Richard Nixon, ao se distanciar da retórica mais agressiva de George Wallace e de sua apelação explícita aos racistas brancos do Sul, manteve uma postura cuidadosa que visava proteger os interesses dos eleitores do Norte sem aliená-los. Sua estratégia foi precisa: focar nas questões econômicas, apresentando fórmulas moderadas que agradavam ao eleitorado moderado. Ao não atacar diretamente a decisão de Brown v. Board of Education ou o projeto de lei de direitos civis de 1964, Nixon conseguiu se distanciar das tensões raciais explícitas, enquanto criticava os juízes e burocratas que buscavam ir além das declarações formais de igualdade racial. Essas críticas se concentravam na tentativa de implementar políticas como o transporte escolar forçado e a habitação aberta, medidas que desafiavam a estrutura segregacionista do Sul e ameaçavam os privilégios brancos em outros lugares do país.
O impacto da legislação histórica de direitos civis de 1964 e 1965 foi profundo e gerou resistência. As organizações de direitos civis exigiram a contratação de afro-americanos em locais de construção, o que provocou uma reação imediata dos trabalhadores brancos, especialmente à medida que o setor industrial e de manufatura encolhia, sendo substituído por um setor financeiro, imobiliário e de seguros. A classe trabalhadora branca das cidades, diante da ameaça à sua segurança econômica, passou a se mobilizar contra a presença crescente de afro-americanos em seus locais de trabalho, defendendo, assim, tanto seus empregos quanto o valor de suas propriedades. Nesse contexto, as lutas pela educação e pela habitação se tornaram fontes de tensões cada vez maiores. A década de 1960, marcada por levantes urbanos em cidades como Newark, Detroit e Chicago, gerou uma onda de resistência que se refletiu nas urnas. A classe média branca, já fatigada pelos custos dos impostos, claramente se opôs àquilo que viam como uma assistência federal desproporcional para os negros, exacerbando o impasse racial.
Kevin Phillips, estrategista republicano, desenvolveu uma análise refinada sobre a ascensão da "maioria silenciosa", essencial para o sucesso de Nixon. Em sua visão, as eleições americanas eram ganhas por meio da exploração das frustrações dos eleitores, e não por meio de grandes ideais ou promessas utópicas. Phillips observou que, para conquistar a maioria silenciosa, Nixon precisava falar diretamente aos medos e ressentimentos de uma classe média branca que temia a mudança social e econômica, especialmente com relação ao crescente poder político dos afro-americanos. Com isso, a "maioria silenciosa" não era apenas uma questão de estratégia eleitoral, mas uma forma de mobilizar aqueles que sentiam que suas vidas estavam sendo ameaçadas por uma mudança radical nas políticas sociais.
A estratégia de Nixon visava capturar o ressentimento dos trabalhadores brancos do norte, especialmente aqueles da classe média que se viam desprezados pelos liberais, e oferecer-lhes uma alternativa ao que viam como a condescendência das elites progressistas. A retórica de Nixon, ao focar em questões como a defesa do trabalho árduo, da ordem e da estabilidade, falou diretamente a uma população que se sentia em risco de perder sua posição na hierarquia social.
Ao mesmo tempo, a ascensão de Nixon e a divisão crescente no Partido Democrata refletiam a luta por um novo alinhamento político. A coalizão do New Deal, que havia unido diferentes grupos de interesse sob a bandeira do liberalismo social e econômico, estava em colapso. O principal fator desse colapso foi a "revolução socioeconômica negra", que desafiou as estruturas existentes e gerou tensões que, por fim, fragmentaram o apoio ao Partido Democrata. O descontentamento com os gastos do governo com políticas de bem-estar, que eram vistas como favorecendo minorias em detrimento da classe média, foi central para o enfraquecimento da coalizão liberal.
A partir de 1968, Nixon soube identificar uma oportunidade histórica. Ele soube se posicionar como um líder capaz de unir os conservadores do Sul com a classe média branca do Norte, os "étnicos urbanos" e os moderados suburbanos, em uma nova coalizão política. Esse movimento não apenas visava reduzir os benefícios estatais para os afro-americanos, mas também se baseava em uma crítica ao que era visto como um liberalismo excessivamente generoso e dispendioso.
Esse processo culminou na reconfiguração do espectro político americano, onde a antiga luta entre conservadores e liberais foi substituída por uma nova dinâmica de tensões raciais, regionais e econômicas. O foco de Nixon, então, não estava em uma reforma econômica ou social ampla, mas na preservação do status quo para a classe média branca, oferecendo-lhes uma promessa de ordem e estabilidade. As políticas de Nixon, especialmente no que diz respeito à repressão ao movimento negro, se tornaram fundamentais para a construção do que viria a ser o Partido Republicano contemporâneo.
No contexto mais amplo, o impacto dessas estratégias foi profundamente transformador, pois a política americana não apenas mudou, mas também refletiu uma transição nas forças sociais e econômicas que moldaram a nação nas décadas seguintes. A ascensão do "novo populismo" de Nixon e de seu apelo à maioria silenciosa deu início a uma era em que as questões de classe, raça e cultura passaram a ser cada vez mais determinantes para o futuro político e social do país.
