A estrutura política e social de uma nação está intrinsecamente ligada à eficácia das estratégias progressistas, especialmente quando analisamos a centralização do poder nas grandes cidades. Este fenômeno, que ocorre paralelamente ao crescimento de uma base social progressista predominantemente urbana, é complexo e implica um desalinhamento entre a concentração de apoio popular nas áreas metropolitanas e a distribuição de poder nas instituições políticas federativas. Essa assimetria é o que Elisabeth Clemens chama de “desalinhamento” geográfico e político, um conceito que destaca como, apesar da crescente força do movimento progressista nas cidades, as instituições políticas e os sistemas federativos muitas vezes limitam a capacidade de ação efetiva no nível local.

O fortalecimento das políticas progressistas nas grandes cidades é um reflexo de mudanças demográficas, culturais e econômicas. As cidades têm se tornado centros de inovação, diversidade e desenvolvimento, o que atrai uma população jovem, altamente educada e mais inclinada a políticas sociais progressistas. Entretanto, essa centralização do apoio nas áreas urbanas não é suficiente para garantir uma implementação eficaz dessas políticas, pois o federalismo americano, com sua distribuição desigual de poder, cria obstáculos significativos. O fato de que o sistema político federal prioriza os estados e o governo central impede que as cidades tenham a liberdade necessária para impulsionar mudanças significativas sem um respaldo federal ou estadual.

Além disso, a organização e a mobilização das forças políticas nas cidades enfrentam um terreno hostil quando as políticas em nível federal ou estadual não alinham-se com as demandas urbanas. Esse desalinhamento se torna evidente quando observamos o funcionamento de organizações e grupos de pressão (lobbies) que operam para influenciar políticas em favor de interesses específicos, muitas vezes em detrimento das necessidades locais das cidades. O papel de organizações como a ALEC (American Legislative Exchange Council) e as grandes fundações conservadoras no fortalecimento das estruturas de poder em estados e cidades pequenas tem sido um fator crucial na perpetuação desse desequilíbrio de poder, favorecendo a manutenção de políticas que nem sempre atendem às demandas urbanas progressistas.

A análise dessa dinâmica mostra que, enquanto as grandes cidades se tornam mais progressistas em sua base social e política, as instituições políticas tradicionais, com suas raízes no federalismo, ainda dominam a agenda e limitam a efetividade das políticas progressistas locais. Para que as estratégias progressistas se tornem bem-sucedidas, é necessário um entendimento mais profundo dessas estruturas e um esforço para alinhar o poder local com o nível federal, garantindo que as vozes urbanas sejam ouvidas e que suas políticas sejam implementadas.

Além disso, é essencial compreender que as políticas progressistas não devem ser vistas como um fenômeno isolado das mudanças sociais nas cidades. Elas estão profundamente entrelaçadas com questões econômicas e culturais mais amplas, como a desigualdade social, o acesso à educação e a justiça econômica. A maneira como essas questões são tratadas nas cidades pode ter um impacto direto na eficácia das políticas progressistas e na construção de uma sociedade mais igualitária.

Qual a Influência das Propostas ALEC na Legislação Estadual dos EUA?

As propostas da ALEC (American Legislative Exchange Council) tiveram um impacto significativo na criação e na alteração das leis estaduais nos Estados Unidos, refletindo uma tendência crescente de legisladores adotarem modelos pré-existentes de legislações como forma de agilizar o processo legislativo. Ao longo dos anos, as propostas da ALEC se espalharam por diversos estados, abordando áreas como educação, saúde, política fiscal e outros campos importantes. Um exemplo notável de sua influência foi o pacote de reforma educacional originado em Indiana, que se tornou um modelo amplamente copiado entre 1995 e 2013. Este pacote, composto por sete propostas individuais, visava a criação de escolas charter, a implementação de vales para estudantes, mudanças nos padrões de avaliação e licenciamento de professores, e a redução do poder dos sindicatos de professores, entre outras reformas.

Outro ponto de destaque foi a proposta de reforma da responsabilidade médica, que limitava os danos que um indivíduo poderia reivindicar ao processar provedores de saúde por negligência, e tornava mais difícil para os pacientes entrarem com ações judiciais. Esses pacotes, que reuniam várias propostas em um único modelo de lei, eram mais fáceis de serem adotados por legisladores, pois ofereciam uma solução pronta e testada, com a promessa de gerar um impacto político positivo.

Entre os modelos mais copiados, estavam também propostas ligadas ao cuidado de longo prazo, à reforma do seguro de saúde e até questões de política externa durante a administração Obama. Esses projetos não se limitavam apenas a reformas, mas também incluíam resoluções simbólicas e emendas constitucionais estaduais que refletem as prioridades políticas de grupos conservadores.

Uma análise mais aprofundada mostra que, de todas as leis modeladas pela ALEC, as áreas de saúde e educação dominaram as legislações estaduais. A razão por trás disso é clara: essas áreas consomem uma grande parte dos orçamentos estaduais. Em 2015, por exemplo, 25% dos orçamentos estaduais eram destinados à educação K-12, 17% ao Medicaid (seguro de saúde para a população de baixa renda) e 13% à educação superior. Dessa forma, as propostas da ALEC em saúde e educação se tornaram um foco inevitável, dada a importância desses setores nas finanças estaduais.

A popularidade dos modelos ALEC também se deve à estrutura organizacional da própria ALEC, que, por meio de suas reuniões, cria um espaço onde legisladores podem obter rapidamente propostas de políticas que atendem tanto aos interesses corporativos quanto aos ideais conservadores. Além disso, essas propostas ofereciam uma vantagem adicional: eram formuladas de maneira a facilitar a adaptação, o que reduzia significativamente o tempo e o esforço necessários para os legisladores que, muitas vezes, careciam de experiência para desenvolver legislações do zero.

