como maluniões, que podem levar a sobrecarga dos metatarsos adjacentes ou a fraturas por estresse secundárias, exigem cuidados adicionais.

Fraturas do quinto metatarso, como a chamada "fratura de bailarina", também apresentam desafios específicos. Este tipo de lesão é frequentemente tratado de forma conservadora, especialmente quando não há deslocamento significativo. Contudo, em casos de deslocamento ou rotação do fragmento distal, a intervenção cirúrgica pode ser necessária. A instabilidade dessas fraturas, devido à maior mobilidade do quarto e quinto metatarsos no plano sagital, pode levar a complicações, como a dor transferida para o quarto metatarso, o que deve ser considerado no plano de tratamento.

Além disso, é importante ressaltar que, embora alguns estudos indiquem que fraturas diafisárias do quinto metatarso podem ser tratadas de forma conservadora com bons resultados, a experiência clínica sugere que, para garantir a recuperação funcional completa, a cirurgia pode ser a melhor opção em muitos casos, especialmente quando o deslocamento é significativo.