A Ameaça da Imigração e do Liberalismo Social: O Alerta de Patrick Buchanan
Em 1992, o famoso discurso de Patrick Buchanan na Convenção Nacional Republicana foi um marco em sua carreira política, destacando-se por sua retórica alarmante e seu apoio tardio à chapa de George H. W. Bush. Nesse pronunciamento, Buchanan declarou que os Estados Unidos estavam vivendo uma "guerra religiosa", um conflito pela "alma da América", que exigia uma resistência feroz à mudança trazida pelos Clinton e sua agenda. A agenda que ele criticava incluía temas como aborto, direitos LGBT, a inclusão de mulheres em unidades de combate, e a suposta perseguição às escolas religiosas, que para ele eram sinais de uma transformação perigosa e irreversível para o país.
Buchanan afirmava que os Estados Unidos estavam sendo conduzidos para um abismo moral, com a introdução de políticas que enfraqueciam a cultura cristã tradicional. Ele usou um estilo combativo para destacar o que via como uma ameaça existencial à identidade e aos valores americanos. Para ele, a mudança em questão não era apenas política, mas uma ameaça cultural, uma verdadeira invasão.
A invasão, segundo Buchanan, não era uma migração qualquer, mas um processo de "subversão" que vinha de fora, conduzido por imigração descontrolada, especialmente da América Latina. Ele acreditava que, ao contrário dos imigrantes europeus do passado, que procuravam se integrar à sociedade americana e adotar seus valores, os novos imigrantes não tinham interesse em se assimilar. Sua visão era que esses imigrantes, em sua maioria oriundos de países de cultura diferente, representavam um risco de fragmentação interna, dividindo os Estados Unidos em tribos étnicas em conflito.
A perspectiva de Buchanan envolvia a ideia de que uma verdadeira "invasão" estava em curso, um fenômeno sem precedentes na história recente do país. Ele previu que, se não fosse contida, essa transformação levaria à perda da identidade americana, com os imigrantes não assimilados e a perda de controle sobre as fronteiras. Para ele, a América não seria mais uma nação de maioria branca de origem europeia, mas sim um território multicultural e fragmentado, incapaz de manter uma identidade nacional coesa.
Além de suas críticas à imigração, Buchanan também ressaltava o impacto negativo dos imigrantes sobre os sistemas públicos, como a educação e a saúde, onde a imigração ilegal seria responsável pela sobrecarga dos serviços públicos e pelo aumento dos custos para os contribuintes americanos. Ele argumentava que os imigrantes, especialmente os de origem mexicana, caribenha e centro-americana, não só traziam doenças e problemas sociais, mas também representavam um fardo econômico, uma classe de dependentes que não contribuía de forma significativa para a sociedade americana.
Essa retórica de Buchanan, embora muitas vezes vista como excessiva e divisiva, acabou se tornando um ponto de partida para muitas das políticas de imigração mais rigorosas defendidas posteriormente por figuras como Donald Trump. De fato, sua influência sobre a direita política americana, particularmente em relação à imigração e ao nacionalismo branco, é inegável. Ele foi um dos primeiros a advertir sobre o que chamou de "bomba demográfica", alertando que os Estados Unidos estavam em um caminho perigoso de transformação demográfica que, na visão dele, poderia levar à destruição da própria nação.
O discurso de Buchanan também ressaltava o descontentamento crescente com o que ele via como uma elite política que, ao abraçar a imigração e as políticas de multiculturalismo, estava desconsiderando as preocupações legítimas da população trabalhadora. Seu apelo a uma América "God's country" (País de Deus), onde a moralidade cristã e a identidade nacional eram protegidas, ressoava com um número significativo de eleitores republicanos conservadores. Essa crítica tornou-se um dos pilares do movimento político que, mais tarde, contribuiria para o surgimento do Tea Party e a ascensão de Trump.
Contudo, é fundamental compreender que, além da retórica inflamada, as propostas de Buchanan também revelam uma crítica profunda ao modelo de globalização e à transformação econômica que os Estados Unidos estavam vivenciando. Ao argumentar contra a imigração e os efeitos econômicos dessa, Buchanan não apenas criticava a perda de identidade nacional, mas também apontava para um novo cenário em que as classes trabalhadoras americanas se viam ameaçadas por uma economia globalizada que, segundo ele, favorecia os interesses corporativos e prejudicava os americanos comuns.
No entanto, a visão de Buchanan carece de uma análise mais ampla sobre os benefícios econômicos e sociais da imigração, que é uma realidade complexa e multifacetada. A imigração não é um fenômeno unidimensional e pode trazer tanto desafios quanto oportunidades para um país. O debate sobre imigração e sua relação com identidade nacional, cultura e economia deve ser abordado de maneira mais equilibrada e consciente, levando em consideração os aspectos positivos da diversidade e da integração dos imigrantes.
A abordagem de Buchanan, ao focar na imigração como a principal ameaça à estabilidade dos Estados Unidos, também desconsidera outras questões prementes, como as desigualdades econômicas internas e os desafios políticos que o país enfrenta em nível global. A ideia de que a imigração é a causa principal da fragmentação social não leva em conta a complexidade das dinâmicas internas dos Estados Unidos, incluindo as divisões políticas, raciais e socioeconômicas que já estavam presentes muito antes das grandes ondas de imigração contemporâneas.

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