Porém, a crescente adoção desses modelos de leis levanta questões sobre a independência e a originalidade do processo legislativo. Ao se basear em modelos de organizações externas como a ALEC, os legisladores estão efetivamente delegando a criação das políticas públicas a grupos de interesse com agendas bem definidas. Esse fenômeno reflete uma dinâmica onde o poder legislativo, ao invés de ser o principal motor das mudanças políticas, passa a atuar mais como um "copiador" das preferências de grupos de lobby poderosos.

Além disso, é importante compreender que, embora as leis baseadas nas propostas ALEC tragam benefícios imediatos para certos grupos (como empresas e setores com forte poder econômico), elas também podem ter consequências de longo prazo para os cidadãos, especialmente aqueles que dependem de serviços públicos, como a saúde e a educação. A privatização de serviços públicos, muitas vezes proposta pela ALEC, tende a beneficiar os setores privados, mas não garante que os serviços oferecidos sejam acessíveis ou de qualidade para toda a população.

Portanto, enquanto as propostas da ALEC continuam a ser uma força significativa na política estadual dos EUA, os legisladores devem refletir sobre o impacto das leis que estão adotando e questionar se essas políticas estão de fato atendendo aos interesses de seus eleitores ou se estão apenas reforçando os interesses de corporações e grupos influentes.

Por que os Esforços Progressistas para Combater a Troika de Direita Falharam?

Durante anos, os progressistas – especialmente os liberais – lutaram contra a devolução e insistiram na ideia de que as grandes questões sociais devem ser tratadas a nível nacional. Essa visão é defendida por muitos ativistas e políticos que acreditam que a verdadeira mudança política ocorre em Washington, D.C., e não nas capitais estaduais distantes. Para muitos doadores, a política estatal simplesmente não é "sexy". Por isso, a falta de profissionalização nas políticas estaduais e locais, algo que a ALEC (American Legislative Exchange Council) tem explorado com sucesso, tem sido vista com ceticismo por aqueles que financiam as iniciativas progressistas. Em grande parte, as fundações e organizações progressistas não acreditam que o movimento por reformas significativas possa prosperar fora do cenário nacional.

Essa aversão cultural à política estadual não é apenas uma questão de preferência, mas também de cálculo político. As limitações orçamentárias dos governos estaduais e locais, o receio de que as legislações mais progressistas atraiam cidadãos de outros estados, e o legado de opressão racial institucionalizada, dificultam a implementação de grandes mudanças em nível estadual. Muitos progressistas associam o federalismo, e sua vertente localista, a uma forma de conservadorismo e repressão social. Como observa a estudiosa Heather Gerken, para muitos progressistas, o federalismo é visto como um código para permitir que os racistas sigam agindo sem restrições, enquanto a descentralização é entendida como um obstáculo à inovação política.

Essa visão histórica, que subestima o impacto das políticas estaduais, também se reflete na falta de investimentos por parte de doadores individuais de grande porte. A mais famosa rede de doadores de esquerda, a Democracy Alliance, criada em 2005, ilustra bem essa abordagem. A Aliança, que reúne bilionários e milionários liberais para coordenar suas doações, tem como foco organizações progressistas nacionais, sem grande ênfase em iniciativas que atuem diretamente nos estados. Apenas um pequeno número de organizações foi consistentemente recomendada para doações, e muitas dessas organizações têm um foco limitado no ativismo político estadual.

Nos últimos anos, porém, a Democracy Alliance tem reconhecido essa lacuna no apoio a políticas estaduais e começou a redirecionar alguns fundos para atividades políticas em estados-chave. A criação do Comitê dos Estados, por exemplo, reflete a tentativa de construir uma infraestrutura progressista nos estados mais influentes. A ideia é replicar em outros estados o modelo de Colorado, onde um grupo de doadores ricos ajudou a retomar o controle da legislatura e do governo estadual. Embora os investimentos da Aliança na política estadual sejam expressivos, os resultados ainda são incertos. As eleições de 2013-2014, que foram fortemente focadas em estados específicos, não mostraram um ganho substancial para o Partido Democrata ou para a agenda progressista.

O foco renovado nos estados é uma tentativa de combater a ascensão do Partido Republicano nas legislaturas estaduais e nos governos estaduais, um movimento que, segundo os progressistas, tem sido ignorado por muito tempo. A ênfase agora está em garantir que os progressistas possam conquistar o poder a nível estadual, pois muitos acreditam que o futuro a longo prazo de um movimento progressista sustentável depende dessa conquista.

No entanto, a luta política nas cidades também tem ganhado destaque. Ao contrário da política estadual, as grandes áreas metropolitanas têm sido tradicionalmente mais favoráveis aos progressistas. As transformações socioeconômicas ocorridas nas últimas décadas, como a criação dos subúrbios e a mudança nas dinâmicas políticas urbanas, resultaram em um domínio crescente de governos municipais controlados por democratas liberais. Essa tendência tem sido reforçada pelo fato de que as cidades tendem a ser mais densamente povoadas, o que favorece os votos progressistas.

Ainda que as grandes cidades representem uma base sólida para os progressistas, o verdadeiro desafio agora é expandir essa força para além das fronteiras urbanas e alcançar vitórias em estados-chave. O que é importante entender é que, para que o movimento progressista tenha um impacto duradouro e significativo, ele deve não apenas focar no apoio popular nas cidades, mas também tentar construir alianças e formas de organização política em estados onde a direita tem se consolidado de forma firme. A criação de uma infraestrutura política robusta nos estados, especialmente em territórios não tão urbanizados, é essencial para que os progressistas possam competir eficazmente com a crescente força da direita nas legislaturas estaduais.